Karl Marx/Friedrich Engels
que, mesmo assim, a antiga dinastia, considerada inútil, deve dar lugar a uma linha
lateral usurpadora. Sobre a queda da monarquia inglesa da Restauração, ele só sabe
dizer os lugares-comuns mais triviais. Ele nem mesmo menciona as causas imediatas:
o medo dos novos grandes proprietários fundiários, criados pela Reforma, do
restabelecimento do catolicismo, com o qual eles teriam naturalmente que devolver
todos os bens eclesiásticos que haviam roubado, ou seja, com o qual sete décimos de
toda a área territorial da Inglaterra teriam mudado de proprietário; o receio da
burguesia comercial e industrial em relação ao catolicismo, que de modo algum se
encaixava em seu comércio; a indiferença com que os Stuarts, para seu próprio
benefício e o de sua nobreza, venderam toda a indústria inglesa, juntamente com o
comércio, ao governo da França, ou seja, ao único país que na época representava
uma concorrência perigosa e, em muitos aspectos, vitoriosa para os ingleses, etc.
Como o Sr. Guizot omite os momentos mais importantes em todos os aspectos, não
lhe resta nada além de uma narrativa extremamente insuficiente e banal dos
acontecimentos meramente políticos.
O grande enigma para o Sr. Guizot, que ele só consegue decifrar graças à
inteligência superior dos ingleses, o enigma do caráter conservador da revolução
inglesa, é a aliança contínua entre a burguesia e a maior parte dos grandes
proprietários fundiários, uma aliança que distingue essencialmente a revolução inglesa
da francesa, que destruiu as grandes propriedades fundiárias através do parcelamento.
Essa classe de grandes proprietários fundiários ligada à burguesia, que aliás já havia
surgido sob Henrique VIII, não se encontrava, como a propriedade fundiária feudal
francesa em 1789, em contradição, mas sim em total harmonia com as condições de
vida da burguesia. Suas propriedades fundiárias não eram, na verdade, feudais, mas
sim propriedades burguesas. Por um lado, eles forneciam à burguesia industrial a
população necessária para o funcionamento das manufaturas e, por outro, eram
capazes de dar à agricultura o desenvolvimento que correspondia ao estado da
indústria e do comércio. Daí seus interesses comuns com a burguesia, daí sua aliança
com ela.
Com a consolidação da monarquia constitucional na Inglaterra, a história inglesa
chega ao fim para o Sr. Guizot. Tudo o que se segue limita-se, para ele, a uma agradável
alternância entre Tories e Whigs9, ou seja, para ele, ao grande debate entre o Sr. Guizot
9
O Whig Party, era o partido que reunia as tendências liberais no Reino Unido, e contrapunha-se ao
Tories Party, de linha conservadora.
Verinotio
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ISSN 1981 - 061X v. 30, n. 2, pp. 482-488 – jul.-dez., 2025
nova fase