Editorial
VIII | Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. VII-XXIII - mar. 2022
Por todas essas razões, assinaladas aqui
en passant
, é que a equipe editorial
decidiu lançar mais uma edição da
Verinotio
em homenagem aos 50 anos de
falecimento de Lukács, voltada agora aos seus trabalhos na área de estética, como
forma de reconhecimento da importância das formulações do filósofo húngaro,
sobretudo de suas obras de maturidade.
É importante, contudo, destacar para os mais desavisados que, muito embora
os escritos de e sobre Lukács sejam presença constante em nossas publicações, isso
não significa, de modo algum, que possamos ser chamados de
lukácsianos
. De fato,
rejeitamos tal filiação, graças a um sem-número de razões, das quais apenas as mais
fundamentais serão aqui indicadas. Trata-se de esclarecimento necessário, tendo em
vista o tratamento que sua obra tardia, designadamente
Para uma ontologia do ser
social
, tem recebido em nossas plagas.
Desconsiderando tratar-se de esforço de ampla envergadura, ao desconhecer a
complexidade do tema não apenas no interior da história da filosofia, mas, sobretudo
no campo do marxismo, certos intérpretes e comentadores não percebem – ou não
querem perceber, por ignorância ou imediatismo político – que a pesquisa sobre o
assunto se apresenta como um desafio, muitas vezes de aparência inacessível, que a
facilitação e a vulgarização não desfazem. E isso porque se apressam em retirar da
obra postumamente publicada esquemas conceituais simples para uso e abuso dos
sociólogos, educadores e assistentes sociais, ou, ainda, palavras de ordem que
“estimulem” a militância. Nesse mister, só conseguem complicar ainda mais a
incontornável tarefa de enfrentar a argumentação cerrada e, não raras vezes,
problemática que o autor, no entanto, procurou fundamentar com cuidado e rigor.
Consequentemente, não há como compactuar com esse tipo de “leitura” da obra de
Lukács, tornada, infelizmente, moeda corrente.
Parece que boa parte dos “lukácsianos brasileiros”, adeptos do tratamento fácil
dos densos escritos do filósofo húngaro, ignoram – seja por lapsos de formação, seja
por pura displicência teórica – aquilo que ele próprio admitiu em várias oportunidades
no final da vida, ou seja, que trazer à baila a questão ontológica, a mais complexa e
espinhosa da história da filosofia, tende a provocar dificuldades e incompreensões de
toda sorte. Já para não falar da proliferação de críticas infundadas que lhe foram
dirigidas, realizadas ao arrepio de seus escritos, e em grande medida surgidas em
decorrência da trivialização de seu legado. Ou seja, a banalização das ideias de Lukács
acaba por gerar e disseminar uma imagem débil, carente, sobretudo, de estofo
filosófico, presa fácil para seus adversários, principalmente do mundo acadêmico,
ansiosos por levá-lo à desmoralização. Assim é que, à imagem de escritor stalinista,
soma-se agora outro tipo de imputação, a de um idoso delirante.
Por todas essas razões, ainda que não nos consideremos integrantes de algum
tipo de seita lukácsiana ou do “gueto ideológico” formado por seus fiéis seguidores,
é que julgamos fundamental prolongar nossa homenagem com mais uma edição,
dedicada especialmente às questões estéticas.
Sobre a importância fundamental das obras de Lukács voltadas ao tratamento
de problemas filosóficos de caráter geral, tanto no campo da estética quanto aqueles
que marcaram os debates contemporâneos, sobretudo a respeito do intrincado e