Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, Lukács: 50 anos depois, ainda - mar. 2022
Lukács sobre Goethe
Artigos de Berlin 1931-32*
György Lukács
APRESENTAÇÃO
Ronaldo Vielmi Fortes
O conjunto de artigos aqui traduzidos, inéditos em português, reúne estudos de
Lukács acerca da obra de Goethe escritos em um momento bastante significativo da
história universal. Trata-se do período que antecede a Segunda Guerra Mundial,
marcado pela ascensão do nazismo na Alemanha. Esse período trágico da história
alemã coincide com o jubileu de Goethe, momento em que na Alemanha se prestavam
várias homenagens ao grande escritor, e diversos jornais dedicaram cadernos e
matérias destacando a importância de sua obra. Os eventos comemorativos realizados
põem em evidência as interpretações tendenciosas da obra goethiana, que, em linhas
gerais o aproximam da apologia de um suposto espírito autêntico germânico, servindo
de base inclusive para tomá-lo como um dos precursores do nacional-socialismo. Em
meio à essa atmosfera social e cultural, Lukács se posiciona criticamente, realizando
importantes apontamentos acerca do modo como a obra de Goethe repercute na
aurora drástica desse período. Ao realizar a crítica das reinterpretações e
consequentes deformações da letra de Goethe, Lukács estabelece análises
significativas sobre o pensamento e a obra do escritor alemão, tratando de temas
importantes tanto da literatura quanto da filosofia.
Os textos são escritos no contexto da imigração de Lukács da União Soviética
para Berlin, no ano de 1931, onde permaneceu por 2 anos. Em 1933 ele deixa a
Alemanha por ocasião da ascensão ao poder pelos nazistas. Nos anos de sua
permanência Lukács tornou-se vice-presidente do grupo berlinense da
Associação dos
* Tradução Ronaldo Vielmi Fortes. Revisão técnica Ester Vaisman.
DOI 10.36638/1981-061X.2022.27.2.651
György Lukács
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Escritores Alemães
, participa também como membro da
União dos Escritos Proletários
Revolucionários
. Esse período é marcado por uma fase bastante produtiva de sua
atividade crítica literária, redige vários artigos (cerca de 29) em que trata de temas de
grande relevância da atividade literária, além de realizar a análise de diversos
escritores alemães e russos
1
.
Posteriormente ao ano de 1933, quando regressou à URSS ele prosseguiu em
seus estudos e escreveu o conjunto de artigos mais conhecidos sobre Goethe
publicados sobre a forma de livros, são eles: “Goethe e seu tempo”
2
(conjunto de
artigos escritos entre os anos de 1934 e 36) e os “Estudos sobre Fausto”
3
(1940). Os
artigos aqui presentes, apesar de serem os primeiros escritos a propósito de Goethe,
demonstram uma apropriação analítica aprofundada do pensamento do autor
alemão. São artigos caracteristicamente de combate, em que Lukács enfrenta de
maneira direta uma ampla série de interpretações sobre a herança literária de Goethe.
Conforme se poderá observar, ele debate e refuta proeminentes figuras de seu tempo,
sejam elas jornalistas ou críticos literários.
É interessante notar que o conjunto das elaborações do período culminam no
mais polêmico livro escrito por Lukács,
A destruição da razão
. Interessante observar
que nos artigos aqui traduzidos, é percetível, pelo menos em germe, teses
posteriormente desenvolvidas sobre a demarcação do predomínio do pensamento
irracionalista no período pré-guerra e pós-guerra. Mas não apenas esse elemento se
faz presente. Trata-se de demonstrar a
gênese
e
função social
de todo pensamento,
ou seja, as tendências sociais e políticas de certo período implicam a determinação
social do pensamento, os desvios (ingênuos ou conscientemente mal-intencionados)
tem raízes sociais concretas, não se tratando de modo algum de simples incapacidades
ou limites meramente subjetivos de comentadores e intérpretes. A interpretação
desvirtuada de Goethe se deve, segundo Lukács, à atmosfera do período em questão,
e essa não se limita à simples versões nazistas de um Goethe nacionalista. A edificação
do perfil do escritor como precursor do fascismo tem sua origem nas formas
predominantes do pensamento alemão do período fundadas na ideologia imperialista
1
[NT] Todos os artigos publicados no período encontram-se reunidos no livro: Alfred Klein, Georg
Lukács;
Georg Lukács in Berlin
. Literaturtheorie und Literaturpolitik der Jahre 1930-32; Berlin: Aufbau
Verlag, 1990.
2
LUKÁCS, György;
Goethe e seu tempo
; trad. Nélio Schneider e Ronaldo Vielmi Fortes (Ensaio 5); o
Paulo: Boitempo; 2021.
3
No prelo, pela Boitempo.
Lukács sobre Goethe
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burguesa pré-guerra. Segundo Lukács, pode-se localizar a origem de tais descaminhos
em teóricos liberaiscomo Simmel ou Gundolf”, autores esses que desempenham
um papel importante (muitas vezes o reconhecido) na construção da imagem fascista
de Goethe”.
Defender Goethe contra seus detratores e deformadores não significa, no
entanto, colocar-se ao lado de seus apologistas, ainda que dentre esses últimos se
encontre uma figura marxista de relevância como Franz Mehring. Lukács não pode
concordar com a posição expressa por este segundo a qual, a revolução implicaria o
encontro definitivo do proletariado com Goethe**. A rigor, sem desconsiderar a
importância do poeta alemão, não se pode ficar incólume e negligenciar a posição de
classe de Goethe, que faz com que ele expresse em sua obra sempre uma posição
crítica da situação de seu tempo do ponto de vista privilegiado do indivíduo,
escamoteando desse modo, análises que deveriam levar em conta não a
unilateralidade da da vida privada do indivíduo burguês”, mas o tratamento “de todas
as questões do ser social [...] do ponto de vista da vida pública, geral e política da
classe; portanto, do ponto de vista da burguesia e não dos citoyens”.
Nesse sentido, outro aspecto relevante destes artigos que os diferenciam dos
escritos posteriores, reside no fato de que eles não se limitam à crítica dos desvios
das interpretações de Goethe. Outra dimensão importante comparece em tais escritos,
em particular no artigo
Goethe e a Dialética
. O leitor mais familiarizado com as
elaborações de Lukács acerca de Goethe, poderá observar o tom crítico dirigido contra
o próprio escritor alemão. Por meio de uma análise rigorosa e profunda nosso autor
percorre diversos momentos da obra goethiana, desde suas obras literárias até seus
textos científicos, estéticos etc., demonstrando a grandeza e os limites de seu
pensamento. Nesse artigo se encontra a análise comparativa entre a concepção
dialética hegeliana e a refutação, por parte de Goethe, da dialética. Esse tratamento
do problema em Goethe é provavelmente a grande novidade das análises de Lukács,
e salvo melhor juízo não se apresenta em suas obras posteriores. As insuficiências
** Cabe aqui lembrar das considerações de Lukács acerca de Mehring presentes em seu livro
Pensamento
Vivido
[São Paulo: Ad Hominen; Viçosa: Editora da UFV, 1999; p. 87-8) em que destaca as tendências
do crítico marxista em tomar a obra de Marx como insubsistente no que tange ao tema da estética,
propondo a tarefa de suprir as insuficiências a partir de Kant. Lukács sempre considerou que “o
marxismo não é uma teoria econômico-social, junto à qual lugar também para outras coisas, mas
uma visão universal do mundo. Logo, devia haver uma estética marxista própria, que o marxismo não
tomava nem de Kant nem de nenhum outro” [idem, ibidem].
