DOI 10.36638/1981-061X.2024.29.2.742  
A relação entre o setor de seguros, a reprodução  
ampliada e a redistribuição do capital:  
uma análise preliminar a partir do movimento do valor  
The relationship between the insurance sector, expanded  
reproduction and the redistribution of capital:  
a preliminary analysis based on the movement of value  
Rossi Henrique Soares Chaves*  
Deise Luiza da Silva Ferraz**  
Maurício de Souza Sabadini***  
Resumo: No presente artigo demonstramos que  
o setor de seguros, como uma fração do capital,  
possui extensas e variadas imbricações com  
distintos momentos do movimento de  
Abstract: In this article, we show that the  
insurance sector, as a fraction of capital, has  
extensive and varied links with different  
moments in the movement of expanded capital  
accumulation and the metamorphosis of value,  
fulfilling functions for the redistribution of  
capital and the formation of a private collective  
fund through the concentration of monetary  
capital since the beginning of the capitalist  
accumulation process. The financial funds  
managed by insurance companies need, in the  
course of expanded reproduction, to become  
profitable and seek appreciation in order to  
generate new profit possibilities, as well as  
operating in an intertwined manner with  
banking capital.  
acumulação ampliada do capital  
e
de  
metamorfoses do valor, cumprindo  
funcionalidades para redistribuição do capital e  
formação de um fundo coletivo privado através  
da concentração de capital monetário desde os  
primórdios do processo de acumulação  
capitalista. Os fundos financeiros geridos pelas  
seguradoras necessitam, no curso da reprodução  
ampliada, se rentabilizar e buscar valorização a  
fim de gerar novas possibilidades de lucro, assim  
como operar de maneira imbricada com o capital  
bancário.  
Palavras-chave: mercado de seguros; teoria  
marxiana do valor; reprodução ampliada do  
capital.  
Keywords: insurance market; Marxian theory of  
value; expanded reproduction of capital.  
Introdução  
A atividade seguradora costuma ser definida, no nível das aparências e em  
termos da economia vulgar, como aquela capaz de “criar condições para a proteção  
dos patrimônios e das rendas contra perdas decorrentes dos infortúnios da vida”,  
* Pós-doutorando em Política Social pelo Programa de Pós-Graduação em Política Social PPGPS/Ufes.  
Doutor em Administração (Cepead/UFMG).  
**  
Professora associada no Departamento de Ciências Administrativas e professora permanente do  
Centro de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da UFMG.  
*** Professor titular do Departamento de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Política Social  
da Ufes.  
Verinotio  
ISSN 1981 - 061X v. 29 n. 2 jul.-dez., 2024  
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Rossi Henrique Soares Chaves; Deise Luiza da Silva Ferraz; Maurício de Souza Sabadini  
partindo do princípio do mutualismo (compartilhamento de riscos), onde estabelece  
que “para a proteção de todos, que cada qual contribua modicamente para a formação  
de um fundo capaz de ressarcir os prejuízos daqueles que, vítimas dos infortúnios,  
vierem a sofrer perda patrimonial ou na sua capacidade de gerar renda” (MAGALHÃES,  
1997, p. 10). Segundo a Superintendência de Seguros Privados1 (Susep) o seguro se  
estabelece como “contrato mediante o qual uma pessoa denominada segurador, se  
obriga, mediante o recebimento de um prêmio, a indenizar outra pessoa, denominada  
segurado, do prejuízo resultante de riscos futuros, previstos no contrato”2. Sendo  
também uma “proteção econômica que o indivíduo busca para prevenir-se contra  
necessidade aleatória”3. De maneira geral, o “seguro” é conceitualmente fundado na  
ideia de “solidariedade” e no rateio dos custos de possíveis reposições de renda  
decorrente de perdas diversas.  
