Problemas selecionados em determinação social do pensamento
pelos livros dos filósofos, embora não se possa ignorar que as edições
das obras de Schopenhauer e de Nietzsche alcançavam certamente
muitas dezenas de milhares. Mas as universidades, as conferências, os
jornais e outros meios de difusão faziam com que essas ideologias se
estendessem às vastas massas, com certeza de modo vulgarizado,
mas com isso seu conteúdo reacionário, seu íntimo irracionalismo e
seu pessimismo, que se encontram em tais doutrinas, foram antes
intensificados do que enfraquecidos, já que, assim, as teses centrais
acabaram por predominar sobre as possíveis restrições e
ponderações. As massas foram fortemente envenenadas por tais
ideologias sem que jamais tenham colocado os olhos sobre a fonte
direta do envenenamento. A barbarização nietzschiana dos instintos,
sua filosofia da vida, seu “pessimismo heroico” etc. são produtos
necessários do período imperialista, e o aceleramento desse processo
provocado por Nietzsche pôde surtir efeito em milhares e milhares de
pessoas que sequer conheciam o seu nome (LUKÁCS, 2020, p. 77).
A ideologia circulou por meio dos livros publicados, das universidades, das
conferências, dos jornais etc., e alcançaram os salões e cafés. A vulgarização ganhou
contornos mais toscos pela mediação política. Como escreveu Lukács (2020, p. 78),
“Hitler e Rosenberg levaram para as ruas tudo que foi dito sobre o pessimismo
irracionalista desde Nietzsche e Dilthey até Heidegger e Jaspers em confortáveis
poltronas de couro, em salões intelectuais e cafés”. A política atendeu, completou
Lukács (2020, p. 627) mais adiante, às demandas dos “círculos mais reacionários dos
Junkers e dos grandes capitalistas alemães”, uma vez que “retirou dos salões e levou
para as ruas a ideologia reacionária mais extremista, modernizada sob medida para os
novos tempos”. Por via da política, então, tal ideologia obteve condições de sedução
e mobilização das massas. Teve, enfim, eficácia. Assim, há um tipo de nexo entre (1)
os objetos ideológicos outrora produtos da economia imperialista que (2) circularam
pelas mediações (universidades, conferências, jornais etc.), (3) atingindo os salões e os
cafés e (4) alcançando as ruas e o cotidiano de modo massivo.
Admitamos que esse nexo se equilibra com dificuldades probantes, cabendo
inclusive investigação complementar para aprofundar esse movimento de deságue do
irracionalismo na vida cotidiana e, daí, ao embaraço desumanizante do nazifascismo.
A folga na amarração, que todo leitor rigoroso não pode ignorar, tem esse componente
autêntico, demandando avanço na pesquisa histórica da funcionalidade da ideologia
em tela. Trata-se de aprofundar a hipótese lançada sobre o papel das universidades,
conferências, jornais etc.
Mas, o que é mais importante, também tem um componente falso quando se
poderia imaginar a possibilidade de obter uma causalidade linear. Assim como não
Verinotio
ISSN 1981- 061X v. 28, n. 1, pp. 123-146 - 2º. sem. 2022/1º. sem. 2023| 137
nova fase