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e limites do pensamento de Goethe possuem nesse texto maior proeminência. A
análise ali presente demonstra como a concepção de mundo, da natureza, da religião,
da sociedade em geral terminam por determinar e trazer limites decisivos para as
configurações de suas obras estéticas, sem que isso seja um empecilho para
desdobramentos de grande valor humano e para a percepção das grandes questões
humanas de seu tempo. Não que Lukács tenha mudado posteriormente sua posição a
respeito dos apontamentos críticos elaborados nesse período, mas em suas
considerações posteriores acerca de Goethe, o tom crítico mais direto e áspero já não
se faz presente de maneira tão clara e direta.
Decerto, para os nossos dias, o teor das análises lukácsianas oferecem ainda
grandes préstimos. Em primeiro lugar, por destacar a natureza da determinação social
do pensamento nas interpretações de Goethe, aspecto que nos instrui sobre a
necessidade de sempre analisar toda obra (todo comentador, intérprete) a partir do
tripé analítico: demonstrar a gênese e função social de um pensamento, mas sem
descurar a análise imanente dos textos e pensamentos analisados. O tratamento das
razões sociais das distorções da obra de Goethe é um registro histórico de forte
relevância para a compreensão dos desdobramentos posteriores que vieram a se fazer
presentes tanto na crítica literárias como no pensamento filosófico. Em segundo lugar,
o teor das análises do pensamento de Goethe, seja de suas obras literárias, seja de
seu pensamento em geral, são ainda elementos analíticos que muito auxiliam a
compreender a importância de Goethe para a literatura universal, na medida em que
demonstra sua grandeza e relevância na apreensão dos problemas mais cruciais da
humanidade em um período decisivo da história humana, marcado pela transição da
sociedade feudal e o advento da forma cabal da sociabilidade capitalista. As formas
das individuações desse período são retratadas por Goethe por meio de uma riqueza
de detalhes e percepções, que fazem de sua obra uma remissão necessária para a
apreensão das grandes questões das individualidades em meio a sociabilidade do
capital.
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Der faschisierte Goethe
O Goethe fascistizado
Assim como a burguesia alemã ingressou
na fase fascista, a lenda Goethe burguesa
também entrou em nova fase de seu
desenvolvimento. Isso não significa, é
claro, que a conexão com o passado, ou
mesmo a continuidade com ele, foi
rompida. Muito ao contrário. Assim como
o próprio fascismo “brota” da democracia
de Weimar e reestrutura seus elementos
do modo que lhe corresponde, a ideologia
fascista brota organicamente da ideologia
pré-guerra da burguesia imperialista
alemã, apesar de toda a polêmica ruidosa
contra o “liberalismo”. Com isso não
referimos apenas para permanecer no
campo da história literária os
historiadores reacionários e críticos do
período pré-guerra, como Adolf Bartels ou
H. St. Chamberlain, que são rotulados de
autoridades fascistas. Não, teóricos
“liberais como Simmel ou Gundolf
também desempenham um papel
importante (muitas vezes não
reconhecido) na construção da imagem
fascista de Goethe.
Die Goethe-Legende der deutschen
Bourgeoisie tritt mit dem faschistischen
Abschnitt ihrer Entwicklung ebenfalls in
einen neuen Abschnitt. Das bedeutet
freilich nicht, dder Zusammenhang mit
der Vergangenheit, ja selbst die
Kontinuität mit ihr zerrissen wäre. Ganz im
Gegenteil. So wie der Faschismus selbst
aus der Weimarer Demokratie
„herauswächst“, ihre Elemente
entsprechend umbaut, so wächst die
faschistische Ideologie, trotz aller
lärmenden Polemik gegen den
„Liberalismus“, aus der Vorkriegsideologie
der imperialistischen deutschen
Bourgeoisie organisch heraus. Wir meinen
damit keineswegs bl um auf dem
Gebiet der Literaturgeschichte zu bleiben -
, d reaktionäre Historiker und Kritiker
der Vorkriegszeit wie Adolf Bartels oder H.
St. Chamberlain zu faschistischen
Autoritäten gestempelt werden. Nein, auch
„liberale“ Theoretiker wie Simmel oder
Gundolf spielen (oft
uneingestandenerweise) eine große Rolle
in der Konstruktion des faschistischen
Goethe-Bildes.
Se enfatizamos desde o início, que Goethe
é de fato interpretado na literatura do
jubileu de acordo com as necessidades do
Wenn wir gleich eingangs hervorheben,
daß Goethe in der Jubiläumsliteratur den
Bedürfnissen des Faschismus
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fascismo, isso não significa de forma
alguma que toda a literatura alemã sobre
Goethe em nossos dias tenha um caráter
nazista uniforme. A mesma unidade (e as
mesmas contradições) que de outra forma
se manifestam econômica, política e
ideologicamente entre as várias frações da
burguesia também entram em jogo na
interpretação, na assimilação e falsificação
de Goethe. E muitas tendências
fundamentais desse ajustamento foram
ideologicamente elaboradas na literatura
sobre Goethe do pré-guerra.
entsprechend zurechtinterpretiert wird, so
bedeutet dies keineswegs, daß nunmehr
die ganze deutsche Goethe-Literatur
unserer Tage ein einheitliches
Nazigepräge hätte. Dieselbe Einheit (und
dieselben Gegensätze), die sich sonst
ökonomisch, politisch und ideologisch
zwischen den verschiedenen Fraktionen
der Bourgeoisie zeigen, kommen auch in
der Auslegung, in dem Zurechtstutzen und
Verfälschen Goethes zur Geltung. Und
viele grundlegenden Tendenzen dieses
Zurechtstutzens sind bereits in der
Goethe-Literatur der Vorkriegszeit
ideologisch vorgearbeitet.
Isso fica mais claro na ênfase da
religiosidade de Goethe. A forma de
manifestação original da lenda alemã de
Goethe, o Goethe "olímpico" também foi a
do "grande pagão". A atitude
fundamentalmente negativa de Goethe em
relação ao cristianismo era muito
conhecida: as correntes materialistas da
própria burguesia, ainda que de forma
vulgarizada, eram fortes demais para que
a falsificação também tivesse início nesse
terreno. O comportamento hostil de
Goethe para com o Cristianismo, seu
panteísmo foi lamentado, criticado,
rejeitado, mas não negado, mas não
reinterpretado no sentido contrário. Os
mencionados Simmel, Gundolf e outros
construíram a ponte para a visão de hoje.