Para uma análise atenta à realidade, é preciso ir além dessas análises aparentes  
e parcelares do setor de seguros, por entender que a forma como ele se apresenta na  
literatura hegemônica parte de uma visão parcial da sociabilidade sem estabelecer as  
conexões entre as esferas da produção e circulação do capital. Procurando rastrear a  
lógica interna deste objeto, consideramos este setor essencialmente como um  
desdobramento da sociabilidade burguesa e do movimento de acumulação do capital,  
que, por um lado, visa mensurar a ocorrência de riscos (de origem diversa) que  
obstaculizem o processo de apropriação do valor para os capitalistas privados, por  
meio da redistribuição da massa de mais-valor produzida socialmente. Em cenários em  
que este processo de apropriação é interrompido, essa reposição de capitais privados  
revela-se também necessária para a manutenção do movimento geral de reprodução  
ampliada do capital. Isso não significa dizer que este movimento isente o capital de  
crises de acumulação, ainda que pretenda atuar em formas de amenizá-la para a classe  
capitalista. Pelo contrário, embora não seja o objetivo central da discussão que  
estamos propondo aqui, destacamos que o setor de seguros possui íntimas conexões  
com momentos de agudização de crises de acumulação por catalisar a forma  
metamorfoseada do capital, como é o capital fictício, por exemplo (ver mais em  
CHAVES, 2022).  
O setor de seguros na pretensão por identificar tendências no movimento de  
1 Autarquia da administração pública federal responsável pelo controle e fiscalização dos mercados de  
seguros e resseguros no Brasil.  
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A relação entre o setor de seguros, a reprodução ampliada e a redistribuição do capital  
acumulação do capital realiza a mensuração de riscos financeiros envolvendo a  
reprodução capitalista e o cálculo de retornos esperados pela classe capitalista,  
processo que culmina nos preços dos prêmios e das apólices. Para tanto, ele tem  
demandado historicamente do desenvolvimento científico de campos como os das  
ciências estatísticas e atuariais com o objetivo de rastrear as regularidades sociais  
presentes no movimento de acumulação do capital.  
Neste artigo temos como objetivo uma interpretação, a partir da teoria marxiana  
do valor e do olhar de Marx acerca do desenvolvimento e funcionalidade deste  
mercado, do desenvolvimento do mercado de seguros enquanto forma de  
redistribuição da massa de mais-valor produzida socialmente, sendo um mercado de  
autonomia relativa (pois sua conexão com a produção capitalista não aparece  
imediatamente, muito embora ela exista) e lucrativo que auxilia o movimento de  
reprodução ampliada do capital. O movimento de relativa autonomização contribuiu  
fundamentalmente para a especialização da gestão de risco, embora este último não  
se restrinja a este movimento, pois o controle/gestão de riscos, do ponto de vista do  
capital, é uma demanda constante no processo de valorização do valor.  
Este artigo está dividido em quatro tópicos. No primeiro tópico, abordamos a  
relação entre apropriação do valor na esfera da circulação e o processo de formação  
do lucro no setor de seguros, sendo que no segundo tópico apresentamos algumas  
características gerais do mercado de seguros para o desenvolvimento da produção  
capitalista. No terceiro item sendo que no segundo tópico procuramos analisar as  
formas de atuação dos seguros nos ciclos de reprodução ampliada do capital; por fim,  
o quarto tópico é dedicado a análise da forma como ocorre a repartição do mais-valor  
e as disputas intracapitalistas que envolve a participação de distintos segmentos do  
capital neste mercado.  
1. Seguros: dedução do lucro e mais-valor  
Marx (1980) discorre, no item 2 da seção VI do primeiro volume das Teorias  
do mais-valor, que, na concepção burguesa, o lucro é o prêmio do risco, sendo o risco  
principal o suposto adiantamento do dinheiro ao(à) trabalhador(a) na concorrência  
capitalista. Tal tese é ainda bastante difundida pelos ideólogos da burguesia, que  
costuma ainda premiar, colocar em papel de destaque e até mesmo glorificar aqueles  
mais “dispostos a riscos”. Ao considerar tal afirmação como representando a natureza  
imediata, fica evidente que o que se têm é a convicção de que o resultado das  
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transações econômicas depende da capacidade individual de abraçar a incerteza e  
assumir riscos. De fato, é bom alertar, que a leitura burguesa não é, digamos,  
totalmente equivocada, ao menos do ponto de vista individual, mas ela representa  
somente uma unidade do real, a aparência, insuficiente, portanto, para desvendar a  
essência do capital e o processo global da produção capitalista.  
