DOI 10.36638/1981-061X.2025.30.2.773  
Os Manuscritos econômico-filosóficos de 1844 e  
a teoria do valor de Marx: primeiras  
observações  
The Economic-philosophical manuscripts of 1844 and  
Marx's theory of value: first observations  
Paulo Henrique Furtado de Araujo*  
Resumo: O artigo toma a teoria do valor de  
Marx, constituída a partir de 1857/58, como  
chave para uma leitura crítica dos Manuscritos  
econômico-filosóficos de 1844. Oferecendo  
Abstract: This paper takes Marx's theory of  
value, established from 1857/58 onwards, as  
the key to a critical reading of the Economic-  
philosophical manuscripts of 1844. Offering  
some observations and suggestions for  
reinterpreting the 1844 text, it highlights  
certain categories that will remain at the center  
of Marx's analyses, for example: labor,  
algumas observações  
e
sugestões de  
reinterpretação do texto de 1844, destaca  
determinadas categorias que permanecerão no  
centro das análises de Marx, por exemplo:  
trabalho,  
objetivação,  
exteriorização,  
objectification,  
exteriorization,  
alienation,  
estranhamento, exploração, substância, essência,  
emancipação e sujeito. Por fim, sugere que a  
partir instauração da crítica ontológica marxiana  
da economia política, a apreensão, por Marx,  
desse conjunto categorial sofre uma inflexão  
decisiva no interior de sua ontologia materialista  
do ser social.  
exploitation, substance, essence, emancipation  
and subject. Finally, it suggests that from the  
establishment of Marx's ontological critique of  
political economy, Marx's understanding of this  
set of categories undergoes a decisive inflection  
within his materialist ontology of social being.  
Keywords:  
Marx;  
Economic-philosophical  
Palavras-chave: Marx; Manuscritos econômico-  
filosóficos de 1844; teoria marxiana do valor;  
estranhamento; propriedade privada.  
manuscripts of 1844; Marxian theory of value;  
alienation; private property.  
Introdução  
Em nossa figuração de mundo, assumimos, com Chasin (2009), que a  
instauração do pensamento do Marx marxiano, ou maduro, ocorre a partir da  
constituição de três críticas ontológicas materialistas. Na Crítica à filosofia do direito  
de Hegel, escrito em 18431, Marx estabelece sua crítica ontológica-materialista ao  
sistema de Hegel ao afirmar, criticamente, que para esse filósofo o relevante não é “a  
lógica da coisa, mas a coisa da lógica” (MARX, 2005, p. 39), estabelecendo sua crítica  
ontológico-materialista ao Direito e à Filosofia. Marx oferta uma crítica ontológico-  
materialista à politicidade a partir do seguinte conjunto de textos: Glosas críticas  
*
Professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), do PPGE-UFF,  
Coordenador do Gepoc-UFF e membro do Niep-Marx-UFF. E-mail: phfaraujo@id.uff.br.  
1
Também conhecidos como Manuscritos de Kreuznach (cf. CHASIN, 2009, pp. 57-59; ENDERLE in  
MARX, 2005, p. 17; NETTO, 2015, pp. 28-9).  
ISSN 1981 - 061X v. 30, n. 2 jul.-dez., 2025  
Verinotio  
nova fase  
   
Os Manuscritos econômico-filosóficos de 1844 e a teoria do valor de Marx  
marginais a ‘O rei da Prússia e a reforma social’. De um prussiano de julho de 1844  
(cf. MARX, 2010a), Sobre a questão judaica de agosto/dezembro de 1843 (cf. MARX,  
2010b) e a Crítica da filosofia do direito de Hegel Introdução de dezembro de 1843  
e janeiro de 1844 (cf. MARX, 2005). As críticas aí delineadas terão desenvolvimento  
permanente ao longo da produção intelectual de Marx (no caso da crítica à politicidade,  
os materiais preparatórios e o texto final de Guerra civil na França de 1871 (cf. MARX,  
2011b) são os melhores exemplos). Decorre que podemos sustentar, enfaticamente,  
que os primeiros estudos de Marx sobre Economia Política2 que tiveram início ao  
final do ano de 1843, em Paris3, continuaram por todo ano de 1844 e resultaram  
tanto nas notas de leitura que serão conhecidas como Cadernos de Paris (cf. MARX,  
2015), quanto nas notas preliminares (destinadas para uma futura publicação, cf.  
MARX, 2004, p. 19) e que constituirão o chamado Manuscritos econômico-filosóficos  
de 1844 instauram o início de sua crítica ontológico-materialista da economia  
política, cujo momento decisivo se inicia a partir de 1857, com a escrita dos Grundrisse  
e tem sua formulação plena com escrita e publicação do Livro 1 de O capital em 1867.  
Advogamos que a adequada elucidação do pensamento de Marx exige a  
aplicação, ao seu pensamento, do mesmo princípio orientador, por ele utilizado, no  
estudo do ser social. Lembremos da passagem da Introduçãodos Grundrisse em que  
Marx (2011a, pp. 58-9) adverte que as formas categoriais (“formas de ser,  
determinações de existência”) mais desenvolvidas da sociedade burguesa portam uma  
verdade para todas as formas categoriais presentes em sociedades anteriores à  
sociedade do capital. Em outras palavras, as categorias plenamente efetivadas, que  
realizam todo o seu dynamei (potencial), no todo concreto complexo mais  
desenvolvido, são uma chave explicativa para o funcionamento e para o lugar das  
categorias, que inicialmente, se apresentam enquanto formas embrionárias, ou  
protoformas, nas totalidades concretas complexas menos desenvolvidas4. De maneira  
análoga, trazendo essa compreensão para a gênese do pensamento do próprio Marx,  
argumentamos que o conjunto categorial apresentado por Marx a partir de 1857, deve  
ser tomado como uma chave de compreensão dos escritos e categorias que antecedem  
a instauração definitiva do Marx marxiano. Esse é o balizamento que utilizamos para a  
interpretação dos Manuscritos de 1844.  
2 Cf. Engels (Prefácioà primeira edição do Livro 2 de O capital in MARX, 2014, p. 85).  
3 Marx e Jenny se casaram em Kreuznach junho de 1843 e chegaram a Paris entre outubro e novembro  
de 1843.  
4
Formações socioeconômicas desenvolvidas são aqui entendidas em termos da quantidade de laços  
sociais, do grau da divisão social do trabalho e do afastamento da barreira natural em relação à  
reprodução puramente social do ser social.  
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Paulo Henrique Furtado de Araujo  
1. Crítica da economia política de Marx: valor, trabalho abstrato, laço  
social, capital e dominação social  
Nos chamados Cadernos de Paris Notas de Leitura de 1844 (MARX, 2015),  
conforme dito acima, encontramos os registros dos primeiros estudos de Marx a  
respeito da Economia Política. Os Manuscritos econômico-filosóficos de 1844 (MARX,  
2004), cuja redação se inicia imediatamente após as notas dos Cadernos de Paris,  
sistematizam essas primeiras leituras e, destaca Neto (2015, p. 10), são “uma  
protoforma de um projeto editorial”. Entre esses primeiros estudos e a consumação  
da crítica ontológica da economia política a partir de 1857-58, Marx aprofunda sua  
reflexão e compreensão sobre o conjunto categorial constitutivo da sociedade do  
capital. Em particular, consolida o entendimento de que capital é uma relação social  
que funciona como uma tautologia, um constrangimento lógico que é, em si e por si,  
uma contradição em processo. Portanto, capital não é exatamente coisa física e,  
tampouco se explica a partir das formas jurídicas de propriedade aspectos que  
comparecem, eventualmente, ao longo das páginas dos Manuscritos de 1844.  
Na primeira seção do Livro 1 de O capital, Marx (2017) explicita que analisa as  
sociedades em que domina o modo de produção capitalista. Constatando que a  
riqueza dessas sociedades “aparece como uma ‘enorme coleção de mercadorias’, e a  
mercadoria individual como sua forma elementar” (MARX, 2017, p. 113), indica que  
há uma forma de riqueza que não se apresenta de modo imediato a riqueza abstrata.  
A apreensão da riqueza abstrata é realizada através do método das abstrações  
razoáveis ou reais5. Partindo do ser social existente na formação socioeconômica do  
capital, o autor abstrai aspectos que se apresentam imediatamente à sensibilidade de  
cada singularidade humana e captura uma abstração real que é parte constitutiva e  
estruturante dessa formação social. O que torna evidente o seu distanciamento de  
qualquer tipo de individualismo metodológico, como os que podem ser verificados nos  
Manuscritos de 1844 neles, partindo do comportamento do produtor, que em sua  
prática de trabalho exterioriza e objetiva seu conhecimento, habilidade etc., Marx  
parece que, por meio de um raciocínio indutivo, procura explicar a constituição de toda  
a formação social. A mercadoria individual, aí referida, não é uma espécie de “tipo-  
ideal” ou algo assim. Ela é uma forma categorial constitutiva da realidade da sociedade  
moderna e que Marx apreende em um primeiro movimento abstrativo. Nesse caso,  
Marx não reconstitui o mundo social do capital a partir da prática de trabalho de uma  
singularidade humana. Ao contrário, ele toma as práticas do trabalho determinado por  
5 Ver a respeito Chasin (2009).  
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mercadoria como pressuposto e analisa as objetivações desses trabalhos a forma  
mercadoria. O que é subjacente ao argumento de Marx é que se trata de práticas  
sociais estruturantes da sociedade do capital e estruturadas por essa sociedade.  
Voltaremos a essa questão adiante.  
Sendo a mercadoria a “forma elementar da riqueza” (MARX, 2017, p. 113),  
Marx se dedica à análise dessa forma. Mercadorias são coisas externas aos indivíduos  
humanos e que satisfazem suas necessidades materiais e espirituais (do intelecto) não  
tendo importância se a necessidade é atendida por um bem de consumo ou meio de  
produção. Afirmados esses pontos, Marx realiza uma nova abstração e revela que a  
mercadoria é constituída por um par antitético, valor de uso e valor. Valor de uso é  
dado pelo espectro de possibilidades de uso do próprio corpo físico da coisa  
mercadoria. O valor de uso pode ser examinado a partir de suas qualidades e de suas  
quantidades. A coisa mercadoria é produzida não para o consumo do seu produtor,  
mas para o mercado. Considerando que todo o estudo em questão é da sociedade do  
capital, deduzimos que a produção de mercadorias tem por pressuposto a existência  
de uma sociedade capitalista plenamente constituída, com estado moderno, divisão  
social e técnica do trabalho, propriedade privada dos meios de produção, uma massa  
humana obrigada a vender a mercadoria força de trabalho etc. A troca de mercadorias  
diferentes na esfera da circulação é a igualação de coisas desiguais, o que exige a  
revelação da categoria que permite tal igualação. O ato da troca de mercadorias  
distintas é o próprio valor de troca. A categoria valor é o que permite a igualação dos  
desiguais. Valor tem por substância o trabalho humano abstrato: na esfera da  
circulação, as mercadorias, para que sejam trocadas, abstraem as particularidades do  
trabalho humano produtor dos valores de uso mercantis específicos. Demonstrando,  
no seu próprio movimento de trocas, a existência real da abstração valor e a substância  
trabalho abstrato enquanto permanência na mudança. Em meio as trocas mercantis, o  
trabalho abstrato, em sua qualidade, não se altera. Ainda assim, o valor (trabalho  
abstrato) pode se alterar em suas quantidades.  
