EDITORIAL  
DOI 10.36638/1981-061X.2025.30.2.787  
Editorial  
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Da negação da ciência à simulação de pensamento científico  
por meio da criação de pseudo-objetividades  
Ester Vaisman  
Ronaldo Vielmi Fortes  
Quando alguém ajeita os pressupostos de maneira que já  
contenham as conclusões a serem tiradas, não é preciso ter  
mais habilidade do que tem qualquer charlatão para puxar de  
dentro do saco o resultado preparado de antemão e fincar o pé  
na lógica inabalável que o gerou.  
Engels, Sobre a Questão da Moradia, p. 50  
Em um tempo em que posições favoráveis ou contra ao pensamento científico  
ocupam o cenário dos debates políticos e ideológicos, nada mais oportuno do que  
tecer alguns comentários sobre os desdobramentos que assistimos em nossos dias em  
torno do tema particularmente em terra brasilis. De um lado, testemunhamos o  
completo desprezo ou ainda, a cabal negação da ciência, e, de outro, embora  
afirmando sua necessidade, não são raros os casos de negligência com os padrões  
mínimos de rigor científico. Tornou-se lugar comum, no intuito de conferir às ideias  
políticas o semblante de rigor, ilustrar todo o discurso com argumentos que simulam  
demonstrações científicas, muito embora não passem de um jogo manipulatório de  
seleção de dados ardilosamente recolhidos, que nada mais fazem do que subordinar  
aspectos da realidade às ideias prévias a serem defendidas. Nesse caso, a simulação  
científica cumpre apenas a função de persuasão. Cumprida a função de convencimento,  
é rapidamente descartada, e substituída por outra do mesmo calibre, sobretudo se a  
“narrativa” optar por outro tipo de assunto ou estratagema a defender ou atacar. É a  
forma pela qual se atualiza o tão conhecido dito de Fichte: “se a teoria entra em conflito  
com os fatos, tanto pior para a fatos”.  
A literatura contemporânea dedicada à análise das transformações recentes do  
capitalismo tem revelado uma insistente tendência à formulação de neologismos e à  
criação de categorias supostamente capazes de capturar “novos” padrões de  
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Ester Vaismam; Ronaldo Vielmi Fortes  
acumulação. Ademais tem insistido na construção de expressões de cunho impactante  
como forma de descrever hipotéticos novos modos de produção que teriam surgido  
em nossa época. Essa compulsão classificatória, frequentemente sustentada por  
afirmações de suposta ruptura histórica, parece responder menos à necessidade de  
esclarecer e analisar processos concretos, e mais a uma busca por conferir a aparência  
de legitimidade científica a interpretações superficiais e apressadas, frequentemente  
de cunho ideológico- político1.  
Não são raros os testemunhos que profetizam a barbárie, que entoam profecias  
do “capitalismo do fim do mundo”, do colapso iminente do capitalismo, do advento  
da extremização da política neoliberal que, frente a carência de ideias de como  
designar a suposta nova formação que se põe na ordem do dia, agrega prefixos  
superlativos como forma de denunciar o novo caráter da ameaça que se apresenta:  
hiperneoliberalismo, ultraneoliberalismo etc. Por vezes predomina mais a eloquência  
das palavras do que propriamente a recta exposição das ideias e argumentos, em  
suma, a necessidade de compreensão rigorosa da realidade. Pense-se na última  
tendência que se espalhou nas searas da sociologia em que se insiste em assombrar  
as mentes inadvertidas dos incautos com expressões tais como: o trabalho morto  
predomina sobre o trabalho vivo. O “morto” que sobrepuja ao “vivo”, de onde toda  
uma variedade de sentidos e significações induzem a ideias do fim dos empregos, da  
precarização sempre crescente do trabalho, do capitalismo desumanizador etc etc. A  
dramatização contemporânea desses fenômenos por meio de um mero joguete de  
expressões oculta que o trabalho objetivado — o chamado “trabalho morto” — não é  
nada além de trabalho pretérito, incorporado nos objetos e dispositivos técnicos. A  
retórica de que o “trabalho morto domina o trabalho vivo” é válida como descrição  
estrutural do capitalismo, mas não como característica inédita, excepcional ou exclusiva  
da era digital. Trata-se, por conseguinte, de um jogo impreciso de conceitos cujo  
intuito é motivar os corações das massas, - senão as massas, pelo menos alcançar  
ativistas disfarçados na academia e estudantes ingênuos - por meio do qual, pela força  
das palavras, busca-se persuadir comportamentos, sentimentos e ações. Importa mais  
o impacto das expressões do que a precisão conceitual. Escamoteiam-se a precisa  
definição e a função de análise da categoria: trabalho “morto”, que nada mais é do  
que trabalho pretérito, ou seja, trabalho que produziu a matéria-prima ou a máquina  
utilizadas no ramo de produção, onde o trabalho vivo produz o valor.  
