Antonio Ugá Neto
grande monta, como é o caso de revoluções, não se limita, é claro, a conquistas
imediatas e explicitamente expressas na forma de novas instituições e novos cargos”,
considerando que “[...] as reformas das velhas instituições são, amiúde, apenas
subprodutos das revoluções” que “[...] são pontos nodais do desenvolvimento social,
o qual é por elas predeterminado por séculos à frente” (Pachukanis, 2023, p. 18).
O centro da argumentação do autor soviético não está em observar as simples
características institucionais e normativas, mas as posições das classes em conflito e
as lições apreendidas no período de duplo poder e de transição, uma vez que somente
“[...] as referências ao curso inevitável do desenvolvimento histórico são
completamente insuficientes”, portanto, defende que “[...] uma investigação realmente
materialista e marxista deve ter como tarefa elucidar precisamente quais eram as
classes que travavam a luta e os meios que empregavam” (Pachukanis, 2023, p. 40).
Para Pachukanis (2023, p. 59, grifo original), são comumente desconsiderados,
os fatos mais relevantes do ponto de vista revolucionário, quais sejam: “[...]o espírito
de iniciativa das massas populares, a criação de organizações por sua própria iniciativa,
organizações que são órgãos de luta revolucionária e, por conseguinte, órgãos
embrionários do poder revolucionário”, o destaque da análise se dá não a história das
instituições, elementos jurídicos ou da legalidade, mas à luta política de massas. Neste
cenário, a fundamentado em Lenin, estabelece-se uma disjuntiva no processo
revolucionário, uma vez que:
Na realidade, a solução de questões políticas por meio do uso da força
armada e da renúncia à legalidade está longe de esgotar o conceito
de revolução, inclusive na esfera puramente política. Deve-se, aqui,
levar em conta a distinção na qual insistia Lênin: ou a mudança é
efetivada pelas massas populares que cerram fileiras no próprio
processo de luta, criando, a partir de baixo, os órgãos da insurreição
espontâneos – estaremos, então, diante de uma revolução popular; –
ou essa mudança é obra de uma minoria, e, ainda por cima, de uma
minoria que faz parte das classes possuidoras privilegiadas e que se
apoia em uma organização pronta, por exemplo, no exército. Nesse
caso, a massa popular não desempenha um papel ativo e
independente. Ela é posta de antemão à disposição da elite dirigente
e está fadada a desempenhar o papel de instrumento cego
(Pachukanis, 2023, p. 67-68).
Em resumo, são nítidas na exposição as correlações traçadas com a revolução
russa e a transição socialista, com destaque para as lições da experiência de duplo
poder do Conselho de Soldados de Oliver Cromwell, suas insuficiências e vacilações,
para a duplicidade de poder própria aos sovietes de trabalhadores, camponeses e
soldados da Revolução Russa e as lições para as demais experiências revolucionárias.
Verinotio
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ISSN 1981 - 061X v. 29, n. 1, pp. 521-535 – jan.-jun., 2024
nova fase