DOI 10.36638/1981-061X.2025.30.2.780  
Decadência ideológica e a gênese do  
irracionalismo filosófico em Lukács  
Ideological decay and the genesis of philosophical  
irrationalism in Lukács  
Francisco Malê Vettorazzo Cannalonga*  
Resumo: Neste trabalho procuramos elucidar o  
conceito de irracionalismo empregado por  
Lukács. Partimos da teoria da decadência  
ideológica de Lukács para indicar dois elementos  
centrais da decadência ideológica: (1) a limitação  
do saber ao empírico e (2) a recusa dos  
problemas ontológicos. Concluímos que a  
impossibilidade de solucionar o problema da  
gênese dos fenômenos é traço característico da  
decadência ideológica. Com base nisso  
analisamos a maneira como o irracionalismo  
procura dar uma solução para esse problema  
mediante a postulação de um saber intuitivo e  
não-racional do sentido da realidade fetichizada  
do capitalismo, através do qual procura realizar  
uma apologia indireta deste.  
Abstract: In this paper, we seek to elucidate the  
concept of irrationalism employed by Lukács.  
We start from Lukács' theory of ideological  
decadence to indicate two central elements of  
ideological decadence: (1) the limitation of  
knowledge to the empirical and (2) the rejection  
of ontological problems. We conclude that the  
impossibility of solving the problem of the  
genesis of phenomena is a characteristic feature  
of ideological decadence. Based on this, we  
analyze the way in which irrationalism seeks to  
offer a solution to this problem on the  
postulation of an intuitive and non-rational  
knowledge of the meaning of the fetishized  
reality of capitalism, through which it seeks to  
make an indirect apology for it.  
Palavras-chave:  
Irracionalismo;  
dialética;  
Keywords: Irrationalism; dialectics; ontology;  
ideology; ideological decadence.  
ontologia; ideologia; decadência ideológica.  
Introdução: decadência ideológica e o problema da gênese  
Em tempos recentes, a mais controvertida parte da obra lukácsiana de  
maturidade, sua crítica ao universo intelectual da ideologia burguesa e, sobretudo, sua  
tentativa de situar a ascensão do nacional-socialismo no contexto do desenvolvimento  
de certas tendências irracionalistas da filosofia burguesa que culmina na seminal  
obra A destruição da razão vem se tornando objeto de interesse por parte de setores  
da intelectualidade de esquerda. Depreende-se esse fato a partir de recentes reedições  
da obra chave de Lukács1 e de ensaios recentes que procuram salientar sua  
atualidade2. Não acreditamos que esse fenômeno pode ser reduzido a um mero  
* Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).  
1 Tome-se a título de exemplo as novas edições de A destruição da razão em inglês (pela editora Verso  
em 2021) e francês (pela editora Delga em 2017), assim como a reedição em 2022 do volume 9 da  
edição das obras reunidas [Werke] que contém A destruição da razão de Lukács pela editora alemã  
Aisthesis.  
2
Podemos mencionar trabalhos recentes como o ensaio “The new irrationalism” do editor da Monthly  
Review John Bellamy Foster (Foster, 2023), a resenha na Jacobin de Matt McManus sobre a reedição de  
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modismo acadêmico, mas antes resulta da própria força das coisas: da tentativa de  
compreender a reorganização e ascensão de forças de extrema direita ao redor do  
globo, em diferentes nações, cada qual dotadas feições e características próprias. O  
confronto com o fenômeno do pensamento irracionalista e reacionário deixou de ser  
matéria de desacato entre doutos para assumir papel central importância no debate  
político e social.  
Contudo, é curioso observar que não há qualquer definição sintética do conceito  
de irracionalismo a ser encontrada em toda a obra do filósofo húngaro. E isto,  
acreditamos, por desígnio. Como bom dialético, Lukács não parte de conceitos, mas  
do próprio movimento das coisas. O filósofo húngaro persegue ao longo do  
desenvolvimento histórico, dos sistemas e autores mais representativos, a maneira  
como arcabouço teórico do irracionalismo é engendrado e como, a partir deste  
substrato, os principais conceitos e motivos são desdobrados e modificados em  
estreita conexão com as transformações históricas que conformam seu firmamento  
ontológico. Desta maneira é possível tanto articular e apresentar conceitualmente uma  
unidade substancial no desenvolvimento do irracionalismo filosófico quanto apreender  
a raiz de suas transformações e modificações conceituais, ainda que um conceito  
sintético não se encontre aduzido de antemão. O “método” de procedimento da  
investigação de Lukács, assim, ecoa a formulação de Hegel na Fenomenologia do  
Espírito: “O método não é outra coisa que a estrutura do todo, apresentada em sua  
pura essencialidade.” (HEGEL, 2014 p. 50)  
Nosso objetivo neste trabalho, portanto, é investigar a gênese da estrutura  
categorial que baliza o irracionalismo filosófico, tal como esta aparece na obra de  
Lukács e, com isso, tentar oferecer uma conceituação mais precisa do que é o  
irracionalismo filosófico, em termos teórico-conceituais3. Isso só pode ser feito a partir  
A destruição da razão (Mcmanus, 2023), o artigo de Matthrew Sharpe e Matthew King de 2023  
(SHARPE; KING, 2023), assim como o vigoroso e ricamente documentado ensaio de Matteo Gargani  
(GARGANI, 2020). É também interessante notar o evento dedicado a A destruição da razão de Lukács,  
realizado em 2022 pela Universidade de Deakins e organizado por Matthew Sharpe e Daniel Tutt. Cabe  
também mencionar que o Brasil deve ser considerado exceção no que diz respeito ao estudo e discussão  
da obra de Lukács em virtude do esforço pioneiro de pensadores e militantes marxistas nas décadas de  
60-70 como Carlos Nelson Coutinho, José Paulo Netto, Leandro Konder, José Chasin, Celso Frederico,  
entre outros, que colocaram e mantiveram em evidência a obra do pensador húngaro desde então,  
sobre a história dessa tradição cf. Massuia (2013).  
3
Por essa razão, o presente escrito procura realizar uma abstração razoável em relação às  
determinações histórico-materiais imediatas dos diversos expoentes do irracionalismo filosófico,  
procurando apreender o movimento das determinações conceituais que operam no cosmos intelectual  
do pensamento burguês, movimento que não obstante se radica nas determinações histórico-materiais  
da burguesia enquanto classe. Nossa tentativa, portanto, procura elucidar um arcabouço intelectual que  
emerge das transformações materiais e ideológicas da burguesia no período da decadência ideológica  
e se mantém através das mudanças históricas e determinações nacionais, na medida que deriva de uma  
determinação geral da realidade material da burguesia enquanto classe. Nesse sentido, nosso trabalho  
deve tomar como modelo menos o procedimento histórico-sequencial de A destruição da razão e mais  
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da compreensão dos elementos centrais da ideologia burguesa tal como este se  
definem a partir do processo de decadência ideológica paulatinamente empreendido  
pela burguesia no período que se inicia a partir de 1830 e culmina nos grandes  
eventos revolucionários e violentas repressões ocorridos entre 1848 e 18714. Neste  
processo histórico, o proletariado organizado se colocou pela primeira vez como  
derradeiro agente do progresso social, explicitando as contradições imanentes entre  
capital e trabalho e ameaçando fatalmente o domínio da burguesia ao indicar a  
possibilidade de instauração revolucionária de uma sociabilidade distinta,  
materialmente superior, ao modo de produção capitalista vigente. Frente a esses  
eventos e ao estabelecimento de um novo paradigma da luta de classes a burguesia  
deve assumir uma perspectiva decididamente reacionária. Do ponto de vista da  
burguesia, o acirramento da luta de classes e a demanda da instauração de uma  
sociedade para além do capital, jamais poderiam serem vistas como possibilidades  
inscritas no âmago das contradições do próprio modo de produção capitalista;  
tampouco poderiam ser essas contradições compreendidas como elementos  
constitutivos da própria sociabilidade que confere à burguesia seu poder. Por força de  
uma necessidade social que se impõe em todos os âmbitos da vida espiritual, o modo  
de produção capitalista e as relações sociais que dele se desdobram já não poderiam  
ser concebidas como uma forma de produção social historicamente determinada, um  
importante, porém transitório momento no contraditório desenvolvimento do gênero  
e da história humana, mas como o derradeiro estágio desta: a única forma de  
sociabilidade possível e desejável. Portanto, a fim de assegurar a continuidade do  
sistema social que fundamenta sua posição dominante, surge para a burguesia a  
necessidade ideológica de afirmar a perenidade do modo de produção capitalista e  
suas relações sociais. Surge, portanto, a necessidade de uma constante apologia do  
modo de produção capitalista mediante a recusa de sua determinação histórica  
constitutiva. Em termos abstratos, a maneira como a burguesia efetiva essa apologia  
está na tentativa constante de eliminar, através de todos os subterfúgios retóricos e  
teóricos possíveis, o questionamento e indagação científica acerca da gênese dos  
o método sistemático-conceitual empregado por Lukács em obras como Introdução a uma estética  
marxista (LUKÁCS, 2018), no qual a investigação se circunscreve à análise teórico-conceitual da  
categoria dialética de particularidade [Besonderheit].  
4
A teoria da decadência ideológica elaborada por Lukács constitui um dos eixos centrais de sua  
elaboração teórica de maturidade. Formulada de maneira programática no artigo “Karl Marx und das  
probleme des Ideologischen Verfalls” de 1938, publicado primeiramente na revista Internationale  
Literatur, aparecendo em livro pela primeira vez em 1948, na coletânea de ensaios Karl Marx und  
Friedrich Engels als Literaturhistoriker, sendo republicado diversas vezes em diferentes volumes,  
notavelmente no volume 4 da edição de suas obras coligidas (Werke 4. Probleme des Realismus I. Essays  
über Realismus) pela editora berlinense Luchterhand.  
