DOI 10.36638/1981-061X.2025.30.2.778
“Zoon politikon” para Marx: o ser social e a
historicidade da política
“Zoon politikon” for Marx: social being and the
historicity of politics
Ana Carolina Marra de Andrade*
Resumo: No presente artigo são feitas
considerações sobre o uso dado por Marx à
famosa frase aristotélica “o homem é um animal
político [ζῷον πολιτικόν]” em três momentos
distintos de sua elaboração teórica: nos textos de
1857-8, nomeadamente a “Introdução” de 1857
e as Formas que precederam a acumulação
capitalista, que fazem parte dos Grundrisse; no
Livro I de O capital: crítica da economia política
(1867); e nos excertos sobre A sociedade antiga
de Lewis Morgan, escritos em 1881, publicados
posteriormente como parte dos chamados
Cadernos etnológicos de Marx. Assim, analisa-se
de que modo Marx interpreta a expressão
aristotélica, e até que ponto é possível considerar
que ele discorda da afirmação de que “o homem
é um animal político [ζῷον πολιτικόν]”. Entende-
se que Marx insere a afirmação em seu contexto
histórico, enquanto uma “característica da
Antiguidade clássica”, mas que remete também
Abstract: This article discusses Marx's use of the
famous Aristotelian phrase “man is a political
animal [ζῷον πολιτικόν]” at three different
moments in his theoretical development: in the
texts of 1857-8, namely the Introduction of
1857 and the Forms that preceded capitalist
accumulation, which are part of the Grundrisse;
in book I of Capital: critique of political economy
(1867); and in the excerpts on Lewis Morgan's
Ancient Society, written in 1881, later published
as part of Marx's so-called Ethnological
notebooks. Thus, we analyze how Marx
interprets the Aristotelian expression, and to
what extent it is possible to consider that he
disagrees with the statement that “man is a
political animal [ζῷον πολιτικόν]”. It is
understood that Marx places the statement in
its historical context, as a “characteristic of
Classical Antiquity”, but that it also refers to an
important universal feature: the sociability of the
human being, that is “if not a political animal, in
any case a social animal”. With these inferences,
Marx opposes theorists who take the isolated
individual as their historical starting point,
naturalizing civil-bourgeois society. In this
sense, this analysis is not only relevant as a
mere Marxian interpretation of Aristotle, but
also for the unveiling of two fundamental
concepts for Marx, which are intrinsically
connected: the ontologically social character of
the human being and the historicity of politics,
which ultimately provides the basis for
overcoming the State itself as a human creation.
para um caráter universal importante:
a
sociabilidade do ser humano, que é, a saber, “se
não um animal político, em todo caso um animal
social”. Com essas inferências, Marx se opõe aos
teóricos que tomam o indivíduo isolado
enquanto
ponto
de
partida
histórico,
naturalizando a sociedade civil-burguesa. Nesse
sentido, esta análise não é relevante apenas
enquanto mera interpretação marxiana de
Aristóteles, mas também para a apresentação de
duas concepções fundamentais para Marx,
intrinsecamente
conectadas:
o
caráter
ontologicamente social do ser humano e a
historicidade da política, o que, em última
análise, fornece as bases para a superação do
próprio estado enquanto criação humana.
Keywords: Political animal; social being; Karl
Marx; history.
Palavras-chave: Animal político; ser social; Karl
Marx; história.
* Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: anamarra7@gmail.com. Orcid: 0000-0002-8477-8578.
ISSN 1981 - 061X – v. 30, n. 2 – jul.-dez., 2025
Verinotio
nova fase