Dies kommt am klarsten in dem
Hervorheben der Religiosität Goethes zum
Vorschein. Die ursprüngliche
Erscheinungsform der deutschen Goethe-
Legende, der „Olympier“ Goethe war
zugleich der „große Heide“. Goethes im
Grunde ablehnende Haltung zum
Christentum war zu bekannt, die
materialistischen Strömungen in der
Bourgeoisie selbst, wenn auch in
vulgarisierter Form, waren zu stark, als
daß die Umfälschung auch auf diesem
Gebiet hätte einsetzen können. Goethes
feindliches Verhalten zum Christentum,
sein Pantheismus wurde bedauett,
bekrittelt, abgelehnt, jedoch nicht
abgeleugnet, nicht ins Gegenteil
umgedeutet. Die bereits erwähnten
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O próprio panteísmo de Goethe contém
muitos elementos de um compromisso
ideológico; permite sobretudo uma
exploração estética (conclusão de
Fausto
4)
e também moral (
Afinidades Eletivas
5) dos
elementos do Cristianismo. Essa meia-
medida agora permitia - com a ajuda de
Nietzsche, Bergson e outros pensadores
reacionários - converter o panteísmo
goethiano em uma "religião não
dogmática" para os "instruídos". Mas
mesmo isso não é suficiente para as
necessidades de hoje; foi um trabalho
preparatório útil, de fato indispensável,
mas apenas um trabalho preparatório.
Hoje se tornou necessário um
compromisso mais decisivo (de Goethe)
com a religião.
Simmel, Gundolf und andere haben die
Brücke zur heutigen Auffassung
geschlagen. Goethes Pantheismus selbst
enthält manche, viele Elemente eines
ideologischen Kompromisses; er gestattet
vor allem ein ästhetisches (Schluß von
Faust) sowie moralisches
(Wahlverwandtschaften) Ausnutzen der
Elemente des Christentums. Diese Halbheit
gestattete nun - mit Hilfe von Nietzsche,
Bergson und anderer reaktionärer Denker
-, den Goetheschen Pantheismus in, eine
„undogmatische Religion“ für die
„Gebildeten“ umzubauen. Für die heutigen
Bedürfnisse reicht aber auch dies nicht
aus; es ist zwar eine nützliche, ja
unentbehrliche Vorarbeit gewesen, aber
nur Vorarbeit. Heute ist ein
entschiedeneres Bekenntnis (Goethes) zur
Religion notwendig.
Dada a estreita interrelação entre
economia e religião, não é surpreendente
que o
Berliner Börsenzeitung
6 apresente
um tom tão decisivo.
Bei dem innigen Wechselverhältnis
zwischen Wirtschaft und Religion ist es
nicht verwunderlich, daß die „Berliner
Börsenzeitung“ einen derart
entschiedenen Ton anschlägt.
O grande sábio mundial de Weimar
sentiu o pulso da nossa vida, a vida que
temos que viver... Segundo Goethe, não
existe cultura sem religião; pois teria que
Der große Weimarer Weltweise hat schon
den Pulsschlag unseres Lebens, des
Lebens, das wir leben müssen, empfunden
... Eine religionslose Kultur gibt es nach
4
[NT] GOETHE, Johann Wolfgang von;
Fausto
; trad. Jenny Klabin Segall; São Paulo: Editora 34, 2011.
5
[NT] GOETHE;
Afinidades eletivas
; trad, Tercio Redondo; São Paulo: Peguin, 2014.
6
[NT] O
Berliner Börsen-Zeitung
, também conhecido como BBZ, foi um jornal diário publicado duas
vezes por semana como edição de manhã e à noite em Berlim, de 1855 a 1944, durante um período
de 89 anos, cobrindo cinco guerras e quatro formas de governo. Segundo a filiação partidária do seu
fundador, o
Berliner Börsen-Zeitung
foi chamado o jornal do Partido Alemão do Progresso (DFP).
Também se atribuía ao jornal "ao partido liberal nacional e, em particular, à
Hurra-Richtung
.
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negar a última fonte original de onde veio
e, portanto, perecer...
(
Unterhaltungsbeilage
7, 20 de março de
1932.)
Goethe nicht; denn sie müßte den letzten
Urquell, dem sie entstammt, verleugnen
und daher versicgen...
(Unterhaltungsbeilage, 20. März 1932.)
O
Zentrumsblätter
não considera a
questão da religião em Goethe algo tão
simples. Seus jornalistas são mais
experientes em questões de religião, pois
não têm a piedade pungente e simples de
nosso homem da bolsa de valores. Com o
suor de seu rosto, eles se esforçam para
reconciliar a visão de mundo de Goethe
com o cristianismo. O padre Muckermann8
até admite abertamente:
Die Zentrumsblätter sehen die Frage der
Religion bei Goethe nicht so einfach. Ihre
Publizisten sind in den Fragen der Religion
routinierter, sie haben nicht die ergreifend
schlichte Gläubigkeit unseres
Börsenmannes. Sie bemühen sich daher im
Schweiße ihres Angesichtes ab, Goethes
Weltanschauung mit dem Christentum zu
versöhnen. Pater Muckermann gibt sogar
offen zu:
Portanto, do cristianismo o temos a
menor razão e nem mesmo os
pressupostos internos para organizar as
celebrações de Goethe, como se se tratasse
de um poeta que esteve em solo cristão ou
que quisesse nele ficar de .” (Germania,
Suplemento, 22 de março de 1932.)
Wir haben also vom Christentum aus nicht
den geringsten Grund und gar nicht die
inneren Voraussetzungen, Goethe-Feiern
zu veranstalten, so als ob es sich um einen
Dichter handele, der auf christlichem Boden
gestanden hätte oder überhaupt hätte
stehen wollen. (Germania, Beilage, 22. März
1932.)
Mas: "Quem se empenha em se esforçar...",
também é concedida a graça. O camarada
e colega de Muckermann, Prof. Günther
Müller9 já encontrou a palavra redentora.
Ele afirma que “Goethe era de natureza
fortemente religiosa”. E no período de
maturidade, após superar o período
Sturm
Aber: „Wer immer strebend sich
bemüht...“, dem wird auch die Gnade
zuteil. Muckermanns Mitstreiter und
Kollege Prof. Dr. Günther Müller findet
schon das erlösende Wort. Er stellt fest,
„daß Goethe eine stark religiöse Natur
gewesen ist“. Und in der Reifezeit, nach
7
[NT] em tradução livre: “suplemento de entretenimento”; ao que tudo indica seção do jornal
supracitado
8
[NT] Friedrich Johannes Muckermann (1883-1946) jornalista e jesuíta. Consagrou-se como um dos
opositores católicos mais decididos contra o nacional-socialismo e foi um crítico literário de destaque
na Alemanha católica nas décadas de 1920 e 1930. Destacou-se também como um proeminente crítico
também do stalinismo.