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fenômenos. A investigação acerca da gênese ontológica das relações sociais  
capitalistas, das conexões internas que constituem sua condição de possibilidade,  
implica a compreensão de seu caráter inexoravelmente histórico e, consequentemente,  
implica também a possibilidade de sua superação. Afinal, como indica Marx: “uma vez  
que se exponham claramente estas relações internas [dos fenômenos do modo de  
produção capitalista, FC], toda a crença teórica na necessidade permanente do estado  
de coisas atual se exaure” (MARX; ENGELS, 2020, p. 269). Lukács, por sua vez,  
descreve da seguinte maneira a forma teórica específica que se origina a partir da  
necessidade da apologia:  
Qual é, de fato, o núcleo de toda apologética? É a tendência a  
permanecer na superfície dos fenômenos, ignorando os problemas  
mais profundos, essenciais e decisivos. Ricardo ainda se referia aberta  
e “cinicamente” à exploração dos operários pelos capitalistas. Os  
economistas vulgares se refugiam nos mais superficiais  
pseudoproblemas da esfera da circulação, de modo a banir do mundo  
da ciência econômica o processo de produção, na medida em que este  
é processo de produção do mais-valor. De modo análogo, a estrutura  
de classes da sociedade desaparece da sociologia; a luta de classes,  
da ciência histórica; e o método dialético, da filosofia. (LUKÁCS, 2010,  
p. 201)  
Assim, a imperiosa necessidade apologética de eliminação teórica do problema  
da gênese deve resultar em uma reorganização teórico-conceitual que resulta em um  
processo de regressão ao empírico e evasão do ontológico5. Tal reorganização teórica  
implica, pro um lado, que todo o conhecimento possível portanto, todo o saber  
racional se reduz aos estritos limites da experiência empírica, e toda dimensão  
propriamente ontológica (dos mecanismos, processos e tendências) o que excede a  
tais limites é tomado como metafísico e cientificamente irrelevante. Nesta perspectiva  
o conhecimento da realidade se reduz a um saber mensurável e quantitativo dos  
fenômenos empíricos, circunscrevendo-se essencialmente ao escopo do entendimento  
[verstand] tal como o caracterizava Kant em sua Crítica da razão pura. Por outro lado,  
a ciência passa então a ser concebida não mais como uma explicação dos fenômenos,  
isto é, como a tentativa de apreender os mecanismos efetivos que os produzem e  
engendram, mas ora como a simples descrição funcional (através de funções  
matemáticas) das relações que os fenômenos estabelecem entre si6, enquanto  
regularidades empíricas (que fornecem o fundamento das “leis empíricas” ou  
“experimentais”)7. Esse movimento intelectual resulta no processo de  
5 Discutimos de maneira mais detalhada essas questões em nosso trabalho Cannalonga; Barbosa (2025).  
6
“Os conceitos de ordem da física matemática não têm qualquer outra função salvo serem uma  
sondagem completa das relações do ser empírico” (CASSIRER, 1923, p. 165).  
7
“A teoria física não é uma explicação. É um sistema de proposições matemáticas, deduzidas de um  
pequeno número de princípios, que procuram representar da maneira mais simples, completa e exata  
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desontologização8 das ciências e do represamento do conteúdo ontológico das  
descobertas científicas pela barragem do ceticismo empirista. Deste modo, a ciência  
deixa de ser um instrumento de explicação da realidade em si mesma, premissa  
incontornável para a formulação de uma visão de mundo materialista amparada em  
seus resultados, mas apenas uma forma de descrição dos fenômenos a ser manipulada  
livremente a fim de realizar objetivos meramente pragmáticos do desenvolvimento das  
forças produtivas e da manutenção do modo de produção capitalista. Cumpre-se,  
assim, a exigência “belarmiana”, tal como Lukács caracteriza em sua Ontologia do ser  
social9.  
Visto que todo o conhecimento possível é reduzido ao âmbito empírico, o  
pensamento burguês predica que todo o conhecimento racional acerca da realidade é  
esgotado pelo conhecimento descritivo e quantitativo dos fenômenos fornecido pelas  
ciências empíricas da natureza. Assim sendo, resta à filosofia a posição de um saber  
meramente derivativo, uma reflexão de segunda ordem acerca dos elementos formais  
e metodológicos das ciências empíricas, mas jamais um confronto com seus resultados  
e conteúdos objetivos10. Deste modo, é excluído do escopo do conhecimento racional,  
toda a indagação acerca dos mecanismos, determinações, legalidades etc. que regem  
e engendram os fenômenos empiricamente verificáveis. Por sua vez, como arrimo  
conceitual para essas concepções emerge simultaneamente uma concepção acerca da  
dinâmica da realidade objetiva, que em outro trabalho caracterizamos como uma  
“ontologia empírica”11. Quer dizer, uma ontologia que implica o caráter puramente  
atômico e singular de todos os fenômenos, a natureza puramente contingente do  
encadeamento temporal destes e a exclusão de qualquer relação de necessidade e  
universalidade que pode ser estabelecida entre eles, ora reduzidas a meras  
regularidades de natureza puramente empírica e contingente.  
Essas determinações acerca dos limites impostos ao conhecimento da realidade  
e de sua consequente implicação em termos ontológicos constituem o fundamento  
um conjunto possível de leis experimentais.” (DUHEM, 1906, p. 26)  
8
“Desontologização [...] significa, em primeiro lugar, que a física se restringe estritamente ao que é  
dado como fenômeno, que é matéria de descrição. Desontologização significa, em segundo lugar, que  
todos os conceitos de essência e substância, e mesmo o conceito de força, são eliminados da ciência e  
que os únicos conceitos utilizados são aqueles que possibilitam exprimir conexões funcionais no dado  
[...] De acordo com essa concepção, a física consiste em nada além da mais precisa descrição possível  
dos fenômenos observáveis, em cujas assim chamadas leis da natureza tem unicamente a função de  
tornar possível a economia descritiva.” (SCHNADELBACH, 1984, p. 87).  
9 [...] a atitude diante da objetividade real, diante da questão de se as verdades das ciências naturais  
reproduzem efetivamente a realidade objetiva ou apenas possibilitam a sua manipulação prática,  
domina a filosofia burguesa desde os dias de Belarmino até hoje, determinando sua posição em  
todos os problemas ontológicos.” (LUKÁCS, 2012, p. 39)  
10 Discutimos esse ponto com mais detalhes em Cannalonga; Barbosa (2025, p. 158).  
11 Sobre o emprego desse conceito cf. Cannalonga (2022, p. 66).  
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teórico geral do pensamento burguês no período da decadência ideológica,  
engendrado pela necessidade de eliminar qualquer indagação acerca da gênese  
objetiva dos fenômenos e de estabelecer teoricamente a perenidade das relações  
sociais implicadas pelo modo produção capitalistas, que asseguram o domínio social  
da burguesia. Deste modo, configuram também o pressuposto necessário para indagar  
acerca da possibilidade da gênese do irracionalismo filosófico, que emerge a partir das  
contradições inerentes de tal visão de mundo.  
I. O fundamento místico do mundo empírico  
Contudo, mesmo frente a essa nova reconfiguração do conhecimento da  
realidade e da estrutura que resulta das necessidades da apologética, o problema  
fundamental, o problema da gênese, subsiste de maneira latente, ainda quando a  
possibilidade de seu questionamento é rejeitada de antemão. São paradigmáticas,  
neste aspecto, as palavras de Wittgenstein, que expressam a profunda angústia e  
incômodo com as limitações autoimpostas pelas determinações socioideológicas da  
decadência ideológica: “Sentimos que, mesmo que todas as questões científicas  
possíveis tenham obtido resposta, nossos problemas da vida não terão sido sequer  
tocados.” (WITTGENSTEIN, 2017, §6.521)  
Mencionamos acima que a regressão ao empírico e a consequente evasão de  
todo questionamento ontológico pressuposto pela apologética instituem a  
impossibilidade de uma investigação ontológico-genética dos fenômenos. Na medida  
em que as mediações objetivas e os nexos internos que constituem sua condição de  
possibilidade são eliminadas, resta tão somente a estrutura de mundo que a ontologia  
empírica implica. A gênese material de qualquer fenômeno só pode ser apreendida a  
partir da descoberta das mediações objetivas que o circunscreve, das tendências  
imanentes que um complexo ôntico encerra. Como mencionamos anteriormente, para  
Marx, a própria determinação do conhecimento da historicidade repousa nesta  
possibilidade de identificar e apreender conceitualmente tais nexos internos e  
mediações. Neste aspecto, é notável como mesmo um movimento intelectual  
considerado “revolucionário” em termos teórico-filosóficos no seio do pensamento  
burguês como foi o historicismo alemão jamais é capaz de se confrontar com a questão  
da gênese efetiva dos fenômenos sociais, mas antes interessa-se tão somente pela  
indicação e descrição de sua “singularidade” histórica, em oposição a uma suposta  
tendência homogeneizadora da razão iluminista e de seu conceito de progresso. Ora  
a apreensão de tal “singularidade” postulada realiza-se através do mero recolhimento  
empírico e subsequente interpretação hermenêutica do conjunto de representações  
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ideológicas, vivências subjetivas etc., sem jamais ser capaz de explicar propriamente a  
maneira como essa forma histórica particular pode surgir em primeiro lugar, que dizer,  
a partir de quais condições materiais, quais tendências objetivas do desenvolvimento  
histórico etc. Exemplo desse procedimento é a metodologia da “escola histórica do  
direito” – que por sua vez foi duramente criticada pelo jovem Marx representada  
sobretudo por Savigny,12 para quem a determinação histórica dos institutos jurídicos  
nada mais é do que a constatação empírica de sua pré-existência, mas jamais a  
indagação acerca da sua gênese material, como bem indica José Barata-Moura:  
Para Savigny, a historicidade do direito é fundamentalmente interior  
ao próprio domínio das representações sociojurídicas; e quando há  
lugar a apelar para usos e costumes do «povo» - isso tem sempre de  
entender-se como referência à representação dominante que em  
determinados períodos do passado se apresentou como hegemónica  
(efetiva ou putativamente) na consciência dos agentes jurídicos. Nunca  
é de uma verdadeira história material dos institutos e das instituições  
que se trata, mas tão-só de um historiar das fontes do direito.  