1
Muito embora, a cena atual apresenta sinais mais gravosos, o fenômeno não é novo. Já nos anos  
1970, José Arthur Giannotti denunciava o uso instrumental e acrítico da categoria de modo de  
produção. Ver GIANNOTTI, José Arthur. “Notas sobre a categoria ‘modo-de-produção’ para uso e abuso  
dos sociólogos”. Estudos Cebrap, 17, São Paulo, 1976.  
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Tais procedimentos nada mais são do que a prática politicista de conferir  
padrões conceituais às supostas formas de inovação dos processos de acumulação.  
Prática nada recente, por se tratar de ardil utilizado por vários intelectuais que, sob o  
efeito do rompante que se afigura no horizonte de um dado momento da história, se  
põem a capturar por meio de palavras fenômenos transitórios alçados à condição de  
novas expressões cabais da figura do capital. Por que não recordar Bresser Pereira  
que, fascinado, com a tecnocracia, chegou a afirmar décadas atrás o advento de um  
novo modo de produção baseado na tecnocracia?2 Recentemente a mesma tendência  
aparece nas formulações sobre a economia chinesa de Elias Jabour que assevera que  
a acumulação chinesa é um novo modo de produção3. É estranha a mania de dar nome  
às coisas. Tudo se passa, como se, nomeando a coisa se pudesse dominá-la. Tal  
motivação, lembra os primitivos xamãs que entoavam cânticos, conferiam sons e  
palavras às coisas não compreendidas, supondo, dessa maneira, dominar as forças que  
os assombravam. Tratava-se naquele contexto de operacionalizar a própria existência.  
Hoje, o fetichismo das palavras serve para a inflação de egos, para manter a falácia  
das notoriedades simplórias, que nada fazem além de se sentarem sobre o lufar de  
uma fama do passado, ou do sucesso imediatista bem próprio dos fenômenos das  
redes sociais, para manterem-se vivas na cabeça dos mentecaptos.  
Reduzir a realidade à conceitos fixos e rígidos, nada mais é do que elevar as  
manifestações imediatas, fenomênicas, à condição de rupturas históricas fundamentais  
que inaugurariam figuras inovadoras da sociabilidade do capital. Como bem adverte  
Lukács a esse respeito:  
O único perigo desse procedimento é a dissociação e autonomização  
abstratamente conceituais dos momentos que facilmente pode levar  
ao surgimento.de pseudo-objetividades que só desviam da efetiva  
compreensão da essência. Só é possível combater com êxito a  
degeneração da autêntica reprodução ideal do ser, das conexões  
ontológicas reais, numa pseudo-objetividade desse tipo, que, por ser  
um fenômeno da moda, muitas vezes exerce grande influência, se a  
análise tenta apreender, tanto na gênese como no efeito duradouro,  
o seu centro dinâmico de fato.4  
De fato, são frequentes as tendências ideológicas supostamente proletárias,  
com aspiração científica, se se deixarem levar pelos interesses políticos imediatos,  
abstendo-se de compreender e explicar os fenômenos e tendências da dinâmica da  
sociabilidade. Essa inflação nominal, ao invés de aclarar o real, produz uma névoa  
conceitual que oculta continuidades históricas fundamentais.  
2 Cf. Bresser Pereira, L.C. A Sociedade Estatal e Tecnoburocracia, Editora Brasiliense, 1981.  
4 LUKÁCS, Para uma ontologia do ser social, vol. II, 2013, p.558-9)  
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Não se trata de modo algum de estabelecer uma rígida cisão entre ciência e  
ideologia, pelo contrário, o conhecimento científico não significa de modo algum uma  
isenção subjetiva ou mesmo o completo rechaço dos interesses. No entanto, a ciência  
não pode ser submetida aos chamados interesses de classe, pelo contrário os  
interesses de classe devem se valer do rigor da ciência como forma de compreensão  
efetiva da dinâmica da realidade. O enfrentamento e a busca pela resolução de  
conflitos sociais não podem prescindir do conhecimento de rigor da realidade,  
entretanto, suposição de que os instrumentos para a transformação possam advir de  
maneira automática pela simples fidelização ao conteúdo literal de uma teoria que se  
põe na perspectiva do proletariado, constitui por si só uma ideologia no sentido  
pejorativo. Se, seguindo o pensamento de Marx, a ideologia são formações ideais por  
meio das quais os homens se conscientizam desses conflitos e o travam até o fim”5,  
se até então, os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras, [mas]  
o que importa é transformá-lo6, é preciso acrescentar com o próprio pensador alemão:  
para transformá-lo é preciso compreendê-lo. Sua obra mais importante, O capital, é a  
exemplo mais candente dessa posição diante da realidade.  