9
[NT] Günther ller (1861-1931). Estudou filologia e filosofia em Würzburg, Munique, Leipzig e
Göttingen, Converteu-se à Igreja católica em 1920. No período de 1926 a 1939, foi responsável pela
edição da
Literaturwissenschaftliche Jahrbuch der Görres-Gesellschaft
e notabilizou-se como um dos
representantes da formação dos estudos literários católicos. Sua obra é marcada pelo profundo
interesse nos escritos literários e científicos de Goethe.
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und Drang
, ele identifica no conhecimento
e no sentimento de Goethe a respeito da
natureza algo que pode ser “entendido de
modo muito cristão”.
der Überwindung der Sturm-und-Drang-
Periode findet er gerade in Goethes
Naturerkenntnis und Naturgefühl vieles,
was man „sehr wohl christlich verstehen“
kann.
E há, sem dúvida, uma relação notável com
certas áreas do tomismo na visão de
Goethe sobre o ser natural e seu
cumprimento da lei divina ... (ibid.).
Und zweifellos liegt in Goethes Blick auf das
naturhafte Sein und seine Erfülltheit vom
göttlichen Gesetz eine bemerkenswerte
Verwandtschaft mit gewissen Bereichen
des Thomismus... (ebenda).
E o professor Oskar Walzel10 corre em seu
auxílio declarando que a concepção de
Heine de "Wolfgang-Apollo, que lutou
contra o judaísmo e o cristianismo em
nome do direito do ser natural do homem"
é errada. O papel de “libertador” de
Goethe é completamente outro. "A
desconfiança de tudo o que é natural no
homem ainda é peculiar ao século XVIII em
seu ápice" (?! Diderot?! Rousseau?! - G.L.).
Goethe nos libertou disso, ou seja, do
século XVIII. (Suplemento do
Kölnische
Volkszeitung
11, 20 de março de 1932.)
Und Professor Oskar Walzel eilt ihm zu
Hilfe, indem er Heines Auffassung vom
„Wolfgang-Apollo, der gegen Judentum
und Christentum wieder das Recht des
Naturhaften im Menschen erstritten habe“,
für falsch erklärt. Goethes Befreier“-Rolle
ist eine ganz andere. „Mißtrauen gegen
alles Naturhafte im Menschen ist dem 18.
Jahrhundert noch auf seinen Höhen eigen“
(?!Diderot?! Rousseau?! - G.L.). Davon -
also vom 18. Jahrhundert - hat uns Goethe
befreit. (Beilage der „Kölnischen
Volkszeitung“, 20. März 1932.
Deus, o imperador e a pátria pertencem
um ao outro por toda a eternidade.
Portanto, eles também devem pertencer
ao Goethe “atual”. As formas de aparência
superficiais são diferentes, mas a essência
Gott, Kaiser und Vaterland gehören in alle
Ewigkeit zusammen. Sie müssen also auch
bei dem „aktuellen“ Goethe
zusammengehören. Die oberflächlichen
Erscheinungsformen sind verschieden, das
10
[NT] Oskar Franz Walzel (1864-1944) pesquisador literário austríaco-alemão, professor de literatura
alemã moderna em Berna, Dresden e Bonn. Foi um dos historiadores mais influentes da literatura alemã
do início do século XX. No ano de 1933 recebeu a nomeação de professor emérito, no entanto em
1936, o reitor da Universidade de Bonn retirou a
venia legendi
de Walzel em função de sua "filiação
judaica". Sua morte ocorreu em 1944 sob circunstâncias pouco claras durante um bombardeio. A sua
esposa, também judia, foi deportada para Theresienstadt no mesmo ano e foi assassinada.
11
[NT] Fundado em 1868 por Josef Bachem, em Colônia (1860), Seu fundador procurou estabelecer
um jornal diário de orientação católica ao lado do liberal
Kölnische Zeitung
da casa de DuMont. O jornal
só foi realmente bem sucedido sob o nome de
Kölnische Volkszeitung
a partir de 1868.
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é a mesma. Hanns Johst12 termina seu
discurso comemorativo sobre Goethe
(
Völkischer Beobachter
13, 22 de março de
1932) com a glorificação de Goethe como
súdito.
Wesen ist das gleiche. Hanns Johst endet
seine Festrede auf Goethe (Völkischer
Beobachter, 22. März 1932) mit der
Verherrlichung Goethes als Untertan.
Durante esse tempo ... Goethe se admite
como monarquista: era tão difícil para um
intelectual de então como é hoje. Mas
Goethe viu com os seus próprios olhos.
Neles se refletia a vida do senhor e príncipe
a quem servia, e ele via a imagem de um
homem que não passava de um servo de
seu estado, um súdito de seu povo. O que
todas as teorias do pensamento
sociológico e filosófico em todas as escolas
de todo o mundo, tornam a humanidade
feliz se aplicam a ele, a quem os sentidos e
suas visões nunca enganam? A política, que
ganha seu direito de existir por meio da
persuasão das eventuais maiorias e, assim,
renuncia a seu ímpeto pessoal, a sua
independência aristocrática, não pode
parecer importante para ele [!}. Portanto,
politicamente falando, Goethe é um súdito.
In dieser Zeit... bekennt sich Goethe als:
Das war für einen Geistigen damals ebenso
schwierig wie heute. Aber Goethe dachte
mit seinen eigenen beiden Augen. In ihnen
spiegelte sich das Leben des Herrn und
Fürsten, dem er diente, und er sah da das
Bild eines Mannes, der selber nichts war als
ein Diener seines Staates, Untertan seines
Volkes. Was konnten ihm da alle
menschheitbeglückenden Theorien
soziologischer und philosophischer
Gedanklichkeit sämtlicher Schulen aller
Welt gelten, ihm, den die Sinne und ihre
Gesichte nie trügten? Die Politik, die ihre
Existenzberechtigung durch Überredungen
schließlicher Majoritäten gewinnt und
damit ihren persönlichen Impetus, ihre
aristokratische Selbständigkeit aufgibt,
kann ihm nicht wichtig erschienen [!}.
Goethe ist also, politisch gesprochen,
Untertan.
Como um súdito consequente, Goethe
tornou-se consequentemente um
funcionário público. “Para ele, a política
não é um assunto para todos como a
alfaiataria ou a confecção de sapatos”
(ibid.). E Alfred Rosenberg14 confirma (ibid)
que Goethe também era um defensor
Als konsequenter Untertan ist Goethe
konsequent zum Beamten geworden.
„Politik ist ihm ebensowenig
Jedermannssache wie Schnei derei oder
Schusterei“ (ebenda). Und Alfred
Rosenberg bestätigt (ebenda), daß Goethe
auch philosophisch überzeugter Anhänger
12
[NT] Hanns Johst (1890-1978) foi um poeta e dramaturgo alemão vinculado à filosofia nazista, foi
membro das organizações de escritores oficialmente aprovadas pelo Terceiro Reich.
13
[NT] O
Völkischer Beobachter
foi o órgão do partido da NSDAP, de dezembro de 1920 a 30 de abril
de 1945. Em nítida distinção aos jornais burgueses, o VB descreveu-se a si próprio como um "órgãoó rgão
de combate" e estava programaticamente mais interessado na agitação do que na informação.
