Verinotio - Revista on-line de Filosofia e Ciências Humanas. ISSN 1981-061X. ano XV. jul./dez. 2020. v. 26. n. 2
Guilherme Wagner
Everaldo Siqueira
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cristianismo. Dado que as proposições científicas, dotadas de sentido, nada
podem falar/resolver sobre os problemas da vida, para Wittgenstein, o
cristianismo clarifica o sentido da vida e consequentemente do mundo, visto
que “sou meu mundo” (TLF, §5.63).
Objetivamente, assim, o sentido do mundo não pertence ao dizível,
estando fora do alcance deste podendo ser compreendido como transcendente,
isto é, algo exterior ao mundo. “O sentido da vida, dito de outro modo, o
sentido do mundo, pode ser chamado de Deus” (WITTGENSTEIN, 1916 apud
BADIOU, 2013, p. 26), visto que Deus não se revela no mundo (TLF, § 6.432)
e o místico é o sentimento dos limites do mundo (TLF, §6.45). Assim, o místico
que define os limites do mundo, é Deus. Igualmente, na subjetividade o
cristianismo expressa o sentido da vida individual, da vida bela e plena que
conduz a felicidade, isto é, a vida com sentido conduz a felicidade, mas esse
sentido da vida está fora do mundo. Dessa forma, para Wittgenstein (1968) o
sentido do mundo está fora dele, mas não consegue elaborar proposições que
se querem dotadas de sentido dentro da linguagem, visto que o sentido do
mundo é indizível. É por esta razão que Wittgenstein escreverá a Ficker em
1919 dizendo que em seu livro conseguiu restituir as coisas ao seu devido lugar
sem falar sobre elas (BADIOU, 2013). Assim, apesar da ciência poder ter
resolvido todas as questões pertinentes a si, aquelas as quais ela pode dizer,
mesmo assim, para Wittgenstein os problemas mais fundamentais da vida
nem terão sido compreendidos.
Sentimos que, mesmo que todas as questões científicas possíveis
tenham sido respondidas, os problemas da nossa vida não terão sido
se quer tocados. Nesse caso, é claro que não restará mais nenhuma
questão, e essa é precisamente a resposta. Percebe-se a solução do
problema da vida no desaparecimento desse problema. (Não é por
essa razão que as pessoas, para as quais, após longas dúvidas, o
sentido da vida se tornou claro, não puderam dizer em que consiste
esse sentido?) Há, entretanto, o inefável, ele se mostra, é o místico.
(Apud LUKÁCS, 2012, p. 56)
É assim que o silêncio ontológico se manifesta no Tractatus, ao pôr a
essência do mundo como externa a ele, como algo indizível, e por diversas
vezes somente sensível, num caráter estético, que Wittgenstein termina sua
obra afirmando que sobre aquilo que não se pode falar, ou dizer, deve-se calar
(TLF, §7). O silêncio ontológico é esse calar-se frente ao mundo,
compreendendo que o mesmo só se entende numa contemplação místico-
religiosa.
No que concerne à matemática é esclarecedor a passagem §6.21 onde
afirma que as “proposições matemáticas não expressam pensamento algum”
(WITTGENSTEIN, 1968). Isto é, não são dotadas de sentido, se configuram
como pura tautologia. Se elas são impensáveis, sem sentido, não são dotadas