A análise das trocas torna patente que valor é forma de mediação social, ou  
ainda, que é através do valor (trabalho abstrato) que se constitui o laço social objetal  
específico da sociedade do capital6. Eis um aspecto crucial dessa sociedade: a ligação  
das singularidades humanas com a comunidade humana se dá de modo indireto,  
mediado pelas objetivações do trabalho determinado por mercadoria mercadoria e  
dinheiro (tipo especial de mercadoria e forma autonomizada do valor de troca); motivo  
6 Ver a respeito Araujo (2024b, 2024c) e Duayer e Araujo (2020).  
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pelo qual Marx (2011a, p. 105) diz que “seu poder social, assim como seu nexo com  
a sociedade, [o indivíduo] traz consigo no bolso”. Nessa sociedade as mercadorias  
relacionam-se diretamente entre si e os produtores humanos indiretamente através de  
suas mercadorias. Eis o arrimo do conceito de fetiche da mercadoria: a prática humana  
vital determinada por mercadoria objetiva a própria mediação social que passa a existir  
de modo reificado e estranhado em relação ao produtor; o sujeito se torna objeto e o  
objeto, sujeito7. Enfatizo que estamos diante do produto de práticas humanas  
estruturantes de um tipo de reificação autoestranhadora, ou seja, produtora do  
estranhamento da totalidade da formação social do capital. A dominação objetal é a  
expressão do tipo específico de dominação dessas sociedades, a dominação abstrata,  
do valor (trabalho abstrato) sobre o conjunto do gênero humano; naturalmente o  
impacto dessa dominação é diferente sobre as diferentes classes e segmentos de  
classe que constituem a sociedade, de todo modo, ninguém escapa a essa dominação.  
A posse da riqueza especificamente capitalista (valor), através da forma que  
melhor lhe representa (dinheiro), fornece ao seu possuidor poder social. Dinheiro, na  
sociedade do capital, funciona como nivelador social, transformando o feio em bonito,  
a pessoa desprovida de qualidades em ser humano honrado e probo etc. Ou seja, a  
propriedade privada, o ter, a posse da objetivação da riqueza abstrata, permite que a  
singularidade humana, mesmo desprovida de qualidades nomeadamente humanas, se  
aproprie das representações dos sentidos e qualidades especificamente humanos  
(caráter, honra etc.). Ao mesmo tempo, aos produtores das mercadorias é interditado  
o caminho da constituição de individualidades autenticamente humanas o  
trabalhador que valoriza valor para as personificações do capital, o proletário, é  
desefetivado de sua condição humana ao executar o trabalho especificamente humano.  
Marx, no Livro 1 de O capital, oferece um quadro interpretativo em que as  
práticas humanas estruturadas pela lógica do valor fazer de valor uma quantidade  
sempre maior de valor ou fazer de dinheiro uma quantidade maior de dinheiro , ao  
mesmo tempo, estruturam a sociedade em que essa lógica opera. Dizendo o mesmo  
de outro modo, o valor (trabalho abstrato) é produto de práticas sociais que moldam  
a objetividade social e a subjetividade dos produtores; em suma, valor é forma  
categorial automediadora. A subjetividade das singularidades humanas é plasmada  
pela lógica do valor, essa lógica fornece o balizamento no interior do qual as  
subjetividades são constituídas. Lembrando que capital (valor em expansão) é  
contradição em processo, temos que sua lógica estrutura uma totalidade social  
7 Ver a respeito Araujo (2022a).  
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Os Manuscritos econômico-filosóficos de 1844 e a teoria do valor de Marx  
necessariamente contraditória desde seus níveis micro até seus níveis macro.  
Decorrendo que, ainda que as subjetividades sejam parametrizadas pela lógica do  
valor, elas também são contraditórias, o que torna possível o exercício da crítica  
negativa desse mundo e a constituição de práticas humanas que neguem a lógica do  
capital.  
A partir do par antitético constitutivo da forma-mercadoria, Marx reconstrói  
dialeticamente a totalidade da sociedade do capital e esclarece as dinâmicas e  
tendências imanentes a essa formação. Evidenciando que a contradição entre forças  
produtivas e relações de produção opera nessa sociedade, contudo, ela é produto da  
contradição real entre valor de uso e valor8.  
Um mundo social constituído de forma contraditória em todos os seus níveis  
necessita de um mecanismo capaz de manter unificado o todo que tende a se separar  
esse mecanismo é o estado moderno9. O estado moderno é a contraparte necessária  
do capital, um só existe porque o outro existe, estão em relação de determinação  
reflexiva na qual, naturalmente, o capital tem prioridade ontológica. Em seu nível mais  
crucial, o valor é a categoria que explica a constituição do estado moderno; se  
quisermos resgatar a analogia de Marx, tantas vezes citada, valor opera como a  
infraestrutura da sociedade do capital e categoria determinativa da superestrutura  
jurídico, política etc.  
Do mesmo modo, as classes sociais no capitalismo só podem ser  
adequadamente apreendidas considerando a centralidade do valor em suas  
determinações10. A partir do Livro I de O capital é possível demonstrar como os seres  
humanos operam como máscaras de caráter de valor na sociedade do capital e como  
as classes sociais são constituídas de modo relacional a geratriz crucial das classes  
não é exatamente a propriedade privada dos meios de produção, ainda que essa forma  
jurídica seja central para a reprodução da totalidade da sociedade capitalista. O valor  
em expansão determina as duas classes sociais fundamentais que inicialmente Marx  
trata em O capital: burguesia e proletariado. O que significa sustentar que não há um  
polo positivo (proletariado) que deva ser conservado na sociedade emancipada e  
que seja portador dos valores ético-morais do gênero humano e um negativo  
(burguesia) que deva ser eliminado. Marx, ao reconhecer a centralidade do trabalho  
determinado por mercadoria na estruturação e dinâmica da sociedade do capital,  
sugere que a emancipação humana da dominação abstrata-temporal do valor exige a  
8 Ver a respeito Araujo (2022a).  
9 Ver a respeito Araujo (2016; 2018; 2020b; 2023b).  
10 Ver a respeito Araujo (2016; 2018; 2020a; 2020b).  
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eliminação simultânea de burgueses e proletários e não a afirmação de um dos polos  
em detrimento de outro.  
Proletário, como dito antes, é o trabalhador produtivo, o que valoriza valor para  
a personificação do capital11. Como suporte das relações econômicas engendradas  
pela lógica do capital, o burguês funciona como a personificação da lógica do capital  
permitindo que ela opere no mundo social. Já o proletário assume a máscara de ser  
humano egoísta, em busca da obtenção de seus interesses particulares e mesquinhos.  
Como vendedor da mercadoria força de trabalho, seu objetivo é vender a menor  
quantidade de mercadoria pelo maior preço possível. Esse comportamento objetivo  
manifesto na vida cotidiana é plasmado pelo valor e, por evidente, não constitui o  
proletário em sujeito da emancipação humana. Não obstante, a luta de classes  
econômica ou do cotidiano porta a possibilidade de mudanças qualitativas na  
compreensão subjetiva do funcionamento do mundo social e traz em si a  
potencialidade de ser uma entrada importante para práticas sociais emancipadoras do  
valor. Para Marx o trabalho proletário é mutilador da omnilateralidade do trabalhador,  
transformador do trabalho em suplício e sofrimento, em atrofia do próprio corpo físico  
e capacidades intelectuais do trabalhador (cf. MARX 2017, pp. 720-1). Do que se  
conclui, sem espaço para dúvidas, que Marx nos oferece uma crítica do trabalho no  
capitalismo e não uma crítica do capitalismo do ponto de vista do trabalho (cf.  
POSTONE, 2014).  
Curiosamente, no Capítulo 4 do Livro I de O capital, Marx identifica um sujeito  
totalizante, um sujeito automático, que põe finalidades, não possui consciência e é  
uma pura tautologia que age sobre si próprio, um sujeito-objeto idêntico12: o capital.  
O movimento lógico do capital tem seu fundamento na contradição real entre valor de  
uso, valor e tempo. Inicialmente é preciso apresentar, ainda que de modo muito breve,  
algumas considerações sobre o tempo e a sua mensuração na sociedade do capital.  
Como dito, valor se diferencia em sua quantidade, mas como se mensura a quantidade  
do valor? Pelo tempo de trabalho socialmente necessário gasto para produzir a  
mercadoria. Como valor é uma relação social, o tempo gasto é tempo social e não  
individual. O que significa dizer que o tempo abstrato social, preenchido por  
quantidades sempre maiores de valores de uso, passa a operar como norma temporal  
social que constrange todos os produtores humanos independentemente de suas  
vontades.  