14
[NT] Alfred Ernst Rosenberg (1893-1946) político e escritor alemão, foi o principal teórico do
nacional-socialismo, cujas ideias centrais foram expressas na obra
O Mito do século XX
(Der Mythus des
zwanzigsten Jahrhunderts, 1930). Foi conselheiro de Adolf Hitler e ministro encarregado dos territórios
da Europa Oriental, em 1941. Foi responsável pela deportação e extermínio de milhares de pessoas,
principalmente judeus. Foi condenado pelo Tribunal de Nuremberg, que o sentenciou ao enforcamento
por crimes de guerra.
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filosoficamente convicto do Estado
corporativo nacional-socialista. Ele toma
seu ponto de partida no místico medieval
Meister Eckhart (a quem -
independentemente de seu
comportamento real em relação às lutas de
classes de seu tempo - o professor
vienense Othmar Spann15 o colocou
muito tempo na galeria ancestral do
fascismo), e chega à conclusão de que a
“liberdade da alma”, na qual “toda a
existência de Goethe estava enraizada”, já
se concretizou para todos em sua classe.
des nationalsozialistischen Ständestaates
gewesen ist. Nimmt er doch seinen
Ausgangspunkt vom mittelalterlichen
Mystiker Meister Eckhart (den
unbekümmert um sein tatsächliches
Verhalten zu den Klassenkämpfen seiner
Zeit - der Wiener Professor Othmar Spann
bereits vor langer Zeit in der Ahnengalerie
des Faschismus eingereiht hat), kommt er
doch zur Schlußfolgerung, daß die
„Freiheit der Seele“, worin „Goethes
ganzes Dasein wurzelte“, für jeden in
seinem Stand zur Verwirklichung gelangt.
É por isso que mesmo o homem mais
simples pode ser 'completo'” se ele “se
mover dentro dos limites de suas
habilidades e aptidões“.
Darum kann auch der geringste Mensch
‚komplett‘“ sein, wenn er sich „innerhalb
der Grenzen seiner Fähigkeiten und
Fertigkeiten bewegt“.
Assim a glorificação de Goethe pela
burguesia liberal pré-guerra, o misticismo
cético de Simmel sobre o "tornar-se
simbólico" de cada atividade humana, a
glorificação de Max Weber das "demandas
do dia" como regra de vida, floresceu
alegremente no estado corporativo
fascista.
Womit die Goethe-Verherrlichung der
liberalen Vorkriegsbourgeoisie, Simmels
skeptische Mystik über das „Symbolisch-
Werden“ einer jeden menschlichen
Tätigkeit, die Max Webersche
Verherrlichung der „Forderung des Tages“
als Lebensregel, glücklich in den
faschistischen Ständestaat
hinübergewachsen ist.
Assim, por essa ponte, Goethe é
transferido para o campo do fascismo.
Mesmo na interpretação de Goethe antes
da guerra, essa ponte foi construída sobre
a ignorância ou falsificação dos
So wird Goethe über diese Brücke ins
Lager des Faschismus überführt. Diese
Brücke ist schon in der Goethe-Auslegung
der Vorkriegszeit auf Unkenntnis oder
Verfälschung der geschichtlichen
15
[NT] Othmar Spann (1878-1950) economista, sociólogo e filósofo de nacionalidade austríaca. Spann
foi um dos pioneiros intelectuais do austrofascismo.
György Lukács
354 | Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 343-430 - mar. 2022
fundamentos históricos da existência e
eficácia de Goethe. Se esses fundamentos
forem removidos, as contradições na obra
de Goethe, a coexistência do “colossal” e
do “mesquinho”, filisteu”, também podem
ser facilmente removidas. Então, o
mesquinho-filisteu pode ser celebrado no
Goethe “atemporal” e exagerado no
modelo da germanidade de hoje. Essa
abordagem completamente a-histórica -
uma "noite em que todos os gatos são
pardos"16, como diz Hegel - os
pesquisadores burgueses e jornalistas
quase invariavelmente sucumbem a ela.
Desse modo, o Fr. Hielscher17 construiu
um “modelo da nação” de Goethe,
reunindo Friedrich II, Napoleão, Hegel e
Goethe em uma unidade”. Nessa lenda,
Napoleão "sonha" "o sonho do império
medieval, o sonho dos reis alemães mais
uma vez" (segundo o qual o traço comum
entre Frederico II e Napoleão é que, devido
à diferença em suas bases de classe, eles
quiseram e fizeram coisas diferentes, mas
nenhum deles poderia pensar em sonhar
este sonho”), Hegel “assume a herança de
Frederico, o Grande”, e Goethe e Hegel
reconhecem um no outro o amigo e
camarada da mesma luta”.
Grundlagen der Existenz und der
Wirksamkeit Goethes aufgebaut. Wenn
nämlich diese Grundlagen entfernt worden
sind, können die Widersprüche im
Lebenswerk Goethes, das
Nebeneinanderbestehen des „Kolossalen“
und des Kleinlichen“, Philisterhaften“,
ebenfalls leicht entfernt werden. Dann
kann im „zeitlosen“ Goethe gerade das
Kleinlich-Philisterhafte gefeiert und zum
Vorbild des heutigen Deutschtums
aufgebauscht werden. Dieser völlig
unhistorischen Betrachtungsweise einer
„Nacht, in der alle Kühe schwarz sind“, wie
Hegel sagt - verfallen die bürgerlichen
Forscher und Publizisten fast
ausnahmslos. So konstruiert Fr. Hielscher
aus Goethe ein „Vorbild der Nation“,
indem er Friedrich IL, Napoleon, Hegel und
Goethe in eine „Einheit“ bringt. In dieser
Legende „träumt“ Napoleon „den Traum
des mittelalterlichen Kaisertums, den
Traum der deutschen Könige noch einmal“
(wobei also das Gemeinsame zwischen
Friedrich IL. und Napoleon darin besteht,
daß sie zwar infolge der Verschiedenheit
ihrer Klassengrundlagen durchaus
Verschiedenes gewollt und getan haben,
jedoch keinem von beiden es einfallen
konnte, diesen Traum zu träumen“), Hegel
16
[NT] HEGEL.
Fenomenologia do espírito
; trad. Paulo Menezes; Petrópolis: Editora Vozes, 1992; p. 29.
17
[NT] Friedrich Hielscher (1902-1990) intelectual alemão ligado ao movimento conservador
revolucionário durante a República de Weimar e participou da resistência alemã no período nazista.
Fundou o movimento esotérico ou neopagão, o
Unabhängige Freikirche
(UFK, "Igreja Livre
Independente"), que dirigiu desde 1933 até a sua morte.
Lukács sobre Goethe
Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 343-430 - mar. 2022 | 355
Diz Hielscher em resumo:
„tritt das Erbe Friedrich des Großen an“,
und Goethe und Hegel erkennen „jeder im
anderen den Freund und Kameraden
desselben Kampfes“.