A ideologia burguesa que premia a disposição a risco é difundida também  
porque, em parte para o capitalista, em sua visão parcial da realidade, o salário é o  
adiantamento seu ao trabalhador: “todas essas experiências vêm confirmar a ilusão  
suscitada pela forma falsa, autônoma e invertida dos componentes do valor, como se  
o valor das mercadorias fosse determinado exclusivamente pelo salário, ou pelo salário  
e pelo lucro em conjunto” (MARX, 2017, p. 931).  
Marx (1980) expõe que, na verdade, este processo ocorre de forma contrária  
sendo necessário desmitificá-lo, pois o capitalista sempre se apropria da mercadoria  
força de trabalho antes de remunerá-la. O autor (1980) aponta que o capitalista  
acredita correr dois riscos a partir do “adiantamento” que ele supostamente realiza. O  
primeiro é o risco de não vender as mercadorias produzidas no mercado e,  
consequentemente, não as transformarem em dinheiro. O segundo é precisar vender  
as mercadorias produzidas abaixo do preço de custo. Porém, ao comprar a força de  
trabalho, o capitalista a compra pelo seu valor e necessita que o trabalho produza um  
valor maior que o pago pela sua força de trabalho, sendo assim, o suposto risco que  
o capitalista corre ao tentar transformar mercadorias em dinheiro tem como maior  
ensejo realizar esse “mais-valor” produzido. Tal ensejo não necessariamente elimina a  
possibilidade da não venda ou da venda abaixo do preço de custo, podendo ou não  
realizar o mais-valor.  
Ademais, para o capitalista, o risco de vender a mercadoria abaixo do  
valor corre, por igual, com o ensejo de vendê-la acima do valor. Se o  
produto é invendável, o trabalhador é lançado no olho da rua. Se o  
preço do produto fica por longo período abaixo do preço de mercado,  
o salário cai abaixo da média e trabalha-se em regime de tempo  
parcial. O trabalhador, portanto, corre o risco maior. (MARX, 1980, p.  
305)  
Para o capitalista, diante de suas expectativas de retorno financeiro, a não  
realização de sua taxa de lucro representa, fundamentalmente, o não ganho, que pode  
incorrer em perdas financeiras. Vale lembrar que a atuação do capitalista no processo  
de concretização de suas expectativas financeiras se baseia na apropriação alheia de  
mais-valor que necessita ser realizado.  
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A relação entre o setor de seguros, a reprodução ampliada e a redistribuição do capital  
Marx (1985), ainda nas Teorias do mais-valor, faz uma análise da decomposição  
do lucro proposta por Ramsay, o qual diz que é “possível decompor o lucro do  
empresário em: (1) salário do empresário; (2) seguro contra o risco; (3) ganho  
suplementar” (RAMSAY apud MARX, 1985, p. 1.400). Defesa próxima a esta pode ser  
encontrada também em Stuart Mill (1996, p. 459), segundo o qual o seguro é uma  
decomposição do lucro. Marx (1985) irá apontar que, no que se refere a (2), ele não  
se decompõe do lucro do empresário. Para tanto, ele cita Corbet que, como Ramsay,  
aponta que, “o seguro que cobre o risco apenas reparte as perdas dos capitalistas por  
igual ou de maneira mais geral pela classe toda” (MARX, 1985, p. 1.400). Entretanto,  
Marx ressalta o que se segue:  
Desse prejuízo repartido por igual tem de deduzir-se o lucro das  
companhias de seguros, dos capitais que, empregados no negócio de  
seguros, encarregam-se dessa repartição. Essas companhias recebem  
parte da mais-valia, como os capitalistas comerciais ou financeiros,  
sem ter participado diretamente na produção dela. (MARX, 1985, p.  
1.400, grifos nossos)  
Desta forma, na repartição e nas deduções de mais-valor entre a classe  
capitalista que refletem de forma distinta os capitalistas particulares, também é preciso  
levar em conta o lucro das companhias de seguro encarregadas de repartir o mais-  
valor, e que “nada tem que a ver com a natureza nem com a magnitude do excedente.  
O(a) trabalhador(a) naturalmente não pode fornecer mais que seu trabalho excedente.  
