DOI 10.36638/1981-061X.2023.28.2.693  
O Irracionalismo e sua Teoria do Conhecimento:  
Reação Agnóstico-relativista de Guerreiro Ramos  
ao Marxismo (1939-1955)  
The Irrationalism and its Theory of Knowledge: Guerreiro Ramos’  
Agnostic-Relativist Reaction to Marxism (1939-1955)  
Leandro Theodoro Guedes*  
Elcemir Paço Cunha**  
Wescley Silva Xavier***  
Resumo: O objetivo do artigo é determinar as  
evidências do irracionalismo nos textos iniciais  
de Alberto Guerreiro Ramos com respeito à  
teoria do conhecimento, considerando o período  
de preparação do autor para seu posicionamento  
posterior na fenomenologia. Para tanto, foi  
realizada análise imanente dos textos  
selecionados (1939-1955). Os resultados  
sugerem que as evidências do irracionalismo  
compareceram pela adesão do autor ao  
agnosticismo relativista presente nas posições  
Abstract: The objective of the article is to  
determine the evidences of irrationalism in  
Alberto Guerreiro Ramos' early texts with  
respect to the theory of knowledge, considering  
the author's preparation period for his later  
positioning in phenomenology. To this end,  
immanent analysis of the selected texts (1939-  
1955) was performed. The results suggest that  
the evidences of irrationalism appear through  
the author's adherence to relativistic  
agnosticism which is found into the positions of  
existentialism and phenomenology, filling a gap  
in the research regarding the Brazilian  
sociologist's thought. This adherence was a  
reaction to Marxism elected as an adversary to  
be fought, just as it had been confronted by  
irrationalist tendencies in philosophy.  
do existencialismo  
e
da fenomenologia,  
preenchendo assim uma lacuna na pesquisa a  
respeito do pensamento do sociólogo brasileiro.  
Tal adesão se deu em circunstância de reação ao  
marxismo elegido como adversário a ser  
combatido, da mesma maneira em que fora  
confrontado por tendências irracionalistas na  
filosofia.  
Keywords: Alberto Guerreiro Ramos. Theory of  
knowledge. Irrationalism. Marxism.  
Palavras-chave: Alberto Guerreiro Ramos. Teoria  
do conhecimento. Irracionalismo. Marxismo.  
Introdução  
Autor de relevante peso nas ciências sociais no Brasil, Alberto Guerreiro Ramos  
(doravante, Ramos) legou obras com significativa audiência no país. Estudos como A  
redução sociológica (1958), Problema nacional do Brasil (1960), Mito e verdade da  
*
Professor do Curso de Tecnologia em Logística da Faculdade de Educação tecnológica do Estado do  
Rio de Janeiro (FAETERJ) e Doutorando em Administração pela Universidade Federal de Viçosa (UFV)  
**  
Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal de Juiz de Fora  
(UFJF). Pós-doutorando em Economia no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional –  
CEDEPLAR/ UFMG  
*** Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal de Viçosa (UFV)  
Verinotio  
ISSN 1981 - 061X v. 28 n. 2 jul-dez, 2023  
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O Irracionalismo e sua Teoria do Conhecimento  
revolução brasileira (1963) e A nova ciência das organizações (1981), procuraram  
sistematizar as bases para um pensamento político e sociológico nacional. Trata-se de  
um autor frequentemente retomado e exaltado para confrontar os problemas  
hodiernos, tais como o desenvolvimento econômico e social do país, construção de  
modos alternativos de estruturação dos espaços de interação social, tendo por eixo  
“racionalidade substantiva” não convergente ao predomínio do “mercado”, crítica à  
importação de conceitos não coerentes com o contexto brasileiro, entre outros.  
Suas preocupações abrangeram outros temas igualmente importantes e que  
tocam os próprios fundamentos de seu pensamento. A teoria do conhecimento  
(gnosiologia), por exemplo, foi essencial à sua posição no existencialismo de  
inclinações fenomenológicas cujo teor, considerado crítico do pensamento dominado  
pelas tendências funcionalistas e neopositivistas, compareceu com grande vigor em  
suas obras dos anos de 1950, como a coletânea de artigos Introdução crítica à  
sociologia brasileira (1955) e o notório livro A redução sociológica (1958), que  
buscava inserir a perspectiva nacional como um aspecto determinante na produção da  
sociologia.  
Ainda que tenha sido uma marca indelével no pensamento do autor mesmo nas  
suas obras mais tardias, o posicionamento no existencialismo e na fenomenologia teve  
uma trajetória precedente. Não seria exagero dizer que a primeira aproximação de  
Ramos com a teoria do conhecimento (sobretudo ligada às tendências neokantianas)  
foi crucial em obras anteriores tendo em vista a formação das bases das incursões  
posteriores objetivadas naquelas notórias obras. Assim, o período de aproximação  
com a teoria do conhecimento em particular, especialmente entre os anos de 1939 e  
1955, foi fundamental para a preparação do terreno intelectual para a sua posição  
gnosiológica posterior demarcada na fenomenologia.  
Não é acaso certa convergência entre Ramos e algumas tendências denominadas  
“críticas” em matéria gnosiológica. Um dos tangentes debates principais se concentra  
na tentativa de oferecer alternativa ao chamado “paradigma funcionalista” como forma  
cabal das tendências positivistas e neopositivistas dominantes (PAES DE PAULA,  
2016). Esse debate permanece candente na produção nacional e internacional, em que  
as contribuições de Ramos acumulam audiência também fora do país (CANDLER;  
VENTRISS, 2006).  
Essas contribuições, entretanto, não passaram sem algum escrutínio importante,  
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especialmente atinente às suscitadas problemáticas do campo da teoria do  
conhecimento. Pode-se destacar o apontamento ao aspecto utópico da obra em que  
o autor perfez preferências gnosiológicas que deixaram de lado a possibilidade de  
desvelamento das contradições da sociedade capitalista (FARIA, 2009). Nesse sentido,  
Ramos teria oferecido uma “fenomenologia crítica” cujo “alcance é ao mesmo tempo  
ineficaz, na medida em que acomoda o que é ao que se deve agregar, e ilusória, na  
proporção em que pretende firmar um paradigma de racionalidade substantiva  
descolado do real e concentrado no pensamento” (FARIA, 2009, p. 441). As limitações  
identificadas, como é possível observar, apontam diretamente para os fundamentos no  
plano da teoria do conhecimento.  
Com relação ao aspecto particular do conceito de “homem parentético”, por  
exemplo, o diagnóstico é semelhante, recomendando o seu caráter “hipotético”, como  
escreveram Gurgel e Justen (2020, p. 85). Imergido nas tendências da fenomenologia  
de Husserl, tal homem é “aquele que consegue se colocar em solidão, centrando-se  
em si mesmo, para em mergulho ou salto (Bergson), ou ainda “lançando-se às  
profundezas”, libertar-se das prescrições do mercado de onde chega todos os dias,  
retornando da luta pela sobrevivência” (GURGEL; JUSTEN 2020, p. 84). A remissão aos  
problemas gnosiológicos é, como novamente se vê, persistente nesse escrutínio mais  
recente.  
Ainda nessa direção, já foi sugerido que, em seu estágio nacionalista, além de  
um traço politicista e de uma posição que reitera a incapacidade política na  
participação das camadas populares na formação do Brasil moderno (RAGO, 1992;  
RAGO FILHO, 1998), o pensamento de Ramos operou “uma espécie de tentativa de  
‘reduzir’ o existencialismo do plano do indivíduo para o plano da ‘nação’, isto é uma  
tendência a ‘aplicar’ o existencialismo à nação brasileira, o apelo à constituição do ‘ser  
nacional’ como ‘ser para si’” (PÚBLICA, 1983, p. 83), em flagrante problemática  
metodológica decorrente de seus fundamentos na teoria do conhecimento. Ao  
considerar a participação de Ramos no ISEB, cujo nascimento se deu por meio da  
influência direta dos difusores do existencialismo no Brasil, Paiva (1979, p. 60)  
acrescentou que, quando Ramos defende uma sociologia nacional, o culturalismo se  
combina com o vitalismo orteguiano e com o existencialismo”.  