(BARATA-MOURA, 1994, p. 94)  
A investigação acerca da gênese sempre deve partir da identificação das  
determinações universais, de vigência ontológica, que circunscrevem os entes ou  
fenômenos particulares, através do conjunto de mediações objetivas em que se  
radicam e encontram sua condição de possibilidade. Contudo, o pensamento da  
decadência ideológica passa ao largo dessas determinações, destituindo-as de seu  
estofo ontológico para transmutá-las em meras construções subjetivas ou proposições  
formais, obstando dessa maneira a genuína compreensão de um desdobramento  
categorial ou particularização de categorias universais em fenômenos singulares, como  
sublinha Lukács:  
[...] o universal não aparece na realidade existente em si de maneira  
imediata ou isolada, independentemente dos objetos e das relações  
singulares, sendo, portanto, necessário obtê-lo mediante a análise de  
tais objetos, relações etc. Isso, porém, de modo algum suprime o seu  
ser-em-si ontológico, mas apenas lhe confere características  
específicas. Não obstante, é dessas circunstâncias que surge a ilusão  
de que o universal nada mais é que um produto da consciência  
cognoscente, e não uma categoria objetiva da realidade existente em  
si. (LUKÁCS, 2012, p. 60)  
Essa problemática a latência do problema da gênese que se impõe ao  
12 Embora auge da influência de Savigny e da “escola histórica do direito” na Alemanha tenha se dado  
período anterior à 1848, o legado do pensamento reacionário anterior à decadência ideológica segue  
exercendo importante influência em diversos pensadores centrais do período posterior, na medida em  
que já antecipavam em suas linhas fundamentais certas premissas onto-metodológicas: é o caso tanto  
do velho Schelling quanto dos representantes da “escola histórica”, que exerceram ampla influência  
sobre o “historicismo” de Dilthey e seus sucessores.  
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pensamento burguês se torna mais clara se fizemos recurso a um dos pensadores  
mais importantes e influentes da filosofia burguesa no período da decadência  
ideológica, cuja obra desempenha um papel central nas formulações do próprio Lukács  
acerca dos rumos da filosofia contemporânea (como veremos). Em seu Tractatus logico-  
philosophicus obra que explicita de maneira cristalina as determinações centrais da  
ontologia empírica do pensamento burguês Wittgenstein indica que as propriedades  
que determinam os objetos e as relações que estes podem entreter entre si são  
essencialmente propriedades externas (quer dizer, empíricas). Contudo, Wittgenstein  
também aponta que há, de fato, propriedades internas, essenciais aos objetos. Estas  
propriedades são aquelas que sem as quais é impossível sequer pensar a possibilidade  
de existência de um objeto, e que também conformam a condição de possibilidade das  
relações entre objetos, sem as quais qualquer configuração de objetos não seria  
possível. Estas propriedades, entretanto, apenas se mostram nas proposições, mas não  
podem ser apreendidas pelas proposições13. Apresenta-se aqui uma distinção  
fundamental estabelecida por Wittgenstein, entre aquilo que se pode dizer, isto é, ser  
expresso através de proposições e aquilo que apenas se mostra nas proposições  
(consequentemente, na própria realidade das quais as proposições são a figuração  
lógica). Também a “forma lógica” da realidade, que constitui a estrutura necessária  
para os estados de coisas e configurações entre objetos, também é uma determinação  
que apenas pode ser mostrada nas proposições (cf. WITTGENSTEIN, 2017, §4.12). Ora,  
tanto as propriedades internas dos objetos quanto a forma lógica da realidade  
representam a condição de possibilidade dos estados de coisas ou fenômenos do  
mundo externo, constituem, portanto, a condição de possibilidade da gênese desses  
fenômenos. Sua apreensão racional ou figuração lógica, isto é, na forma de  
proposições é, contudo, algo impossível. Sobre elas nada pode ser dito, sobre elas  
“deve-se calar” (WITTGENSTEIN, 2017, §6.54).  
Portanto, para Wittgenstein todo o conjunto das determinações que não podem  
ser objeto de uma apreensão racional, ou seja, aquilo que se mostra, que pode ser  
somente pressentido, mas jamais compreendido, reside em uma dimensão que existe  
à parte do “mundo” dos fatos, essa dimensão é caracterizada por Wittgenstein como  
“o místico”14. O místico, que por sua vez encerra o sentido do mundo (sentido que  
também denota uma determinação axiológica, enquanto determinação de valor ético  
ou estético), é completamente transcendente a este, situando-se em uma dimensão  
13 “A presença de tais propriedades e relações internas não pode, todavia, ser asserida por proposições;  
mostra-se, sim, nas proposições que representam aqueles estados de coisas e tratam daqueles objetos.”  
(WITTGENSTEIN, 2017, §4.122)  
14 “Há por certo o inefável. Isso se mostra, é o Místico.” (WITTGENSTEIN, 2017, §6.522)  
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Decadência ideológica e a gênese do irracionalismo filosófico em Lukács  
ontologicamente distinta, que não pode de modo algum ser atingida por vias racionais  
ou cognoscitivas em geral (isto é, em Wittgenstein, pelas proposições, pela figuração  
lógica da linguagem)15. A efetividade objetiva do mundo externo, dos eventos que nele  
transcorrem também são completamente inconsequentes em relação a essa dimensão  
mística, que permanece incólume e intocada por qualquer desdobramento que se dê  
no plano dos fatos.16 Há, portanto, um verdadeiro hiato ontológico entre o plano dos  
fatos, o mundo empírico e a substância mística, que representa tanto a condição de  
possibilidade ontológica quanto gnosiológica daquele.  
Essa imagem, porém, também surge como a expressão teórico-conceitual da  
insolubilidade do problema da gênese para o pensamento burguês. Assim, pode-se  
depreender que a ontologia apresentada por Wittgenstein é composta por dois polos  
fundamentais: por um lado, um mundo empírico, regido pela contingência, atomicidade  
etc. e, por outro, um universo místico, de impossível acesso pelas vias racionais  
tradicionais e transcendente em relação ao mundo empírico. Neste segundo se encerra  
não somente as determinações essenciais a partir das quais o mundo empírico pode  
ser efetivamente estruturado e constituído, mas também todo o “sentido” do mundo,  
a partir do qual as autênticas questões vitais do ser humano que escapam ao estreito  
campo das ciências empíricas (tal como ora são interpretadas pelo pensamento  
burguês no período da decadência ideológica) encontram derradeira solução. Essa  
é, acreditamos, efetivamente, a estrutura do pensamento filosófico geral que emerge  
sob os auspícios da decadência ideológica da burguesia. E justamente por revelar de  
maneira tão clara e sintética a estrutura básica da filosofia burguesa contemporânea  
Wittgenstein assume a posição de figura paradigmática nas formulações de Lukács  
(2012 pp. 74-9), que em sua Ontologia lhe dedica um excurso situado precisamente  
entre seções sobre o neopositivismo e o existencialismo, justamente com a finalidade  
de denotar a posição mediadora da filosofia de Wittgenstein, enquanto a expressão  
mais bem acabada da unidade fundamental do pensamento burguês no período da  
decadência ideológica. A estrutura categorial do pensamento burguês, portanto, pode  
ser representada da seguinte maneira:  
15  
“O sentido do mundo deve estar fora dele. No mundo, tudo é como é e tudo acontecesse como  
acontece; não há nele nenhum valor e se houvesse, não teria nenhum valor. Se há um valor que tenha  
valor, deve estar fora de todo o acontecer e de todo o ser assim. Pois todo acontecer e ser assim é  
casual. O que o faz não casual não pode estar no mundo; do contrário, seria algo, por sua vez, casual.”  
(WITTGENSTEIN, 2017, §6.41)  
16 Como seja o mundo, é completamente indiferente para o Altíssimo. Deus não se revela no mundo.”  
(WITTGENSTEIN, 2017, §6.432)  
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Essa estrutura categorial, ao menos em seus lineamentos ontológicos básicos,  
já aparece em Kant, especificamente em sua postulação do problema da “coisa-em-si”.  
Também em Kant, o problema da gênese dos fenômenos figura como algo  
completamente insolúvel no plano do saber teórico. Essas são consequências  
necessárias para toda a filosofia que assuma uma ontologia empírica como pedra de  
toque de sua sistematização conceitual. Contudo, a diferença fundamental é que Kant  
se recusa a atribuir qualquer propriedade à coisa-em-si, postulando-a simplesmente  
como uma inescrutável dimensão a partir da qual os fenômenos se o originariam, mas  
jamais como um além portador do “sentido” dos fenômenos, como faz Wittgenstein.  
Ao contrário, Kant procura articular uma solução racional para a problemática da  
gênese (que nele ainda figura como o problema da finalidade e da teleologia) a partir  
de sua teoria do juízo reflexivo na sua Crítica da faculdade de julgar. Neste aspecto,  
em sua recusa a atribuir qualquer conteúdo à coisa-em-si, Kant efetivamente oscila  
entre o materialismo e o idealismo, como assinala Lênin (cf. LÊNIN, 1982, pp. 149-  
50), sem jamais abrir margem para sua interpretação nos termos do “místico” de  
Wittgenstein. Não tardaria muito, porém, para que à coisa-em-si kantiana fossem  
outorgados conteúdos que transformassem sua natureza ontologicamente neutra em  
uma figura portadora de sentido, é o caso da doutrina schopenhauriana da “Vontade”  
(cf. SCHOPENHAUER, 2005, p. 169).  
