respeito da existência (ou não) de uma dialética na natureza, prefiro abster-me, tendo
em vista minha ignorância nesta seara.
Logo, é difícil não concordar com Lukács, a respeito da existência de uma
tensão entre ontologia e lógica, nos escritos do filósofo de Barmen (LUKÁCS, 2010, p.
155). De todo modo, duas considerações de Lukács me parecem importantes e
consoantes ao problema também levantado por Chasin (menos em Engels, é verdade,
e mais em seus continuadores):
Na descrição de Engels e mais ainda naquelas que se seguiram,
parecia tratar-se da existência, sobretudo de um método dialético
unitário que poderia ser aplicado com a mesma justeza na natureza e
na sociedade. Segundo a autêntica concepção de Marx, trata-se, em
contrapartida, de um processo – em última análise, mas só em última
análise – histórico unitário, que se mostra já na natureza inorgânica
como processo irreversível da transformação, de complexos maiores
(como sistemas solares e “unidades” maiores ainda) passando pelo
desenvolvimento histórico de cada planeta até os átomos processuais
e seus componentes, em que não existem fronteiras constatáveis para
“cima” ou para “baixo”. (LUKÁCS, 2010, pp. 263-264)
E conclui, muitas páginas a frente:
A determinação ontológica marxiana da história como característica
fundamental de todo o ser é uma teoria universal, válida tanto na
sociedade como na natureza. Mas isso não significa, de modo nenhum,
a visão amplamente difundida nas últimas décadas, especialmente
entre os comunistas, de que a concepção total de Marx seja uma teoria
filosófica abstratamente geral (em sentido antigo), cujos princípios
gerais, válidos para todo o ser, agora também fossem “aplicados” à
história e sociedade (no sentido mais estreito e burguês). Com essa
“aplicação” surge pretensamente a teoria do “materialismo histórico”.
Assim Stalin tomou posição em sua descrição desses complexos de
problemas no conhecido capítulo IV da
História do partido
. Ele afirma:
“O materialismo histórico é a
ampliação
dos princípios do
materialismo dialético para a pesquisa da vida social, a
aplicação dos
princípios do materialismo dialético
às manifestações da vida em
sociedade, à pesquisa da história da sociedade”.
Quanto ao próprio Marx, até onde sei, ele não empregou a expressão
“materialismo dialético”; naturalmente, fala com frequência em
métodos dialéticos, e a expressão “materialismo histórico”, que
aparece com especial frequência em Engels, sempre se relaciona com
a totalidade da teoria, e nunca significa uma “aplicação” específica ao
“domínio” da história como esfera particular. Para Marx, que via na
história o princípio universal de movimento de todo ser, a expressão
“aplicação” já seria uma contradição com seus próprios princípios
fundamentais. (LUKÁCS, 2010, pp. 330-331 – itálicos do original)