Verinotio - Revista on-line de Filosofia e Ciências Humanas. ISSN 1981-061X. ano XV. jan./jun. 2020. v. 26. n. 1
John Kennedy Ferreira
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Retoma então ao processo que desencadeia a financeirização do mundo,
lembrando os estudos e as resoluções dos Congressos da Social-Democracia,
com a produção intelectual de John Hobson (Imperialismo, 1902), Rudolf
Hilferding (O capital financeiro, 1910), Rosa de Luxemburgo (Acumulação
primitiva, 1914) e Vladimir Lênin (Imperialismo, fase superior do
capitalismo, 1917). Deixando claro que a partir do momento que o houve a
fusão entre os capitais industriais e financeiros, os velhos capitais autônomos
entraram em decadência, tendo como futuro ou se fundir aos grandes
conglomerados ou perecer.
De lá para cá a financeirização avançou muito, bastando ver que entre
1980 e 2006 cresceu 14 vezes, enquanto o PIB apenas cinco vezes. As terceira
e quarta revoluções industriais dotaram o capital de uma imensa velocidade,
isso dá a impressão de que o capital não tem base material, mas ao contrário,
nunca a exploração e a extração de mais-valia foram tão amplas e intensas.
Dessa maneira conforma-se um capital monopolista financeiro.
Rocha demonstra que o núcleo de compreensão do sistema capitalista
não está na circulação ou no humor ou outras subjetividades do mercado, mas
sim o processo anárquico de produção de mercadoria, o que é determinante
para entender as crises de 2008 e 2014 e própria política brasileira.
Aqui observamos de que forma as opções dos conglomerados
monopolistas financeiros decidiram por terminar a experiência social-liberal
brasileira, pois essa fração superior do capital
transformou a massa de empresários em sua tributária, bem como
adquiriu um peso dominante na exploração do trabalho, na vida
social, no controle da mídia, no funcionamento dos órgãos estatais,
na correlação de forças parlamentares, na elaboração das políticas
governamentais e no exercício da hegemonia (p. 87).
A partir do instante em que o condomínio monopolista financeiro
determina as relações sociais, a própria lógica de superação da dependência se
torna uma quimera, já que as relações imperialistas se naturalizaram e
tornam-se partes da realidade geral com o imperialismo agindo internamente
e externamente em seu próprio proveito. Dessa maneira a questão soberana
nacional deixa de ser um apanágio burguês e se “converteu uma tarefa
prioritária dos trabalhadores, na exata medida em que a questão proletária se
transformou em imperativo nacional” (p. 91).
De igual forma processa-se uma alteração profunda no aparelho do
estado, que passa a agir conforme os interesses do capitalismo monopolista
financeiro, onde o estado passa a ser um facilitador dos interesses privados. Se
antes a bancarrota liberal (1929) levou a burguesia a colocar limites à livre
concorrência, nos dias hoje se segue o contrário, o casamento entre os
oligopólios nacionais e o estado é substituído pelo fortalecimento da livre
iniciativa monopolista financeira tanto nos aspectos voltados à privatização