Então leva [...] a um caminho direto de
Goethe via Nietzsche (novamente vemos o
caminho Simmel-Gundolf para a visão atual
de Goethe!) para o que é nossa função hoje:
a união de interioridade e poder.
(Lokalanzeiger, 20 de março de 1932)
„So führt“, sagt Hielscher
zusammenfassend, „ein unmittelbarer Weg
von Goethe über Nietzsche (wieder sehen
wir den Simmel- Gundolfschen Weg zur
heutigen Auffassung Goethes!) zu dem, was
heute unseres Amtes ist: die Vereinigung
von Innerlichkeit und Macht“
(Lokalanzeiger, 20. März 1932).
fomos despertados desse lindo sonho
pelo fato de que a Goethe não ocorreu
nem em sonho - apesar da amizade
pessoal e do respeito pessoal por Hegel -
concordar com a dialética hegeliana. Ele
rejeita com palavras áridas a transição da
quantidade para a qualidade, as
interseções das relações de proporção.
Chama a concepção de Hegel de
"monstruosa", "querendo destruir a
realidade eterna da natureza por meio de
uma piada sofista" (carta a T. J. Seebeck.
Koncept. Steinsche Briefsammlung VI, 283
e seguintes). Claro, se a dialética for
removida de Hegel, se Goethe for o
precursor de Nietzsche, se Friedrich II e
Napoleão sonharem o mesmo sonho -
tudo é possível nesta noite de construções
abstratas a-históricas.
Aus diesem schönen Traum werden wir nur
dadurch geweckt, daß es Goethe nicht im
Traum einfiel trotz persönlicher
Freundschaft mit und persönlicher
Hochachtung für Hegel mit Hegels
Dialektik übereinzustimmen. Er lehnt den
Übergang von Quantität in Qualität, die
Knotenlinie der Maßverhältnisse mit
dürren Worten ab. Er nennt Hegels
Auffassung „monströs“, die ewige Realität
der Natur durch einen schlechten
sophistischen Spaß vernichten zu wollen“
(Brief an T. J. Seebeck. Koncept. Steinsche
Briefsammlung VI, 283 ff.). Freilich, wenn
aus Hegel die Dialektik entfernt wird, wenn
Goethe der Vorläufer Nietzsches ist, wenn
Friedrich II. und Napoleon denselben
Traum träumen - so ist in dieser Nacht der
unhistorischen abstrakten Konstruktionen
alles möglich.
Mas mesmo nessa noite, quando na
verdade todos os gatos o pardos e
Aber selbst in dieser Nacht, wo wirklich
alle Kühe schwarz sind und alle
György Lukács
356 | Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 343-430 - mar. 2022
todos os professores vestem camisa
marrom, certas dificuldades para a
ciência e para o jornalismo burgueses
preparar Goethe para os propósitos
(fascistas) de hoje. Com o professor Max
Wundt18 e o professor Hans Freyer19, essas
dificuldades são expressas abertamente.
Freyer, um dos mais brilhantes e
certamente o mais erudito dos professores
universitários próximos ao fascismo,
admite abertamente que o
desenvolvimento burguês no século XIX (e
de hoje) não tem quase nada a ver com
Goethe. Mas, uma vez que ele não é capaz
nem deseja descobrir a base social para
isso, ele simplesmente termina seu ensaio
com frases embaraçosas segundo a qual
Goethe não é uma "possessão
corporificada" ou uma "bandeira" para o
povo alemão (ou seja, para a burguesia), é
apenas um "espírito flutuante", "som de
sino onipresente sobre as engrenagens do
dia" (DAZ20, 20 de março de 1932). Muito
semelhante à esquerda” de Willy Haas21
Professoren braune Hemden tragen,
entstehen gewisse Schwierigkeiten für die
bürgerliche Wissenschaft und Publizität,
Goethe für die heutigen (faschistischen)
Zwecke zurechtzumachen. Bei Professor
Max Wundt und Professor Hans Freyer
kommen diese Schwierigkeiten offen zum
Ausdruck. Freyer, einer der klügsten und
sicherlich der gebildetsten unter den dem
Faschismus nahestehenden
Universitätsprofessoren, gesteht offen ein,
daß die bürgerliche Entwicklung im 19.
Jahrhundert (und auch heute) mit Goethe
so gut wie nichts zu tun hat. Da er aber die
soziale Grundlage dafür aufzudecken
weder fähig noch gewillt ist, schließt er
seinen Aufsatz mit den
Verlegenheitsphrasen, daß Goethe für das
deutsche Volk (d. h, für die Bourgeoisie)
kein „verkörperter Besitzt“, keine Fahne“
ist, bloß „umherschwebender Geist“,
„allgegenwärtiger Glockenton über dem
Getriebe des Tages“ (DAZ, 20. rz
1932.) Sehr ähnlich auch der „linke“ Willy
18
[NT] Max Wundt (1879-1963) foi um filósofo alemão antissemita e nacional-socialista.
19
[NT] Hans Freyer (1887-1969) sociólogo e académico alemão. Como simpatizante do movimento
favorável a Hitler, combateu e derrotou seu oponente o sociólogo Ferdinand Tönnies assumindo a
presidência da Sociedade Sociológica Alemã (DGS). Em 1933 assinou o juramento de fidelidade dos
professores alemães a Adolf Hitler e ao Estado nacional-socialista.
20
[NT]
Deutsche Allgemeine Zeitung
(DAZ) jornal diário alemão publicado em Berlim entre 1861 e
1945. Até o ano de 1918, o jornal chamava-se
Norddeutsche Allgemeine Zeitung
. Embora Wilhelm
Liebknecht, um dos fundadores do SPD e colaborador próximo de Karl Marx e Friedrich Engels, tenha
sido membro do conselho editorial fundador em 1861, o jornal rapidamente se tornou um porta-
estandarte conservador da imprensa alemã (
Bismarcks Hauspostille
). No final da Primeira Guerra
Mundial, o nome foi alterado para
Deutsche Allgemeine Zeitung
, com a intenção de formar um
equivalente conservador e democrático do jornal britânico
The Times
na Alemanha e dar ao Reich uma
imagem mais democrática.
21
[NT] Willy Haas (6 de Julho de 1891 - 4 de Setembro de 1973) editor, crítico de cinema e jornalista
alemão. Escreveu para 19 filmes entre 1922 e 1933, e foi membro do júri do 8º Festival Internacional
de Cinema de Berlim. Depois da I Guerra Mundial, Haas foi para Berlim, onde fez trabalho editorial e
Lukács sobre Goethe
Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 343-430 - mar. 2022 | 357
em
Die Literarische Welt
22 (4 de março de
1932). Essa admissão de completa
perplexidade é muito característica da
melhor parte da intelectualidade fascista.
Max Wundt torna seu trabalho muito mais
fácil. Ele simplesmente escolhe tudo o que
é retrógrado nas visões econômicas e
sociais de Goethe, em particular a
glorificação do artesanato em contraste
com a incipiente indústria de grande
escala,
Hermann e Dorothea
23 como a
"canção de louvor à vida real dos alemães"
para fazer de Goethe um arauto do
caminho fascista para a barbárie.