Não pode pagar ainda algo mais ao capitalista, para que este tenha a garantia da  
posse dos frutos desse trabalho excedente” (MARX, 1985, p. 1.400). Desta forma, o  
lucro do setor de seguros oriundos do comércio de apólices de seguros e/ou de  
aplicações financeiras não gera mais-valor adicional para a produção social, formando  
seu lucro médio com base nas repartições e deduções do mais-valor gerado pelo  
capital produtivo. Marx (2017) aponta ser característica do capital comercial entrar na  
“equalização de mais-valor para formar o lucro médio, apesar de não entrar na  
produção desse mais-valor. Daí que a taxa geral de lucro já contenha a dedução do  
mais-valor correspondente ao capital comercial, ou seja, uma dedução do lucro do  
capital industrial” (MARX, 2017, p. 328).  
O setor de seguros, juntamente ao sistema bancário, é uma forma do capital  
derivada da circulação que também está envolvida no capital de comércio de dinheiro,  
sendo um custo de circulação. Este custo para o processo de circulação revela-se  
necessário para o próprio processo de reprodução do capital, na medida em que o  
capital pode existir como capital monetário em potencial ao compor o fundo coletivo  
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privado gerido pelas seguradoras. No ciclo do capital monetário, a última fase M’-D’,  
que está inserida na circulação, representa a forma de mercadoria assumida pelo  
capital que necessita ser vendida para que o valor em seu movimento se realize. O  
setor de seguros pode deduzir parte de D’, enquanto movimento necessário para o  
capitalista individual como forma de reduzir as consequências das perturbações  
envolvendo o movimento contínuo de reprodução do capital. E é dessa dedução que  
acontece a formação do lucro da seguradora (intrinsicamente ao valor do prêmio  
estipulado para uma apólice de seguro). Essa dedução de capitais particulares também  
é o que permite que o capital gerido pelas seguradoras seja redistribuído para  
distintos capitais privados, quando uma apólice precisa ser paga.  
Mesmo que de forma preliminar, a esta altura consideramos ainda ser  
necessário pontuar algumas questões sobre a categoria “prêmio”, tal como ela aparece  
especificamente no setor de seguros. O capital monetário pago às seguradoras, na  
aquisição de uma apólice, para que se possa ter a cobertura do seguro adquirido, é  
denominado “prêmio”. Diferentemente do que parece sugerir, os prêmios recebidos  
pelo setor de seguros não são recompensas oriundas de algum mérito individual. Os  
prêmios são essencialmente o cálculo do preço a ser pago pelo segurado e  
pressupõem uma série de cálculos capitalistas de retornos financeiros esperados,  
assim como a própria taxa de lucro. Os preços dos prêmios sempre acompanham os  
preços de mercado das mercadorias asseguradas, assim como incluem a lucratividade  
esperada pelo capital do setor de seguros. Os preços de mercado das mercadorias  
asseguradas expressam o mais-valor oriundo do processo de produção e se  
manifestam no preço de produção. Devemos recordar que, no processo de  
transformação do valor em preço de produção, o pressuposto fundamental é a  
produção de mais-valor pela força de trabalho.  
Vale ainda ressaltar que nem todos os preços dos prêmios acompanham a  
transformação do mais-valor em preços de produção (e posteriormente em preço de  
mercado), pois o sistema de preços da acumulação capitalista também pode se  
expressar na forma de capital de caráter especulativo (baseado em direitos e retornos  
futuros). Citam-se, por exemplo, os títulos públicos ou mesmo as ações no mercado  
financeiro que podem não possuir preços baseados diretamente no valor, mas tão  
somente na rentabilidade futura do capital (ainda que possa resultar em mais extração  
de valor). Dessa forma, os “prêmios” recebidos pela seguradora representam muito  
mais que a recompensa por uma suposta benesse promovida pelo setor, haja vista que  
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A relação entre o setor de seguros, a reprodução ampliada e a redistribuição do capital  
o setor de seguros está inserido na acumulação capitalista e suas operações cumprem  
certas funcionalidades para a reprodução ampliada do capital.  