Muitas correntes teórico-gnosiológicas aludidas (Husserl, Bergson etc.) possuíam  
vínculos claros com a filosofia irracionalista (LUKÁCS, 2020). Aspectos como a crítica  
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romântica e a apologia indireta do capitalismo, a pseudo-objetividade, a criação de  
mitos e a valorização da intuição são traços que perfizeram, por exemplo, o elo entre  
o existencialismo, a fenomenologia e o irracionalismo (LUKÁCS, 1968). Não por menos,  
Gorender chegou a questionar certa combinação de tendências em A redução  
sociológica. O autor anotou que naquela consagrada obra de Ramos uma  
“interpretação de dados estatísticos sobre o crescimento da indústria nacional se  
associa, sem transição, às categorias elaboradas pelo subjetivismo exacerbado de  
Husserl, Heidegger e Jaspers. Pode ser considerada legítima tão estranha simbiose?”  
(GORENDER, 1996, p. 210).  
É importante levar em conta que a trinca imediatamente aludida, e outras  
referências de fundamento das posições de Ramos mencionadas antes, possuem  
aderência às filosofias irracionalistas, sobretudo no tema da teoria do conhecimento  
(LUKÁCS, 2010). Por esse motivo, não é uma indicação que possa ser ignorada a  
sugestão de que, em Ramos, uma tal “utilização da fenomenologia apresenta uma  
característica peculiar, (...) como decadência filosófica do irracionalismo moderno, pois,  
apesar de sua aparência crítica e metódica quanto ao positivismo, eram revestidas pela  
consciência burguesa e seu atomismo individualista” (QUEIROZ, 2016, p. 270).  
Cabe destacar que o problema do irracionalismo não se esgotou com a derrota  
do nazismo. Assim como Lukács (2020), que sublinhou, no epílogo de A destruição  
da razão, a renovação do irracionalismo em sua difusão no pós-guerra, outros autores  
têm chamado a atenção para as suas tendências contemporâneas. É possível destacar,  
nessa direção, as assim chamadas correntes pós-modernas e decolonial que se  
desenvolveram a partir da filosofia irracionalista alemã e que comparecem hoje com  
notória penetração (VAISMAN; FORTES, 2022; FOSTER, 2023; PENNA, 2022/2023;  
WOLIN, 2004). Assim, parece razoável considerar a possibilidade de manifestações da  
filosofia irracionalista também em países como o Brasil, não apenas em razão de sua  
difusão e renovação, como também por decorrências das históricas regressividades  
objetivadas no país (CHASIN, 1978).  
Essas considerações, sem exceção, remetem a atenção para as questões ligadas  
à adesão de Ramos a específicas tendências da teoria do conhecimento. E, nesse  
campo, restaram sugeridas apenas alusões à presença de inclinações de Ramos às  
filosofias irracionalistas. A questão segue aberta e é de suma importância trazer à  
baila, com recursos probantes, as tendências irracionalistas na elaboração do autor em  
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sua primeira aproximação com a teoria do conhecimento uma vez que tem repercussão  
no posterior itinerário intelectual do sociólogo brasileiro e, por decorrência, no  
enfrentamento de questões contemporâneas para as quais seu pensamento é evocado.  
A contribuição principal, portanto, está associada ao aprofundamento do escrutínio a  
partir da investigação daquelas tendências irracionalistas nos primeiros materiais de  
Ramos em que os problemas do conhecimento se despontaram. Assim, a problemática  
deste artigo é responder à seguinte questão: quais são as evidências do irracionalismo  
presentes na elaboração intelectual de Ramos em sua primeira aproximação com a  
teoria do conhecimento?  
Com efeito, o restante do artigo está dividido em quatro partes. Na parte a seguir  
serão apresentados os aspectos metodológicos fundamentados na “análise imanente”  
dos textos selecionados de Ramos. Na parte seguinte, faremos uma breve  
caracterização histórica do irracionalismo e sua teoria do conhecimento. Na sequência,  
trataremos criticamente de iluminar as tendências do irracionalismo presentes nos  
materiais selecionados. Por fim, apresentaremos as considerações finais do artigo.  
Aspectos metodológicos  
A pesquisa realizada foi fundamentada na tradição materialista do estudo das  
formações ideais ou formas de consciência. Nessa tradição, se localiza também o  
estudo dos “objetos ideológicos” (CHASIN, 1978).  
Esse estudo é geralmente operacionalizado a partir do chamado “tríptico  
metodológico” (CHASIN, 1978; LUKÁCS, 2020) que envolve: 1) a análise da gênese,  
ou a origem histórico-social das formações ideais em suas condições objetivas de  
possibilidade, 2) a análise da função social das formações ideais que podem ou não  
ser convertidas em ideologias em condições adequadas, envolvendo a missão social,  
as finalidades declaradas ou não, e a efetivação prática de tais formações ideais nos  
contextos sócio-históricos, e, por fim, 3) a análise ou crítica imanente.  
Os elementos desse tríptico podem ser considerados separadamente (CHASIN,  
1978; PAÇO CUNHA, 2022/2023). Na presente pesquisa não foram realizadas a  
análise de gênese e da função social tendo em vista as limitações de espaço e escopo.  
Assim, ficou focalizado especificamente o terceiro elemento do tríptico, a análise  
imanente, por atender, sem prejuízos, à problemática colocada anteriormente.  
Por meio da análise imanente é possível tomar as obras como “objeto  
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ideológico”, observando o “conjunto de suas afirmações, conexões e suficiências, como  
também as eventuais lacunas e incongruências que o perfaçam” (CHASIN, 2009, p.  
25). Sendo assim, trata-se de um procedimento que não imputa ao autor nada que  
não esteja presente em seus escritos, buscando no interior da obra as respostas para  
as questões que dela podem emergir. Uma vez que “a própria voz dos escritos  
pulveriza as interpretações irrazoáveis desse feitio e desmancha as hipóteses de  
investigação centradas em apriorismos, equações sempre subjetivas” (CHASIN, 2009,  
p. 85), fica mantida a possibilidade de uma análise objetiva dos materiais. Esse tipo  
de análise também procura remeter as formações ideais ao solo objetivo, auxiliando,  
portanto, no estudo da gênese e da função social. Entretanto, como dito, focalizamos  
o tratamento dos textos, deixando tal remissão para outra oportunidade.  
A análise imanente se presta a diferentes finalidades específicas. Chasin (1978),  
por exemplo, procurou estabelecer a natureza do pensamento de Plínio Salgado diante  
da tese de se tratar de um tipo de fascismo. No estudo de Lukács sobre o  
irracionalismo, a análise imanente emergiu como “elemento legítimo e até  
indispensável para a exposição e o desmascaramento das tendências reacionárias na  
filosofia” (LUKÁCS, 2020, p. 11). Há também exemplo que sustenta a aplicação com  
propósito de evidenciar os fatores fundamentais para explicação da origem de  
expressões do pensamento administrativo (PAÇO CUNHA, 2021). É preciso esclarecer,  
portanto, que, de acordo com nossos propósitos estabelecidos, a análise imanente se  
prestou exclusivamente à captura e explicitação das evidências irracionalistas  
presentes na primeira aproximação de Ramos com a teoria do conhecimento, abrindo  
vaga, quando possível, para considerações críticas de suas insuficiências. Não  
obstante, cabe frisar que não se tratou de “aplicar” o irracionalismo como uma espécie  
de “tipo ideal” ao material sob análise, mas do esforço de extrair as evidências do  
irracionalismo ao tomá-lo como objeto ideológico.  
Nesse sentido, e em termos operacionais, a análise foi realizada sobre os textos  
Introdução à cultura, de 1939, e Literatura latino-americana de 1941. Também foram  
considerados os artigos publicados em 1955 em O Jornal, tais como Diálogo com o  
marxismo; Gurvitch e o marxismo; Pluralismo dialético; Historicismo e marxismo; e  
Epocologia e marxismo. Assim, ficou coberto o período entre 1939 e 1955. Esse  
recorte se justifica por se tratar, salvo melhor juízo, das primeiras obras em que o  
autor mais se dedicou ao problema da teoria do conhecimento.  
