Editorial
X | Verinotio
NOVA FASE
ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 1, p. VII-XXIII - jan./jun. 2021
abstrato a uma suposta essencialidade humana, mas de escrutínio
cuidadoso e rigoroso dos óbices atuais e das perspectivas de futuro.
Evidentemente, tais diretivas de cunho editorial não surgiram há apenas 17
anos, com a publicação do primeiro número da revista, mas remontam, pelo menos,
aos primeiros anos da década de 1980, com a criação do projeto Ensaio,
ressalvando-se, é claro, não se tratar de propostas de mesma envergadura e
amplitude. Acerca daquela quadra histórica, de acordo com a rememoração de
Chasin,
o panorama nacional exibia a reconversão da ditadura militar em
distensão democrática, ao lado do refluxo aflitivo da movimentação social
dos trabalhadores, abatida na sequência imediata à sua vigorosa
reemergência nos dois últimos anos da década anterior – lampejo
marcante, mas episódico, que não teve alento para engendrar sua
autossustentação e foi minado pela sua imediata instrumentalização
político-partidária (CHASIN, 1999, p. 1).
Surgida num momento marcante da cena histórica brasileira, a Revista Ensaio
e, posteriormente, a própria editora que levou seu nome, procurou, desde seus
inícios, incentivar a criação de um movimento de ideias de modo a contribuir para
a identificação dos rumos possíveis a serem seguidos no conturbado cenário de
então. Ainda que tal projeto tenha sido abalroado por motivos de várias ordens, sua
linha diretiva básica permanece acertada e, mais do que nunca, necessária.
Convém, por essa razão, relembrar alguns traços marcantes daquele projeto,
tomando novamente as palavras de Chasin a respeito. Diz ele:
Afrontando mitos e preconceitos da prática vulgar que engolfou o século,
emergiu então, não sem alguns enganos e tropeços iniciais, a evidência
da prioridade radical, na ordem das necessidades intrínsecas ao campo
da esquerda, de um Movimento de Ideias, voltado à produção e difusão
teóricas e direcionado à redescoberta da obra de Marx, bem como à
tematização da problemática brasileira. Projeto ambicioso por seus alvos,
foi desde logo equilibrado pela prudência e comedimento de sua prática
intelectual, pretendendo antes rigor no próprio trabalho do que lutar por
reconhecimento, indiferente em especial aos aplausos fáceis,
complacentemente permutados (CHASIN, 1999, p. 1).
Ora, transcorridos cerca de 40 anos, é forçoso reconhecer que, a despeito dos
entraves e dificuldades de todas as ordens que enfrentou, as linhas mestras
daquela proposta continuam válidas, embora necessitem ser redimensionadas
tendo em vista as disposições e o contexto atual, ainda mais problemático e grave
do que o cenário daqueles anos.
A validade, até os dias que se seguem, das linhas diretivas do movimento
Ensaio foi confirmada, sobretudo nas pesquisas desenvolvidas nos últimos 20 anos