Apresentação:
Heidegger Redivivus
Verinotio
NOVA FASE
ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 1, p. 40-47 - jan./jun. 2021 | 43
da crítica à religião que se coloca em meados do século XIX (em Fauerbach, por
exemplo), de modo a se abranger seja o ateísmo religioso de um Schopenhauer, seja
o desespero de um Kierkegaard; e é interessante notar que o marxista húngaro
identifica tanto este desespero kierkegaardiano quanto o ateísmo religioso na filosofia
de Martin Heidegger anterior e posterior à II Guerra Mundial. Assim, desenvolver o
marxismo de modo minimamente digno pressupõe a capacidade de entender e de
realizar uma crítica imanente às formações ideais como as de Heidegger, e daqueles
que partem das categorias de sua filosofia. Ao contrário do diálogo de Sartre com as
categorias do autor de
Ser e tempo,
como “projeto” e “derrelição” – como colocado
em
Sobre a questão de método
, mas também na
Crítica da razão dialética
– Lukács
critica de modo duro tanto o pensamento heideggeriano quanto a função social dele,
que, em um primeiro momento, teria preparado o terreno, mesmo que de modo
indireto, para a atmosfera intelectual em que floresce o fascismo e que, diz nosso
autor, poderia servir de base – como efetivamente serviu – para a formação de uma
visão de mundo baseada na crítica aos sintomas da vida cotidiana burguesa, de um
lado e, doutro, na aceitação dos pressupostos histórico-sociais da produção capitalista.
Esta colocação da questão por nossa parte, porém, seria um pouco unilateral.
Por enquanto, somente destacamos a importância do embate lukácsiano para que o
marxismo pudesse fincar seus pés no século XX e no presente. Em
Marxismo ou
existencialismo
, há uma tentativa, por parte de Lukács, de mostrar a incongruência das
tentativas daqueles próximos a Sartre em conciliar categorias que advém da ontologia
heideggeriana com o marxismo. Porém, é interessante notar que, ao criticar a
Carta
sobre o humanismo
de Heidegger, o pensador húngaro se depara com uma situação
sui generis
: ele não julga os existencialistas coerentes com o marxismo, certamente.
Porém, também percebe que Heidegger não acredita que eles consigam compreender
sua ontologia fundamental. E mais: o autor de
Ser e tempo
procura demonstrar que a
posição que defendia em sua obra magna já estaria ultrapassada. E, assim, o filósofo
alemão está a criticar as consequências e as interpretações de sua obra pregressa. E,
diante disso, Lukács vai se posicionar. E ele, assim, percebe que as suas investigações
iniciadas na década de 1930 e que se colocam em sua crítica ao irracionalismo
precisariam ser, no mínimo, complementadas. Os elementos basilares da estrutura da
sociedade capitalista teriam se transformado e, com isto, também teriam passado por
modificações as funções e as estruturas do pensamento burguês.
Heidegger Redivivus
,
assim, testemunha, ao mesmo tempo, uma continuidade: segundo Lukács, as bases da