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É preciso, entretanto, ressalvar a exclusão realizada de outros textos publicados  
no mesmo ano ou anteriormente e que, posteriormente, foram amealhados na  
coletânea Introdução crítica à sociologia brasileira, de 1956, e que possuem alguma  
aproximação com questões da teoria do conhecimento. Mas é importante registrar que  
tais textos foram dedicados mais a outros temas, como a sociologia brasileira e o  
desenvolvimento econômico, sendo as questões sobre o conhecimento muito menos  
desenvolvidas.  
Assim, passaremos à caracterização do irracionalismo que auxiliará na  
identificação de suas evidências principais, adiante, nos materiais selecionados.  
Breve caracterização do irracionalismo e sua teoria do conhecimento  
É importante anotar, logo de partida, que o “irracionalismo” não é um tipo ideal,  
um conceito. Segundo Weber, o tipo ideal é obtido:  
mediante a acentuação unilateral de um ou de vários pontos de vista  
e mediante o encadeamento de grande quantidade de fenômenos  
isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior  
ou menor número ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam  
segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados, a fim de se  
formar um quadro homogêneo de pensamento. É impossível encontrar  
empiricamente na realidade este quadro, na sua pureza conceitual,  
pois trata-se de uma utopia (WEBER, 1973, p. 137-138).  
Nesse sentido, “trata-se da construção de relações que parecem suficientemente  
motivadas para a nossa imaginação” (WEBER, 1973, p. 138-139), sem existência real  
em si. Enquanto conceito, o tipo ideal não exprime e não procura expressar coisas da  
realidade concreta. Trata-se de um produto de natureza subjetiva, um recurso  
metodológico específico. Por esse motivo, não se aproxima do fenômeno histórico do  
irracionalismo tal como apreendido por Lukács na filosofia alemã, apresentando  
desdobramentos e renovações em outros tempos e lugares, transformando-se, pois,  
ao longo do tempo, como fenômeno inclusive de efeitos objetivos. O irracionalismo  
(como coisa ideal, mas de existência apreensível) não se extinguiu como uma tendência  
de objetivações variadas e não deve ser equiparado a uma utopia metodológica de  
acentuações de pontos de vista para finalidades heurísticas do trabalho sociológico.  
Tratou-se tal fenômeno de uma tendência histórica inscrita no interior do  
desenvolvimento da filosofia na Alemanha, incluindo a instauração da sociologia como  
ciência especializada, diante das condições objetivas do atraso daquele país (LUKÁCS,  
2020). Por meio do enfrentamento das questões postas, sobretudo a crise societária  
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manifestada na transição entre os séculos XIX e XX, um conjunto de ideias terminou  
por funcionar como uma preparação ideológica, sem que isso significasse uma  
causalidade, para a visão de mundo nacional-socialista do nazismo.  
Lukács (2020) não realizou a análise restrita, como pura imanência, às obras dos  
pensadores alemães que constituíram tal fenômeno. O filósofo magiar mostrou como  
seus principais protagonistas respondiam às questões postas na ordem do dia pela  
realidade concreta, pelo movimento histórico da formação alemã. Tais respostas  
alimentaram, em graus variados, uma espécie de crítica direcionada à expressão  
cultural do modo de produção capitalista e, em certos casos, indicou soluções  
reacionárias ou autoritárias para os problemas da sociedade burguesa, como meio de  
defender, ainda que indiretamente, o próprio capitalismo do acirramento da luta de  
classes.  
O percurso de Lukács até a determinação histórica do irracionalismo tem uma  
referência muito clara na crítica de Marx à decadência ideológica do pensamento  
econômico. Não é sem razão que antecedências marcantes da filosofia irracionalista  
foram encontradas nessa crítica realizada pelo filósofo alemão. A “crítica romântica”  
do capitalismo, por exemplo, já apontada por Marx (2011, p. 110) como tendência  
que acompanharia o pensamento burguês até seus últimos dias, “evolui para uma  
apologética mais complexa e exigente, mas não menos desonesta e eclética, da  
sociedade burguesa, para seu louvor indireto, sua defesa a partir de seus “lados ruins””  
(LUKÁCS, 2016, p. 104). A própria menção de Lukács ao desenvolvimento da  
sociologia como um desdobramento dessa decadência ideológica e o “desejo dos  
ideólogos burgueses de conhecer a legalidade e a história do desenvolvimento social  
separadas da economia” (LUKÁCS, 2016, p. 113), são traços que o autor também  
destaca em A destruição da razão, considerando a relação entre o desenvolvimento  
da sociologia e a referência na filosofia irracionalista (haja vista a posição agnóstica de  
autores como Mannheim e Weber, tributários da filosofia da vida).  
Não é sem propósito insistir que o legado de Marx nesse assunto foi ressaltado  
na medida em que “a crítica marxiana da ideologia decadente” possibilita que se  
encontre, “na mistura eclética de imediaticidade e escolástica, constatada em Mill, a  
chave para a real compreensão de muitos pensadores modernos considerados  
profundos” (LUKÁCS, 2016, p. 110). Dessa forma, “da versão decadente e vulgarizada  
que o anticapitalismo romântico desenvolveu bastante cedo por meio de Malthus  
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brotou, no decurso da putrefação do capitalismo, a demagogia social bárbara do  
fascismo” (LUKÁCS, 2016, p. 105). São bem conhecidas as ligações de Malthus com  
aquilo que Marx (2013) delimitou por “economia vulgar”. É interessante notar que  
Lukács toma a crítica realizada por Marx a certas tendências do pensamento econômico  
para apontar a relação que aquela crítica romântica do capitalismo alimentou com o  
avanço do fascismo ainda que essa relação não indique causalidade imediata. É  
igualmente interessante o fato de que a crítica romântica aparece como um dos  
aspectos caracterizadores da filosofia irracionalista, segundo o próprio Lukács em A  
destruição da razão.  
Ademais, um dos desdobramentos desse processo de decadência ideológica é a  
própria noção da relação entre racionalismo e irracionalismo. Ao tomar ambos como  
consequências da capitulação daquele pensamento decadente diante das questões  
impostas pela realidade concreta, para Lukács (2016, p. 117), “Ideologicamente, a  
tacanhice se expressa (...) no antagonismo entre racionalismo e irracionalismo”. O  
primeiro “é uma capitulação direta, passiva e ignominiosa diante das necessidades da  
sociedade capitalista. O irracionalismo é um ato de protesto contra elas, mas  
igualmente impotente, igualmente ignominioso, igualmente vazio e irrefletido” (p.  
117). Em ambos os casos, a decadência ideológica se manifesta de maneira diferente,  
mas Lukács demarca tanto o racionalismo (neopositivismo e suas variantes formalistas)  
quanto o irracionalismo (reação romântica) como lados irmanados desse terreno da  
decadência. Especialmente o irracionalismo, e suas características mais intrínsecas as  
quais nos interessam mais perto, é destacado pelo autor como um desdobramento  
daquela decadência ideológica. Para o filósofo húngaro, “não existe visão de mundo  
‘inocente’. (...) a tomada de posição a favor ou contra a razão é decisiva quanto à  
essência de uma filosofia enquanto filosofia, no seu papel junto ao desenvolvimento  
social” (LUKÁCS, 2020, p. 10). Uma dada forma de consciência desse tipo “reflete  
sempre a racionalidade (ou irracionalidade) concreta de uma dada situação social, de  
uma dada direção do desenvolvimento histórico e, ao lhe dar clareza conceitual,  
promove ou retarda esse desenvolvimento”. E assim, se “aquilo que se move para  
adiante é considerado razão ou desrazão, se isto ou aquilo é afirmado ou rejeitado,  
constitui justamente um fator essencial e decisivo na tomada de partido, na luta de  
classes na filosofia” (LUKÁCS, 2020, p. 11).  
É decisivo ter claro que Lukács considerou o irracionalismo como um fenômeno  
histórico, não como uma mera repetição daquele pensamento econômico decadente.  
