Da crítica de arte na imprensa brasileira
nada de hegemonia entre cariocas e paulistas, nada de patrulhismos,
nada de porra-louquice. Nada de exclusões ou de proibições (1984,
p. 54)
No entanto, ao decodificar cada um dos nadas por ele atribuídos à nova geração,
o jornalista colunista de arte fornecia algumas pistas sobre o sentido da sua manobra,
que era, nada mais do que a afirmação da originalidade das concepções ético-estéticas
pós-modernistas que se opunham ao que ele chamava de “autoritarismo conceitual”
das gerações precedentes, a saber:
A situação foi mudando aos poucos de figura na medida em que à
repressão veio somar-se ao `milagre'. Dessa ambiguidade, sofreram
os quase filhos que se lançaram no experimentalismo dos meados da
década de 70. Eram seguramente contra o estado de coisas vigente,
mas, para contrariá-lo com seus próprios meios, não encontraram
outra tática senão a da estocada indireta, (...). Cortado e frustrado o
grito na rua, voltaram para o interior do museu. Ali, sob a sombra
aterradora do pai, reuniram forças para simbolicamente negá-lo.
Negaram-no, até onde puderam, pela arma exclusiva e fracionada da
razão. A emoção tivera de ser evacuada (Idem, idem, p. 49)
A exemplo de Roberto Pontual, o crítico e também colunista da imprensa Frederico de
Morais, avaliaria a trajetória da G80 da seguinte forma:
Depois de uma década de arte assexuada, hermética e fria, que tinha
sua correspondência em um discurso crítico que de certo modo
introjetara o autoritarismo da vida brasileira, e em face, portanto, da
própria evolução política interna - anistia, eleições para governadores
em 1982, campanha das Diretas-já, trazendo o povo de volta às ruas
– e de novas tendências da arte internacional – Transvanguarda,
Neoexpressionismo, Nova Imagem, Pattern –, a expectativa em relação
à nova geração de artistas era muito grande (MORAIS, 1992, p. 30).
Seguindo os passos da mostra do Parque Lage, vários outros eventos artísticos
ocorreriam em todo o país ampliando a publicidade afirmativa de todo o aparato
ideológico do rótulo G80. Assim, em 1985, por ocasião da XVIII Bienal de São Paulo,
ocorreria a consagração definitiva do processo de mudança teleológica no quadro
geral da cultura, em especial nas artes plásticas. Organizada de modo a não esconder
o caráter estratégico do evento para fins mercadológicos, a Bienal teve dois objetivos
bem delineados: projetar a produção dos jornalistas colunistas de arte nos centros
mundiais anteriormente mencionados e aproximar a produção da G80 da arte
estrangeira. Desse ponto de vista, a exemplo do que se passava no exterior, o télos
ético-estético proposto para a Bienal trazia um duplo movimento tático: de um lado
os agentes ideológicos do processo buscavam primordialmente apagar o passado
modernista mediante a condenação do que chamavam de darwinismo linguístico, por
Verinotio
ISSN 1981 - 061X v. 28 n. 2, pp. 20-43 - jul-dez, 2023| 33
nova fase