Os produtores de mercadoria não controlam o valor social e são obrigados a  
11 Cf. Marx (2017, p. 690, nota 70).  
12 Ver a respeito Araujo (2021; 2024b).  
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Os Manuscritos econômico-filosóficos de 1844 e a teoria do valor de Marx  
buscar aumentos permanentes de produtividade, o modo mais eficiente e disseminado  
de realizarem esses aumentos é através da mecanização do processo produtivo. A  
mecanização ocorre substituindo o trabalho imediato, ou seja, desempregando  
trabalhadores, reduzindo o trabalho vivo em favor do trabalho passado suportado  
pelas novas máquinas. Quando os novos sistemas de máquinas se difundem pelo ramo  
produtivo, há redução do valor social da produção das mercadorias desse ramo. O que  
provoca o desaparecimento da vantagem inicial dos primeiros capitalistas, que  
introduziram o sistema de máquinas mais produtivo, e, com isso, desaparece o mais-  
valor extra que eles extraíam até esse momento. O processo concorrencial continua  
funcionando e a luta pelo aumento da produtividade com redução do valor por unidade  
de mercadoria prossegue. Importante reter que mantendo-se inalteradas as jornadas  
de trabalho, antes e depois da introdução das novas máquinas, o quantum total de  
valor não se altera ocasionando o aumento da quantidade de valores de uso  
produzida com redução de valor por unidade. O que significa que a jornada de trabalho  
mensurada por, digamos, oito horas de trabalho diárias, comportava X quantidades da  
mercadoria Y e depois do aumento de produtividade comporta 2X. Há um  
preenchimento dos poros do tempo abstrato por quantidades maiores de valores de  
uso que devém a nova norma social temporal a ser seguida por todos os produtores  
que desejarem receber a totalidade do tempo de trabalho gasto individualmente na  
produção de suas mercadorias. Estamos diante de um mecanismo que transforma  
permanentemente a produção capitalista, destruindo as bases já estabelecidas e a  
norma temporal dominante para, em seguida, reconstituir as condições para a  
continuidade do processo de acumulação de capital13. Eis um esboço, muito preliminar  
por não tratar das formas de extração do mais-valor, da acumulação de capital etc.  
da engrenagem constitutiva do dinamismo da economia capitalista explicado a partir  
do par antitético constitutivo da forma-mercadoria.  
É evidente que esse mecanismo nega o trabalho imediato, desemprega  
trabalhadores e provoca a redução da massa de mais-valor produzida devido a  
redução da quantidade total de força de trabalho contratada. Uma forma de  
contrarrestar a redução da massa de mais-valor é através do aumento da taxa de mais-  
valor ou do grau de exploração da força de trabalho. O que pode ser obtido por meio  
de aumentos na intensidade do trabalho e na extensão da jornada de trabalho dos  
trabalhadores que continuam empregados não esquecendo que o valor da  
mercadoria força de trabalho também pode ser reduzido através da redução dos  
13 Essa é uma aproximação do treadmill effect tratado por Postone (2014, pp. 332-3).  
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componentes que compõem seu valor. Bastando, para isso, que, na busca de mais-  
valor extra, os capitalistas dos setores que produzem as mercadorias que compõem o  
valor da força de trabalho aumentem suas produtividades, reduzindo o valor de cada  
unidade produzida, o que produzirá mais-valor relativo que, por sua vez, será  
apropriado pelo conjunto dos capitalistas.  
Marx, no Capítulo 23 do Livro I de O apital, enfatiza que a acumulação de capital  
ocorre com aumento da composição do capital e redução relativa do capital variável  
em relação ao capital constante com o processo de acumulação o capital constante  
aumenta mais rapidamente do que o capital variável. Esse continua aumentando,  
contudo, a taxas decrescentes. O que explica a formação, no seio do proletariado, de  
uma quantidade de trabalhadores excedentes, a formação da população  
supranumerária ou do exército industrial de reserva. A posição de Marx sobre esse  
ponto deve ser apreendida de acordo com o padrão tecnológico dominante no período  
histórico em questão. Considerando a tecnologia existente no século XIX até a década  
de 1970, a redução relativa da força de trabalho poderia ser compensada pelo  
aumento total do número de novas plantas produtivas construídas com a continuidade  
da acumulação de capital.  
Nos Grundrisse, Marx (2011a, pp. 578-96) esboça uma tendência mais geral  
que aponta para a possibilidade de redução absoluta da força de trabalho contratada.  
Elucidando que a máquina e o sistema automático de maquinarias14 provocam a  
subsunção real do trabalho ao capital (no caso ao capital constante fixo); Marx (2011a,  
pp. 582-3) destaca que o estabelecimento pleno do capital só devém com o sistema  
automático de máquinas, com a maquinaria desenvolvida. A maquinaria, ensina o  
autor, é a objetivação da força produtiva do trabalho humano, ela porta o “intelecto  
geral” do gênero humano e sua forma, adaptada à lógica do capital, estranha o  
produtor fazendo com que a redução de tempo necessário de trabalho não seja  
revertida em tempo livre para a efetivação do processo de individuação, de formação  
de autênticas personalidades humanas. A máquina desenvolvida, enquanto objetivação  
do capital (nesse caso, objetivação de trabalho passado que funciona como capital), é  
a transformação das forças do trabalho humano, e do conhecimento da espécie  
humana, em forças do capital. O conhecimento científico já não se encontra na  
consciência do trabalhador imediato, está objetivado na máquina e, através dela,  
constrange o trabalhador “como poder estranho, poder da própria máquina” (MARX,  
2011a, p. 581). O avanço do conhecimento científico, a aplicação desse conhecimento  
14  
No Capítulo 13 do Livro I de O capital serão qualificadas de maquinaria desenvolvida e sistema de  
máquinas.  
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na forma de tecnologias voltadas à produção e valorização de valor, assume a forma  
de objetos mecânicos etc. portadores de trabalho passado, trabalho morto, que  
propiciam aumentos fantásticos na produtividade, portanto, aumentos na produção de  
valores de uso. Simultaneamente, propiciam a redução do trabalho imediato necessário  
para essa produção e reduzem o trabalho imediato restante à função de supervisão e  
de alimentação do sistema de máquinas.  
O trabalho indireto, manifesto na objetivação do conhecimento científico e  
tecnológico, torna-se a forma mais importante de trabalho para a lógica do capital. As  
personificações do capital são constrangidas a buscar o permanente revolucionamento  
de suas produções de mercadorias, principalmente por meio da adoção de novas  
tecnologias, na tentativa de se apropriar de um maior quantum de mais-valor. Do que  
se conclui, com Marx (2011a, pp. 587-8) que a troca de trabalho vivo por trabalho  
objetivado é o movimento final do desenvolvimento da produção estruturada pela  
lógica do valor. Resta ocioso lembrar que se a substância do valor é o trabalho  
abstrato, e se capital é valor em expansão, a massa do tempo de trabalho imediato  
gasto para a produção de mercadorias permanece sendo o elemento crucial para a  
produção da riqueza abstrata distintiva da sociedade do capital. Já vimos que o  
desenvolvimento da grande indústria proporciona um aumento fantástico na produção  
da riqueza material (valores de uso), sua obtenção depende cada vez menos da  
quantidade numérica e da quantidade de tempo de trabalho imediato mobilizado.  
Dependendo, em escala crescente, do poder dos meios de trabalho utilizados; poder  
conferido pelos avanços da ciência e suas aplicações ao processo produtivo o  
desenvolvimento do conhecimento da espécie humana torna-se a escora central da  
produção de mercadorias e da riqueza material e abstrata. Frente a essas descobertas,  
Marx (2011a, p. 588) arremata dizendo que a exploração do trabalho, prática central  
para a produção da riqueza da sociedade do capital, se transforma em arrimo miserável  
frente a produção de riqueza material propiciada pela grande indústria.  
O que explica sua afirmação de que assim que o trabalho imediato cessa de  
existir enquanto origem principal da riqueza, o tempo de trabalho socialmente  
necessário para a produção de mercadorias já não é a medida da riqueza social e, com  
esse novo quadro, o valor deixa de ser o determinante para a produção de valores de  
uso. Além disso, se o trabalho excedente da massa do povo, que vive da venda da  
mercadoria força de trabalho, deixa de ser a condição para o desenvolvimento da  
riqueza geral da sociedade, a liberação de poucas singularidades humanas da  
obrigatoriedade do trabalho imediato “deixa de ser condição do desenvolvimento das  
forças gerais do cérebro humano” (MARX, 2011a, p. 588). Eis as condições,  
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endogenamente constituídas pela lógica do valor, para a ruína da produção de valores  
de uso plasmada pela lógica do valor. O capital, ensina Marx (2011a, pp. 588-9) é  
contradição em processo pois objetiva reduzir o tempo de trabalho imediato ao  
mínimo possível e, ao mesmo tempo, mantém o tempo de trabalho como medida da  
riqueza e o trabalho abstrato como a substância da riqueza abstrata. Em seu  
movimento tautológico, o capital tende a tornar a criação de riqueza material  
relativamente independente do tempo de trabalho gasto para sua produção. Ainda  
assim, ele afirma a necessidade de mensurar as novas forças produtivas, e seus efeitos  
práticos, pelo tempo de trabalho socialmente necessário e aprisioná-las nos  
parâmetros mesquinhos necessários para manter o valor já produzido enquanto valor.  
Na sociedade emancipada do valor (comunista), em que essas contradições deverão  
ser plenamente superadas, será possível o desenvolvimento de cada personalidade  
humana em todo seu potencial. O que significa dizer que, ao contrário do que faz a  
lógica do capital enquanto contradição em processo, a redução do tempo de trabalho  
necessário não terá por télos a produção de maior quantum de trabalho excedente a  
ser apropriado privadamente. A redução do tempo de trabalho necessário a um  
quantum mínimo reverterá para todo ser social, proporcionando a base objetiva para  
a efetivação da omnilateralidade constitutiva do ser humano.  
Para encerrar essas rápidas observações, cabe indicar que a redução do  
trabalho imediato e a perda de sua centralidade na produção de riqueza material e  
abstrata, a transformação do trabalho imediato em atividade de supervisão e  
alimentação das máquinas e equipamentos, armam um contexto em que o produto do  
trabalho humano, a mercadoria, não é um simples produto do trabalho imediato  
isolado, pelo contrário, é agora o resultado da combinação da própria atividade social  
– “o trabalho do indivíduo singular em sua existência imediata é posto como trabalho  
individual abolido, i.e., como trabalho social. Assim é eliminada a outra base desse  
modo de produção [da sociedade do capital PH] (MARX, 2011a, p. 592). A eliminação  
dessa base acarreta um problema particularmente difícil para a sociedade do capital:  
sabemos que o laço social, através do qual a singularidade humana tem seu  
pertencimento à sua comunidade, assume a forma objetal do dinheiro. Esse é a forma  
autonomizada do valor de troca que, por sua vez, é forma de manifestação do valor.  
A eliminação do trabalho imediato aponta para o desaparecimento da substância do  
próprio laço social, o que significa a instauração de um padrão societário em processo  
de colapso. Os sujeitos dessa formação socioeconômica devêm sujeitos monetários  
sem dinheiro (KURZ, 1993, p. 95). Ou dizendo de outro modo, passam a existir com  
dificuldades cada vez maiores de vender a única mercadoria que possuem, sua força  
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de trabalho, o que os levam a trabalhar em empregos precários, com remunerações  
miseráveis e com extensão da jornada de trabalho e intensidade do trabalho que  
remetem aos primórdios da Revolução Industrial Inglesa.  