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O Irracionalismo e sua Teoria do Conhecimento  
Considerando os primeiros desdobramentos históricos do irracionalismo (anteriores à  
Segunda Guerra Mundial, e segundo os propósitos deste artigo), Lukács mostrou que,  
se em um “primeiro período importante”, surgiu “em oposição ao conceito histórico-  
dialético idealista de progresso” como no exemplo do “caminho de Schelling a  
Kierkegaard”, o segundo período elegeu o marxismo, então em desenvolvimento,  
como tal adversário a ser severamente combatido. Trata-se de uma reação que  
configura um aspecto importante para as nossas análises posteriores a respeito das  
evidências do irracionalismo nos materiais delimitados do sociólogo brasileiro. Nesse  
sentido, devemos enfatizar que, desse segundo período em diante, cessou, escreveu  
Lukács (2020, p. 273), toda “moralidade científica”, pois tratou-se de difamar tal  
adversário, sem a devida apropriação a “fundo da matéria estudada”, promovendo  
afirmações levianas e infundadas. Esse combate ao marxismo como inimigo ideológico  
aprofundou-se com o acirramento da luta de classes e com a explicitação das  
contradições próprias do capitalismo, acentuando o caráter reacionário daqueles  
intelectuais diante do progresso representado pela alternativa socialista trazida pelas  
mudanças próprias da sociedade burguesa. Como anotou nosso autor:  
A situação muda radicalmente com as Jornadas de Junho [1848] do  
proletariado parisiense e, sobretudo, com a Comuna de Paris [1871]:  
a partir de agora a concepção de mundo do proletariado, o  
materialismo histórico e dialético, passa à condição de adversário, cuja  
natureza essencial determina o desenvolvimento do irracionalismo. O  
novo período terá Nietzsche como o primeiro e mais importante  
representante. Ambas as etapas do irracionalismo dirigem seus  
ataques contra o mais alto conceito filosófico de progresso de seu  
tempo (LUKÁCS, 2020, p. 12).  
Portanto, esse desenvolvimento irracionalista teve como objetivo claro combater  
o progresso e o avanço da luta de classes e das ideologias proletárias, em particular  
o marxismo. A posição diante das contradições, das crises sociais e do adversário a  
ser combatido, promoveu uma espécie de crítica ao modo de produção capitalista por  
suas formas de expressão, sobretudo em sua dimensão cultural. A condenação  
genérica da decadência cultural trazida pelo avanço da “técnica” (unilateralmente  
considerada), favoreceu a constituição de uma “apologia indireta” ao modo de  
produção capitalista que, enquanto não deixava de reconhecer certos problemas  
existentes, evitava ao máximo ligá-los aos fatores essenciais do capitalismo em  
muitos casos, atribuindo tais problemas a uma condição humana universal. Como  
sugeriu Lukács (2020, p. 219), a “meta principal” do irracionalismo é “fornecer uma  
apologia indireta da ordem social capitalista”. Uma das faces mais visíveis dessa  
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filosofia é sua rebeldia e indolência cativantes em sua crítica genérica à condição  
cultural existente, cuja seta, entretanto, apontava explícita ou implicitamente para  
tendências reacionárias.  
Em termos bastante sintéticos, é possível reunir os principais traços  
característicos da filosofia irracionalista, expressando uma unidade comum aos  
diferentes intelectuais: “A depreciação do entendimento e da razão, a glorificação da  
intuição, a gnosiologia aristocrática, a recusa do progresso sócio-histórico, a criação  
de mitos são, entre outros, motivos que encontramos em quase todo pensador  
irracionalista” (LUKÁCS, 2020, p. 15). O trajeto até aqui foi necessário para colocar os  
aspectos gerais que iluminam o mais específico tendo em vista nossos propósitos. Por  
isso, é preciso reter o traço característico dessa filosofia quanto ao aspecto da  
problemática do conhecimento (“depreciação do entendimento e da razão...”). Como  
sugeriu Lukács, os “últimos séculos do pensamento filosófico foram dominados pela  
teoria do conhecimento”. Sua “missão social”, explicou, em termos de sua “finalidade  
principal”, consistiu em “fundamentar e assegurar o direito à hegemonia científica das  
ciências naturais desenvolvidas desde o Renascimento, mas de tal maneira que  
permanecesse preservado para a ontologia religiosa, na medida em que isso fosse  
socialmente desejável, o seu espaço ideológico historicamente conquistado” (LUKÁCS,  
2010, p. 33). Nesse quadro, é possível reconhecer certo lugar da fenomenologia de  
ascendência existencialista, cuja “predisposição fundamental” é a “tendência teórica ao  
enfraquecimento do senso de realidade” (LUKÁCS, 2012, p. 113), sendo chamada a  
“reprimir a objetividade ontológica” (p. 104). As filosofias irracionalistas assim  
predispostas possuem a tendência de fazer hipérbole da incognoscibilidade da  
realidade presente no idealismo subjetivo, redundando no agnosticismo relativista em  
que não apenas a essência da realidade não seria passível de ser conhecida como  
também tal conhecimento estaria sempre dependente de visões de mundo  
imponderáveis entre si.  
Isso é decisivo uma vez que a “base, no plano da teoria do conhecimento, é  
sempre o agnosticismo e o relativismo que o acompanha” (LUKÁCS, 1968, p. 54).  
Cabe levar em conta que “não raramente”, escreveu Lukács (2020, p. 91), o  
“agnosticismo se converte” no irracionalismo e que “quase toda forma moderna de  
irracionalismo se funda mais ou menos sobre a teoria do conhecimento do  
agnosticismo”. Para o agnosticismo, então, “não podemos nada saber da essência  
verdadeira do mundo e da realidade” (LUKÁCS, 1968, p. 33). Admitindo que a  
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O Irracionalismo e sua Teoria do Conhecimento  
realidade é incognoscível, muitas vezes tal filosofia se apresenta, entre outras formas  
(como o positivismo), “sob os traços de um neokantismo” (p. 34). Alimentado nas  
correntes do existencialismo de Dilthey, Nietzsche, Bergson, Spengler e consortes, um  
“agnosticismo relativista, esse ceticismo a respeito de tudo, conduz em linha reta ao  
mito da filosofia atual, cujo valor central é o antirracionalismo, e até o irracionalismo  
ou, em todo caso, a aceitação de métodos e realidade suprarracionais” (LUKÁCS, 1968,  
p. 55). Completou Lukács, na sequência, ao sugerir que a “crise geral que se seguiu a  
1918, transformou o irracionalismo em uma filosofia concreta da história, a qual  
terminou por levar, através de Spengler, Klages e Heidegger, às visões infernais do  
fascismo” (LUKÁCS, 1968, p. 55). E considerando, como dito, que a finalidade principal  
do irracionalismo é proporcionar uma apologia indireta da ordem social capitalista –  
também como uma variante da reação à posição socialista do marxismo , a teoria do  
conhecimento assim mobilizada teria que, de formas variadas, depreciar o  
entendimento e a razão. Assim, entende-se por que motivo as aspirações de  
objetividade científica e crítica do modo de produção capitalista em seus fundamentos  
que comparecem no marxismo fizeram deste um adversário da posição agnóstica na  
teoria do conhecimento e da apologia indireta que a acompanha por via do  
irracionalismo.  
É possível dizer, portanto, que o irracionalismo, por meio da obstrução direta ou  
indireta à razão, expressou-se como agnosticismo relativista na teoria do  
conhecimento e, no plano econômico social, promoveu a apologia indireta do  
capitalismo, recusando progresso social representado pelo socialismo. Na medida em  
que essa posição na teoria do conhecimento negava a possibilidade da verdade  
objetiva exaltada sobretudo pelo materialismo, que sempre fundamentou as aspirações  
científicas do marxismo, este deveria ser confrontado tanto no plano econômico  
quanto no plano das ideias, incluindo o próprio território da problemática do  
conhecimento em tela.  
Essa filosofia e sua teoria do conhecimento obtiveram considerável difusão na  
Europa, como no exemplo de Bergson e seu intuicionismo como método na França.  
