Finalmente, alcançamos a revisão política. Em
Feuerbach...
, Engels apresenta
uma posição absolutamente divergente da de Marx. Afirma literalmente:
Na história moderna, pelo menos, está assim demonstrado que todas
as lutas políticas são lutas de classes, e que todas são lutas por
emancipação das classes, apesar de sua forma necessariamente
política – afinal, toda luta de classes é uma luta política –, e que giram,
no fim, em torno da emancipação
econômica
. (ENGELS, 2020, p. 111
– itálicos do original)
Para terminar, páginas à frente, afirmando que “
a luta da classe oprimida contra
a classe dominante torna-se necessariamente uma luta política
; uma luta, antes de
tudo, contra a dominação política desta classe” (ENGELS, 2020, p. 115 – itálicos
meus). É verdade que encontramos em Marx algo parecido; mas “parecido” não é
“idêntico” e as palavras não podem nos confundir. Apenas para ficarmos com um
exemplo, em
A
miséria da filosofia
, seguindo as etapas históricas de consolidação da
organização dos trabalhadores, afirma Marx:
As condições econômicas, inicialmente, transformam a massa do país
em trabalhadores. A dominação do capital criou para essa massa uma
situação comum, interesses comuns. Essa massa, pois, é já, face ao
capital, uma classe, mas ainda não o é para si mesma. Na luta, de que
assinalamos algumas fases, essa massa se reúne, se constitui em
classe para si mesma. Os interesses que defende se tornam interesses
de classe. Mas a luta entre as classes é uma luta política. (MARX, 2009,
p. 190)
Encerrasse aqui, teríamos em
A miséria da filosofia
, de 1847, não apenas uma
revisão marxiana do problema da política, três anos após seu mais virulento ataque
contra a mesma, mas ainda uma oscilação, do próprio Marx, em relação ao problema,
que poderia apontar certa fragilidade resolutiva anterior. Mas Marx avança, de forma
clara:
A classe laboriosa substituirá, no curso do seu desenvolvimento, a
antiga sociedade civil por uma associação que excluirá as classes e
seu antagonismo, e
não haverá mais poder político propriamente dito,
já que o poder político é o resumo oficial do antagonismo da
sociedade civil
.
Entretanto,
o antagonismo entre o proletariado e a burguesia é uma
luta de classe contra outra, luta que, levada à sua expressão mais alta,
é uma revolução social
. Ademais, é de provocar espanto que uma
sociedade fundada na oposição de classes, conduza à contradição
brutal, a um choque corpo a corpo como derradeira solução?
Não se diga que o movimento social exclui o movimento político. Não
há, jamais, movimento político que não seja, ao mesmo tempo, social.
(MARX, 2009, p. 191-192 – negritos do original; itálicos meus)
As últimas linhas, lidas a partir do elo tônico correto, convergem perfeitamente