O fato de que, no século XXI, a “manufatura do mundo” tenha se deslocado  
para o sudeste asiático e que ali haja um aumento da quantidade de trabalhadores  
assalariados, não demonstra um erro na análise de Marx. Na verdade, pode-se inferir  
algo análogo ao descrito pelo Mouro na Seção 8 do Capítulo 13 do Livro 1 de O  
capital: enquanto o sistema de máquinas não tem um custo menor do que o custo de  
contratação de trabalho imediato, as personificações do capital prosseguem  
contratando trabalho imediato. Todavia, quando a produção de máquinas  
desenvolvidas ocorre com custos menores do que os da contratação de força de  
trabalho, a troca de trabalho vivo por trabalho morto se torna inevitável. Por fim, o  
evanescer do laço social objetivado no dinheiro, que indica o colapso social da  
sociedade do capital, também pode ofertar o fundamento para a elucidação do fim do  
padrão civilizacional que um dia essa sociedade aspirou, e, com esse fim, o advento  
da barbárie manifesta15 o que pode ser exemplificado com a ascensão, em vários  
países, de tendências políticas nazifascistas, de formas religiosas as mais retrógradas,  
de milícias armadas controlando parcelas territoriais significativas de vários países, do  
narcotráfico, do tráfico de pessoas, do tráfico de armas, das guerras tribais, das crises  
emigratórias, das guerras civis de novo tipo etc. e por fim, mas não menos importante,  
pela aceleração da crise ambiental.  
2. Marx em 1844 e a crítica ontológica da filosofia e da economia  
política  
Marx ao estabelecer suas duas primeiras críticas ontológico-materialistas16 tinha  
Hegel por alvo prioritário. Num primeiro momento Marx recorre a Feuerbach para  
assestar a lógica hegeliana. Se em Hegel, como dito no início, o importante era a coisa  
da lógica em detrimento da lógica da própria coisa o que estabelecia a prioridade  
do saber sobre o ser ou da consciência sobre a existência , para Marx a prioridade é  
a coisa em sua efetividade e o desvelar da lógica da própria coisa no seu vir-a-ser. Na  
seção Crítica da dialética e da filosofia hegelianas em geral17, Marx registra que um  
grande feito de Feuerbach foi a constituição do “verdadeiro materialismo e da ciência  
real” a partir do reconhecimento de que a razão primordial da teoria é a “relação social,  
15 Ver a respeito, Araujo (2024c).  
16 Conforme vimos, a terceira crítica ontológica é a crítica da economia política que só se efetiva em sua  
plenitude no final da década de 1850.  
17 O título das seções é da edição soviética, a esse respeito ver Musto (2019).  
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a ‘do ser humano com o ser humano’” (MARX, 2004, p. 118). Na sequência, tomado  
por evidente inspiração feuerbachiana18, esclarece que um ser natural que toma parte  
da essência da natureza tem que ter sua natureza fora de si. Deste modo, só é objetivo  
um ser que tenha um objeto fora de si e que seja, ele mesmo, objeto para um terceiro  
ser. Somente neste caso, prossegue Marx, teremos um ser objetivo e conclui, de modo  
fulgurante, que “um ser não-objetivo é um não-ser” (MARX, 2004, p. 127). Prossegue  
Marx dizendo que estabelecer um ser que não é objeto para outro ser, e nem tem um  
objeto com o qual se relacione, é instituir um único ser que só pode existir de modo  
isolado e solitário. Explicitando que um tal ser só poderia existir como ser único e,  
enquanto ser único, ele “é um ser não efetivo, não sensível, apenas pensado, isto é  
apenas imaginado, um ser da abstração” (MARX, 2004, p. 128).  
Mas o que é o ser sensível? Marx, na sequência, elucida que ser sensível é ser  
efetivo, e ser efetivo é ser objeto sensível ou ser objeto do sentido. Do que decorre  
que o ser sensível tem que ter objetos sensíveis fora de si, objetos que possam ser  
apreendidos por sua própria sensibilidade. Arremata Marx: “Ser sensível é ser  
padecente” (MARX, 2004, p. 128). Neste caso, prossegue o autor, o ser humano é um  
ser efetivo, objetivo, sensível, que sofre e que tem carências do que não está em si  
mesmo, portanto, carece do que está fora de si. Nesta condição, o ser humano é um  
ser apaixonado e, segundo Marx (MARX, 2004, p. 128), a paixão se põe enquanto  
força humana essencial que se dirige ao objeto da carência do ser humano. Revelando,  
mais uma vez, a influência de Feuerbach, Marx assinala que o ser humano ainda que  
seja ser natural, biologicamente determinado como todos os seres orgânicos, não é  
apenas ser natural, mas ser social. Ser social é o ser natural humano que existe para  
si e, por isso, é ser genérico e, enquanto ser genérico, o ser humano é obrigado a agir  
e efetivar-se em seu ser e saber especificamente humanos. Resultando que os objetos  
humanos, a objetividade humana e a sensibilidade humana são construções sociais.  
Em outras palavras, os objetos naturais em sua imediatidade existente não são objetos  
humanos pois eles não estão diretamente acessíveis de modo adequado ao ser  
humano. Apenas através da autoprodução do ser humano (cf. MARX, 2004, p. 123) é  
possível que tenha início a humanização dos sentidos humanos e a produção de  
objetos naturais-humanos. A autoprodução do ser humano tem no trabalho  
(abstrato/universal) sua categoria crucial e, além disso, ela é a práxis que permite a  
suprassunção do ser orgânico em ser social conforme sustenta Lukács (2010; 2012;  
18  
Marx em 1844 demonstra grande admiração e aceitação da figuração de mundo ofertada por  
Feuerbach. Rapidamente Marx realiza uma inflexão nessa aceitação conforme podemos constatar nos  
aforismos conhecidos como Teses Ad Feuerbach de 1845 (MARX; ENGELS, 2007, pp. 537-9).  
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2013) em sua Ontologia do ser social19 instaurando o momento da gênese da história  
do ser social.  
Marx arrima sua compreensão sobre ser sensível/existente se contrapondo à  
compreensão de Hegel. Para Hegel, expõe Marx, a reivindicação feita pela objetividade,  
pelo mundo objetivo, ao ser humano – de que a “consciência sensível não é nenhuma  
consciência abstratamente sensível, mas uma consciência humanamente sensível”  
(MARX, 2004, p. 122) é apreendida de tal maneira que essas objetividades se  
apresentam como seres espirituais. Com isso, prossegue Marx, a sensibilidade humana,  
a religião, o poder do estado etc. se põem como “seres espirituais”. Assim ocorre  
porque, sustenta o Mouro, para Hegel a essência do ser humano é o espírito e “a  
verdadeira forma do espírito é o espírito pensante, o espírito lógico, especulativo”  
(MARX, 2004, p. 122). Neste sentido, a natureza criada pela história do gênero  
humano, a “humanidade da natureza”, se manifesta no fato dos produtos dos seres  
humanos “serem produtos do espírito abstrato e nessa medida, [...], momentos  
espirituais, seres de pensamento” (idem). Marx argumenta que a proeminência  
alcançada por Hegel em sua Fenomenologia, em particular a negatividade dialética  
como geratriz, deve-se, por um lado, a que o autor apreende a autoprodução do ser  
humano como processualidade na qual a objetivação é desobjetivação e a  
exteriorização do produtor é seguida pela suprassunção da própria exteriorização. Por  
outro lado, Marx, nos Manuscritos de 1844, é tributário da formulação de Hegel de  
que o produtor humano (trabalhador) objetiva e exterioriza em sua prática de produção  
e, por este movimento, exterioriza sua essência através do trabalho. Em Hegel, essa  
essência exteriorizada é a objetivação do Geist e autoprodução do ser humano; para  
Marx20, nos Manuscritos de 1844, o que é exteriorizado e objetivado é a própria  
essência humanade tal modo que o trabalho universal/geral21 é a prática que produz  
o ser humano e o humaniza (cf. MARX, 2004, pp. 111; 121; 123; 124; 135). Do que  
decorre que o trabalho determinado por mercadoria, específico da sociedade do  
capital, também objetiva a essência humana só que de modo estranhado, conforme  
indica Marx (cf. 2004, pp. 80; 86; 88; 99; 100; 101; 111). Marx enfatiza que para  
Hegel, na Fenomenologia, a prática humana efetivadora da condição genérica do  
humano revela todas as forças genéricas do humano e isto só é possível na medida  
19  
Por Ontologia do ser social compreendemos a soma dos livros Para uma ontologia do ser social e  
Prolegômenos para uma ontologia do ser social.  
20  
Essa primeira interpretação de Marx modifica-se quando estabelece sua própria teoria do valor, a  
partir dos manuscritos de 1857/58 (Grundrisse). Em O capital ele explicita que o produtor exterioriza  
trabalho abstrato, substância do valor, e não exatamente uma essência humana transistórica. Voltaremos  
a esse ponto adiante.  
21 Sobre trabalho universal/geral e trabalho determinado por mercadoria, ver Araujo (2023b).  
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em que tal prática ocorre como ação conjunta dos seres humanos, ou seja, o desvelar  
das forças genéricas da humanidade só pode devenir como produto histórico. Como  
os produtores, prossegue Marx (2004, p. 123) a respeito de Hegel, reagem às forças  
genéricas como estando diante de objetos, patenteia-se que tal relação só pode  
assumir a forma do estranhamento [Entfremdung]. Em outras palavras, Marx assinala  
que, para Hegel, a prática do trabalho que exterioriza e objetiva a essência humana é,  
necessariamente, produtora de estranhamento.  
Para Marx, nos Manuscritos de 1844, o trabalho universal/geral, ao exteriorizar  
a essência humana, permite a constituição do processo de humanização do ser  
humano. Através da prática humana vital os cinco sentidos humanos se humanizam (cf.  