Encontrou também penetração nos Estados Unidos, sobretudo pelas tendências  
agnósticas que fundamentaram James e seu pragmatismo no interior do qual exaltava-  
se de modo idealizado o homem de negócios, o homem prático da rua (LUKÁCS,  
2020). É possível também falar das importantes reminiscências no existencialismo  
francês como hipérbole da filosofia alemã (FERRY e RENAUT, 1988) e das modificações  
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pelas quais passou no pós-guerra para a defesa indireta do capital monopolista de  
talhe estadunidense (LUKÁCS, 2020). Considerando tendências ainda mais  
contemporâneas do irracionalismo, segundo certa linha de continuidade a partir da  
“renovação do idealismo” (LUKÁCS, 1968) do final dos anos de 1960 em diante, cabe  
registrar que o:  
(...) o irracionalismo passou a desempenhar um papel crescente na  
constelação do pensamento. Isso inicialmente assumiu a forma  
relativamente suave de um pós-modernismo e pós-estruturalismo  
desconstrutivos, que, na obra de pensadores como Jean-François  
Lyotard e Jacques Derrida, deixaram de lado todas as grandes  
narrativas históricas enquanto abraçavam um anti-humanismo  
filosófico que emanava principalmente de Heidegger. Em contraste, as  
novas filosofias de imanência de hoje associadas ao pós-humanismo,  
novo materialismo vitalista, teoria ator-rede e ontologia orientada a  
objetos constituem um irracionalismo mais profundo, representado  
por figuras supostamente de esquerda como Gilles Deleuze, Félix  
Guattari, Bruno Latour, Jane Bennett e Timothy Morton (FOSTER,  
2023, s/p).  
Considerando essa permanente renovação do irracionalismo para além das  
fronteiras que o gestaram, seria possível falar de uma difusão da filosofia irracionalista  
para a América Latina, especialmente para o Brasil nas décadas em que Ramos realizou  
sua aproximação com a teoria do conhecimento?  
Posição agnóstico-relativista na teoria do conhecimento como reação ao  
marxismo  
Na problemática do conhecimento é possível encontrar traços do irracionalismo  
que Ramos expressou no Brasil. É curioso o fato de que persiste certa contradição  
entre os enunciados do autor quando tomados textos diferentes do período analisado.  
Em Introdução à cultura, nosso autor escreveu que a “inteligência, propriamente, tem  
por objetivo o ser. Seu fim é conhecer a essência das coisas” (RAMOS, 1939, p. 13).  
Anos depois, essa posição, pouco desenvolvida em 1939, foi, como veremos,  
flagrantemente abandonada em nome das tendências agnósticas e relativistas típicas  
das filosofias irracionalistas. Da forma como sublinhamos antes, a “base [do  
irracionalismo], no plano da teoria do conhecimento, é sempre o agnosticismo e o  
relativismo que o acompanha” (LUKÁCS, 1968, p. 54).  
Uma das expressões do desenvolvimento dessa posição agnóstica e relativista  
na problemática do conhecimento está precisamente no modo de reação de Ramos ao  
marxismo. Essa última corrente tornou-se, pela pena do autor, uma espécie de  
adversário metodológico a ser derrotado. Algo já presente em 1939, sofreu de fato  
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um desenvolvimento ulterior de amplas implicações para o itinerário do pensamento  
de Ramos. É possível averiguar esse aspecto em um texto analítico sobre a literatura  
latino-americana, no qual Ramos (1941, p. 285) considerou que os “corifeus da teoria  
marxista da história” eram incapazes de reconhecer que “num mesmo estádio de uma  
civilização, as massas encarnam a função de consumo e as elites, a função de produção.  
Daí o caráter burguês, reacionário da massa”. Essa passagem, além de sugerir certo  
aristocratismo do sociólogo brasileiro o que não é suficiente para sublinhar haver  
um reacionarismo em seu pensamento , evidencia o embate reativo ao marxismo.  
Essa reação teve maior profusão em um conjunto de textos publicados na década  
de 1950 em O Jornal. O diálogo de Ramos com o materialismo, especialmente  
truncado e pouco informado com Marx, se iniciou no princípio dos anos 1950 num  
texto de nota metodológica, inserido no livro Sociologia de la mortalidad infantil no  
qual elogiou, de maneira protocolar, o “realismo” das análises de Marx, mas condenou  
seu suposto “messianismo político” (RAMOS, 1955a, p. 13).  
Não cabe discutir em detalhes o grau de precisão dos aspectos apontados por  
Ramos a respeito de Marx apesar do fato de encontrarmos no autor baiano poucas  
evidências de estudo rigoroso sobre o autor alemão assim como era praxe entre os  
intelectuais da tradição irracionalista. Interessa mais apontar como, para Ramos, o  
combate ao marxismo no plano da problemática do conhecimento e como esse  
enfrentamento do elegido adversário ajuda a expor as evidências irracionalistas  
imanentes ao seu pensamento. Trata-se de uma peculiaridade interessante nessa etapa  
do itinerário de Ramos, isto é, estabelecer a teoria do conhecimento como terreno para  
o combate às aspirações de objetividade científica representadas no marxismo.  
Nessa direção, na série de artigos publicados por Ramos acerca do marxismo,  
sua principal referência para o debate é o sociólogo Georges Gurvitch. Para Gurvitch  
(1987), o problema da dialética materialista era o alegado dogmatismo das  
contradições e o abandono das outras múltiplas relações dialéticas. Disso resultou a  
posição de defesa de um chamado “pluralismo dialético”. Gurvitch entendia que a  
dialética materialista seria unicamente “ascensional”, no sentido de uma linha reta de  
progresso que levaria a uma espécie de apregoada “salvação da humanidade”. O  
sociólogo francês interditou essas questões consideradas por ele como expressões do  
comprometimento político de Marx. Era preciso, pois, contrapor-se ao dogmatismo e  
ascensionismo alegadamente identificados.  
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Seguindo Gurvitch, Ramos argumentou que o marxismo seria uma boa  
“propedêutica ao conhecimento científico do real” (RAMOS, 1955b, p. 2). Essa corrente  
admitiria “como processo fundamental (e talvez exclusivo) de análise da realidade – o  
das contradições” (RAMOS, 1955c, p. 1) que, por isso, desembocaria num  
desconhecimento da “pluralidade de processos operatórios de dialetização” (RAMOS,  
1955c, p. 1). Desse modo, escreveu o autor, “o marxismo tem sido até agora um  
monismo determinista que considera a antinomia como causação geral, ou seja, que  
tenta explicar o movimento e o desenvolvimento de qualquer fenômeno como  
resultado do conflito de contradições” (RAMOS, 1955c, p. 1). É uma avaliação muito  
visitada no século XX por uma miríade de intelectuais. Para nosso autor, essa postura  
do marxismo é negada pelo processo real, na medida em que a “contradição não é o  
único processo operatório de dialetização nem tampouco é invariavelmente o  
principal” (RAMOS, 1955c, p. 1).  
Com essa consideração, estaria justificada a superioridade do chamado  
“pluralismo dialético” que, em uma notória tendência à indeterminação, “admite a  
possibilidade de n+1 processos de análise dialética do real e, além disso, não atribui  
a nenhum deles um caráter principal a priori. Não é uma dialética fechada, é uma  
dialética aberta” (RAMOS, 1955c, p. 1). Para o autor, esse método aberto repudiaria  
“toda tentativa lógica que pretenda dominar a priori o desenvolvimento do real”  
(RAMOS, 1955c, p. 1). Salta aos olhos como Ramos ignora o fato de que a posição  
materialista do marxismo de extração do movimento próprio da realidade e não como  
apriorismo metodológico foi construída precisamente sobre a crítica à redução da  
realidade objetiva à lógica, conforme a tradição do idealismo objetivo culminante em  
Hegel (MARX, 2010).  
Não obstante, a postura crítica a Marx foi desdobrada em outros textos de  
Ramos. Em Gurvitch e o marxismo (1955), Ramos, seguindo a linha do sociólogo  
francês, afirmou que a dialética de Marx “se exaspera numa escatologia profética e  
promete uma culminação da história em que se elimina toda espécie de alienação e se  
realiza a harmonia social ou desaparição das classes, a cessação dos conflitos”  
(RAMOS, 1955b, p. 1). Sendo uma dialética dogmática, alegadamente no marxismo  
“confundiram um processo lógico com um processo concreto” (RAMOS, 1955b, p. 1).  