Haas in „Die Literarische Welt“ (4. März
1932). Dieses Eingeständnis der völli- gen
Ratlosigkeit ist sehr bezeichnend für den
besseren Teil der faschistischen
Intelligenz. Wesentlich leichter macht sich
Max Wundt seine Aufgabe. Er greift einfach
alles Rückständige aus Goethes
ökonomischen und gesellschaftlichen
Anschauungen heraus, insbesondere die
Verherrlichung des Handwerks im
Gegensatz zu der beginnenden
Großindustrie, „Hermann und Dorothea“
als Hohelied eines bodenständigen
deutschen Lebens“, um aus Goethe einen
Herold des faschistischen Weges in die
Barbarei zu machen.
Hoje sabemos o que o espírito ocidental
significa para nós e quão perniciosos foram
seus efeitos sobre a germanidade. Uma
nova onda de espírito atingiu a Alemanha
com a Revolução Francesa, e não os piores
alemães que a princípio receberam a nova
mensagem com entusiasmo, sem perceber
seus perigos para nós. Goethe, por outro
lado, desde cedo só se sentia em oposição
a este mundo. (Neue Preußische [Kreuz-]
Zeitung24, 20. März 1932.)
Wir wissen heute, was der westlerische
Geist für uns bedeutet und wie verderblich
seine Wirkungen auf das Deutschtum
gewesen sind. Von der französischen
Revolution her schlug eine neue Welle des
Geistes nach Deutschland hinein, und nicht
die schlechtesten Deutschen nahmen die
neue Botschaft zuerst mit Begeisterung auf,
ohne ihre Gefahren für uns zu erkennen.
Goethe dagegen hat sich von früh an nur in
Gegensatz zu dieser Welt gefühlt. (Neue
Preußische [Kreuz-Zeitung, 20. März
1932.)
também trabalhou como jornalista e crítico de cinema. Juntamente com Ernst Rowohlt, fundou o
semanário
Die literarische Welt
em 1925.
22
[NT]
Die literarische Welt
. Unabhängiges Organ für das deutsche Schrifttum (Órgão Independente para
a Literatura Alemã) periódico publicado na República de Weimar, de edição semanal, fundado por Ernst
Rowohlt e Willy Haas em Berlim, em 1925. A revista apareceu em 1925 e foi interrompida em 1933,
por intervenção dos nazistas. Em 1934, no decurso do que os governantes nazis chamavam
"Gleichschaltung", seu nome mudou para
Das deutsche Wort
. Desde 1998,
Literarische Welt
tem sido
publicado como suplemento do jornal diário Die Welt.
23
[NT] GOETHE; Herman e Dorotéia; São Paulo: Flama Editorial, 1944.
24
[NT] O
Kreuzzeitung
foi um jornal diário nacional publicado entre 1848 e 1939 no Reino da Prússia
e mais tarde no Reich alemão. De início tinha a Cruz de Ferro impressa em seu título, e, na época,
chamava-se
Neue Preußische Zeitung
. Em 1911 foi rebatizado de
Neue Preußische
(Kreuz)Zeitung e a
partir de 1929
Neue Preußische Kreuz-Zeitung
. De 1932 a 1939 o título oficial foi simplesmente
Kreuzzeitung
.
György Lukács
358 | Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 343-430 - mar. 2022
Que Goethe não tenha entendido e tenha
rejeitado a Revolução Francesa, mas
sempre por causa de Napoleão, da
Inglaterra, em uma palavra pela então
progressista civilização burguesa
“ocidental”; que ele tenha assumido a
posição de que seu desenvolvimento
juvenil havia sido essencialmente
determinado por Voltaire, Diderot,
Rousseau etc., que mesmo na velhice,
desconsiderando a literatura alemã
"prática" e reacionária, ele tenha se
interessado apaixonadamente pela
literatura ocidental, por Balzac, Stendhal e
Merimee, por Byron e Scott e por Hugo e
Beranger, não incomoda nem um pouco
nosso "douto" professor em sua distorção
histórica fascista. Nem mesmo, se um
colega reacionário como o professor Max
J. Wolff25 tenha que admitir abertamente o
atraso das visões econômicas de Goethe.
(
Der Tag
26. Wirtschaftszeitung, 22 de
março de 1932.)
Daß Goethe zwar die französische
Revolution nicht verstanden und
abgelehnt hatte, aber stets für Napoleon,
für England, mit einem Wort für die damals
fortschrittliche „westlerische“ bürgerliche
Zivilisation. Stellung nahm, daß seine
Jugendentwicklung von Voltaire, Diderot,
Rousseau usw. wesentlich bestimmt war,
daß er sich auch im höchsten Lebensalter
bei Mißachtung der „bodenständigen“ und
reaktionären deutschen Literatur
brennend für die Literatur des Westens, für
Balzac, Stendhal und Merimee, für Byron
und Scott und für Hugo und Beranger
interessierte, stört unseren gelehrten“
Professor in seiner faschistischen
Geschichtsklitterung nicht im geringsten.
:Auch nicht, daß selbst ein so reaktionärer
Kollege wie Professor Max J. Wolff offen
die Rückständigkeit der ökonomischen
Anschauungen Goethes zugeben muß.
(Der Tag Wirtschaftszeitung, 22. März
1932.)
Como era de se esperar, a chamada
imprensa de esquerda não mostra
resistência perceptível a essa onda de
“fasticização” de Goethe. Como ela deveria
se mostrar de uma maneira diferente no
campo da política literária do que no
campo político geral? E especialmente no
Dieser Welle der Faschisierung“ Goethes
gegenüber zeigt wie zu erwarten ist
die sogenannte linke Presse keinen
irgendwie bemerkbaren: Widerstand. Wie
sollte sie sich auch auf literatur politischem
Gebiete in anderem Lichte zeigen als auf
allgemein politischem Gebiete? Und
25
[NT] Max Joseph Wolff (1868-1941) advogado, escritor e tradutor alemão.
26
[NT]
Der Tag
foi um jornal diário ilustrado publicado em Berlim, fundado por August Scherl Verlag,
cuja existência compreendeu o período de 1900 a 1934.
Lukács sobre Goethe
Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 343-430 - mar. 2022 | 359
caso de Goethe, onde, como indicado
acima, seus próprios “clássicos” do
período pré-guerra forneceram as
ferramentas intelectuais para a fasticização
de Goethe? (Max Wundt também conecta
Goethe com a "filosofia de vida", ou seja,
com Dilthey / Simmel. Suplemento do
Deutsche Zeitung
, 22 de março de 1932.)
Em tais circunstâncias, não é de todo
surpreendente, mas muito pelo contrário
bastante natural, que o
Berliner
Tageblatt
27 publique do fascista declarado
[Giovane] Gentile, ao lado de Masatyk, um
artigo duro (22 de março). É certo que a
visão de "esquerda" sobre Goethe
permanece muito mais sob o encanto das
autoridades do pré-guerra: ao fazê-lo, no
entanto, eles expressaram os mesmos
pensamentos de uma forma mais indecisa
e desinteressante daquela que
encontramos entre os fascistas declarados.