Emerge desta determinação uma estrutura ontológico-categorial composto por  
um mundo empírico e um universo místico, intocável pelo conhecimento racional, no  
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Decadência ideológica e a gênese do irracionalismo filosófico em Lukács  
qual residiria o verdadeiro sentido da realidade. Tal par categorial circunscreve o  
desdobramento da filosofia burguesa no período da decadência ideológica. Mas, mais  
do que isso, também indica a possibilidade de dois rumos fundamentais para o  
pensamento filosófico da burguesia, que por sua vez refletem determinações as  
políticas e sociais particulares da decadência ideológica. Há, por um lado, a  
possibilidade de, em observância às asseveração de Wittgenstein, silenciar sobre esse  
universo místico e contentar-se com o mundo empírico dado essa é a perspectiva do  
que se pode caracterizar de maneira geral e provisória como positivismo (o que inclui  
todas as suas mais diversas derivações como o empiriocriticismo, positivismo lógico,  
pragmatismo e as mais recentes correntes da assim chamada “filosofia analítica”); a  
outra possibilidade figura na tentativa de procurar fornecer conteúdo a esse cosmos  
místico e extrair a partir daí, da problemática emergente do sentido da realidade, os  
preceitos norteadores de uma nova filosofia essa é a linha seguida pelo  
irracionalismo filosófico. No lugar do “místico” incognoscível de Wittgenstein, assomam  
figuras conceituais características do irracionalismo filosófico como a “revelação” do  
velho Schelling, a “vontade” [Wille] de Schopenhauer, o “Deus pessoal” de Kierkegaard,  
o “inconsciente” em Eduard von Hartmann, a “vontade de poder” em Nietzsche, o  
princípio da “vida” [Leben] em Dilthey, Simmel e outros representantes da  
lebensphilosophie17, o “ser” em Heidegger etc. Do mesmo modo que no positivismo,  
também no irracionalismo esse cosmos místico representa sempre um limite  
insuperável para o saber racional quer dizer, a razão reduzida ao nível do  
entendimento kantiano, enquanto um conhecimento essencialmente descritivo dos  
fenômenos empíricos para além do qual não é possível avançar pelos métodos  
tradicionais de um saber discursivo. Portanto, a fim de cumprir o programa de fornecer  
um conteúdo a esse cosmos místico, o irracionalismo deve pressupor que um  
conhecimento dessa esfera seja de algum modo possível, contudo predica-se ao  
mesmo tempo que esse conhecimento só pode se realizar por outras vias  
cognoscitivas, isto é, por formas de conhecimento não-racionais, ou por um saber de  
caráter intuitivo:  
Essas são precisamente as questões [...] que resultam dos limites e  
17  
Tomemos, a título de exemplo, uma passagem de Dilthey, cujas afinidades com a formulação de  
Wittgenstein são evidentes: “A expressão vida [Leben] expressa aquilo que é mais familiar e íntimo, mas  
ao mesmo tempo obscuro e mesmo inescrutável. O que a vida é, é um enigma insolúvel. Todo sentido,  
investigação e pensamento emergem desse inescrutável. Todo conhecimento tem sua raiz nesse algo  
nunca plenamente conhecido. Pode-se salientar seus traços de suas características singulares. Pode-se,  
por assim dizer, perseguir seu tom, seu ritmo, nessa animada melodia. Mas não se pode desmontar a  
vida em seus fatores. Ela é inanalisável [unanalysierbar]. O que ela é, não pode ser expressado em  
nenhuma fórmula ou explicação [...] A vida permanece insondável para o pensamento, como o dado em  
que ele próprio ocorre, atrás do qual, portanto, ele não pode voltar.(DILTHEY, 1982, pp. 346-7).  
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das contradições do pensamento puramente intelectivo. Esbarrar em  
tais limites pode significar para o pensamento humano se este  
percebe nisso um problema a ser solucionado e, como Hegel notou  
acertadamente, indício e sinal da racionalidade”, isso quer dizer, a  
mais alta forma de conhecimento um ponto de partida do  
desenvolvimento do pensamento para a dialética. O irracionalismo,  
pelo contrário […] só chegou até esse ponto, absolutizou o problema,  
petrificou os limites do conhecimento intelectivo e transformou-os em  
limites absolutos do conhecimento, mistificando até mesmo o  
problema, convertendo-o artificialmente em problema insolúvel,  
atribuindo-lhe uma resposta suprarracional”. A equiparação entre  
entendimento e conhecimento, entre os limites do entendimento e os  
limites do conhecimento em geral, a adoção da suprarracionalidade”  
(da intuição etc.) ali onde é possível e necessário avançar para um  
conhecimento racional essas são as características mais gerais do  
irracionalismo filosófico. (LUKÁCS, 2020, p. 86)  
Há que se dizer, contudo, que os limites que separam essas duas tendências  
centrais do pensamento burguês contemporâneo são profundamente tênues e a  
passagem de um polo ao outro é constante, não somente no desenvolvimento  
filosófico propriamente dito, mas também nas transformações conceituais e  
metodológicas observadas no seio da reflexão científica18. O elo que liga essas  
tendências, contudo, é precisamente a ontologia empírica que ambos tomam por base  
e que implica na insolubilidade do problema da gênese dos fenômenos (sobretudo no  
plano dos fenômenos sociais e históricos) e na emergência de uma zona obscura  
incontornável na estrutura de seu pensamento:  
A exclusão consequente de toda gênese histórico-social no caso de  
fenômenos eminentemente sociais, o que necessariamente eleva o  
plano atemporal suas características condicionadas pelo tempo, é  
apenas uma consequência metodológica do modo fundamental de ver  
as coisas, da exclusão por princípio de todo e qualquer ente-em-si do  
âmbito das duas filosofias. (LUKÁCS, 2012, p. 90)  
Ambas as opções fundamentais que, seguindo os parâmetros ora  
estabelecidos, caracterizamos de maneira geral como “positivismo” e “irracionalismo”  
assim como a flexível linha de demarcação entre elas, refletem por sua vez as  
determinações sociais da decadência ideológica. Mais especificamente, as duas formas  
primordiais de apologética que emergem do mesmo fundamento social. Por um lado,  
no positivismo, observa-se a apologia direta do modo de produção: a aceitação do  
18  
Nesse aspecto, acreditamos ser de enorme importância o trabalho de Paul Forman (cf. FORMAN,  
1971). Muito embora suas teses operem sob o eixo de uma “capitulação” do pensamento científico  
balizado pelo positivismo em relação as tendências irracionalistas da lebensphilosophie (a questão,  
acreditamos, é mais complexa as transformações conceituais que se operam nos parece desenvolver-  
se de maneira mais imanente ao próprio universo conceitual do que uma simples capitulação externa),  
a maneira arrojada que desenvolve seu argumento e a ampla documentação, nos parece ser uma  
contribuição indispensável para compreender os elementos conceituais que circunscrevem a totalidade  
do pensamento burguês e a maneira como os elementos positivistas podem ser extrapolados em sentido  
abertamente irracionalista.  
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Decadência ideológica e a gênese do irracionalismo filosófico em Lukács  
mundo empírico, “positivo” e a observação passiva de suas legalidades e  
determinações fundamentais como leis da natureza inquestionáveis. Por outro, no  
irracionalismo observamos a apologia indireta que procurando oferecer uma crítica do  
mundo empírico dado, através de um recurso aos conteúdos adquiridos através de um  
mergulho do universo místico, que finda por tão somente reafirmar, em uma forma  
modificada, certos elementos fundamentais da sociabilidade burguesa, como veremos  
com mais detalhes na segunda parte deste ensaio.  
Do mesmo modo, as oposições e polêmicas que podem ser observadas com  
tanta frequência entre as duas tendências ao longo da história recente, não nos devem  
dissuadir de identificar sua raiz comum, isto é, na posição de classe e vinculação com  
suas necessidades materiais e ideológicas, que fornecerão os impulsos primordiais de  
suas formulações. Assim, tomando como exemplo os oponentes filosóficos Heidegger  
e Carnap, Lukács indica que ambos constituem “os extremos de correntes que  
socialmente provêm da mesma origem, razão pela qual têm muito em comum em seus  
fundamentos teóricos e se completam em tal polaridade” (LUKÁCS, 2012, p. 76).  
Aprofundando nesta questão acerca da conexão umbilical entre vertentes positivistas  
e irracionalistas na filosofia focando na oposição entre Heidegger e Carnap Lukács  
indica que o irracionalismo emerge como uma tentativa de preenchimento do vazio  
que resulta da insolubilidade do problema da gênese, como assinalamos  
anteriormente. Salientando que tal unidade advém de seu comum enraizamento social  
na perspectiva intelectual da burguesia decadente, Lukács aponta que enquanto  
Carnap mantém-se satisfeito com a recomendação de Wittgenstein de se calar perante  
aquilo que escapa à concepção empírica de mundo, Heidegger, por sua vez, procura  
dar voz ao silêncio:  
A ontologia de Heidegger aparece, assim, em duplo sentido, como  
complementação orgânica do neopositivismo [...] Heidegger faz a  
tentativa de preencher com conteúdo, articular filosófica,  
ontologicamente, o "silêncio" de Wittgenstein, em que se expressa a  
rejeição neopositivista de nossos problemas vitais (ou sua  
incapacidade de solucioná-los). Por isso, a filosofia de Heidegger não  
constitui uma antítese exata ao neopositivismo, sendo apenas a  
complementação deste: ambos pisam o mesmo chão, examinam os  
problemas da sua época da mesma maneira, não vislumbrando neles  
autênticas questões histórico-sociais, mas fundamentos imutáveis de  
um pensamento científico, ou então fenomenológico; com a diferença  
de que, onde Carnap se detém satisfeito consigo mesmo, Heidegger  
manifesta um desconforto wittgensteiniano. (LUKÁCS, 2012, p. 84)  
Com essas observações não se deseja de modo algum desprezar as diferenças  
radicais que existem entre tais filósofos nos termos de seu leque conceitual específico  
e no desdobramento de problemas e motivos fundamentais, mas antes procura-se  
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salientar a raiz comum destas tendências e como as diferenças observáveis se  
desenvolvem radicadas em um ponto de partida comum, em termos de seu derradeiro  
fundamento ontológico. Neste ponto, é notável uma passagem de Heidegger em sua  
“Carta sobre o humanismo” na qual o filósofo alemão polemiza veladamente com as  
teses do Tractatus de Wittgenstein que sumariamos acima, centrando seu fogo crítico  
justamente acerca da questão da cognoscibilidade ou “dizibilidade” do “místico”, que  
em Heidegger aparece como o “ser” [Seyn].  
A linguagem abandona-se, ao contrário, a nosso puro querer e à nossa  
atividade, como um instrumento de dominação sobre o ente. Este  
próprio ente aparece como o efetivamente real no sistema de atuação  
de causa e efeito. Encontramos o ente como o efetivamente real tanto  
quando calculamos  
e
agimos, como quando procedemos  
cientificamente e filosofamos com explicações e fundamentações. A  
elas também pertence o garantir que algo seja inexplicável. Com tais  
afirmações pensamos estar diante do mistério. Como se já estivesse  
estabelecido que a verdade do ser se pudesse fundamentar, de  
qualquer modo, sobre causas e razões explicativas, ou, o que dá no  
mesmo sobre a impossibilidade de sua apreensão. (HEIDEGGER, 1973,  
p. 350; ênfase adicionada)  
Embora partindo de um juízo distinto, em sua crítica, Heidegger pressupõe  
tanto a mesma concepção da realidade (fundada sob a égide de um mundo empírico)  
quanto a mesma concepção acerca do que constitui um conhecimento “racional”, isto  
é, o puro “cálculo”, voltado meramente para a manipulação ou “dominação” dos  
fenômenos, mobilizado exclusivamente para compreender o “como” [Wer] das coisas  
com finalidade puramente pragmática e não seu escopo ontológico na pergunta  
pelo “quê” [Was], que sempre remete a problemática da gênese. Heidegger e  
Wittgenstein, assim, desdobram suas filosofias a partir do mesmo arcabouço teórico.  