Propôs, então, evocando autores da tradição irracionalista, a vinculação entre  
“dialética” e “experiência”, com base no “caráter inconcluso do acontecer histórico que  
já havia sido proclamado por Dilthey, Heidegger e Jaspers” (RAMOS, 1955b, p. 1). O  
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mote é a insuficiência da “dialética” diante da “vivência” exaltada por autores na  
tradição irracionalista:  
A noção marxista de “práxis” é dogmatizante pois implica uma  
apologia dos fatos materiais dados e observados, incompatível com a  
dialética radical. Quero dizer, uma dialética que se define previamente  
como materialista é uma dialética parcial, ainda não liberada do  
positivismo, que não dialetisa [sic] suficientemente a relação entre o  
conhecimento e a experiência. Mais ainda, o marxismo é dogmatizante  
enquanto dialética ascendente positiva (RAMOS, 1955b, p. 1).  
Desse modo, à luz da sustentação de Ramos de que o movimento da história é  
sempre inconcluso, envolvendo, portanto, a inteira ausência de direção “ascendente”  
ou, em verdade, de qualquer direção , parece-lhe que o marxismo é parcial e  
dogmatizante, pois assumiria como pressuposto um movimento dialético progressivo.  
Uma dialética “liberada”, nos termos de Ramos, parece trazer consigo uma  
indeterminação congênita. Fica evidenciado que, a propósito de recusar qualquer  
“teoria do fim da história” – que de resto Marx jamais sustentou , o sociólogo baiano  
eliminou da análise as tendências de avanço efetivamente realizadas no domínio do  
desenvolvimento social. Cabe o registro segundo o qual as tendências de avanço e de  
regressividades coexistem na história, que os avanços realizados no conjunto não  
eliminam os recuos em várias dimensões sociais (LUKÁCS, 2012; 2013). Mas a história  
tem mostrado que esse caráter contraditório de seu desenvolvimento não eliminou a  
tendência do movimento progressivo, isto é, a totalidade avança contraditoriamente.  
A reação ao marxismo nesse aspecto revela a adesão de Ramos às filosofias  
irracionalistas diante da “tensão dialética entre a formação racional dos conceitos e a  
sua matéria real” (LUKÁCS, 2020, p. 91), recuando diante do lugar central das  
contradições no desenvolvimento social. Vê-se, com isso, o quão pouco o sociólogo  
pôde compreender seu eleito adversário.  
Ramos aprofundou essas considerações tendo em mente os avanços do  
conhecimento científico. Para o autor brasileiro,  
Não existe este movimento, ascensional, invariável, do conhecimento,  
de vez que, em qualquer instante, uma nova questão pode colocá-lo  
radicalmente em questão, abrindo-se à inteligência “novos abismos”  
‘inesperados”. Por outro lado, o marxismo levou muito longe a  
polarização entre a prática e a teoria, quando concretamente uma e  
outra se implicam. Existe em toda prática um elemento teórico  
(RAMOS, 1955b, p. 1).  
É importante ter sempre em mente que a “disputa acerca da realidade ou não  
realidade do pensamento que é isolado da prática é uma questão puramente  
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escolástica” (MARX, 2007, p. 533). Tal “polarização entre a prática e a teoria”,  
portanto, não poderia estar mais distante da tradição marxista. Não obstante, a  
passagem de Ramos suspende de modo radical a possibilidade do acúmulo do  
conhecimento. A propósito de reconhecer que o conhecimento científico é  
constantemente atualizado, Ramos solapou as bases desse mesmo conhecimento. É  
um atributo da ciência colocado contra ela mesma. Precisamente nesse sentido, o  
conhecimento não poderia caminhar de forma progressiva. Novamente, está em  
questão sustar os avanços do desenvolvimento social ainda que contraditório. Ramos  
se apoia no entendimento de que o movimento da realidade é ele mesmo um obstáculo  
para o conhecimento. Defende, assim, a proposição metodológica de Gurvitch na qual  
se  
Substitui toda síntese, unificação, elevação e mesmo toda  
reconciliação, harmonia, equilíbrio, por experiências novas,  
imprevisíveis, inesperadas que abrem sempre novos abismos e  
preparam em cada encruzilhada as mais perigosas surpresas em que  
tudo é posto em questão.  
Revela pluridimensionalidade de todo real cognoscível; dialetiza a  
relação entre o objeto de uma ciência e o real; mostra o caráter  
condicional de toda ciência cujo domínio depende do quadro de  
referência escolhido e o torna cada vez mais flexível. (RAMOS, 1955b,  
p. 1-2).  
A luta contra tal suposto dogmatismo e simplificação do marxismo se dá com  
uma alegada sofisticação metodológica, inspirada em Gurvitch, que criaria uma série  
de relações equivalentes infinitas. O flerte com as posições irracionalistas não poderia  
ser mais inconteste, pois o relativismo é um traço comum a elas. O relativismo expressa  
a posição de que o conhecimento é dependente das perspectivas, ou seja, um  
obstáculo claro à aquisição do conhecimento objetivo uma vez que sempre estaria  
limitado à uma perspectiva entre muitas outras, não havendo critérios possíveis para  
diferenciar as corretas das falsas. É o que se destaca, da passagem anterior, quando  
Ramos se referiu ao caráter condicional do conhecimento em relação a um “quadro de  
referência escolhido”.  
Seria mesmo possível algum conhecimento objetivo nesses termos defendidos  
pelo sociólogo baiano? Nos parece que a resposta deve ser negativa. Mas ainda assim  
nosso autor persegue o método adotado de Gurvitch como sendo a produção do maior  
número de operadores “dialetizantes” para capturar aspectos da realidade. Em seu  
próprio léxico, a questão pressupõe um “número ilimitado de processos de  
dialetização” (RAMOS, 1955c, p. 15). O alegado refinamento metodológico “revelou  
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por exemplo que muitos termos que pareciam antinômicos eram na verdade  
complementares” (RAMOS, 1955c, p. 1). Este pluralismo dialético adotado por Ramos  
sugere uma posição que apreende a indeterminação como virtude de uma abordagem  
para o conhecimento da realidade concreta. Ainda que o autor mantenha que é a  
“experiência o critério de adequação do método” (RAMOS, 1955c, p. 1), essa mesma  
experiência é condicional ao antes indicado “quadro de referência escolhido”, refluindo  
na admissão da impotência do conhecimento.  
São acentos frequentemente encontrados nas tendências agnósticas da filosofia  
irracionalista com respeito à teoria do conhecimento. Na análise de Lukács (2020, p.  
91), vemos que o “agnosticismo se converte” no irracionalismo e que “quase toda  
forma moderna de irracionalismo se funda mais ou menos sobre a teoria do  
conhecimento do agnosticismo”. Tendo isso em mente, o agnosticismo deve ser  
apreendido, conforme já sublinhado, como posição que “pretende que não podemos  
nada saber da essência verdadeira do mundo e da realidade e que este conhecimento  
não teria aliás nenhuma utilidade para nós” (LUKÁCS, 1968, p. 33). Como uma forma  
de reiterar a impossibilidade do conhecimento concreto, “o agnosticismo evita  
responder a tais questões [essenciais]; mas ele se limita a declará-las sem respostas e  
recusa a possibilidade dessas respostas” (LUKÁCS, 2020, p. 93). Ressalta-se, portanto,  
um simples enunciado de recusa diante das tarefas prementes do conhecimento  
científico.  
No sociólogo baiano isso se expressou na adoção do alegado método refinado  
de Gurvitch. A propósito de combater espantalhos imaginários na figura dos alegados  
pressupostos fixos apriorísticos, do aludido movimento unidirecional da história, do  
suposto fechamento do método marxista etc., Ramos abriu as portas ao agnosticismo  
e o relativismo, seu companheiro de primeira ordem. A abertura para a indeterminação  
aprofunda, na verdade, o caráter sempre dependente do conhecimento com respeito  
a “quadros de referência escolhidos”. Nisso se vê as armadilhas das reações românticas  
às aspirações de objetividade científica quando colocadas de modo unilateralizado. A  
complexidade das coisas não deve ceder à tentação da indeterminação e o caráter  
condicionado e perfectível do conhecimento não autoriza impedimentos  
intransponíveis de objetividade científica. A objetividade do conhecimento, outrossim,  
é uma resultante possível, uma possibilidade que corresponde a certas condições  
subjetivas e objetivas favoráveis (CHASIN, 2009). Indeterminação e relativismo, nos  
termos escolhidos por Ramos, são notoriamente prejudiciais às tarefas do  
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conhecimento. Trata-se de um dos conhecidos efeitos das filosofias irracionalistas  
nessa seara (BUNGE, 2006).  