No campo intelectual contemporâneo e mesmo nos considerados blogs e  
influencers de esquerda, tal prática assume função distinta diante da necessidade  
imperiosa de compreensão efetiva das condições históricas tendenciais da realidade  
da sociabilidade do capital: torna-se mecanismo de fetichização conceitual, mais ligado  
à disputa por prestígio do que à elucidação teórica, cumprindo mais os objetivos de  
convencimento e adesão a um determinado campo político. Em suma, são ideias e  
expressões que desempenham o papel de disparadores de emoções, de evocações  
catárticas, como forma de induzir a comportamentos e submeter outros à adesão de  
conduções políticas em voga.  
No sentido oposto a tais tendências é preciso advertir com Lukács que  
O momento decisivo não é a prioridade psicológica adotada pelos  
agentes ou pelos líderes, mas que complexo tem objetivamente a  
primazia objetiva na configuração do "o que fazer?", para dirimir o  
conflito; a psicologia dos agentes de modo algum precisa sempre  
corresponder a essa situação objetiva.7  
Tais procedimentos nada mais são do que a reprodução da estranha prática de  
considerar que a simples adesão a um ponto de vista de classe permitiria o acesso  
incondicional à compreensão da realidade. Como se bastasse assumir o “ponto de  
5 MARX, K.; Para a crítica da economia política; São Paulo: Boitempo, 2024; p. 25.  
6 MARX; ENGELS; A ideologia alemã; São Paulo: Boitempo, 2007; p; 535.  
7 LUKÁCS, Para uma ontologia..., op. cit.; p. 573)  
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vista do proletariado” para ter acesso efetivo ao desvelamento da realidade.  
Ironicamente, é Lukács quem inaugura essas tendências no seio do pensamento  
marxista, na primeira metade do século XX, com sua influente obra História e  
Consciência de Classe.  
Certamente, o conhecimento resultante do ponto de vista do  
proletariado é aquele objetiva e cientificamente superior. Deve-se ao  
seu método a solução daqueles problemas em torno dos quais os  
maiores pensadores da época burguesa se debateram inutilmente, ou  
seja, o adequado conhecimento histórico do capitalismo, que para o  
pensamento burguês devia permanecer inalcançável. Contudo, essa  
gradação objetiva do valor cognitivo do método novamente se mostra,  
por um lado, como problema histórico-social, como consequência  
necessária dos tipos de sociedade representados por ambas as  
classes e suas sucessões históricas, de modo que o “falso”, o  
“unilateral” da compreensão burguesa da história aparece como fator  
necessário na construção metódica do conhecimento social.8  
A sofisticação dos argumentos apresentados por Lukács na ocasião, fundados  
com base em elementos do pensamento hegeliano, decerto fascinou a muitos,  
influenciou pensadores e abriu as portas para a fundação de escolas de pensamento.  
Convenhamos: comparados ao que se assiste hoje, pelo grau elevado das elaborações  
filosóficas do pensador magiar à época, tornam as expressões de nossos tempos meras  
elocubrações conceituais canhestras e de baixa capacidade intelectual.  
A crítica às formulações que recorrem a “filosofemas” — categorias abstratas  
desconectadas de análises histórico-concretas encontra um ponto de apoio  
significativo na obra tardia de György Lukács. De fato, parte substancial do esforço  
ontológico desenvolvido nos Prolegômenos para uma Ontologia do Ser Social busca  
justamente superar construções conceituais que permanecem desligadas da realidade  
objetiva, respondendo a problemas fictícios ou a necessidades internas de um sistema  
filosófico ou de um ideário político e não às determinações concretas do ser social.  
Lukács caracteriza tais elaborações como construções especulativas que, em vez de  
esclarecerem a realidade, a obscurecem. Para Lukács cabe restabelecer a prioridade  
ontológica do real sobre o pensamento.  
