Renate Merkel-Melis
O trabalho com livros de sua biblioteca fala a favor da autoria de Engels. Ao
examinar o significado em que o termo mais-valor é usado por William Thompson, ele
obviamente tomou em mãos seus escritos e, em seguida, forneceu as passagens
citadas com sublinhados, grifos e notas marginais.44 O termo “produto excedente”
também está sublinhado no escrito correspondente à referência a David Ricardo.45
Ao tratar da acusação de que Marx e, depois dele, Engels citaram erroneamente,
faz-se referência à controvérsia entre Marx e Lujo Brentano, que Sedley Taylor retomou
em 1883.46 Engels, que escreveu uma brochura abrangente sobre o assunto quatro
anos depois, é provavelmente o autor aqui. Frases como “Pobre Lujo Brentano”,
“Enforque-se, Lujo”, “Cuidado, Lujo!” falam por sua autoria.
Kautsky poderia ter escrito a parte final do artigo, possivelmente após a alusão
a Brentano, seguindo instruções de Engels. A sugestão aqui expressa de que Menger
procura um cargo no Ministério da Justiça pode ser encontrada numa carta de Engels
a Laura Lafargue.47 As suas sugestões poderiam incluir a ideia de que os socialistas,
como qualquer partido político, teriam de formular as suas reivindicações em
exigências legais.
Em resumo, pode-se provavelmente supor que Kautsky iniciou o trabalho, a
maior parte do texto vem de Engels, e as passagens restantes foram influenciadas
conceitualmente e nos pormenores por ele, e Kautsky fez a edição final. Como nenhum
manuscrito do artigo sobreviveu, todas as afirmações só podem ter caráter de
hipótese. A análise da história da sua gênese é complementada pela procura de
Proudhon de 1849 em uma adição a esta nota de rodapé (Karl Marx: Das Elend der Philosophie. Antwort
auf Proudhons „Philosophie des Elends“. Deutsch von E. Bernstein und K. Kautsky. Mit Vorwort und
Noren von Friedrich Engels. Stungart 1885, S. 62).
44
William Thompson: An inquiry into the principles of the distribution of wealth most conducive to
human happiness. Uma nova edição de William Pare, Londres 1850, p. 128: “A medida do capitalista,
pelo contrário, seria o valor adicional produzido pela mesma quantidade de trabalho, em consequência
do uso da maquinaria ou de outro capital; todo esse mais-valor a ser desfrutado pelo capitalista por
sua inteligência e habilidade superiores em acumular e adiantar aos trabalhadores seu capital, ou no
uso dele”. No exemplar pessoal de Engels, “mais-valor”, sublinhado, contornado a lápis; a linha com
“mais-valor” adicionalmente grifada e com nota marginal: p. 127. Ibidem, p. 127: “Os materiais, os
edifícios, as máquinas, os salários nada podem acrescentar ao seu próprio valor. O valor adicional
provém apenas do trabalho”. - No exemplar manuscrito sublinhado por Engels, contornado a lápis e
com nota marginal a tinta: “p. 128”. Cf. Die Bibliotheken von Karl Marx und Friedrich Engels. Annotiertes
Verzeichnis des ermittelten Bestandes.. In: MEGA-2 IV/32, S. 637 (Nr. 1310).
45 David Ricardo: On the principles of political economy, and taxation 3d ed., London 1821. Chapter V:
On wages. In: The Works of David Ricardo. With a notice of the life and writings of the author. By J.R.
Mc Culloch, London 1852, S.53. Na cópia pessoal de Engels, “produção excedente” sublinhado e
contornado a lápis. Cf. Die Bibliotheken .... a.a.O.. S. 550 (Nr. 1116).
46 Friedrich Engels: In Sachen Brentano kontra Marx wegen angeblicher Zitatsfälschung. In: MEW 22, S.
161.
47
Cf. Engels an Laura Lafargue, 24. November 1886. In: MEW, Bd. 36, S. 572. – Cf. auch Engels an
Laura Lafargue, 2. November 1886. A.a.O. S. 565.
Verinotio
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ISSN 1981 - 061X v. 29, n. 1, pp. 493-501 – jan.-jun., 2024
nova fase