Tais aspectos podem ser aprofundados ao seguir a propositura “epocológica”  
(ou faseológica) de Ramos por influência das posições culturalistas. O ponto fulcral é  
a admissão dos condicionantes do conhecimento dados por premissas de uma  
determinada época. Esses condicionantes são uma questão central para a sociologia  
do conhecimento de Scheler e Mannheim a qual ecoou tendências irracionalistas. E  
tudo indica que é reiteradamente refletida pelo sociólogo brasileiro. Segundo Ramos,  
O marxismo não tem verdadeira consciência epocológica e culturalista  
e, por isto, parece não admitir a historicidade das categorias ou das  
formas mentais mesmas do sujeito cognoscente. Para os marxistas há  
sim um progresso ilimitado do conhecimento à maneira de uma  
aproximação do real crescente em exatidão. Mas não há para eles  
mudança categorial. A realidade para eles tem um só sentido e o  
marxismo habilitaria a apropriação desse sentido unívoco e, portanto,  
habilitaria a resolver o enigma último da vida a captar a essência do  
ser. É o marxismo uma doutrina ainda no marco da filosofia do  
progresso e não da epocologia e do culturalismo (RAMOS, 1955d, p.  
15).  
Seguindo o expediente dos autores irracionalistas, o sociólogo brasileiro  
contestou o marxismo, de modo pouco rigoroso, exatamente por este admitir a captura  
do movimento progressivo, ainda que contraditório e repleto de recuos em diferentes  
dimensões, da história e do próprio conhecimento humano. A solução supostamente  
diferenciada daquela do marxismo foi encontrada por Ramos na admissão de que as  
categorias mudam de acordo com o movimento histórico. Ele ignorou o que já fora  
dito, que os “mesmos homens que estabeleceram as relações sociais (...) produzem,  
também, os princípios, as ideias, as categorias de acordo com as suas relações sociais”,  
de tal maneira que “estas ideias, estas categorias são tão pouco eternas quanto as  
relações que exprimem. Elas são produtos históricos e transitórios” (MARX, 1985, p.  
106). A desconfiguração dos efetivos fundamentos do marxismo serve, no argumento  
do autor, ao recuo diante do progresso contraditório que marca o desenvolvimento  
social.  
O problema central para Ramos está na obstrução que os condicionantes sociais  
impõem ao conhecimento. Quando se muda a “época”, mudam-se as premissas e, por  
conseguinte, as bases do conhecimento. Por isso, não há um movimento ascendente  
ou qualquer movimento, em verdade. As épocas são incomparáveis e o conhecimento  
sempre relativo, segundo o autor, revelando um procedimento que, em que pese as  
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diferenças, aproxima-se das construções de tipologias equivalentes produzidas pela  
filosofia irracionalista: “a impossibilidade de desvendar os nexos reais da história a  
partir destes pressupostos, a negação crescente da legalidade da história, e em  
particular a negação de um progresso demonstrável” (LUKÁCS, 2020, p. 381).  
Seguindo suas colocações críticas ao materialismo, segue o autor na afirmação  
segundo a qual:  
(...) é impossível à inteligência humana postar-se diante do real nas  
condições supostas pela teoria arguida [o marxismo]. Ao postar-se  
diante dos objetos, o homem os vê como um ser implicado em sua  
época, cujas premissas condicionam irresistivelmente sua visão e  
constituem espécie de a priori do mundo (RAMOS, 1955d, p. 1).  
E assim, essas condições “epocológicas” conduzem ao relativismo que  
acompanha as fileiras agnósticas, como antes indicado, que obstrui a possibilidade  
efetiva de apreensão objetiva dos processos reais. Qualquer “visão” é apenas uma  
visão condicionada por premissas de uma época. Nosso autor estabeleceu a  
impossibilidade de desenvolvimento do conhecimento objetivo ao alegar que toda  
Standpunkt, toda posição seria radicalmente “epocológica”, contendo uma  
imponderável perspectiva a priori. Essa condição absoluta e universal limitaria as  
capacidades do conhecimento e de seu desenvolvimento, restringindo aos limites  
epocais:  
É nesse sentido que se pode afirmar com Jaspers que não existe para  
o homem um ponto arquimédico a partir do qual possa ver objetos.  
Toda visão é histórica, ou melhor, epocológica, nisto que não  
transcende a teleologia implícita na existência concreta do sujeito  
cognoscente. Toda pergunta que se faz à natureza dizia Schelling –  
contém um juízo a priori. Não se pode acolher assim a ideia de um  
ilimitado progresso do conhecimento no sentido puramente  
acumulativo e de refinamento crescente (RAMOS, 1955d, p. 1).  
A condição “epocológica” é, portanto, um obstáculo cultural intransponível. Para  
Ramos o fato de haver condicionantes históricos impede o desenvolvimento do  
conhecimento em busca da verdade objetiva das coisas, fazendo com que restem  
apenas visões de mundo relativas à cada época. Cada época teria sua verdade,  
culturalmente estabelecida e intransponível. “Cada época”, explicou o autor, “tem sua  
verdade absoluta e não há como conceber, de maneira iluminista, uma soma  
permanente de verdades relativas, um aproximar crescente da verdade absoluta,  
entendida como termo culminante de um processo contínuo de esclarecimento”. Para  
ele, ao arrematar a questão, os “limites extremos da verdade absoluta existem em cada  
época ou em cada cultura” (RAMOS, 1955d, p. 1). O expediente já aludido  
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anteriormente é repetido como método de trabalho: a propósito de criticar o  
dogmatismo e racionalismo alegadamente identificados, a alternativa culturalista  
apresentada pela posição “epocológica” irmana-se com fundamentos agnóstico-  
relativistas.  
Reiterando tais fundamentos, Ramos encontrou suporte no plano dos valores.  
Para ele, “Cada época é uma totalidade de sentido (...). É uma totalidade de sentido  
que condiciona os modos de compreender e o significado do que acontece. É deste  
condicionamento que o marxismo tem escassa consciência” (RAMOS, 1955d, p. 1). O  
vício do materialismo seria, para Ramos, não se igualar ao seu próprio idealismo  
agnosticamente informado; uma espécie de neokantismo sob o qual a filosofia  
agnóstica se manifestou na história em inúmeras ocasiões. Seguindo em combate ao  
marxismo como adversário intelectual, revela-se, assim, como nosso autor defende, à  
maneira dos filósofos do irracionalismo, a “impensabilidade de uma realidade objetiva  
que independe da consciência” (LUKÁCS, 2020, p. 358). Ao fundo, portanto, é a  
cultura que informa o que é conhecido. E como a cultura é fundamentalmente valores,  
subjetividade, o conhecimento objetivo é consequentemente uma espécie de engodo.  
Nesse sentido, a referida totalidade de sentido terá consequências muito  
profundas para a aquisição do conhecimento. A consideração desse aspecto ilumina  
ainda mais os já notórios traços das tendências agnóstico-relativistas. Segundo Ramos,  
Em cada época existe uma axiomática do saber, constituída de  
determinados postulados implícitos na convivência humana e que  
condicionam inexoravelmente as possibilidades eidéticas. Estes  
postulados, ou melhor, estes axiomas são realmente mais implícitos  
que explícitos e bem assim em larga escala inexprimíveis em termos  
racionais. É certo que tais axiomas não adquirem vigência sem  
determinados suportes objetivos. Uma vez vigentes, porém, tornam-  
se conformadores da visão do mundo tal que os fatos não são  
apreendidos pelo homem senão enquanto ser historicamente  
constituído por tais axiomas. Esses axiomas são o a priori da época, a  
partir dos quais o sujeito organiza os dados da sua percepção  
(RAMOS, 1955d, p. 2).  