Isto é, a partir da divisão entre o mundo o dos fatos, suscetível de ser apreendido na  
forma lógica da proposição e o indizível ou “místico”. Em Heidegger, contudo, essa  
estrutura se impõe na sua formulação clássica da divisão entre o plano dos “entes”  
[Seiende], regido pela manipulação, impessoalidade etc. e o “ser”, fonte da  
“autenticidade” e do sentido. O ponto de cisão entre suas perspectivas filosóficas  
configura-se na possibilidade de apreensão do ser, ou do sentido, que Heidegger julga  
possível mediante o emprego de vias não racionais (o “pensar” ou, posteriormente, a  
“meditação” [Besinnung]), enquanto Wittgenstein decreta sua indizibilidade. Esta, não  
obstante, é uma cisão que se desdobra a partir de uma raiz comum, como salienta  
Lukács:  
Tal confluência no âmbito dessa contraditoriedade (ou essa  
contraditoriedade no âmbito de uma visão de mundo muito  
semelhante) não é obra do acaso, o que se torna tanto mais plausível  
quanto maior a clareza que obtivermos sobre os caminhos percorridos  
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pelo conhecimento para chegar a tais resultados. [...] Wittgenstein e  
Heidegger rejeitam em uníssono, quase com as mesmas palavras, toda  
consideração do quê dos objetos, atrás do qual sempre estão ocultos  
motivos ontológicos, e se atêm ao conhecimento do como, afirmado  
como o único possível. É óbvio que, em todo uso meramente prático  
dos objetos, ou seja, em toda manipulação, o como necessariamente  
força passagem para o primeiro plano. (LUKÁCS, 2012, p. 90)  
E arremata contrastando essa perspectiva com uma filosofia que toma a problemática  
ontológica da gênese como pedra angular da investigação:  
[...] é evidente que todo modo de consideração realmente genético,  
crítico e histórico-social facilmente descobre que o como imediato é  
resultado, modo de externar complexos de forças reais e muito  
diferenciados, sendo que sua respectiva função atual, o como  
imediato, com frequência pode até converter-se em seu oposto.  
(LUKÁCS, 2012, p. 90)  
II. A gênese do irracionalismo filosófico  
Como vimos, a partir da contraposição e complementaridade de Heidegger e  
Wittgenstein, compreende-se que o irracionalismo filosófico emerge como tentativa de  
apresentar uma resposta à insolubilidade do problema da gênese na filosofia burguesa  
contemporânea, ao mesmo tempo que assume tacitamente os pressupostos onto-  
metodológicos constitutivos que interditam esse mesmo questionamento. Assim  
sendo, o problema da gênese objetiva dos fenômenos é transubstanciado no problema  
acerca de seu sentido. Essa tentativa de apreensão do sentido, obviamente, não pode  
de nenhuma maneira constituir uma abordagem de caráter científico e objetivo, visto  
que a estrutura ontológica do pensamento burguês põe em dois planos distintos  
(embora relacionados de maneira transcendente) o mundo empírico dos fenômenos –  
o único passível de ser objeto do conhecimento “racional” (isto é, um conhecimento  
meramente descritivo e quantificável) e a esfera transcendente e a-racional do sentido.  
Do mesmo modo, por se localizar numa dimensão além do mundo dos fenômenos  
empíricos essa esfera de realidade portadora de sentido apresenta um caráter não-  
objetivo, não-material. Dessa maneira, como indicado, a elucidação do sentido  
autêntico da realidade só pode ser realizada por vias de conhecimento não-racionais,  
intuitivas e, em última instância, subjetivas. Na medida em que a realidade externa  
apenas pode oferecer um conhecimento formal e manipulável acerca das regularidades  
observáveis no encadeamento temporal dos fenômenos, o sentido do mundo não pode  
ser encontrado no mundo objetivo, dos objetos externos, mas só pode ser procurado  
na dimensão transcendente da interioridade do sujeito.  
Como indicamos anteriormente, em sua investigação crítica do irracionalismo  
filosófico, sobretudo em A destruição da razão, Lukács não apresenta de maneira  
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apriorística um conceito de irracionalismo, a partir do qual seria possível subsumir  
diversos autores e tendências intelectuais. Mas antes, procura acompanhar o  
desdobramento histórico do irracionalismo filosófico a partir da análise pormenorizada  
de seus mais importantes representantes, sublinhando a maneira como os motivos e  
categorias característicos se manifestam em suas filosofias, sempre de maneira  
particular, em estreita conexão com as necessidades históricas que surgem para a  
burguesia em cada período, sempre de acordo com o caráter e intensidade da luta de  
classes, entre outros fatores. Lukács procura, desse modo, capturar o elemento  
substancial que unifica o pensamento irracionalista em suas diferentes manifestações,  
que perdura meio à mudança. Somente ao final da análise seria possível elaborar uma  
formulação sintética do conceito de irracionalismo filosófico. Acreditamos que agora,  
com base na investigação de Lukács e dos elementos elencados até o momento ser  
possível fornecer tal definição conceitual: o irracionalismo filosófico se caracteriza  
como uma perspectiva filosófica que postula um conhecimento não-racional da  
essência não-objetiva (ou sentido) do mundo. Essa definição só pode emergir a partir  
da apreensão e exposição das determinações basilares do pensamento burguês, em  
sua íntima articulação com a realidade histórica da decadência ideológica e seus  
desdobramentos, quer dizer, como resultado derradeiro da investigação.  
Armados dessa definição, procuremos agora apresentar a origem de algumas  
determinações basilares do irracionalismo a partir do fundamento geral fornecido pela  
teoria da decadência ideológica de Lukács. Indicamos anteriormente que a filosofia  
burguesa se estrutura a partir de duas esferas ontológicas distintas: uma esfera  
representando o mundo dos fenômenos empíricos e uma esfera no qual se encerra o  
sentido deste. Para o irracionalismo filosófico, contudo, essas esferas não apenas são  
distintas, mas efetivamente contrapostas: em oposição à esfera transcendente,  
portadora de sentido, a esfera dos fenômenos é caracterizada como carente de  
sentido, sendo antes apenas objeto de um saber forma, descritivo e manipulatório.  
Essa oposição entre as esferas ou dimensões da realidade assim como a forma de  
conhecimento apropriado para acessá-las constituirá, sob diferentes caracterizações,  
a pedra de toque do arcabouço conceitual da quase totalidade dos principais  
representantes do irracionalismo filosófico. Podemos encontrar uma ampla quantidade  
de exemplos das variações que se decolam desse mesmo arcabouço teórico  
apresentada nas investigações de Lukács: a ideia de uma filosofia negativa (racionalista  
e logicista) e uma filosofia positiva (capaz de penetrar na “verdadeira” realidade  
transcendente do ser) no velho Schelling; a oposição entre o mundo como  
representação [Vorstellung], dominado pela causalidade e o mundo como vontade  
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Decadência ideológica e a gênese do irracionalismo filosófico em Lukács  
[Wille] em Schopenhauer; a decadência [décadance] e a transvaloração dos valores pela  
vontade de poder [Wille zur Macht] ou a oposição entre a perspectiva apolínea  
(racionalista) e dionisíaca (instintiva, volitiva) em Nietzsche; em Dilthey, a oposição  
entre a experiência externa fragmentária e o caráter contínuo e dinâmico da experiência  
interna da “vivência” [Erlebnis], assim como a distinção entre as ciência da natureza  
[Naturwissenschaft] e seu princípio metodológico de explicação [Erklärung] e as  
ciências do espírito [Geisteswissenschaften] e o método hermenêutico de compreensão  
[Verstehen]; a oposição entre a rigidez [Starrheit] do mundo coisificado dos fenômenos  
e o mundo dinâmico e fluído da “vida” [Leben] nos diversos representantes da filosofia  
da vida (como Simmel, Rathenau etc.); a oposição entre a civilização [Zivilitation]  
racionalizada e mecânica e a cultura [Kultur] em Spengler; entre a “sociedade”  
atomizada [Gessellschaft] e a “comunidade” [Gemeinschaft] orgânica em diversos  
representantes da sociologia alemã (cf. LUKÁCS, 2020, pp. 513ss); entre o tempo  
“espacializado” da experiência externa e a durée da intuição em Bergson; entre a  
“segurança” [Sekuritat] alienada da vida cotidiana burguesa e a revelação do sentido  
através do perigo [Gefahr] e da morte em Ernst Jünger; entre o mundo “impessoal” e  
inautêntico dos entes [Seiende] e o ser [Sein] em Heidegger; entre espírito racionalista  
e estéril [Geist] e “alma” [Seele] em Ludwig Klages, entre muitos outros.  
