Manoela Hoffmann Oliveira
pertence à classe de seres humanos que em seu mundo é chamada a
dominar. Na consecução disso que ele pensou com espírito, ele mostra
seriedade, amor e perseverança. O sucesso de sua atividade
permanece sempre num certo claro-escuro, e por isso é deixada
livre margem para a imaginação do leitor. Nós ficamos sabendo
apenas de sua boa aceitação no castelo dos condes, sua reputação
entre as damas, o aplauso na exibição de Hamlet, mas nenhum de
seus produtos poéticos nos é mostrado. Sua alma é pura e
inocente. Sem um pensamento sobre dever, por uma espécie de
instinto, o mal, o não nobre, são odiados, e ele é atraído pelo
excelente. Amor e amizade são para ele necessidade, e é facilmente
decepcionável, pois lhe é difícil punir qualquer mal. Ele anseia
agradar, mas nunca à custa de outro. A ele é penoso impingir a outro
qualquer sensação desconfortável, e quando ele se alegra, tudo que
o rodeia deve desfrutar com ele. Sua plasticidade não tem
fraquezas. Coragem e independência ele prova quando liberta
Mignon do italiano, em como ele se defende dos ladrões, em como
afirma sua independência frente a Jarno e ao abade. A autoridade
pessoal do abade, a qual em um círculo de seres humanos excelentes
é de tão grande peso, não o arrebata. Philine está lá, ela é amável,
muito atraída por ele, mas ele não é dominado por ela. Jarno
torna-se odiado por ele, já que exige o sacrifício do ancião e de
Mignon. – A essas disposições somam-se ainda figura receptiva,
decoro natural, conformidade da linguagem. Para um tal ser deveria
então ser encontrado um mundo do qual se pudesse esperar a
Bildung não de um artista, de um homem de estado, de um erudito,
de um homem de bom tom – mas de um ser humano (Körner a
Schiller, 5.11.1796. GOETHE, 2002, pp. 653-654).
Körner faz uma descrição geral de Wilhelm destacando seus melhores atributos,
mostrando-o como exemplar de uma “classe de seres humanos que em seu mundo é
chamada a dominar”, e elevando-o, por fim, a uma universalidade humana que exige
uma formação correspondente, esta que, desse modo, torna-se altamente abstrata,
desligada de qualquer atividade. Mas enquanto para Schiller o leitor deve se esforçar
para encontrar a ideia diretora expressa já no título do romance, Körner, funcionário
de justiça [Justizbeamter] artisticamente instruído, não parece ter tido essa dificuldade,
ele vê claramente completada a formação do herói:
Imagino a unidade do todo com a representação de uma bela
natureza humana, a qual se forma [ausbilden] gradualmente por
meio da cooperação de suas disposições interiores e de suas relações
exteriores. O objetivo dessa formação [Ausbildung] é um completo
equilíbrio, harmonia com liberdade... Quanto mais plasticidade na
pessoa e quanto mais força moldadora no mundo que a rodeia, mais
abundante a nutrição do espírito que esse fenômeno proporciona”
(Körner a Schiller, 5.11.1796. GOETHE, 2002, p. 653).
Körner considera que a formação de Wilhelm resulta da“ cooperação de suas
disposições interiores e de suas relações exteriores”, interação que tende ao equilíbrio
e à “harmonia com liberdade”. Novamente divergindo de Schiller – sem saber – Körner
Verinotio
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ISSN 1981 - 061X v. 28, n. 2, pp. 01-19 - jul-dez, 2023
nova fase