A natureza e a posição da política no quadro das atividades histórico-sociais
Por isso, não por acaso, mas contraditoriamente, o pensamento
político tradicional – ontopositivo – é das formas mais abstratas da
reflexão filosófica, pois, na ontopositividade a politicidade aparece, no
seu equívoco fundamental, como predicado essencial. Isso explica a
fragilidade do pensamento político em geral em sua longa história.
(CHASIN, Manuscritos inéditos).
O mais adequado para nossas considerações é apontar a dimensão programática
do projeto crítico arquitetado por J. Chasin, no intuito de destacar que não se tratava
de mera formalidade teórica ou acadêmica, mas pretendia enfrentar no plano prático
e teórico, tendências que se punham na ordem do dia. A crítica da política condiz com
a necessidade do estabelecimento de uma crítica radical à forma da sociabilidade
capitalista – e mesmo, à particularidade da realidade da sociedade brasileira. A esse
propósito, a crítica endereçada à analítica paulista e às concepções de Fernando
Henrique Cardoso – então presidente – são ilustrativas.
FHC, no repúdio incisivo ao economicismo, não dispondo no entanto
de critérios ontológicos, acaba substituindo a falaciosa ordem
determinativa daquele por outra igualmente arbitrária. Ao primado
unilateral e mecânico da economia reduzida a fator, própria do
economicismo, que mutila a integridade e a dinâmica do todo, FHC
não contrapõe de modo corretivo o reconhecimento do complexo da
produção e reprodução da base material da existência humana, tal
como marxianamente concebido, mas, conservando a noção de
economia como fator, até mesmo por seu peso estrutural, postula uma
nova ordem das determinações entre as instâncias do social, da
política e da economia. Já pelo viés sociológico é induzido à cortante
distinção entre o plano social e o econômico, sem precisar o que possa
ser entendido por cada um deles na pretendida desconsideração
metódica do outro, mas é esta separação de faces ontológicas
indissociáveis que permite, operativamente, o encadeamento de uma
ordenação aleatória ou de suficiente indeterminabilidade para que o
político possa, na armação discursiva, aparecer como determinação de
última instância, ou seja, decisiva em qualquer ordem explicativa, do
que redunda o politicismo. De modo que o válido propósito de
combater o economicismo acaba por ser um ato de desontologização
dos ecos marxianos e a imediata adoção acrítica de uma nova
"ontologia" social, dado que toda desontologização implica, sem
alternativa, processo correlato de sentido inverso, ou seja, de
ontologização, ainda que total e meramente subjacente e precária,
involuntária e falsa, como só pode ocorrer nessas condições; é, de
fato, uma efetuação desse gênero mesmo sob o argumento de que a
elaboração não tenha qualquer propósito ontológico e até mesmo o
recuse e execre, pois a intencionalidade do investigador não tem o
poder de mudar a natureza de sua própria argumentação ou de seus
resultados, pode no máximo desprezar ou não reconhecer dimensões
indesejadas de seu trabalho, o que é muito diferente, por vezes talvez
esperto, mas não correto ou inteligente.
E na sequência, destacando ser esta tendência predominante no pensamento
sociológico da analítica paulista, arremata conclusivamente contrapondo Marx ao
Verinotio
ISSN 1981- 061X v. 28, n. 1, pp. 300-332 - 2º. sem. 2022/1º. sem. 2023| 327
nova fase