MARX, 2004, pp. 110; 111; 112; 113), inicia-se o processo de torná-los plenos e  
unos com a essência humana e, além disso, os sentidos espirituais-humanos (paixão,  
amor, vontade, desejo etc.) se efetivam acionando formas de autocontrole de cada  
singularidade humana e de todo gênero humano. Este encadeamento é o que  
possibilita a efetivação do que há de específico no gênero humano, que é o  
autocontrole dos desejos, paixões, medos etc. Do que se conclui, com Marx, que o  
trabalho que objetiva e exterioriza a essência humana e que, por sua vez, se manifesta  
na processualidade humanizadora da singularidade humana não necessariamente  
produz estranhamento [Entfremdung]. Marx, em 1844, entendia que o par propriedade  
privada-trabalho estranhado (cf. MARX, 2004, pp. 88-93; 99-114) era o que produzia  
o estranhamento do gênero humano; tendo o trabalho estranhado prioridade  
ontológica frente à propriedade privada. Marx, como amplamente conhecido, só  
estabelece sua teoria do valor e, portanto, sua crítica ao trabalho determinado por  
mercadoria, específico da sociedade do capital, a partir da escrita dos Grundrisse em  
1857/58. O que nos permite assinalar que o tratamento ofertado à categoria trabalho  
em 1844, visto a posteriori, traz consigo as marcas da carência dessa teoria do valor.  
Essa é uma explicação plausível para o fato de que o autor advogue, nesse período e  
em companhia de Hegel, que o trabalho exterioriza a essência humana enquanto um  
tipo de substância em deslocamento temporal, identifique a presença do  
estranhamento na sociedade do capital e o explique pela chave da objetivação  
estranhadora que, por sua vez, é o arrimo da propriedade privada e é reforçada pela  
divisão social e técnica do trabalho. Adiante, voltaremos a essa questão, antes vejamos  
alguns aspectos da articulação entre trabalho e estranhamento que Marx expõe nos  
Manuscritos de 1844.  
Na seção intitulada “trabalho estranhado e propriedade privada”, Marx aborda  
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o trabalhador enquanto mercadoria (cf. MARX, 2004, pp. 79ss)22 e indica que é a  
sociedade do capital, sociedade estranhada (cf. MARX, 2004, p. 80), o seu objeto de  
estudo neste momento. Destaca que nesta sociedade quanto mais produz riqueza,  
mais miserável é o trabalhador. Quanto mais o mundo das coisas se valoriza pela  
exteriorização e objetivação do trabalho, mais desvalorizado é o mundo dos seres  
humanos que trabalham. Deste modo, Marx assenta que o trabalho nesta sociedade  
produz mercadorias e produz o trabalhador como mercadoria. Nesse quadro,  
prossegue o jovem filósofo alemão, o produto do trabalho é o trabalho objetivado,  
feito coisa ou objetivação do trabalho. Essa objetivação é, ao mesmo tempo,  
desefetivação do trabalhador, pois uma vez o trabalho trabalhado, e a prévia ideia  
fixada objetalmente, essa coisa (mercadoria) se apresenta ao trabalhador como algo  
estranho e com vontade própria que captura o produtor produzindo uma relação de  
servidão (do produtor) para com a coisa objetivada. Aqui está a raiz do estranhamento  
enquanto exteriorização (cf. HALLAK, 2018, pp. 65-6).  
O lineamento realizado por Marx em 1844 guarda aspectos fundamentais que  
serão retomados em O capital. Reconhecendo que o ser humano é ser carente e que  
o atendimento de suas carências exige a transformação da natureza exterior sensível  
ao produtor (e a transformação do próprio produtor neste processo), Marx sustenta  
que o trabalhador se defronta com o mundo exterior sensível natural como objeto e  
meio pelo qual e a partir do qual produz. Acrescenta que se este mundo exterior  
sensível também oferece o meio para subsistência física do trabalhador, na sociedade  
moderna quanto mais o trabalhador se apropria do mundo sensível exterior através  
do seu trabalho, objetivando e exteriorizando, mais ele é privado dos meios  
necessários à vida. Por um lado, o que foi objetivado já não pertence ao trabalhador  
(pois a coisa é propriedade de um outro, não trabalhador) e, por outro lado, engendra-  
se uma interdição para que o mundo exterior sensível prossiga sendo meio de vida  
imediato, garantidor da subsistência do trabalhador. Ainda que aqui não seja dito,  
Marx em O capital esclarecerá que o que o trabalhador produz no capitalismo são  
mercadorias, estas são de propriedade jurídica das personificações do capital e os  
trabalhadores, uma vez estruturada a sociedade do capital, já não têm acesso aos  
meios de produção (máquinas, equipamentos e matérias-primas) parafraseando  
Marx, podemos dizer de modo irônico, que estão libertos de tal fardo. O resultado,  
para o trabalhador que recebe um objeto do trabalho (ou seja, trabalho) como  
pagamento por seu trabalho, como meio de subsistência, é que o trabalhador devém  
22 Destacamos que a descoberta da categoria força de trabalho só ocorrerá no final da década de 1850  
e aparecerá registrada nos Grundrisse.  
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objeto do seu objeto ou, dizendo o mesmo de outro modo, o sujeito vira objeto e o  
objeto sujeito. Garantindo, prossegue Marx, que nessa sujeição do ser humano ao  
produto do seu trabalho, somente como trabalhador o indivíduo pode se manter como  
sujeito físico e somente como sujeito físico ele pode ser trabalhador. Por não perder  
de vista a exploração inerente à sociedade moderna, Marx enfatiza que quanto mais  
riquezas o trabalhador produz, quanto mais bem acabado é o produto produzido,  
quanto mais belezas produz, mais pobre, deformado e cretino é o trabalhador. A chave,  
para o autor, que explica estas oposições está na necessária articulação imediata entre  
o trabalhador e seu trabalho e a produção.  
A este respeito, constata (cf. MARX, 2004, p. 82) que a relação essencial do  
trabalho é a relação entre o trabalhador com a produção; e a relação imediata do  
trabalho com seu produto é a relação do trabalhador com os objetos de sua produção  
(cf. MARX, 2004, p. 82). Anota que a relação do rico com o produto do trabalho e com  
a produção é decorrência dessa relação imediata. Até esse ponto o tratamento que o  
autor dá ao estranhamento do trabalhador é o de sua relação com as objetivações de  
sua prática de trabalho. Por evidente, o autor acrescenta que o estranhamento também  
se manifesta no ato da produção, na atividade produtiva. Como ainda não instaurou  
sua teoria do valor, não lhe ocorre que se trata de produção de mercadorias e toda  
explicação para o estranhamento constituído no ato da produção radica na ideia de  
que a atividade humana vital exterioriza-se em um produto. Dizendo o mesmo em  
outras palavras, o objeto é o resultado da atividade exteriorizada que por não  
pertencer ao trabalhador lhe é estranha. Por este caminho, a chave explicativa  
mobilizada não reside no modo de produzir, em si, mas na relação jurídica ou na forma  
da propriedade jurídica do que foi objetivado.  
Ainda que não tenha clareza dessa limitação, o autor alinhava aspectos da  
atividade de trabalho na sociedade moderna que ajudam a explicar o porquê da  
produção do estranhamento. Em primeiro lugar, destaca que o trabalho (da sociedade  
do capital ou moderna) é externo ao trabalhador, não pertence ao seu ser enquanto  
ser humano e, por este motivo, na prática desse trabalho o produtor nega a si mesmo  
em sua específica humanidade a prática do trabalho (determinado por mercadorias)  
é a mortificação do corpo e a ruína do espírito do produtor (cf. MARX, 2004, pp. 82-  
3). Tal trabalho não é voluntário, é imposto pelas estruturas da sociedade moderna  
(divisão social do trabalho, propriedade privada, em última instância pelas relações  
sociais mediadas pelo valor, conforme Marx irá revelar em O capital). Trata-se de uma  
prática humana vital que não busca o atendimento de uma dada carência do produtor,  
mas a satisfação de necessidades que se manifestam fora da esfera desta prática vital.  
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Marx reforça que a objetivação externalizada pela prática do trabalho manifesta-se ao  
trabalhador como não sendo o produto de seu próprio trabalho, portanto, como não  
lhe pertencendo ao revés, manifesta-se pertencendo a um outro ser humano que não  
o exteriorizou e objetivou e, por decorrência, é a perda de si mesmo por parte do  
produtor, afinal, parte de sua essência humana foi exteriorizada e objetivada e já não  
lhe pertence. A conclusão de Marx, neste ponto, é célebre: o ser humano trabalhador,  
produtor de mercadorias na sociedade do capital, só se sente ser livre e ativo ao  
exercer funções que compartilha com os animais (comer, beber, procriar etc.) e que  
estão cindidas das demais funções humanas - e nas funções especificamente humanas  
sente-se como animal (cf. MARX, 2004, p. 83).  
Como visto, Marx primeiro analisa a prática humana vital e a produção do  
estranhamento sob a ótica da relação entre o produtor e a objetivação e exteriorização  
de sua atividade sob a forma de algo objetual e estranho ao produtor. Em seguida,  
analisa o estranhamento sob a ótica da atividade prática vital em si mesma (conforme  
compreende o autor nesse período) e que no ato em si da práxis desefetiva a  
humanidade do produtor por mobilizar sua vida contra ele mesmo e levá-lo à produção  
de objetos independentes de si e que já não pertencem a ele. Por fim, Marx passa a  
tratar de uma terceira determinação decorrente das duas anteriores. O autor constata  
que o ser humano é, necessariamente ser genérico, tanto prática quanto teoricamente  
ao se relacionar com a natureza inorgânica e orgânica, quanto ao se relacionar consigo  
enquanto ser universal e livre (cf. MARX, 2004, pp. 83-4). O ser humano, assim como  
os seres orgânicos, tem a natureza inorgânica como fundamento de sua vida genérica.  
Quanto mais o ser humano é universal, tanto maior é o seu domínio sobre a natureza  
inorgânica a partir da qual ele pode viver e se reproduzir. Este aumento permanente  
do domínio sobre a natureza inorgânica é algo específico do gênero humano.  
Considerando a reprodução física da singularidade humana (e do gênero, pois o  
singular ao se reproduzir, reproduz o seu universal e vice-versa), é evidente sua total  
dependência dos produtos da natureza inorgânica e orgânica (alimento, habitação,  
vestuário etc.). No aspecto prático, prossegue o autor, a universalidade do ser humano  
se manifesta ao tornar toda a natureza seu corpo inorgânico, tomando-a como meio  
de vida, como objeto, instrumento e matéria da atividade humana vital (trabalho  
universal/geral). Em arremate, Marx sustenta que a vida do ser humano (física e mental)  
é necessariamente interligada ao ser natural, sabido que o ser humano é parte da  
natureza.  
Decorre, segundo Marx, que o trabalho estranhado ao estranhar a natureza em  
relação ao ser humano, ao estranhar o ser humano de si mesmo no próprio ato do  
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trabalho enquanto atividade humana vital, engendra o estranhamento da singularidade  
humana em relação ao gênero humano23. Neste contexto a vida genérica devém meio  
da vida individual, as vidas genérica e individual são estranhadas e a vida individual,  
sob a obrigatoriedade da produção de mercadorias, torna-se fim da vida genérica aqui  
abstrata e estranhada.  
