Itinerário e encontros com Marcuse, Lukács, Adorno
ano sob o título Critică, estetică, filozofie.
Durante os anos 1974-1975, ministrei um curso de estética e sociologia da
literatura para os estudantes da Faculdade de Filosofia. Tive a sorte de desfrutar de
uma audiência de ótima qualidade durante o curso. Eram todos excelentes estudantes,
o mais notável dentre eles foi certamente George Voicu, que dedicou sua monografia
de conclusão de curso a Lucien Goldmann e, mais tarde, publicou alguns livros muito
valiosos, dos quais um dentre eles é uma impactante radiografia crítica dedicada a Nae
Ionescu, o mentor da “nova geração”3. Um outro aluno, Râpeanu, demonstrou reais
qualidades de sociólogo. Para minha enorme surpresa, minha proposta de prosseguir
com esse curso no ano seguinte foi recusada. A decisão partiu de um militante do
Partido cuja função era exercer um controle ideológico na Faculdade de Filosofia. Eu
pedi explicações a Petre Constantin, secretário da Propaganda na Prefeitura de
Bucareste, sobre os motivos da interdição que acabava de ser anunciada. A resposta
que me deu soou como um veredito: “Você não tem aprovação do Partido para
ministrar esse curso”. Esse conflito teve lugar durante o outono de 1975. Lutei em
vão para obter o direito de continuar a partilhar com meus alunos os resultados de
minhas pesquisas na área de estética e de sociologia literária: eu havia publicado
alguns livros e uma tese de doutorado cujos temas tratavam dessas temáticas, eu havia
participado do Congresso Internacional de Estética de Upsala (1968), com uma
palestra que constava nos Anais do Congresso, assim como no Congresso de
Bucareste (1972), no qual, na qualidade de relator, eu havia sintetizado oito a dez
comunicações. Mas foi uma causa perdida. Petre Constantin tomou nota de todos os
meus argumentos e até mesmo me prometeu — não sem ironia — que leria minhas
obras. Mas manteve-se firme em sua posição. Dois anos mais tarde, em 1977, foi-me
anunciado que eu deveria deixar a Universidade, pois a vaga que eu ocupava até então
seria suprimida. Em troca, ofereciam-me como única alternativa um cargo de
3
A Nova Geração romena (Geração de 1927, também conhecida como geração Criterion, embora
existam distinções entre a geração Criterion e a Nova Geração) era composta por jovens intelectuais
progressistas romenos, unidos por amizade e curiosidade intelectual. Apesar das tendências
inicialmente progressistas do grupo, principalmente em 1932-33, diversos membros da Nova Geração
foram atraídos pelo fascismo da Garda de Fier (Guarda de Ferro, também conhecida como Legião do
Arcanjo Miguel) fundada em 1927 por Corneliu Cordreanu, gerando distensões internas e o eventual
rompimento da geração Criterion. Exemplo disso foi o a hostilidade entre Mihail Sebastian e seu amigo
Mircea Eliade, ambos integrantes da Nova Geração, em razão do envolvimento deste com a extrema-
direita e de suas simpatias pela Guarda de Ferro e por Cordreanu. Os jovens da Nova Geração foram
profundamente influenciados por Nae Ionescu, conhecido antissemita e apoiador da Legião do Arcanjo
de São Miguel. (CALINESCU, M. The 1927 generation in Romania: Friendships and Ideological Choices
(Mihail Segastian, Mircea Eliade, Nae Ionescu, Eugène Ionescu, E. M. Cioran), 2002). (N.T.)
Verinotio
ISSN 1981 - 061X v. 28 n. 2, pp. 414-428 - jul-dez, 2023 | 415
nova fase