Na esteira de seu fundamento apologético e da necessidade de interdição do  
conhecimento histórico objetivo, essa oposição entre a esfera do sentido  
transcendente e o mundo empírico carente de sentido foi empregada com a finalidade  
de negar a possibilidade do conhecimento histórico e da historicidade pelos primevos  
representantes do irracionalismo filosófico, como Schopenhauer e Kierkegaard. Ao  
transcorrer estéril dos eventos do mundo externo, privados de sentido, era oposto  
uma essência imutável, portadora de sentido, frente a qual qualquer mudança ou  
transformação no mundo dos fatos era trivial e irrelevante. Contudo, com o acirramento  
da luta de classes e a necessidade de um combate mais enérgico ao pensamento  
socialista, emerge a necessidade de afirmar uma dimensão propriamente histórica para  
o pensamento irracionalista, de modo a fornecer elementos para o enfrentamento  
ideológico direto com o pensamento objetivamente historicista do proletariado. Neste  
sentido, a oposição entre as duas agora esferas assume a significação de uma ideia de  
decadência. A esfera do sentido é identificada com algo primordial e originário,  
enquanto a carência de sentido presente no mundo empírico aparece como o resultado  
dessa decadência e da perda deste sentido originário. Assim, para fundamentar o  
combate ideológico contra a concepção dialética do desenvolvimento histórico, o  
irracionalismo contrapõe uma versão mitologizada da história como decadência de um  
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sentido originário perdido ou corrompido; segundo Lukács, Nietzsche e sua teoria da  
décadance dos instintos e das hierarquias naturais figura como o precursor definitivo  
dessa tendência:  
A essa concepção dialética da história, o irracionalismo precisava  
contrapor outra, mas que fosse igualmente uma explicação histórica  
da realidade, de modo a permanecer atual e ter efetividade em sentido  
reacionário. O conteúdo reacionário, a defesa apologética da  
sociedade capitalista como ápice insuperável e ponto final do  
desenvolvimento da humanidade precisava, entretanto, conduzir,  
simultaneamente, a uma superação da história, do desenvolvimento e  
do progresso. A mais essencial contribuição intelectual do  
irracionalista Nietzsche consiste em marchar desviando-se da  
realidade objetiva no passo das necessidades da época, conferindo  
à história natural e social uma interpretação mítica, de modo que nela  
o desenvolvimento apareça não só com novos conteúdos e objetivos  
reacionários, como também o próprio desenvolvimento seja, na  
representação mítica, dissolvido e superado por si mesmo. (LUKÁCS,  
2020, p. 330)  
Essa formulação, contudo, assume contornos ainda mais definidos com o  
aprofundamento histórico das lutas de classes, estando também na base do  
pensamento de Spengler (oposição entre cultura e civilização) e nas teses sobre a  
decadência da comunidade orgânica originária [Gemeinschaft] e crítica da sociedade  
[Gesellschaft] liberal e atomizada19, da perda das propriedades “ctônicas” da cultura  
em Baeumler, também se encontrando na base da formulação heideggeriana acerca  
da história do ser [Seinsgeschichte] enquanto “esquecimento do ser”  
[Seinsvergessenheit], assim como nas versões mais crassas da decadência enquanto  
diluição das propriedades originárias da raça ariana pela miscigenação nos ideólogos  
do nacional socialismo e outras formulações racistas.  
Importa aqui observar a maneira como essas oposições derivam da armação  
categorial da filosofia burguesa, assim como também se vinculam à oposição entre as  
esferas da subjetividade (esfera “mística”) e da objetividade (mundo empírico), sendo  
que a primeira é concebida como portadora de sentido enquanto a segunda carente  
deste. Essa ausência de sentido do mundo objetivo é, por sua vez, frequentemente  
mobilizada na forma de uma crítica à realidade social fetichizada que emerge do modo  
de produção capitalista. Desse modo procura-se identificar a concepção mecânica e  
estática da dinâmica do mundo empírico característica ao pensamento burguês na  
decadência ideológica com o caráter alienante, impessoal, mecânico, coisificado, das  
relações sociais capitalistas. A peculiaridade do irracionalismo filosófico, então, se dá  
no fato de que este se apresenta como uma crítica da realidade social existente,  
19 Sobre esse ponto cf. Losurdo (1991) e Fritsche (1999, pp. 68ss).  
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Decadência ideológica e a gênese do irracionalismo filosófico em Lukács  
mediante a identificação entre o mundo empírico, quer dizer, a objetividade em geral,  
com a vida social fetichizada do capitalismo, ao mesmo tempo em que se configura  
filosoficamente como uma apologia do próprio capitalismo. Como salientamos  
anteriormente, a apologia ao modo de produção capitalista pode se realizar por uma  
via direta a eliminação conceitual de todas as contradições da vida social sob o  
capitalismo ou pela via de apologia indireta. Segundo Lukács, o irracionalismo  
filosófico se inscreve precisamente na forma de apologia indireta. Nele as  
determinações contraditórias da vida social sob o capitalismo são recolhidas  
empiricamente e salientadas teoricamente, ao mesmo tempo em que sua base material  
concreta é teoricamente eliminada ou ocultada. Isso pode se efetivar de duas maneiras,  
determinadas pelas necessidades sociais e ideológicas da burguesia em cada caso: (1)  
ou essas contradições aparecem sublimadas enquanto formas ontológicas  
constitutivas do ser, ou seja, insuperáveis por definição o exemplo mais evidente se  
materializa no pessimismo filosófico de Schopenhauer; (2) ou as contradições da vida  
social do capitalismo são transubstanciadas em determinações de caráter puramente  
ideológico, enquanto tipos distintos de “atitudes”, “posturas”, “ideias”, isto é, formas  
ideológicas cuja validade supostamente transcenderiam a própria historicidade  
material do capitalismo. Enquanto na primeira variação, a crítica ao mundo objetivo  
vem acompanhada de uma resignação e desprezo por toda a tentativa de  
transformação da vida social, a segunda se apresenta não somente como uma crítica  
da realidade atual, mas também como um programa para sua superação mediante a  
recuperação do sentido originário. Essa crítica apologética ao capitalismo vincula-se,  
então, precisamente às formulações mitológicas acerca da decadência e perda do  
sentido originário mencionadas anteriormente. O mundo empírico, isto é, a vida social  
sob o capitalismo liberal, reduzida a elementos puramente ideológicos (racionalismo,  
atomismo, segurança, impessoalidade etc.), encontra-se contrastada com o sentido  
originário que reside na esfera transcendente da subjetividade. A superação das  
contradições do capitalismo converte-se simplesmente na superação destes elementos  
ideológicos o que também possibilita a identificação entre capitalismo (liberal) com  
a democracia e até mesmo com o socialismo, tomados como distintas etapas de um  
mesmo processo de decadência ao mesmo tempo em que se mantém intacta a base  
material do modo de produção capitalista e do domínio social da burguesia:  
Primeiramente, todos os eventos históricos são reduzidos a  
determinados estados psicológicos misticamente exagerados e a uma  
polaridade rígida. [...] contudo, podemos agora perceber a contradição  
fundamental da filosofia da vida em um nível mais elevado e concreto  
dentro dessa concepção mítica. Pois, por um lado, o primitivo, o  
original, o que está próximo da origem metafísica do ser humano, o  
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vivo, o instintivo recebe uma ênfase em relação ao racional, ao que  
está congelado, ao mecânico-racional, sendo que este último sempre  
deve ser entendido, em forma mitológica, como o capitalismo. Por  
outro lado, essa forma romântica-reacionária da filosofia da história  
não pode ser consistentemente aplicada em nenhum lugar. Deve  
haver, em todos os lugares, a ordem, o claro, o apolíneo triunfando  
sobre as forças do caos, sobre os poderes subterrâneos escuros e  
opacos, sendo que esse caos, então, de repente claro, de novo em  
forma mitológica é equivalente ao capitalismo mais a revolução  
proletária (pense-se na identificação do liberalismo com o marxismo).  
(LUKÁCS, 1989, p. 102)  
Neste sentido, a crítica materialista do modo de produção capitalista pode ser  
caracterizada como “inferior” ou “ingênua”, por não tocar na verdadeira “essência” das  
contradições da vida social, por se ater meramente à realidade externa e não ser capaz  
de adentrar a subjetividade e capturar o sentido originário a única fonte de  
“verdadeira” mudança. A este respeito, Lukács aduz uma notável citação de Hugo  
Fischer, que critica o marxismo por não ser capaz de entender o capitalismo como uma  
manifestação da figura mítica da “decadência”:  
A categoria de capital é uma especificação da categoria de  
decadência, categoria determinante da filosofia da cultura e da  
metafísica. O capital é a forma da decadência da vida econômica. O  
erro fundamental do marxismo mais do que do próprio Marx –  
consiste em considerar a decadência como forma do capitalismo e não  
o capitalismo como uma forma da decadência. (FISCHER apud  
LUKÁCS, 1989, p. 157)  
De maneira similar argumenta Marx Scheler, afirmando que o marxismo procura apenas  
combater a economia capitalista, mas não “sua verdadeira raiz”, quer dizer, o espírito  
do capitalismo:  
Em nenhuma de suas variações o socialismo marxista do quarto  
estado representa uma verdadeira oposição ao capitalismo, ao capital  
e sua raiz, a saber, o espírito capitalista. Ao invés disso, ele meramente  
representa os interesses materiais de sua própria classe no seio da  
sociedade capitalista, o interesse dos trabalhadores manuais e estes  
apenas na medida e quem os trabalhadores estão envolvidos no  
mesmo espírito capitalista que os empresários e os burgueses  
(SCHELER, 1984, p. 634)  
O que é notável nessa crítica apologética do capitalismo, contudo, é a profunda  
ausência de conteúdo determinado que ela encerra. As determinações centrais da  
crítica jamais superam as formas mais abstratas de caracterização conceitual:  
oposições abstratas entre vivo e morto, dinâmico e estático, alma e espírito, intuição  
e razão, perigo e segurança, autêntico e inautêntico etc. Não obstante, é justamente a  
ausência de conteúdo determinado desse tipo de formulação que fornece a  
possibilidade de uma infinita de maleabilidade conceitual acerca do sentido a ser  
apreendido pela via do mergulho na subjetividade. Essa maleabilidade é funcional e  
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Decadência ideológica e a gênese do irracionalismo filosófico em Lukács  
necessária, na medida em que o sentido a ser apreendido invariavelmente identifica-  
se com as necessidades ideológicas da burguesia em cada período histórico  
determinado. Contudo, para além de sua funcionalidade para o combate ideológico,  
essa ausência de conteúdo resulta necessariamente do caráter apologético do  
irracionalismo. Isso se torna evidente quando se procura contrastar a crítica  
irracionalista do capitalismo às críticas reacionárias feitas ao capitalismo nascente e à  
burguesia revolucionária pelos arautos defensores da aristocracia e das instituições  
feudais. Estes últimos ainda podiam confrontar um sistema social ao outro, elencando  
conteúdos concretos e opor ao capitalismo em expansão determinações objetivas da  