Em suma, o capitalista particular, para além da aquisição de uma cota de seguro,  
necessita adotar conjuntamente medidas práticas para que seus riscos sejam  
reduzidos. Disso tem-se a expansão, por exemplo, no decorrer da produção capitalista,  
do setor de segurança (física e de informação), assim como da Comissão Interna de  
Prevenção de Acidentes (Cipa), da gerência e dos lobbies governamentais através de  
mediações políticas no estado. Tudo isso ocorre para tentar reduzir os seus riscos,  
através ou não de apólices de seguros, e aumentar sua taxa de lucro. Entretanto, por  
estar inserido no âmbito da concorrência capitalista entre setores do capital, o  
capitalista pode optar por atuar na produção capitalista abrindo mão inclusive de parte  
do mais-valor, via sistema de seguros para reduzir as consequências da efetivação de  
seus riscos. Já as próprias companhias seguradoras passam a operar com uma margem  
de lucro concomitante à absorção de porções de mais-valor que fez fluir para si por  
meio da comercialização de apólices, assim como da rentabilidade dos montantes de  
capital monetário de distintos setores do capital que foram reunidos em seus fundos.  
2. Setor de seguros, classe capitalista e os falsos custos  
Marx (2017), no volume III de O capital, relaciona o desenvolvimento do  
mercado de seguros com o desenvolvimento da produção capitalista, como se não  
bastasse ser o próprio estado uma forma de assegurar o grande capital (MARX;  
ENGELS, 1978), seja através das mediações políticas e do direito ou pelo fundo  
público. Em relação ao segundo, Marx (2013), no volume I dO capital, ao tratar da  
assim chamada acumulação primitiva, diz que a dívida pública se tornou uma das  
principais alavancas da acumulação do capital e que, podemos dizer, ainda hoje é fonte  
de rentismo financeiro se tomarmos, por exemplo, o comércio global de seus títulos  
(que Marx irá tratar mais especificamente no Livro III). Marx (2014), no volume II dO  
capital, apontou que as seguradoras podem distribuir, entre a classe capitalista, as  
perdas de capitalistas individuais, mas sem impedir que as perdas se caracterizem  
como perdas sob o ponto de vista do capital social total:  
Assim, os custos que encarecem a mercadoria sem nada adicionar ao  
seu valor de uso e que, do ponto de vista da sociedade, pertencem,  
portanto, aos faux frais da produção, podem constituir uma fonte de  
enriquecimento para o capitalista individual. Por outro lado, na  
medida em que o valor que agregam ao preço da mercadoria não é  
mais do que a distribuição equitativa desses custos de circulação,  
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estes não perdem o seu caráter improdutivo. Por exemplo, as  
sociedades de seguros distribuem entre a classe capitalista as perdas  
dos capitalistas individuais. Mas isso não impede que as perdas assim  
niveladas continuem a ser perdas quando se considera o capital social  
total. (MARX, 2014, p. 217, grifos nossos)  
Em uma crítica dirigida a Girardin, Marx e Engels (1978) tratam de apontar a  
não “independência” do seguro frente à produção capitalista, mesmo que esta pareça  
ser autônoma, haja visto sua funcionalidade na distribuição do mais-valor. Marx (2011,  
p. 249, grifos do autor), nos Grundrisse, é categórico quando diz que “os riscos da  
produção têm de ser compensados. O capital tem de se conservar nas oscilações dos  
preços. A desvalorização do capital, que se dá de maneira incessante pela elevação da  
força produtiva, tem de ser compensada etc.”. Na própria dinâmica do capital, são  
várias as ocasiões que aparecem como momentos de risco, seja nas oscilações de  
preço de produção, ou pela sua desvalorização decorrente de alterações da  
produtividade social do trabalho. Mas, como Marx aponta, todos esses riscos devem  
ser compensados no processo de valorização, perpassando as esferas da produção,  
circulação, distribuição, troca e consumo das mercadorias, sob a condição da existência  
do próprio capitalista individual. No caso do setor de seguros, Marx o relaciona  
principalmente com a funcionalidade da distribuição do mais-valor num cenário  
econômico de concorrência entre capitais, entretanto para compreender seu papel no  
processo global da produção capitalista, é necessário o entendimento dos motivos  
pelo qual os “riscos da produção têm de ser compensados”, da mesma forma como a  
realização ou não do mais-valor no consumo afeta o processo de valorização.  