A forma pela qual Marx ampara esta posição, do nosso ponto de vista, o leva a  
tomar a atividade humana vital (trabalho universal/geral) como atividade  
exteriorizadora da essência humana e, portanto, da substância que especifica o gênero  
humano (ser social). Marx (cf. 2004, p. 84) advoga que a vida produtiva é a vida  
genérica ou a vida que cria vida. Para ele, a característica de uma dada espécie  
orgânica é dada pela atividade vital que esta espécie realiza. No caso do ser humano  
a característica que lhe é inerente e específica é a da atividade produtiva consciente e  
livre e esta atividade produtiva é meio de vida. Enquanto os animais estão identificados  
sem mediação com sua atividade vital e dela não se diferenciam, a atividade vital para  
o ser humano vem a ser objeto sobre o qual age sua vontade e consciência, pois aqui  
se trata de “atividade vital consciente” (MARX, 2004, p. 84) e o ser humano, ao  
contrário do que ocorre com os animais, não corresponde imediatamente a esta  
determinidade24. O ser humano, nesta angulação, é ser genérico porque é ser  
consciente e nisto difere dos animais; nesse caso a própria vida do ser humano é seu  
objeto o que, por sua vez, esclarece que a atividade humana é atividade livre.  
Marx acrescenta que o trabalho estranhado instaura uma inversão e transforma  
a atividade humana vital, que seria “sua essência” (MARX, 2004, p. 85), a própria  
essência do ser humano, num mero meio para a existência da singularidade humana.  
O ser humano, de modo consciente, é capaz de elaborar, de modo prático, a natureza  
inorgânica e, para Marx, essa é a evidência de que o ser humano é ser genérico  
consciente, “um ser que se relaciona com o gênero enquanto sua própria essência”  
(MARX, 2004, p. 85) ou que em reflexão consigo se põe como ser genérico. Em  
decorrência, pode-se aferir que o ser humano produz de modo universal,  
omnilateralmente, produz mesmo sem o acicate da carência material e só produz de  
modo especificamente humano quando livre da carência física. A ratificação do ser  
humano como ser genérico se dá pelo engendramento do mundo objetivo e este  
23 Lukács (2012), provavelmente inspirado por este posicionamento de Marx, irá sustentar em Para uma  
ontologia do ser social que o estranhamento (universal/geral) pode ser entendido como a cisão dos dois  
polos constitutivos do ser social (a singularidade humana e o gênero humano), o que ocasiona a  
interdição da processualidade em que a singularidade humana se particulariza, e constitui uma  
personalidade efetivamente humana, e o desenvolvimento das capacidades do gênero humano.  
24 Determinidade aqui é utilizada no sentido daquilo que o ser é em si.  
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engendrar é a vida humana genérica eficaz, que produz efeitos. Por meio da atividade  
produtiva especificamente humana a natureza se manifesta como produto e efetividade  
do produtor humano; patenteando que a vida genérica do ser humano é objetivada no  
produto do trabalho e que há uma duplicação do ser humano em termos operativo  
(efetivamente) e de consciência (intelectualmente) que permite ao ser humano examinar  
“a si mesmo num mundo criado por ele” (MARX, 2004, p. 85). O trabalho estranhado,  
adverte Marx (cf. 2004, p. 85), ao fazer da vida genérica um meio para a existência  
física do ser humano, remove a objetivação da produção do ser humano que produz  
e, com isso, extirpa do ser humano a própria vida genérica, a efetividade objetiva  
genérica. Dizendo de outro modo, o trabalho estranhado impede que o produtor se  
aproprie da substância constitutiva do gênero humano e que se objetiva na forma dos  
produtos do trabalho humano.  
Evidencia-se do exposto acima que Marx apreende dois outros aspectos do  
trabalho estranhado. Primeiro, o trabalho estranhado produz, ao mesmo tempo, tanto  
o estranhamento do ser humano em relação à natureza exterior, quanto em relação à  
capacidade subjetiva/intelectual própria ao gênero humano (capacidade que se  
complexifica com a humanização do humano), ou seja, estranha o humano de sua  
essência humana. Segundo, o ser humano estranhado do que objetivou a partir de sua  
prática humana vital, está estranhado desta prática vital, estranhado do seu ser  
genérico, do pertencimento ao gênero humano, em suma temos aqui o estranhamento  
do ser humano pelo ser humano. Neste segundo ponto, Marx25 parece se referir  
diretamente a uma sociedade que tem por característica distintiva a mediação social  
direta entre as objetivações humanas (mercadorias) e indireta entre os produtores  
(seres humanos) a sociedade do capital26. Ele sustenta que na ocasião em que o ser  
humano está diante de si mesmo, ele faceia um outro ser humano e que os produtos  
da sua prática de trabalho, que também são produto da relação do ser humano consigo  
mesmo, corresponde à relação do ser humano com outro ser humano, equivalendo ao  
trabalho e ao produto do trabalho de outro ser humano. O que significa dizer que o  
estranhamento do ser humano do seu gênero, do ser social, é o estranhamento de um  
ser humano com outro ser humano distinto dele e que os dois estão estranhados da  
essência do gênero humano, da substância que especifica o gênero; neste caso, cada  
um considera o outro a partir da relação na qual ele próprio é um trabalhador humano.  
25  
“O que é produto da relação do homem com o seu trabalho, produto de seu trabalho e consigo  
mesmo, vale como relação do homem com outro homem, como o trabalho e o objeto do trabalho de  
outro homem.” (MARX, 2004, pp. 85-6)  
26 Como sabido, somente nos Grundrisse e em O capital essa questão será plenamente entendida pelo  
autor.  
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Como fecho para nossas breves anotações a respeito dos Manuscritos de 1844,  
destacamos uma articulação que ocupa lugar central na figuração ofertada por Marx –  
a articulação entre trabalho estranhado e propriedade privada. A questão inicial, para  
Marx, era determinar quem era o ser estranho, o poder estranho, que subsumia o  
trabalho e a objetivação do trabalho. O trabalho estranhado está na dependência desse  
ser e o resultado do trabalho está voltado para o desfrute desse ser. Se nas primeiras  
eras da humanidade, adverte Marx (2004, p. 86), os serviços executados (por exemplo,  
construção de templos) e os produtos pertenciam aos deuses, era evidente que por si  
os deuses não eram senhores do trabalho. Acrescenta que seria contraditório que,  
diante do aumento do domínio do gênero humano sobre as legalidades naturais,  
diante do avanço do conhecimento da espécie humana sobre o funcionamento do  
universo, tivessem os seres humanos de renunciar, tanto a prática humana vital  
efetivadora da humanidade do ser humano quanto renunciar a usufruir das  
objetivações do seu trabalho, em favor e por amor a esses seres divinos. Arremata  
dizendo que o ser estranho só pode ser o próprio ser humano. O resultado do trabalho  
ao não pertencer ao produtor significa que pertence a outro ser humano que não o  
produtor e este produtor se defronta com um poder estranho que se apresenta a ele  
na forma da própria objetivação do trabalho. O produtor se relaciona com a  
objetivação de sua prática de trabalho como algo estranho, hostil, que tem grande  
força e que é autônomo em relação a ele, produtor. Acrescentando que, conforme  
vimos acima, para Marx a relação do ser humano consigo é efetiva através da sua  
relação com outro ser humano, evidencia-se que no trabalho estranhado, produtor de  
objetivações estranhadas, o trabalhador humano se relaciona com outro ser humano  
estranho que lhe é estranho, hostil, possui grande poder e lhe é autônomo que é  
o proprietário da objetivação do trabalho. Dizendo o mesmo de outro modo, o  
trabalhador que realiza uma prática humana vital de modo não livre, se relaciona com  
esta atividade estando sob o domínio, o mando e a violência de outro ser humano. Em  
suma, executa um trabalho em que é explorado, expropriado e desefetivado de sua  
condição especificamente humana.  
Autoestranhamento do ser humano (de si e da natureza) se manifesta na relação  
que o humano concede a si e à natureza para com outros seres humanos, por isso, no  
mundo verdadeiro, em que se executam as práticas humanas vitais, o  
autoestranhamento só pode se manifestar mediante uma relação prática e real-efetiva  
com outros seres humanos ou seja, o agir do estranhamento é prático. Por meio do  
trabalho estranhado, sustenta Marx (cf. 2004, p. 87), os produtores constituem o liame  
com o produto do trabalho e o agir na produção enquanto seres humanos estranhados  
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e hostis. O que significa dizer que instituem a conexão em que os outros seres  
humanos estão relacionados às objetivações de sua prática de trabalho e, ao mesmo  
tempo, tecem sua conexão com esses outros seres humanos. Marx (2004, p. 87)  
prossegue e acrescenta que o trabalho estranhado forja, enquanto ato de produção, a  
desefetivação do produtor e garante a perda da objetivação de seu trabalho que se  
torna propriedade do ser humano que não o produziu; o que ilustra que o trabalho  
estranhado estranha do produtor a atividade produtiva, além do produto desta  
atividade, e, ao mesmo tempo, garante a apropriação da atividade de trabalho pelo  
não trabalhador (o estranho) Marx elucida que é da relação do produtor com o  
trabalho estranhado que se estabelece a relação entre o trabalhador e o capitalista (ou  
proprietário do trabalho). Constata-se que, para Marx, a propriedade privada é  
decorrência do trabalho estranhado, do ser humano estranhado e de sua vida  
estranhada27. O autor acrescenta é a análise da propriedade privada no paroxismo do  
seu desenvolvimento28 o que permitiu decifrar o mistério da propriedade privada.  
Ainda que ela seja resultado do trabalho exteriorizado/estranhado, a propriedade  
privada é o meio pelo qual o trabalho se estranha, ou ainda, a propriedade privada é  
a realização do trabalho exteriorizado/estranhado. Marx arremata este ponto dizendo  
que propriedade privada e salário são idênticos pois são resultados imperativos do  
trabalho estranhado e o desaparecimento de um dos lados exige o desaparecer do  
outro (cf. MARX, 2004, p. 88).  
Nos Manuscritos de 1844, Marx se ocupa de elucidar o processo de formação  
da subjetividade humana. Afastando-se da mistificação teológica de Hegel, advoga que  
o ser humano é ser sensível, padecente e é na prática humana vital, trabalho  
27  
Das Privateigentum ergibt sich also durch Analyse aus dem Begriff der entäußerten Arbeit, d. i.  
des entäußerten  
des entfremdeten Menschen.  
