Verinotio - Revista on-line de Filosofia e Ciências Humanas. ISSN 1981-061X. ano XV. jul./dez. 2020. v. 26. n. 2
Aline Cristina Ferreira
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Já a segunda fase data do início do século XX seguindo até o fim da II
Guerra Mundial (aproximadamente de 1912 a 1945), denominada por
Goldmann como fase imperialista, em que há a formação de monopólios.
Trata-se de um período de crise estrutural do capitalismo. É o momento de
declínio da economia liberal e, por conseguinte, do herói problemático. O
comportamento humano torna-se central, especialmente na questão da ação e
da morte. A focalização se dá na exposição das dificuldades do ser humano em
se apresentar como indivíduo, diferentemente de como ocorria com as
filosofias individualistas da fase anterior. Ao caracterizar esse período
filosófico, Goldmann afirma:
Se o comportamento do indivíduo já não pode, com efeito, fundar-
se nos valores transindividuais (pois o individualismo suprimira-os
todos), nem no valor incontestável do indivíduo (agora posto em
dúvida), o pensamento devia, necessariamente, centrar-se nas
dificuldades desse fundamento, nos limites do ser humano
enquanto indivíduo e na mais importante de todas – seu
desaparecimento inevitável, a morte. /.../ Em resumo, privado de
dois fundamentos possíveis, o indivíduo e as realidades
transindividuais, o comportamento humano foi posto em questão,
e essa crise assumia, para o pensamento filosófico, a forma do duplo
problema da morte e da ação. (GOLDMANN, 1967, p. 191)
Para nosso autor, os dois primeiros romances de Malraux constituem
uma resposta a esses problemas apontados pela filosofia da época. Aqui, o
herói problemático não está presente como na fase anterior, pois nesse
momento a literatura é marcada pela dissolução dos personagens, tendo como
representantes Kafka, Joyce e algumas obras existencialistas, como A náusea
de Sartre e O estrangeiro de Camus. Estes autores ainda conservam uma
perspectiva humanista: “Kafka, Sartre, em A náusea, Camus, em O
estrangeiro, conservavam ainda perspectivas humanistas, implícitas ou
explícitas, que tornavam manifestamente seus livros obras de ausência”
(GOLDMANN, 1967, p. 191).
Este é o período no qual estão inseridas as obras de Malraux, que sofrem
uma mutação da forma romanesca. Com o tempo, o herói problemático se
direciona à dissolução dos personagens, especialmente com o tema da morte.
Nesse sentido, na concepção de Goldmann, há a constituição de um gênero
intermediário. A “passagem” de um gênero a outro no caso de Malraux ocorre
a partir da obra Os conquistadores (1928) e A condição humana (publicada
em 1933, mas escrita anteriormente), direcionando-se a Tempo de desprezo
(1935) e, por fim, A esperança (1937) – obras cujo herói não é problemático.
Desse modo, esta última obra “tem por tema a relação não problemática do
povo espanhol e do proletariado internacional com o partido comunista
disciplinado e oposto à espontaneidade revolucionária” (GOLDMANN, 1967,
pp. 116-7, grifo do autor). Por isso, Tempo de desprezo e A esperança não são