organização social e instituições feudais pense-se, por exemplo, em Novalis e na  
maneira como ele ainda é capaz de propor a recuperação das instituições feudais como  
a coroa e a igreja contra a desagregação advinda do avanço do capitalismo (cf. DROZ,  
1949, pp. 159ss) ou na defesa da servidão e do caráter “comunal” da propriedade  
agrária feudal em Justus Moser (cf. EPSTEIN, 1966, pp. 297ss) e mesmo nas profundas  
críticas à economia política capitalista feitas por Jean de Sismondi. O irracionalismo,  
por sua vez, é capaz tão somente de sublimar ideologicamente, de maneira idealista,  
certos elementos (materiais, concretos) da vida capitalista, ao qual ele opõe a outros,  
igualmente sublimados:  
Não se trata mais da luta entre dois sistemas sociais, como foi em sua  
época a crítica romântica do capitalismo, mas a contraposição entre  
duas atitudes, entre dois pontos de vista acerca da realidade. Assim,  
em Dilthey, a psicologia “compreensiva” é apenas um outro ponto de  
vista metodológico contraposto à “psicologia” analítica (isto é,  
mecânica). Também em Bergson a durée réelle é algo que pode ser  
obtida através de uma atitude subjetiva, através da intuição, portanto  
algo distinto do tempo do entendimento (mecânico, mensurável);  
também em Rickert a “unicidade” [Einmaligkeit] do desdobramento  
histórico, a singularidade (“o in-dividual”) dos objetos históricos, é  
igualmente um produto da atividade “ponente” [setzenden] de objetos  
do sujeito, assim como as “leis” da natureza, que aqui formam seu  
contrário. (LUKÁCS, 1989, pp. 120-1)  
Portanto, para o irracionalismo filosófico somente através do mergulho na  
interioridade, de sua transformação e alteração, é possível atingir o sentido, para além  
do mundo externo fetichizado, carente de sentido, do capitalismo. A ausência de  
conteúdo do irracionalismo filosófico é, portanto, uma consequência necessária da  
natureza de sua apologia indireta do capitalismo. Neste ponto, porém, emerge uma  
outra distinção importante: entre aqueles indivíduos que possuem a disposição para  
adentrar na subjetividade e apreender o verdadeiro sentido da realidade, que podem  
ouvir seu “chamado” [Anruf] e aqueles que se mantém meramente aferrados ao mundo  
das aparências fenomênicas e não são capazes de ver para além do “véu de maia” do  
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mundo empírico. Aqui emerge um motivo central, que Lukács caracterizará como  
“aristocratismo epistemológico”. Isto é, a concepção de que o conhecimento  
“verdadeiro” se encontra reservados para um conjunto restrito de indivíduos, dotados  
de propriedades inatas e naturezas distintas e indisponível para as massas em geral  
(cf. LUKÁCS, 2020, p. 136). Referindo-se a Lebensphilosophie (cuja armação categorial  
é compartilhada com outras variantes do irracionalismo filosófico, como vimos), Lukács  
sintetizar os principais elementos deste conceito:  
Qualquer filosofia que repouse sobre a vivência terá de ser  
essencialmente intuitiva, e a intuição é uma faculdade que apenas os  
eleitos, os membros de uma nova aristocracia, supostamente  
possuem. Mais tarde, quando os antagonismos sociais se fizerem  
ainda mais agudos, dir-se-á sem pudor que as categorias do  
entendimento e da razão pertencem à plebe democrática, ao passo  
que os homens realmente escolhidos e superiores interagem com o  
mundo apenas com base na intuição. A teoria do conhecimento da  
filosofia da vida é por princípio aristocrática. (LUKÁCS, 2020, p. 362)  
Em oposição ao pensamento “racional” que se refere exclusivamente ao mundo  
externo (acessível a qualquer um) e que pode apenas fornecer um saber de natureza  
formal e quantificável, o irracionalismo então apresenta um conhecimento de outra  
natureza, não-racional e não-objetivo, que não é desenvolvido com base na análise e  
investigação da própria realidade, mas se obtém intuitivamente, por aqueles poucos  
que possuem a disposição necessária para tal. No curso do desenvolvimento histórico  
do irracionalismo a distinção entre indivíduos pressuposta pelo aristocratismo  
epistemológico assumirá contornos políticos e sociais particulares, a depender das  
necessidades ideológicas da burguesia em cada caso: em Schelling, identifica-se com  
a aristocracia tradicional católica-prussiana; em Schopenhauer trata-se da burguesia  
alemã desiludida após o fracasso da revolução democrática de 1848 e do  
compromisso com a aristocracia fundiária [Junkers], que reconhece a futilidade de  
qualquer tentativa de transformar a sociedade (LUKÁCS, 2020, pp. 86-7); em  
Nietzsche, identifica-se à nova aristocracia dionisíaca, de natureza superior, para quem  
“é permitido tudo aquilo que não se encontra livre para os seres de rebanho”  
(NIETZSCHE, 2015, p. 273); na época do imperialismo, esse grupo de indivíduos,  
dotados da capacidade de discernir o autêntico sentido da realidade, passa a assumir  
características de natureza völkisch e raciais, como em Heidegger ou nos  
representantes mais tradicionais do fascismo e do nacional-socialismo como Baeumler,  
Krieck e Rosenberg.  
Da concepção acerca da capacidade destes indivíduos de natureza “superior”  
em capturar o sentido do mundo, torna possível depreender uma outra determinação  
constitutiva do irracionalismo filosófico: a prioridade do elemento prático em relação  
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Decadência ideológica e a gênese do irracionalismo filosófico em Lukács  
ao teórico. Essa determinação decola do fato de que, em última instância, o  
irracionalismo filosófico não se propõe a elaborar qualquer tipo conhecimento acerca  
da realidade objetiva, tampouco em fornecer um método para que tal conhecimento  
seja possível20, mas tão somente indagar acerca do sentido desta que não constitui  
um saber de natureza objetiva, encontrando-se em uma dimensão distinta daquela da  
realidade externa e inapreensível pelas vias tradicionais de conhecimento. Esse  
“sentido” refere-se, portanto, sempre à vida, à existência, isto é, em última instância, à  
conduta prática dos indivíduos. Esse fato não surpreenderá ninguém quando temos  
em mente as filosofias de Schopenhauer, Kierkegaard ou Nietzsche, autores que  
ostensivamente direcionam suas filosofias para problemas de natureza prática. Não  
obstante, essa determinação, também é válida para autores que em geral aparentam  
uma vocação de viés primordialmente teórico como, por exemplo, o velho Schelling e  
Heidegger. Schelling, ao formular o direcionamento de sua “filosofia positiva”, indica  
que seu propósito último é a apreensão da dimensão transcendente e suprassensível  
da realidade (o “positivo”) que constitui a possibilidade da experiência sensível através  
de um puro ato de liberdade de Deus, fundando a experiência na própria ação livre21.  
Heidegger, por sua vez, no famoso §74 de Ser e tempo, no qual introduz o conceito  
de historicidade [Geschichlichkeit]22,apresenta como única saída para a impessoalidade  
[Das Man] do mundo alienado dos entes, a resolução [Entschlossenheit] do Dasein que  
reconhece sua historicidade, que o arranca do mundo de possibilidades arbitrárias e  
colocam em conexão com seu destino [Schicksal] e com o envio coletivo [Geschick],  
definido por Heidegger como o gestar-se [Geschehen] da comunidade [Gemeinschaft]  
e do povo [Volkes]” (HEIDEGGER, 2012, p. 1.041) longe de rejeitar a dimensão  
prática da filosofia, Heidegger apresenta “uma brilhante síntese dos motivos comuns  
a todos os autores da direita revolucionária” (FRITSCHE, 1999, p. 217)23.  
20 Isso é válido mesmo para o caso de autores como Dilthey, cuja grande maioria dos escritos gira em  
torno de problemas metodológicos acerca da fundamentação das ciências do espírito  
[Geisteswissenschaften]. Mesmo em Dilthey, tal fundamentação tem por finalidade última a compreensão  
da dimensão “interior” da vida humana, da “vida” [leben] e fundamentação de uma “cosmovisão”  
[Weltanschauung] capaz de guiar os homens em um contexto de crise da sociedade burguesa, como  
bem aponta Michael Ermath: “Ele [Dilthey, FC] estava convencido que as ciências do espírito  
[Geisteswissenchaften] ofereciam uma fecunda solução para o estéril dilema que impedia o crescimento  
da compreensão humana e ameaçava enfraquecer a cultura europeia [...] O caráter especial das ciências  
do espírito era a fonte do seu significado único e potencial prático para a humanidade, mas esse caráter  
especial apresentava problemas particulares de definição teórica e justificação.” (ERMATH, 1978, pp.  
18-9)  
21  
“A filosofia positiva é sobretudo uma doutrina da criação e da história do Cristo ou a criação se  
conecta com a autoposição de Deus, ela é sua revelação e, como se sabe, para Schelling, a revelação  
de um ser, é a sua maneira de existir completamente por si, tendo assumido a si mesmo, manifestando  
completamente sua essência” (VETO, 1974, p. 239).  
22 Segundo Karl Löwith, o próprio Heidegger lhe confidenciou que o significado desse conceito estaria  
na base de seu engajamento político com o nacional-socialismo, cf. Löwith (2007, p. 58).  
23  
Ou, como precisa Nicolas Gonzales Varela: “A Daseinanalytik pretende precisamente descobrir as  
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De fato, a prioridade do elemento prático em relação ao teórico  
progressivamente assume a forma de um escancarado antagonismo em relação à  
teoria, a racionalidade e a cientificidade em geral. Discutindo o combate que o  
irracionalismo fascista trava contra toda concepção científica de filosofia, Lukács  
comenta uma passagem de um filosofo nacional-socialista pouco relevante, Franz  
Boehm, que não obstante explicita a maneira como a dimensão transcendente do  
sentido refere-se sobretudo à dimensão prática da vida:  
Essa hostilidade irreconciliável à natureza científica da filosofia talvez  
possa ser vista ainda mais claramente do que nas passagens  
polêmicas em que Boehm analisa a essência do que ele entende por  
visão de mundo alemã. Sua categoria central aqui é o insondável  
[Unerforschliche]: “Para o pensamento alemão, o insondável não é é  
uma definição de limite, mas uma definição totalmente positiva [...] Ela  
permeia toda a nossa realidade e reina no menor e no maior [...] O  
insondável como um impacto indissolúvel de nossa realidade é  
essencialmente inacessível, mas de modo algum desconhecido. Nós o  
conhecemos, mesmo que não possa ser dito, ele age em nossas vidas,  
determina nossas decisões, dispõe-se de nós.” (LUKÁCS, 1956, p. 31;  
ênfase adicionada)  
O antagonismo em relação ao elemento teórico da filosofia e do pensamento  
em geral tende a culminar, finalmente, na proposição da necessidade de dissolução da  
própria filosofia em nome de um fundamento eminentemente prático-político. É o caso,  
para tomar um outro exemplo aduzido por Lukács, de Ernst Krieck, que anunciava a  
morte da filosofia e sua substituição por uma “antropologia política” völkisch e racista:  
Hitler e Rosenberg já haviam combatido toda a cientificidade com a  
finalidade de colocar o mito [Mythos] em seu lugar. Krieck deseja  
encontrar uma fundamentação filosófica para essa questão central da  
visão de mundo nacional-socialista. Ele o faz de maneira bastante  
radical: no lugar das ciências filosóficas fundamentais de então, a  
lógica e a teoria do conhecimento, ele apresenta uma biologia, uma  
antropologia: “a emergente antropologia racial-völkisch-política [...]  