Menschen, der  
entfremdeten  
em:  
Arbeit,  
des  
entfremdeten  
Lebens,  
Disponível  
engels/1844/oek-phil/1-4_frem.htm>. Acesso em: 7 mar. 2025. [A propriedade privada resulta, portanto,  
da análise do conceito de trabalho exteriorizado/alienado, ou seja, do indivíduo humano exteriorizado,  
do trabalho estranhado, da vida estranhada, do indivíduo humano estranhado tradução nossa.]  
Enfatizo que Marx utiliza Menschen ou Mensch e não Mann ou Männer. Ou seja, ele, como costuma  
fazer, trata de pessoa, do indivíduo humano ou ser humano. Ao fazer o contraponto com a mulher, ele  
utilizará Mann (homem), ver, por exemplo, a seção “Propriedade privada e comunismo” (MARX, 2004,  
pp. 104-5). Além disso, no trecho acima reproduzido Marx está tratando de trabalho que é exteriorizado  
[entäußerten Arbeit] e de trabalho estranhado [entfremdeten Arbeit]. Ainda que o sentido das categorias  
exteriorização/alienação e estranhamento se altere ao longo dos Manuscritos de 1844 é possível  
identificar, em geral, o significado das palavras pelo contexto em que o autor as utiliza (HALLAK, 2018).  
Nesse caso, em que está tratando da propriedade privada e sua relação com o estranhamento, é  
plausível assumir que o autor utiliza exteriorização e estranhamento como sinônimos e, desse modo,  
podemos sugerir que termina arrimando a ideia de que toda exteriorização feita pelo produtor humano  
é estranhamento. Todavia, sabemos que em outras passagens ele critica Hegel por ter semelhante  
entendimento. Essa dificuldade só poderá ser superada com a instauração de sua própria teoria do  
valor.  
28 Essa formulação é muito próxima a ideia que Marx apresenta nos Grundrisse de que a “anatomia do  
ser humano é uma chave para a anatomia do macaco” (MARX, 2011a, p. 58).  
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universal/geral, que a singularidade humana relacionando-se com outras  
singularidades e com o ser natural, produz os valores de uso necessários à sua  
reprodução individual e comunal. Nesse processo, a singularidade descobre as  
particularidades dos objetos e se apropria das legalidades do ser natural e as  
reorganiza para a obtenção de seus fins. Ao mesmo tempo, descobre suas  
particularidades naturais e inicia uma luta pelo autodomínio, autocontrole, por  
constituir-se em sua condição especificamente humana. A humanização das outras  
singularidades humanas é indispensável para que a humanização de cada um ocorra.  
O ser humano como ser genérico tem que se confirmar em seu ser e em seu saber  
(MARX, 2004, p. 128). Decorrendo que os objetos com os quais se defronta não são  
objetos humanos, o modo como esses objetos se apresentam imediatamente aos  
indivíduos humanos não é imediatamente disponível ao ser humano. Os sentidos  
humanos, através dos quais a singularidade captura o objeto, a realidade sensível, não  
são imediatamente, objetivamente, sensibilidade humana, objetividade humana. O ser  
natural não se oferta imediatamente de modo adequado, seja objetivamente ou  
subjetivamente, ao ser humano.  
Marx (2004, p. 128), seguindo Hegel, sustenta que o trabalho universal/geral  
é a mediação que permite o início da história do ser humano, do ser social. Essa  
atividade, nos Manuscritos de 1844, caracterizada pela transformação da natureza e  
do produtor humano, sem o devido destaque ao pôr teleológico que será dado, por  
exemplo, no Capítulo 5 do Livro 1 de O capital, inicia o processo de humanização dos  
sentidos humanos, de produção de uma natureza humana e de um humano natural,  
inicia a jornada humana pela exteriorização do que há de humano no ser humano: o  
controle dos afetos, instintos, paixões etc., inicia a constituição de um ser genérico,  
não mais mudo, de um ser social. Ocioso lembrar que essa processualidade envolve a  
objetivação cada vez maior e mais variada de valores de uso que, por sua vez, tem por  
fundamento a economia de tempo de trabalho ou o aumento da força produtiva do  
trabalho.  
Lukács, em sua Ontologia29, esclarece que no trabalho primevo já se encontra  
registrada a tendência à economia do tempo de trabalho. O produtor humano, ao  
efetivar sua prévia ideação, corrige os erros e mantém, aperfeiçoa e difunde, os acertos  
junto à comunidade em que está inserido30. O resultado é o aumento da eficiência da  
prática do trabalho especificamente humano. Em suma, o próprio trabalho  
universal/geral traz em si a economia do tempo de trabalho, a possibilidade do ganho  
29 Ver nota 29.  
30 Ver a respeito Araujo (2022a; 2023a; 2023b; 2024a).  
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de tempo livre da obrigatoriedade de lutar pela manutenção e reprodução da vida.  
Tempo livre que irá permitir o início da constituição de uma personalidade  
(subjetividade) verdadeiramente humana. Além disso, propiciará o devir de todo um  
conjunto de complexos sociais (religião, política, filosofia, arte etc.), constitutivos do  
complexo geral que é o próprio ser social. Tal conjunto de complexos é a manifestação  
em formações socioeconômicas portadoras de maior divisão do trabalho e maiores  
quantidades de laços sociais da perda de centralidade do trabalho, em favor do  
ganho de centralidade de outros complexos sociais, no funcionamento e reprodução  
da sociedade humana.  
Aumento da produtividade resulta em produção de maiores quantidades de  
valores de uso e na produção sistemática de excedente de produção desses valores  
de uso frente ao consumo dos produtores. Eis a base material para o surgimento da  
cisão social entre possuidores e não possuidores e entre proprietários e não  
proprietários. O que era propriedade comunal devém propriedade privada,  
simultaneamente, a exploração da capacidade de trabalho de outro ser humano  
adquire importância crucial para a reprodução social e para o desenvolvimento dos  
novos complexos sociais acima mencionados. Os laços sociais, garantidores do  
pertencimento da singularidade humana à sua comunidade se alteram paulatinamente,  
conforme a formação socioeconômica, o período e a região geográfica31. Em linhas  
gerais essa é processualidade constitutiva de formações sociais estranhadas. O  
produtor que, como já visto, exterioriza suas habilidades e capacidades na prática do  
trabalho sob a forma de objetos (valores de uso), já não se apropria da totalidade das  
objetivações. Elas pertencem a outro ser humano que lhe é estranho. Para Marx, nesse  
caso, o que é exteriorizado é estranhado, o que pode ser confirmado pela retomada  
da análise de Marx sobre os quatro níveis simultâneos do estranhamento os quais  
tratamos acima. Do que podemos inferir que, para Marx dos Manuscritos de 1844,  
através da articulação entre trabalho estranhado, propriedade privada e divisão do  
trabalho, devêm formações socioeconômicas cindidas em classes sociais e  
estranhadas.  
Considerações finais  
Nesse ponto aflora uma questão decisiva para a nossa leitura crítica: todo e  
qualquer trabalho humano, ou seja, trabalho universal/geral, exterioriza uma essência  
que, por sua vez, assume uma forma objetual? Tal essência é a essência constitutiva  
31 Ver a respeito Araujo; Araujo (2024).  
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do gênero humano, do ser social? Uma tentativa de elucidação de tais questões exige  
que se trate, ainda que de modo breve, dos conceitos de essência e substância do ser  
social.  
Foge ao escopo do presente artigo tratar do modo como o conceito essência  
foi entendido pela filosofia ocidental desde a Grécia Antiga. Apenas registramos que,  
se em Platão essência designa a Ideia e em Aristóteles a substância, e se ao longo da  
história da filosofia, a diferenciação entre ser e essência se estabelece; a partir de uma  
leitura crítica imanente, podemos sugerir que Marx, desde seus textos iniciais, parece  
tomar o conceito de essência como aquilo que define o ser enquanto ser, ou seja,  
enquanto aquilo marca sua natureza específica. No que diz respeito ao ser humano,  
ao ser social, essa essência não se apresenta de modo imanente à singularidade  
humana. Em 1845, na 6ª das Teses ad Feuerbach, Marx registra que “a essência  
humana não é uma abstração intrínseca ao indivíduo isolado. Em sua realidade, ela é  
o conjunto das relações sociais” (MARX; ENGELS, 2007, p. 538). Considerando os  
desenvolvimentos dos Manuscritos de 1844, podemos sustentar que se a essência do  
ser social é extrínseca à singularidade humana, ela é, simultaneamente, produto das  
objetivações dessa singularidade. Como as objetivações do trabalho e de outras  
atividades humanas ocorrem no interior de determinadas formações socioeconômicas  
e como tais objetivações acionam o processo de constituição de uma subjetividade  
verdadeiramente humana; temos que a essência do ser social só pode vir-a-ser a partir  
da necessária articulação real entre atividades humanas que, por evidente, ultrapassa  
a práxis do trabalho subjetividade e o padrão de sociabilidade (tipos de laços sociais).  
Estamos diante de uma essência humana que se apresenta de modo  
diversificado nas diversas formações socioeconômicas através das quais o ser social  
se manifesta ao longo do tempo. Uma essência que se modifica e, ainda assim,  
permanece como aquilo que especifica o gênero humano. Dizendo de outro modo,  
uma essência que porta uma característica fundamental do conceito de substância –  
permanência na mudança. O que nos coloca diante de uma novidade: identificamos,  
com Marx e Lukács, uma substância que se manifesta ao longo da história do ser social,  
que se modifica em cada formação em que se apresenta e que indica uma tendência à  
sua plena efetivação. Substância que opera como essência é a expressão do processo  
tendencial de humanização do ser humano, de constituição de personalidades  
verdadeiramente humanas capazes de autocontrole, do controle racional de seus  
instintos, impulsos, paixões, medos etc. A referida tendência ao se manifestar em  
formações socioeconômicas estranhadas é contrarrestada há uma evidente cisão  
entre o desenvolvimento das capacidades do gênero humano em detrimento do  
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desenvolvimento de personalidades verdadeiramente humanas. O que impede, na  
prática, que a humanização do ser humano, ocorra para a massa das pessoas. O  
desenvolvimento das capacidades do gênero humano aciona o aumento da  
produtividade e o progressivo afastamento das barreiras naturais; a propriedade  
privada dos meios de produção, acompanhada pela divisão social e técnica do  
trabalho, impede que os frutos desse desenvolvimento sejam usufruídos pela maioria  
das singularidades humanas, desaguando na consolidação do processo de  
estranhamento.  