Desse modo, a crítica lukacsiana não se dirige apenas ao idealismo clássico,  
mas também a interpretações pretensamente marxistas que, ao enfatizarem e  
sucumbirem à premência incondicional do papel da consciência de classe, acabam por  
reconstruir o proletariado como sujeito transcendente, independentemente das  
determinações materiais de sua existência. Nos seus Prolegômenos para a Ontologia  
do ser social, ele declara com clareza que não é possível fundar a práxis revolucionária  
8 LUKÁCS; História e Consciência de classe, Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2003, pp.332-3.  
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em meras determinações lógico-dialéticas da consciência. O erro residiria em converter  
a classe trabalhadora em um sujeito metafísico, um portador quase automático da  
racionalidade histórica algo que o Lukács maduro repudia.  
Não por acaso, o mesmo autor rechaça com veemência tais imputações  
filosóficas à realidade, em Para uma ontologia do ser social, destacando a postura de  
Marx frente aos pensadores e filosofias de seu tempo.  
O posicionamento sumamente consciente [de Marx], simultaneamente  
de aprofundamento e crítica em relação a todos os predecessores (a  
Hegel, à economia clássica, aos grandes utópicos) mostra isso com  
toda a clareza. O marxismo, portanto, jamais escondeu a sua gênese  
e função ideológicas: é possível encontrar em seus clássicos  
frequentes formulações no sentido de que ele justamente seria a  
ideologia do proletariado. Por outro lado e simultaneamente, em  
todas as suas exposições teóricas, históricas e sociocríticas, ele  
sempre levanta a pretensão da cientificidade; a sua polêmica contra  
concepções falsas (por exemplo, as de Proudhon, Lassalle etc) sempre  
se mantém, pela própria essência da coisa, num plano puramente  
científico, consistindo na comprovação racional e programática de  
incoerências na teoria, de imprecisões na exposição de fatos históricos  
etc. O fato de tais abordagens com muita frequência serem reforçadas  
pela crítica à gênese social dessas concepções falsas, como às vezes  
é o caso do caráter infundado, da ingenuidade, da malafides etc.  
muitas vezes espontâneas do comportamento ideológico em questão,  
nada muda no caráter científico dessas controvérsias.9  
Por essa razão, a contribuição mais sólida das obras tardias de Lukács talvez  
seja justamente o estabelecimento de um critério: nenhuma teoria do ser social pode  
substituir a investigação concreta, e nenhuma categoria pode anteceder a realidade  
sem cair no risco do dogmatismo. A crítica à cientificidade e a crítica às pseudo-  
objetividades fundadas em raciocínios pragmáticos, em Lukács não é rejeição da  
ciência, mas crítica ao fetiche da ciência enquanto sistema fechado de garantias. Seu  
projeto, ao mesmo tempo rigoroso e antidogmático, procura articular filosofia e ciência  
sem permitir que uma substitua a outra evitando, assim, as armadilhas dos  
filosofemas especulativos que, ao prometerem explicações definitivas, acabam por  
afastar-se da historicidade viva do ser social.  
Como sempre, a edição atual da Verinotio Nova fase traz vários artigos que  
contemplam direta ou indiretamente o legado de Karl Marx, assim como o de György  
Lukács. Ademais, sempre que possível, o conselho editorial da revista se esforça em  
publicar contribuições que se voltem ao caso brasileiro e ao cenário atual, nas suas  
várias dimensões.  
9 LUKÁCS, Para uma ontologia..., op. cit.; p. 569-70.  
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Editorial  
Gabriela M. Segantini de Souza é autora do artigo que abre a edição atual. O  
título do artigo é Nikolai Mikhailovsky diante do tribunal do sr. K. Marx: Marx e a  
recepção d’O capital na Rússia que se debruça, como indica o título, sobre a primeira  
edição de O Capital em língua estrangeira, justamente na Rússia. Ao tomar  
conhecimento do fato, por meio de Danielson, Marx escreve uma carta para a revista  
em que fora publicado um artigo de Mikhailovsky a respeito. É justamente essa carta  
que a autora elabora sua análise.  
Já Ana Clara Passos Presciliano investiga como Marx identifica a crise econômica  
nos três livros de O capital, em que busca reconstruir a unidade entre produção,  
circulação e reprodução do capital e defende a hipótese que a crise é imanente ao  
sistema de produção capitalista.  