Essa colocação do autor revela a busca, comum à filosofia irracionalista, de uma  
posição intermediária (“terceiro caminho”) entre ser e consciência em que, ao final,  
reina a preponderância da consciência. É interessante notar como isso enfraquece a  
posição ao cabo assumida de indeterminação, pois lhe falta coerência. Ao atribuir no  
fundamento os axiomas, resvala para um apriorismo antes reconhecido como vício do  
marxismo. Mas resulta em apriorismo de outro tipo, em oposição ao seu adversário  
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identificado. Sua posição antimaterialista encontra guarida na tradição idealista que,  
como se sabe, fundamenta no plano das ideias as forças primárias do movimento da  
realidade. Na passagem, vemos isso na preponderância encarnada pelos axiomas como  
condicionantes mais fundamentais de cada época, como postulados que condicionam  
“as possibilidades eidéticas”. Tal fundamentação é inexprimível em termos racionais.  
O autor estabeleceu, como no agnosticismo, uma limitação evidente acerca do  
conhecimento da essência das coisas uma vez que qualquer critério pagaria tributo  
aos axiomas. Isso se apresentou ao escrever, na passagem neokantianamente  
inspirada, que os próprios homens surgiram no argumento “enquanto ser  
historicamente constituídos por tais axiomas”; são as ideias, afinal, que forjam os  
homens. Assim, Ramos nos ensina que os homens são produtos das ideias de uma  
época sem esclarecer afinal de onde vieram tais ideias. Entre o ser e a consciência, a  
posição de Ramos se refugia na consciência, revelando aspecto importante de suas  
tendências.  
Em suma, a posição de Ramos sustenta uma impossibilidade, uma condição  
universal que obstrui as possibilidades do conhecimento objetivo, pois os próprios  
homens são constituídos por tais axiomas. Como mostrou Lukács (2020), na filosofia  
irracionalista esse é um processo que remonta de Dilthey a Scheler e Mannheim, que  
seguiam essa argumentação geral segundo a qual as “visões de mundo” limitadas  
eram também limitantes para a apreensão desses condicionantes históricos e levavam  
ao relativismo tal qual a argumentação de Ramos. Toda luta do autor em tela contra o  
materialismo, ao enxergar erroneamente nele um racionalismo tacanho de talhe  
positivista, tem como pano de fundo, o que é decisivo, uma fundamentação  
irracionalista na defesa da limitação do conhecimento. Trata-se de uma variante da  
reação romântica às tendências afeitas à razão, embora sejam tomadas de modo  
embaralhado por Ramos, identificando o racionalismo puramente formal que matrizou  
o positivismo às superficialidades matematizadoras com a postura do marxismo, como  
de outras correntes, de admissão de que a realidade não apenas pode e pôde ser  
efetivamente conhecida como, de resto, os homens estão fadados a conhecê-la para  
transformá-la.  
Novamente, é importante esclarecer que a crítica consequente à alegação, comum  
ao racionalismo formal, de que o conhecimento não sofre qualquer condicionamento  
social não corresponde necessariamente à recusa quanto à possibilidade do  
conhecimento objetivo. Entretanto, a reação que Ramos encarna contra aquela  
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alegação não é adequadamente ponderada, levando o autor a admitir as posições  
comuns às filosofias irracionalistas. Isso implicou em suas considerações sobre a teoria  
do conhecimento, como vimos. Ao cabo, cabe a pergunta: estaria a posição assumida  
por Ramos adequadamente equipada para conhecer as coisas tais como são?  
Parafraseando o próprio sociólogo conforme sublinhamos em um de seus primeiros  
textos, a inteligência que nosso autor promoveu teria de fato “por objetivo o ser”,  
admitiria que seu “fim é conhecer a essência das coisas” (RAMOS, 1939, p. 13)?  
Considerações finais  
O presente artigo teve como objetivo desvelar as evidências do irracionalismo  
na primeira aproximação de Ramos com a teoria do conhecimento no período entre  
1939 e 1955. Para tanto, realizamos análise imanente nos textos selecionados  
conforme os critérios estabelecidos. Foi possível identificar que tais evidências  
compareceram pela adesão ao agnosticismo relativista presente no quadro do  
existencialismo e da fenomenologia.  
Os aspectos destacados em Ramos não são suficientes para alçá-lo ao mesmo  
patamar das tendências reacionárias presentes na filosofia irracionalista analisada por  
Lukács, na medida em que o próprio sociólogo brasileiro assimilou apenas alguns  
traços daquela filosofia, especialmente o agnosticismo relativista evidenciado nos  
achados deste trabalho. Ainda assim, Ramos foi decisivamente influenciado por tal  
forma de consciência filosófica. Na verdade, é possível afirmar que Ramos se mostrou  
como uma espécie de caixa de ressonância das filosofias irracionalistas no contexto  
brasileiro de então, pelo menos isso corresponde aos textos aqui considerados como  
preparatórios do desenvolvimento declaradamente fenomenológico dos anos  
seguintes de seu itinerário intelectual. Vimos que a propósito de se opor ao marxismo  
como adversário metodológico, o sociólogo abraçou a posição agnóstico-relativista  
comum a tais filosofias irracionalistas, de recuo em relação à possibilidade do  
conhecimento objetivo, admitindo obstáculos intransponíveis.  
E isso está em plena concordância com o fato que os autores reverberados pelo  
brasileiro (Jaspers, Heidegger e Mannheim, por exemplo) são os mesmos apontados  
por Lukács como participantes da segunda etapa do irracionalismo, cujo grande  
adversário era o marxismo. Ramos igualmente elegeu o marxismo como contendor e,  
por intermédio desse debate crítico pouco informado, revela os principais traços de  
seu agnosticismo relativista. Assim, ficam iluminadas certas evidências do  
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irracionalismo na teoria do conhecimento adotada por Ramos que são, ao cabo,  
obstrutivas ao próprio conhecimento científico.  
Os apontamentos aqui realizados dizem respeito ao período de primeira  
aproximação do autor. Acreditamos que essa aproximação teve consequências  
posteriores no itinerário intelectual em tela. Uma prova disso é reencontrar posição  
semelhante em textos consagrados posteriores em que o problema da teoria do  
conhecimento se articulou a preocupações de ordem sociológica, política e econômica.  
Quando o autor escreveu, por exemplo, que “sujeito pensante e objeto são faces de  
um mesmo fenômeno” (RAMOS, 1958/1995, p. 36), ou que a “Weltanschauung é  
totalidade transcendente, à qual devem ser referidos os objetos para serem  
compreendidos” (RAMOS, 1957/1996, p. 99), reitera o traçado característico das  
filosofias irracionalistas. Assim, caberia a questão de saber qual estatuto afinal teria tal  
posição, em geral tomada como crítica ao pensamento dominante na figura do  
funcional-positivismo e suas variantes, que segue fundamentada, entretanto, em bases  
irracionalistas.  
Como decorrência dos presentes achados, acreditamos ser necessário avançar  
na análise realizada no sentido de vincular essa formação ideal às condições brasileiras  
de então. Realizamos a caracterização geral das evidências do irracionalismo em  
Ramos com respeito à teoria do conhecimento, mas é necessário explicá-la, remetendo-  
a ao seu solo objetivo. É inquietante a possibilidade de compreender se a tarefa  
original do irracionalismo – “fornecer uma apologia indireta da ordem social  
capitalista” (LUKÁCS, 2020, p. 219) – seria simplesmente repetida nas condições da  
particularidade brasileira ou se os aspectos específicos da objetivação capitalista no  
país teriam jogado papel modificador daquela tarefa na formação ideal de Ramos.  
Cabem, portanto, pesquisas adicionais, inclusive no sentido de aprofundar a difusão  
em geral dessa filosofia irracionalista e suas tendências no país, apreendendo seus  
momentos mais importantes e influências efetivas.  
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Como citar:  
GUEDES, Leandro T.; CUNHA, Elcemir P.; XAVIER,Wescley S. O Irracionalismo e sua  
Teoria do Conhecimento: Reação Agnóstico-relativista de Guerreiro Ramos ao  
Marxismo (1939-1955). Verinotio, Rio das Ostras, v. 28, n. 2, pp. 232-258; jul-dez,  
2023.  
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