Todas as formações sociais até a atual sociedade do capital são formações  
estranhadas, dominadas por formas diversas de reificação autoestranhadoras eis a  
pré-história humana para Marx. Somente a sociedade do futuro, comunista, ao  
conseguir superar a articulação social a partir do trabalho abstrato, dará início à  
verdadeira história do gênero humano. Uma história em que haverá convergência entre  
o desenvolvimento da personalidade humana e do conhecimento da espécie. Ou seja,  
o conhecimento estará voltado para a produção de uma pletora de objetivações e de  
laços sociais que não são estranhos às singularidades e, ao mesmo tempo, permitem  
a produção de subjetividades plenamente humanas.  
Atividades humanas, e não somente o trabalho universal/geral, constituem essa  
essência humana que é permanência na mudança e que se manifesta nas objetivações  
e subjetivações variadas que vão se constituindo, se alterando e sucedendo ao longo  
da existência do gênero. Sugerindo que essa substância não é suportada por  
objetivações que possam ser apropriadas privadamente como suportes da riqueza  
abstrata ou formas de riqueza material; como ocorre no caso da substância do valor –  
trabalho abstrato suportada por valores de uso sob a forma de mercadoria e dinheiro  
e que é apropriada pelos proprietários dos meios de produção. A essência/substância  
do ser social está para além das objetivações, ainda que as objetivações sejam  
momentos necessários para sua existência; assim como as subjetividades e os laços  
sociais específicos.  
Lukács (2013, p. 122), indica a existência de mais de um tipo de substância  
no âmbito do ser social. Partindo dessa observação, podemos assentar que Marx, nos  
Manuscritos de 1844, ao tratar de substância do ser social, procura identificar a  
permanência na mudança que se modifica em qualidade e quantidade em cada  
formação socioeconômica que a porta. Ele analisa uma substância dinâmica em sua  
processualidade histórica e que se explica pelo desabrochar do que há de específico  
no ser humano. Ou seja, a substância é o próprio processo de humanização do  
indivíduo humano, de formação de personalidades autenticamente humanas. Essa  
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processualidade é acionada pelas práticas e atividades humanas que incluem o  
trabalho universal/geral. O trabalho universal/geral inicia o processo de humanização,  
opera como protoforma do agir humano, todavia, a substância em questão não é  
exteriorizada pelo trabalho. Ele cria as condições para essa exteriorização na medida  
em que se torna mais eficiente, em que há maior domínio sobre as legalidades naturais  
e sociais e, desse modo, permite o ganho de tempo livre da obrigatoriedade de  
trabalho que poderá ser mobilizado no processo de individuação das singularidades  
humanas tornando possível o desenvolvimento de outros âmbitos da vida social  
(arte, filosofia, política etc.) que permitirão a efetivação da omnilateralidade do  
humano.  
Em sua crítica ontológica da economia política, Marx revela que há uma outra  
substância que estrutura somente o mundo do capital; plasmando a objetividade e  
subjetividade desse mundo. Essa substância é permanência na mudança, todavia, ela  
não se modifica na qualidade, ela é e sempre será trabalho abstrato, e só se modifica  
nas quantidades de tempo de trabalho. Essa substância do valor (trabalho abstrato) é  
exteriorizada e objetivada pelo produtor de mercadorias na sociedade do capital, só  
existe suportada pelo valor de uso, na forma de mercadoria ou de dinheiro (tipo  
especial de mercadoria). O valor é forma de riqueza abstrata, forma de mediação social  
indireta, forma de dominação abstrata e forma automediadora. O que significa dizer  
que o valor, que só pode existir socialmente se expandindo, opera de modo totalizante.  
Ao moldar as práticas sociais necessárias à sua produção e reprodução, molda as  
subjetividades dos produtores e, ao mesmo tempo, estrutura, a partir dessas práticas,  
formas pseudo-objetivas comumente associadas à superestrutura social: o estado  
moderno, o sistema jurídico etc. A sociedade moderna, portanto, é produto do trabalho  
abstrato que é necessariamente estranhado. Sua produção exige a produção de  
mercadoria e produzir mercadorias é produzir fetiche ou reificação produtora de  
estranhamento social.  
Como a exploração do ser humano é a pedra de toque de todo esse arranjo  
societário, é possível, ao marxismo tradicional, sustentar que toda a riqueza social é  
produzida pelos trabalhadores assalariados, mas não é usufruída por eles. A classe  
exploradora, parasitária, se apropria do que não produziu devido ao direito de  
propriedade privada dos meios de produção. O que os leva a uma conclusão imediata:  
a emancipação humana é a emancipação da propriedade privada dos meios de  
produção. O seu desaparecimento aciona o fim da exploração e da classe parasitária  
(burguesia). Essa figuração de mundo tem no proletariado o sujeito histórico, pois  
projeta o que há de específico na sociedade do capital em formações sociais pretéritas  
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proletários exteriorizariam a substância do ser social em toda e qualquer formação  
socioeconômica. Além disso, defende que na sociedade do futuro o proletariado irá se  
realizar em sua completude pois, finalmente, o trabalho, que é o princípio regulatório  
da sociedade, será conscientemente planejado. O que permitirá ao proletariado  
usufruir da totalidade dos produtos objetivados por seu trabalho, reapropriando-se da  
essência (riqueza) social-humana que lhes era negada o que tipifica essa crítica  
tradicional como distributivista. Nessa abordagem, o estranhamento do trabalho é  
explicado como uma inversão entre sujeito e objeto e se associa a um tipo de falsa  
consciência que está entrelaçada às formas jurídicas e ideológicas dominantes.  
Subjacente a essa posição está a ideia de que a subjetividade tem uma estrutura  
preexistente e que não é socialmente constituída. O que permite concluir que, para  
essa figuração, no capitalismo o que é específico do âmbito subjetivo se manifesta  
como próprio do âmbito objetivo. O cerne das dificuldades desse campo reside na  
indistinção entre os tipos de substância em análise, o que provoca um colapso  
conceitual e conduz a análise a posições não plausíveis com relação a dinâmica do ser  
social.  
Em boa medida, Marx de 1844 parece ofertar arrimo para esse tipo de  
elaboração teórica. O que demonstra a importância da crítica dos Manuscritos de 1844  
a partir da crítica ontológica da economia política, feita por Marx a partir de 1857-58.  
Pensamos que há três pontos cruciais, descobertos por Marx a partir de 1857/58, a  
serem considerados nessa crítica: (1) o eixo organizativo da sociedade do capital é o  
trabalho abstrato que, ao mesmo tempo, só existe socialmente como capital. (2) O  
sujeito, não transistórico, da sociedade moderna é o capital e as práticas estruturadas  
e estruturantes a ele associadas. (3) A emancipação humana é emancipação do  
constrangimento lógico do valor, algo que se coloca para além da eliminação da  
propriedade privada, das classes sociais e do estado moderno ainda que tenha  
nessas eliminações sua condição necessária, elas não são suficientes para a efetivação  
da emancipação.  
Partindo da elucidação de que trabalho estranhado produz a propriedade  
privada, Marx (2004) assenta que a emancipação da propriedade privada se apresenta  
como emancipação política dos trabalhadores e essa emancipação política inclui a  
emancipação universal, a emancipação de todo gênero humano. Esta inclusão se  
explica, segundo Marx (cf. 2004, pp. 88-9), em razão do fato de que a relação entre  
o trabalhador e a produção é conexa a opressão humana e, além disso, todas as  
conexões de servidão são decorrências dessa relação. O desenvolvimento do gênero  
humano, como sabemos, é marcado pelo surgimento e por várias formas de  
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manifestação da propriedade privada. Marx, em 1844, oferece uma explicação para a  
propriedade privada que não é exterior ao ser humano, mas que é produto do trabalho  
estranhado, sendo assim uma explicação inerente ao ser humano pois trata-se da  
própria práxis humana vital fundante do gênero humano. De todo modo, esse  
movimento esclarece a igualação entre exteriorização do trabalho e estranhamento.  
Pois na presença da propriedade privada, tudo o que o produtor exterioriza é uma  
objetivação estranha a ele. Nesse sentido, Marx sugere a existência de uma relação de  
reflexão entre trabalho estranhado e propriedade privada na qual o par se condiciona  
reciprocamente e o trabalho estranhado possui a prioridade ontológica frente à  
propriedade privada. Eis o motivo de Marx dedicar amplo espaço para a discussão a  
respeito da propriedade privada nos Manuscritos de 1844: a emancipação da  
propriedade privada acarreta a emancipação do trabalho estranhado.  
Como ainda não havia instaurado sua própria teoria do valor, Marx, sem ter a  
intenção, se vê limitado a uma crítica jurídica da forma de propriedade ou da  
distribuição do que foi produzido sob a forma de mercadorias. Em suma, em 1844 a  
emancipação é da propriedade privada, pois a compreensão de Marx é de que estamos  
diante de tipos de dominação pessoal. Se em 1844, Marx apreende a dominação social  
como pessoal, a partir de 1857 passa a sugerir que, em seu nível mais crucial, a  
dominação é abstrata, é a dominação do valor sobre o gênero humano. O não  
desenvolvimento de sua teoria do valor é que o leva a enfatizar a crítica ao ter, à  
propriedade privada, como chave explicativa do estranhamento e de suas formas de  
manifestação. Do que resulta que permanece tributário de uma crítica do capitalismo  
do ponto de vista do trabalho determinado por mercadoria, não sendo ainda capaz de  
apresentar uma crítica do trabalho determinado por mercadorias ou do trabalho no  
capitalismo. Por fim, é preciso destacar que os Manuscritos de 1844 portam, in nuce,  
questões que irão atravessar toda produção intelectual de Marx e que serão  
amadurecidas e desdobradas, pelo autor, em materiais posteriores por exemplo, o  
trabalho universal/geral enquanto categoria fundante do ser social, a tríade  
exteriorização, objetivação e estranhamento, trabalho estranhado, emancipação  
humana etc.  
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Como citar:  
ARAUJO, Paulo Henrique Furtado de. Os Manuscritos econômico-filosóficos de 1844 e  
a teoria do valor de Marx: primeiras observações. Verinotio, Rio das Ostras, v. 30,  
n. 2, pp. 116-146, 2025.  
Verinotio  
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ISSN 1981 - 061X, v. 30 n. 2, pp. 116-146 jul.-dez., 2025  
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