Zoon politikon” para Marx: o ser social e a historicidade da política é o título  
do artigo cuja autora é Ana Carolina Marra de Andrade e que se volta ao uso dado  
por Marx à famosa frase aristotélica “o homem é um animal político em três momentos  
distintos de sua elaboração teórica: nos textos de 1857-8, nomeadamente a  
“Introdução” de 1857 e as Formas que precederam a acumulação capitalista, que  
fazem parte dos Grundrisse; no Livro I de O capital: crítica da economia política (1867);  
e nos excertos sobre A sociedade antiga de Lewis Morgan, escritos em 1881,  
publicados posteriormente como parte dos chamados Cadernos etnológicos de Marx.  
A contribuição de Lucas de Oliveira Maciel leva o título de Forças sociais de  
produção como forças do capital: as forças produtivas do trabalho sob a produção  
capitalista na obra de Karl Marx, em que se procura identificar como Marx entende o  
problema das forças produtivas e esclarecer o processo segundo o qual forças sociais  
de produção se submetem à autovalorização do valor.  
Os Manuscritos econômico-filosóficos de 1844 e a teoria do valor de Marx:  
primeiras observações é o título do artigo de autoria de Paulo Henrique Furtado de  
Araujo que se debruça sobre a teoria do valor de Marx, constituída a partir de  
1857/58, deve ser tomada como chave para uma leitura crítica dos Manuscritos  
econômico-filosóficos de 1844.  
Economia política da pena e crítica da questão penal: da crise do passado aos  
aportes para o futuro é o título do artigo de autoria de Marina Araújo Reis Lavarini.  
Nele, a autora se propõe a revisitar criticamente a tradição da economia política da  
pena, identificando seus principais fundamentos, limites e possibilidades de  
reelaboração a partir do pensamento de Karl Marx.  
Versando sobre um problema similar ao artigo precedente, Nayara Rodrigues  
Medrado escreve sobre Determinações da punição no capitalismo de via colonial:  
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Ester Vaismam; Ronaldo Vielmi Fortes  
bonapartismo e autocracia burguesa institucionalizada na industrialização brasileira,  
em que é focalizado o período de afirmação, no país, do verdadeiro capitalismo - o  
industrial - a partir dos anos 1930, e até o processo de mundialização do capital,  
coincidente com a autorreforma negociada da ditadura nos anos 1980. O objetivo é  
mostrar como, longe de uma afirmação democrática, o Brasil tem oscilado, ao longo  
da república, entre períodos de bonapartismo e de autocracia burguesa  
institucionalizada, e como, em meio a esse movimento pendular próprio de uma  
particular via de formação capitalista, o sistema penal tende a ocupar um lugar  
privilegiado, e a receber contornos específicos.  
Rossi Henrique Chaves é autor do artigo intitulado Notas sobre estado e  
políticas públicas a partir da crítica da economia política marxiana. Nele o autor  
pretende demonstrar que a crítica da economia política desenvolvida por Marx em O  
capital fornece os elementos necessários para uma análise radical do estado e da  
administração pública.  
Já Pedro Rocha Badô é o autor do artigo que leva o título de Lênin como  
advogado: um problema inicial no estudo do direito na obra leniniana. Discute em que  
medida o fato de Lênin ter exercido a função de advogado em sua mocidade pode  
levar à conclusão que nesse momento a luta social se confundia com a luta advocatícia.  
Pachukanis, Marx e o caminho do abstrato ao concreto: a assim chamada  
questão de método é o título do artigo cujo autor é Marcos Antônio de Nascimento de  
Castilho. No presente texto, o autor abordou algumas diferenças de tratamento sobre  
a “questão de método” entre Pachukanis, em Teoria geral do direito e marxismo, e  
Marx, na “Introdução” de 1857. Destacamos que o caminho do abstrato ao concreto,  
presente em Marx, é interpretado de forma distinta por Pachukanis.  
Diego Fernando Correa Castañeda contribui com o artigo intitulado Los  
orígenes del pensamiento ontológico en Georg Lukács, em que são analisadas as  
diversas correntes de pensamento que teriam contribuído para e evolução de Lukács  
até a obra Para uma ontologia do ser social.  
Ainda sobre Lukács, publicamos o artigo Decadência ideológica e a gênese do  
irracionalismo filosófico em Lukács, cujo autor é Francisco Malê Vettorazzo  
Cannalonga. No presente texto, partindo da noção de decadência ideológica, o autor  
procura elucidar o conceito de irracionalismo empregado por Lukács.  
