Vânia Noeli Ferreira de Assunção
154 | Verinotio
NOVA FASE
ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 1, p. 146-156 - jan./jun. 2021
silogística. Dessa maneira, no entender de Chasin, Lukács retomou os problemas
analisados por Marx sob uma ótica que este havia criticado e superado, quer dizer, fez
retroagir a questão do plano ontológico em que o alemão a situou para o da teoria do
conhecimento. Ademais, não percebeu que, se há vínculos com Hegel – pensador de
alta estatura, não poderia ser meramente ignorado –, as contribuições deste para o
pensamento marxiano são secundárias e foram assimiladas a partir de uma ruptura
abissal: afinal, a crítica radical à especulação havia sido feita por Marx ainda nos
primeiros anos da década de 1840. O autor de
O capital
reconheceu o pioneirismo de
Hegel na exposição das formas gerais do movimento, em que era possível encontrar
um núcleo racional, mas denunciando, ao mesmo tempo, seu caráter abstrato, o qual,
eliminando os aspectos distintivos dos diversos movimentos, chegava ao movimento
em estado abstrato, ao movimento puramente formal. Por sua vez, a dialeticidade
exposta no pensamento marxiano é o movimento histórico das próprias categorias
enquanto formas de ser reproduzidas pelo concreto pensado, e dessa maneira dialética
se
descobre
, mas nunca se
aplica
.
Mesmo na
Estética
, obra que, conforme Chasin, não repete as débeis construções
teóricas da
Introdução a uma estética marxista
quando retoma a questão da
particularidade, Lukács acabou incorrendo em erro semelhante ao debater o em-si
hegeliano. Marx teria, para Lukács, apropriado o método de Hegel, que valoriza a
abstratividade, que tem uma noção vazia como alicerce. Chasin mostra como, por
muitos meandros que o leitor terá condição de verificar, Lukács chegou a uma noção
de em-si como uma figura epistemológica, na qual a abstratividade – a pobreza do
concreto epistemológico – é o garante do acesso à realidade e da distinção entre
objetividade e subjetividade. Bem assim, Chasin avalia que a categoria da totalidade é
entendida por Lukács, em boa parte de sua tematização, como um postulado da teoria
do conhecimento (como ponto de vista, ou seja, uma configuração da subjetividade,
enquanto em Marx se trata da formação real e concreta, complexa e contraditória, que,
reproduzida pelo pensamento, torna-se concreto pensado). E, por fim, aprisionado nas
malhas da lógica universal/particular/singular, Lukács acercou-se da problemática da
particularidade sem atinar para o caráter primordial do processo de particularização
(determinação ou concreção, conforme exposto na teoria das abstrações) no
procedimento marxiano do caminho de volta das abstrações razoáveis ao concreto em
sua complexidade e articulação.
Por fim, no item final do livro cujo excerto ora se apresenta – A analítica das