José Roberto Almeida Sales Júnior
da criação de um cenário jurídico institucional agressivo aos negócios e ao modelo de
propriedade burgueses:
Portanto, não se trata absolutamente, neste momento, de uma luta
contra as relações de propriedade burguesas, como ocorre na França
e se prepara na Inglaterra. Trata-se antes de uma luta contra uma
constituição política que põe em risco as “relações de propriedade
burguesas” entregando o leme do estado aos representantes das
“relações de propriedade feudais”, ao rei pela graça de Deus, ao
exército, à burocracia, aos Junker e a alguns barões das finanças e
filisteus aliados a eles. (MARX, 2010i, p. 391, grifos do autor).
Além da interferência regulatória, importa também destacar que o desenho
proposto para a estruturação do direito financeiro do estado prussiano projetado pelas
antigas elites prussianas não era favorável ao modelo capitalista liberal, uma vez que
mantinha o orçamento estatal prussiano sequestrado em favor da manutenção das
vantagens da nobreza, aristocracia e burocracia. Nesse sentido, é interessante notar
que Marx chegava mesmo a comparar o orçamento público da Prússia com o dos
Estados Unidos no texto “O orçamento dos Estados Unidos e o germano-cristão”
(MARX, 2010l), demonstrando como este último era mais eficiente e apropriado ao
desenvolvimento econômico em comparação com o primeiro, pródigo. Assim, a
burguesia prussiana “[...] insiste obstinadamente em que a monarquia pela graça de
Deus, com seu exército de guerra e de funcionários, seus bandos de pensionistas, suas
gratificações, extraordinários etc. nunca poderá ser suficientemente bem paga.” (MARX,
2010l, p. 376); os burgueses norte-americanos, por sua vez, “[...] são tão teimosos
que nada sabem de nossas instituições germano-cristãs, e preferem pagar impostos
baixos em vez de altos.” (MARX, 2010l, p. 376)”.
O autor renano, por sua vez, era claro ao enfatizar que, para garantir o seu
desenvolvimento econômico, a burguesia deveria assumir o controle do estado
prussiano, notadamente do direcionamento das finanças públicas, de forma a aplicar
esses recursos materiais no fomento das capacidades materiais dos estados alemães,
garantindo a satisfação dos seus “interesses mais sagrados”:
Somente ela própria [a burguesia] seria capaz de fazer valer
legalmente suas necessidades industriais e comerciais. Tinha que tirar
empreendimentos pequeno-burgueses. O governo promete proteger, por meio de instituições
corporativas feudais, o artesão contra a empresa fabril, a habilidade herdada contra a divisão do
trabalho, o pequeno capital contra o grande. E a nação alemã, especificamente a prussiana, que luta
com muita dificuldade e à custa de extremo esforço para não sucumbir totalmente à concorrência
inglesa, deve ser lançada indefesa os braços dela pela imposição de uma organização industrial
contraposta aos modernos meios de produção e que a indústria moderna desmanchou no ar! (MARX,
2010i, p. 394-395, grifos do autor).
Verinotio
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ISSN 1981 - 061X v. 29, n. 1, pp.182-212 – jan.-jun., 2024
nova fase