toma agora o lugar da entrementes morta ‘filosofia”. (LUKÁCS, 1956,  
p. 32)  
Contudo, talvez ainda mais radical e infame seja a posição de Heidegger, que  
afirmava que era necessário dar um fim à filosofia, para que ela pudesse dar lugar a  
uma metapolítica: “O fim da ‘filosofia’- Nós devemos levá-la a um fim e com isso  
preparar algo completamente distinto metapolítica [Metapolitik]” (HEIDEGGER, 2014,  
p. 115). Essa metapolítica, por fim, não poderia ser outra coisa senão a sublimação  
conceitual da práxis política do nacional-socialismo, que aparece como o derradeiro  
fontes ontológicas primordiais tanto do teórico quanto do prático, portanto, descobrir as possibilidades  
genuínas de uma filosofia prática, de uma grande política, pela primeira vez validadas na história do  
ser.” (VARELA, 2017, p. 36)  
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Decadência ideológica e a gênese do irracionalismo filosófico em Lukács  
princípio da filosofia, capaz de libertar uma verdade originária há muito ocultada pela  
“metafísica ocidental”:  
Em que medida o nacional-socialismo jamais pode ser o princípio de  
uma filosofia, mas apenas ser deve ser posto sob a filosofia como  
princípio.  
Em que medida, contudo, o nacional-socialismo pode certamente  
assumir posições determinadas e assim contribuir para uma nova  
posição fundamental com relação ao Ser.  
Mas isso apenas sob o pressuposto de que o nacional-socialismo  
conheça-se em seus limites i.e. compreenda que é verdadeiro apenas  
se apenas se estiver em condições de preparar e libertar uma  
verdade originária. (HEIDEGGER, 2014, p. 190)  
Com isso, podemos compreender que, em sua essência, o irracionalismo  
filosófico se configura como a filosofia da práxis da burguesia reacionária nos  
momentos em que a crise do capitalismo e o acirramento da luta de classes exigem  
medidas e soluções de caráter agressivamente reacionário e não mais uma mera  
apologia direta do atual estado de coisas. Essa práxis, contudo, não se efetiva  
enquanto uma intervenção prática nos complexos materiais que conformam o tecido  
da realidade social (como é a práxis em sentido propriamente marxista) mas antes  
apenas como uma ação subjetiva e interior. Isto é ainda como algo exclusivamente  
encerrado nos limites da subjetividade, enquanto simples tomada de consciência ou  
afirmação de uma “disposição afetiva fundamental” [Grundstimmung] tal como formula  
Heidegger em seu infame discurso do reitorado (cf. HEIDEGGER, 2007, p. 162). E,  
frequentemente, tal ação subjetiva redunda em não mais do que predicação da  
submissão do indivíduo às potências irracionais (à “vontade”, ao “destino”, à “vida”  
etc.), em outras palavras, submissão ao domínio irrestrito e absoluto da burguesia.  
Enquanto a perspectiva marxista por sua vez afirma a unidade dialética de teoria e  
práxis (quer dizer, o conhecimento da realidade como instrumento de sua derradeira  
transformação), o pensamento irracionalista dispensa a teoria em nome de uma forma  
de conhecimento não-racional, intuitivo, que conduz necessariamente a uma práxis  
exclusivamente subjetiva, interna, que por sua vez necessariamente conflui para a  
implementação dos fins reacionários da burguesia.  
Conclusão  
Como vimos ao longo deste ensaio, o irracionalismo é, a forma ideológica com  
que a burguesia assume em sua tentativa de elaboração uma solução reacionária à  
contestação de seu domínio social, que assume preponderância nos momentos  
históricos em que a mera apologia direta se torna insuficiente para sua autojustificação  
momentos tais como o que vivemos atualmente. Apelando para uma esfera  
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transcendente de sentido acessada exclusivamente por vias não-racionais cujo  
conteúdo específico depende tão somente das necessidades ideológicas da burguesia  
em cada momento histórico (o que implica sua infinita maleabilidade) a emergência de  
um pensamento irracionalista torna-se um expediente imprescindível no combate  
árduo da burguesia para assegurar a manutenção de seu domínio social e da forma  
específica de sociabilidade que a sustenta.  
Assim, compreende-se a enorme atualidade e fecundidade contidas nas análises  
de Lukács, especialmente para o momento histórico que vivemos. Deste modo, reduzir  
o combate travado por Lukács ao pensamento irracionalista como uma polêmica vazia,  
com um viés exclusivamente político-partidário (como fizeram muitos  
contemporâneos)24, configura um profundo erro de análise, que ignora os diversos  
elementos fecundos apresentados nos escritos críticos de Lukács. Contudo, é  
necessário também indicar que essa fecundidade e atualidade das formulações de  
Lukács não surgem ex nihilo e que é impossível excluir um certo elemento pessoal e  
não somente social e político. Em sua juventude, Lukács não apenas cresceu sob o  
influxo intelectual das tendências dominantes da Lebensphilosophie alemã (tendo sido  
aluno não somente de Dilthey e Simmel, mas também de Max Weber) como foi, ele  
próprio, um importante e influente representante dessa mesma tradição.25 Lukács  
observou em primeira mão a maneira como as tendências cruciais da  
Lebensphilosophie evoluíram em um sentido reacionário e como estas conduziam a  
uma apologia (indireta) do capitalismo e culminaram nas formas mais degeneradas do  
fascismo europeu. Essa experiência íntima é relatada por Lukács no prefácio de seu  
primeiro escrito de fôlego sobre o tema do irracionalismo e da decadência ideológica,  
o manuscrito Wie ist die faschistische Philosophie in Deutschland entstanden? (Como  
surgiu a filosofia fascista na Alemanha?), redigido em 1933:  
Esse livro foi escrito após a tomada de poder de Hitler e após a minha  
emigração forçada em poucas semanas. Contudo, posso igualmente  
dizer, sem grande exageração: esse livro está em gestão há mais de  
25 anos. Como aluno de Simmel e Dilthey, como amigo de Max Weber  
e Emil Lask, como leitor entusiasta de Stefan George e Rilke eu  
testemunhei todo o desenvolvimento aqui representado […] Para o  
leitor que se intimida com as consequências desse livro, com o  
reconhecimento da unidade do desenvolvimento do pensamento  
burguês do período imperialista até o fascismo, devo enfatizar aqui  
que a afirmação dessa conexão não é uma construção apressada para  
considerações polêmicas, mas uma síntese e generalização de um  
24  
Para uma preciosa síntese dos calorosos debates em torno da obra de Lukács, sobretudo em torno  
da temática da crítica à filosofia burguesa cf. os capítulos relevantes em Tertulian (2023) e Netto (2023).  
25 Lucien Goldmann chega mesmo a argumentar que a coletânea As almas e as formas (1911) de Lukács  
constitui a primeira instância da tendência filosófica que posteriormente viria a ser conhecida como  
“existencialismo”, cf. Goldmann (1968, pp. 160-1).  
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Decadência ideológica e a gênese do irracionalismo filosófico em Lukács  
período testemunhado. Alguns de meus amigos de juventude,  
honestos e convencidos anticapitalistas românticos, vi serem tragados  
pelo turbilhão do fascismo. As grandes esperanças da filosofia e da  
poesia desaparecer entre os dois campos, porque eles apenas  
puderam renunciar ao parasitismo do período em suas conclusões,  
mas não nos pressupostos de seu pensamento, porque eles romperam  
apenas exteriormente com a burguesia imperialista, mas não até as  
raízes de seu ser e de seu pensamento. (LUKÁCS, 1989, p. 39)  
É notável que ao descrever as circunstâncias pessoais de sua tomada de posição  
Lukács procura sempre salientar que as razões da derrocada ideológica de honestos  
pensadores com quem conviveu radica-se na própria essência da ideologia burguesa,  
na forma que essa assume no momento histórico de sua decadência ideológica. Desse  
modo, as investigações de Lukács lançam luz sobre o fato de que fenômenos  
intelectuais como o irracionalismo (que fornece a base de sustentação conceitual e  
ideológica para movimentos políticos reacionários como o fascismo) não assomam à  
vida cotidiana como uma infeliz contingência, mas que, antes, derivam do próprio  
arcabouço conceitual e do cosmos ideológico do pensamento burguês. Se este não  
puder ser superado, tampouco aquele o será. O irracionalismo é, portanto, uma  
consequência necessária da ideologia burguesa e da necessidade da apologia do  
modo de produção capitalista. Combater o irracionalismo de maneira consequente  
significa romper não somente com suas formas de manifestação, mas combater as  
“raízes de seu ser e de seu pensamento”, isto é, a própria ideologia burguesa que lhe  
fornece arrimo, em todas as suas manifestações, mesmos aquelas que se encontram  
revestidas de um lustro de “respeitabilidade”.  
É neste aspecto que o pensamento de Lukács ainda se mantém fecundo e  
importante, em sua capacidade de revelar os elementos constitutivos do pensamento  
burguês no período da decadência ideológica e investigar a maneira como, a partir  
deles, o irracionalismo pode emergir. Dessa maneira, as investigações de Lukács são  
relevantes para o nosso próprio tempo e fornecem instrumentos teóricos  
indispensáveis para combater o irracionalismo que avança e se expande por todos os  
poros da vida social.  
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Como citar:  
CANNALONGA, Francisco Malê Vettorazzo. Decadência ideológica e a gênese do  
irracionalismo filosófico em Lukács. Verinotio, Rio das Ostras, v. 30, n. 2, pp. 301-  
329, 2025.  
Verinotio  
ISSN 1981 - 061X, v. 30, n. 2, pp. 301-329 jul.-dez., 2025 | 329  
nova fase