Assim, os aspectos “ocidental” e
“pacifista” de Goethe são enfatizados
(Thomas Mann, Gerhart Hauptmann), e
Goethe é feito o padroeiro da
“democracia” de Weimar. Portanto, a
palavra 'Goethe' deve ser uma espécie de
paz de deus para os alemães”, escreve o
Frankfurter Zeitung
(22 de março),
vergonhosamente (ou naturalmente) sem
mencionar que a “paz de deus” hoje
insbesondere im Falle Goethe, wo, wie
angedeutet, ihre eigenen Klassiker“ aus
der Vorkriegszeit das geistige Rüstzeug
zur Faschisierung Goethes geliefert haben.
(Auch der bereits erwähnte Max Wundt
bringt Goethe mit der „Lebensphilo
sophie“, also mit Dilthey/Simmel in
Zusammenhang. Beilage zur „Deutschen
Zeitung“, 22. März 1932.) Unter solchen
Umständen ist es gar nicht überraschend,
sondern im Gegenteil ganz natürlich, d
das „Berliner Tageblatt“ ausgerechnet den
offenen Faschisten Gentile neben Masatyk
zum Festartikler macht. (22. März.) Freilich
bleibt die „linke“ Goethe-Auffassung viel
stärker im Banne der Vorkriegsautoritäten:
damit drückten sie aber nur
unentschiedener und uninteressanter
dieselben Gedanken aus, die wir bei den
offenen Faschisten angetroffen haben.
Freilich wird das „Westliche“, das
„Pazifistische“ an Goethe hervorgehoben
(Thomas Mann, Gerhart Hauptmann),
Goethe wird zum Schutzpatron der
Weimarer „Demokratie“ erhoben. „So
müßte das Wort ‚Goethe‘ für Deutsche eine
Art Gottesfriede sein“, schreibt die
„Frankfurter Zeitung“ (22. März), wobei sie
schamhaft (oder als Selbstverständlichkeit)
verschweigt, daß der „Gottesfriede“ heute
Notverordnung und Versammlungsverbot
27
[NT]
Berliner Tageblatt
jornal alemão publicado em Berlim entre 1872 e 1939. Juntamente com o
Frankfurter Zeitung
, tornou-se um dos jornais alemães liberais mais importantes do seu tempo.
György Lukács
360 | Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 343-430 - mar. 2022
significa decreto de emergência e
proibição de reunião. Portanto, Hermann
Wendel28 glorifica Goethe (casualmente
falando, com referência a Karl Grün29, que
é caracterizado por Engels neste caderno)
como o progenitor espiritual de
Bernstein30
bedeutet. So verherrlicht Hermann Wendel
(beiläufig gesagt, unter Berufung auf den
von Engels in diesem Heft
charakterisierten Karl Grün) Goethe als
geistigen Stammvater Bernsteins
Para Goethe, a etapa mais essencial do
progresso foi a suplantação da barbárie
pela civilização. A revolução e os atos de
violência não se encaixavam em sua visão
de mundo, tendo como centro a lei do
desenvolvimento orgânico; sua essência foi
contrariada não pela revolução, mas
também pela guerra, contradizendo tudo o
que era apertado, flagrante e odioso”.
(Vorwärts, 22 de março)
Die wesentlichste Stufe des Fortschritts war
für Goethe die Überwindung der Barbarei
durch die Gesittung. In sein Weltbild mit
dem Gesetz der organischen Entwicklung
als Mittelpunkt paßte Umsturz und
Gewalttat nicht hinein; seinem Wesen
widersprach nicht nur die Revolution,
sondern auch der Krieg, widersprach alles
Verkrampftc, Grelle und Gehässige.“
(Vorwärts, 22. März) -
e professa Goethe em nome de seu
partido:
und bekennt sich im Namen seiner Partei
so zu Goethe:
Mas não apenas nos sentimos ligados a ele
por meio de nossa crença na validade da lei
do desenvolvimento, mas também
honramos sua memória por meio da luta
diária por uma ordem social em que o livre
desdobramento da personalidade que ele
proclamou e a elevação da humanidade a
grande governante do destino humano, se
torna possível.
Wir aber fühlen uns ihm nicht nur durch den
Glauben an die Gültigkeit des
Entwicklungsgesetzes verbunden, sondern
ehren auch sein Gedächtnis durch den
yytäglichen Kampf für eine gescllschaftliche
Ordnung, in der die von ihm verkündete
freie Entfaltung der Persönlichkeit sowie
die Erhebung der Humanität zur großen
Reglerin des Menschengeschicks erst
möglich wird.
28
[NT] Carl Max Ludwig Hermann Wendel (1884-1936) político, historiador, jornalista e escritor alemão.
Editou o folhetim do
Volksstimme
de Frankfurt de 1908 a 1913. Em 1933 emigrou para França e
trabalhou como membro do órgão social-democrata do exílio
Neuer Vorwärts
. Publicou diversos escritos
sobre o movimento operário e várias obras histórico-políticas e etnográficas sobre os eslavos do Sul.
29
[NT] Karl Grün (1817-1887), foi um jornalista, filósofo, teórico político e socialista alemão. Foi uma
figura de grande relevo nos movimentos políticos radicais que anteriores às Revoluções de 1848, nas
quais também veio a participar. Manteve relações com personalidade do socialismo de grande
envergadura, tais como Heinrich Heine, Ludwig Feuerbach, Pierre-Joseph Proudhon, Karl Marx, Mikhail
Bakunin e outros.
30
[NT] Eduard Bernstein (1850-1932) político e teórico político alemão. Consagrou-se como o primeiro
revisionista da teoria marxista se constituiu como um dos principais teóricos da social-democracia.
Membro do Partido Social-Democrata (SPD), e o fundador do socialismo evolutivo e do revisionismo,
Bernstein tinha realizado estreita associação de Karl Marx e Friedrich Engels, mas mostrou-se crítico do
pensamento marxista. Bernstein refutou elementos significativos do pensamento marxista que, segundo
ele, estavam fundados na metafísica hegeliana, rejeitando principalmente a perspectiva da dialética
hegeliana.
Lukács sobre Goethe
Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 343-430 - mar. 2022 | 361
Assim, a literatura da imprensa burguesa
sobre Goethe o oferece nada,
absolutamente nada para entender o que
Goethe realmente foi e como seu impacto
realmente ocorreu. Por outro lado, o
estudo desta literatura como reflexo do
fascínio geral da Alemanha, como forma
fenomênica literária da frente única de
Rosenberg até Wendel (especialmente ao
reconhecer as diferenciações), desperta
muito interesse. O nível científico é muito
mais baixo do que por ocasião do jubileu
de Hegel; as verdadeiras forças motrizes
que determinam essa ideologia, a
fasticização de Goethe, são expressas com
a mesma clareza com que o foram na
fasticização de Hegel.
So