György Lukács e o stalinismo
Verinotio
NOVA FASE
ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 1, p. 88-124 - jan./jun. 2021 | 95
de crítica já era difundida havia muito tempo –, Lukács invocou os textos escritos em
momentos particularmente sensíveis como, por exemplo,
Aktualität und Flucht
,
publicado em 1941, época da “
confraternização
” germano-soviética, ou
Über
Preussentum
, datado de 1943, que não encontrou espaço em nenhuma publicação
soviética, e por um bom motivo. No primeiro desses textos, ele denunciava os críticos
literários nazistas que exigiam uma eufórica “
literatura de guerra
”; seu “
combate
antifascista
”, ele recordava a Benseler, foi mantido mesmo na época do “pacto”. O
segundo texto, no qual fazia a distinção entre o espírito da velha Prússia e a barbárie
nazista em uma análise memorável, ia claramente de encontro aos
slogans
da
propaganda soviética, que a atrocidade da guerra tornou ainda mais simplificadores.
Redigidos, por vezes, em linguagem cifrada, esses textos não implicavam nada menos
que uma “diferença” em relação à linha oficial.
Admirador do realismo, crítico da vanguarda e defensor do realismo socialista,
Lukács não poderia escapar à acusação de conformismo estético. Não apenas o
acusaram muitas vezes de haver feito suas as orientações fundamentais da crítica
soviética da época, como de haver tentado enobrecê-las com sua análise e sua
argumentação, que estavam situadas em um nível sensivelmente diferente daquele dos
escribas stalinistas.
Lukács refutava tal acusação, baseada em um lamentável mal-entendido. Uma
distância incomensurável separava, a seus olhos, a “
politização
” forçada da literatura,
praticada pela crítica soviética, e sua própria estética do realismo. Na aludida carta a
Frank Benseler, de 27 de abril de 1961, ele faz referência a Jürgen Rühle, exemplar
nesse discernimento. No seu livro
Literatur und Revolution
, publicado no início dos
anos 1960, ele notava que, de fato, as semelhanças entre a posição de Lukács e aquela
dos defensores do realismo socialista eram “
periféricas
” e que na realidade sua estética
se situava como antípoda à linha oficial. Para sustentar essa tese, não faltavam
argumentos ao filósofo: ele recordava que seu segundo livro traduzido para o russo,
Sobre a história do realismo
, publicado em Moscou em 1939, suscitou uma
tempestade na imprensa soviética: nada menos que quarenta artigos hostis. Ele
acrescentava que, dez anos mais tarde, os ideólogos de Rakosi utilizariam contra ele,
durante um primeiro “caso Lukács”, montado quase simultaneamente ao processo
Rajk, o mesmo tipo de argumentos que os críticos soviéticos dos anos 1939-1940.
Julgadas em perspectiva histórica, as teses expostas pelo filósofo nos seus