A contribuição de Ana Laura dos Reis Corrêa intitulada “Habilidoso”, de  
Machado de Assis: um retrato do artista na moldura do diletantismo à brasileira, se  
debruça sobre o conto de Machado de Assis que leva justamente o título de  
“Habilidoso”. Nele, Machado refere o problema do diletantismo na arte e a autora  
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revela que a atitude diletante [é] como uma condição histórica a ser enfrentada pelo  
artista e pelo intelectual na modernidade, e investiga de que forma a posição diletante,  
objeto da atenção de Goethe no século XVIII e estreitamente ligada à mudança da  
produção da arte no mundo do capital, se apresenta acrescida de um segundo grau  
problemático na obra machadiana: o diletantismo à brasileira.  
Assunto de grande atualidade é tratado no artigo A exploração aeroespacial  
como fronteira de valorização do capital portador de juros: especulação e formas  
jurídicas de autoria de Rafael Silva dos Santos e Mateus Lima Furtado. Com um número  
expressivo de dados e fontes diversas, os autores analisam o fenômeno do New Space  
a crescente privatização e financeirização do setor aeroespacial como a forma mais  
acabada da fusão entre capital fictício e capital portador de juros, mediada pelo estado  
e pela forma jurídica.  
Concluindo a seção de artigos figura o texto Ecologia e modernidade:  
contribuições de Rousseau para o desenvolvimento do debate contemporâneo,  
assinado por Daniel do Val Cosentino e Henrique Segall Nascimento Campos, em que  
procuram demonstrar que, a despeito das possíveis críticas que os ecologistas podem  
endereçar ao pensamento de Rousseau, é inegável que o pensador francês possui  
contribuições importantes para o atual debate ecológico.  
Abrindo a seção Debates apresentamos a contribuição de Ana Carolina Marra  
de Andrade com o título de “Novos rostos de Marx”: da crítica da economia política  
aos horizontes da luta pela emancipação humana, em que a autora busca discutir o  
livro Karl Marx: biografia intelectual e política (1857-1883), publicado em 2023, de  
Marcello Musto, com o objetivo de lançar luz sobre o Marx real e histórico, ressaltando  
a importância de compreender sua obra em sua totalidade e a partir de sua gênese,  
estrutura e função.  
Ainda na seção Debates, publicamos novamente 23 anos depois o artigo de  
Maurício Tragtenberg intitulado Dialética do Sionismo, cujo teor continua mais atual  
do que nunca. Publicado pela primeira na Revista Escrita /Ensaio em 1982,  
Tragtenberg se debruça fundamentalmente nas obras de Theodor Herzl O estado judeu  
e as declarações de Chaim Weizman que se tornou primeiro presidente de Israel ,  
no Congresso Sionista de 1931. Por essa via, e por um profundo conhecedor da  
história europeia, dos judeus europeus e do antissemitismo, Mauricio pode concluir  
que “o sionismo [está] colocado no quadro das políticas imperialistas europeias. Ao  
final, o artigo parece antever os acontecimentos que hoje assistimos atônitos e que  
tiveram seu ensaio geral em Sabra e Chatila.  
Na seção Entrevista, publicamos novamente a entrevista feita com Florestan  
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Ester Vaismam; Ronaldo Vielmi Fortes  
Fernandes realizada pela equipe Ensaio, coordenada por J. Chasin, e publicada em  
1989 pela Revista Ensaio. O título que entrevista recebeu foi Constituinte e revolução.  
Nela, Florestan discute e avalia a sua experiência como deputado socialista na  
Constituinte. E à dada altura da entrevista faz a seguinte afirmação: “o intelectual que  
existia dentro de mim está intacto e o político profissionalfeneceu antes de nascer.  
Atualíssima diante dos impasses atuais colocados no interior do Congresso nacional,  
a leitura da entrevista é no mínimo esclarecedora.  
Por fim, na seção Tradução, publicamos a resenha elabora por Marx e Engels  
intitulada François-Pierre-Guillaume GUIZOT Por que a revolução na Inglaterra foi bem-  
sucedida? Conferência sobre a história da Revolução Inglesa, publicada em 1850 e  
com tradução de Ronaldo Vielmi Fortes.  
O leitor irá constatar que a edição atual da Verinotio nova fase publica um  
material que, com certeza, irá contribuir para os debates cruciais da atualidade, sejam  
eles teóricos, sejam práticos. Dotados de rigor e profundidade os artigos da presente  
edição de algum modo contribuirá para o enriquecimento daqueles dispostos a  
superar os desafios de nosso tempo.  
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