Ainda nos Grundrisse, o autor alemão constata que, nos economistas vulgares,  
o risco de não realização do valor cumpre um papel na determinação do lucro, pois  
representa, fundamentalmente, o perigo de que o capital “não percorra as diferentes  
fases da acumulação” ou fique estagnado em uma das fases de seu ciclo. Marx observa  
que, na verdade, a determinação do lucro adicional não cumpre nenhum papel neste  
ponto, pois ele é um custo de produção e o perigo real é a possibilidade de  
estagnação: “porque a criação do valor excedente não se torna maior pelo fato  
impossível de que o capital corre riscos na realização deste valor excedente” (MARX,  
2011, p. 603, grifos do autor). É justamente porque o capitalista é submetido ao  
pagamento de juros, decorrente de empréstimos, que a realização de lucro adicional  
se converte para ele em custo de produção e necessariamente precisa ser realizado:  
Tão logo juro e lucro se separam e, portanto, o capitalista industrial  
tem de pagar juros, uma porção do lucro adicional é custo de  
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produção no sentido do capital, i.e., ela mesma faz parte de suas  
despesas. Por outro lado, é o seguro médio que dá a si mesmo a fim  
de cobrir o perigo da desvalorização que corre nas metamorfoses do  
processo total. (MARX, 2011, p. 603, grifos do autor)  
Vale mencionar, ainda que brevemente, que no Livro III d’O capital, Marx pontua  
que é no processo de transformação do capital monetário em capital portador de juros  
que essa “separação” entre lucro e juro se acentua, pois o mais-valor produzido passa  
a ser distribuído em frações representadas sob a forma de lucro, juros e renda da terra.  
Dentro da dinâmica do sistema de crédito o capital portador de juros assume uma  
posição crucial como credor (envolvendo a questão dos riscos), o que é essencial para  
a reprodução do ciclo geral do capital e o financiamento do capital produtivo (cf.  
SABADINI, 2013).  
A título de exemplo, Keynes (1996) considerou como sendo o primeiro risco de  
um empresário a “probabilidade de conseguir, realmente, a retribuição que espera”  
(KEYNES, 1996, p. 155). Schumpeter (1997, p. 47) menciona que “os homens de  
negócio incluirão prêmios de risco em sua contabilidade de custos, realizarão gastos  
para se proteger contra certos perigos [...] um produtor que tome precauções contra  
o risco [...] tem certamente uma vantagem ao proteger o fruto de sua produção...”.  
Vejamos que estes autores tratam de algumas questões importantes, mas sob o ponto  
de vista da economia vulgar, se atendo a superficialidade dos processos sem levar em  
conta a produção de mais-valor. Por outro lado, é nesse cenário que o lucro adicional  
cumpre a função de “seguro médio” que o capitalista “dá a si mesmo a fim de cobrir  
o perigo da desvalorização que ocorre nas metamorfoses do processo total” (MARX,  
2011, p. 965).  
Uma parte do lucro adicional se apresenta ao capital somente como  
uma compensação pelo risco que corre para fazer mais dinheiro; um  
risco em que o próprio valor pressuposto pode evaporar-se. Nessa  
forma, o lucro adicional aparece perante o capital como lucro a ser  
necessariamente realizado para garantir sua reprodução. As duas  
relações naturalmente não determinam o mais-valor, mas fazem com  
que seu pôr apareça como uma necessidade externa para o capital, e  
não só como satisfação de sua tendência ao enriquecimento. (MARX,  
2011, p. 603, grifos nossos)  
O que Marx está nos dizendo é que os riscos que envolvem o processo de  
valorização do valor não podem ser considerados como algo externo ao próprio  
movimento de valorização e à produção capitalista, estando assim intrinsicamente  
ligados à necessidade de que o capitalista não interrompa o processo de valorização.  
Isto ainda nos sugere que, entre a produção do valor (e do mais-valor) e sua realização,  
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ocorrem movimentos que podem inviabilizar a realização integral do mais-valor,  
práticas que são próprias do movimento de valorização, como o desenvolvimento das  
forças produtivas, a concorrência intra e entre capitais, a expressão do valor de troca  
no preço, assim como variações nos valores de uso das mercadorias envolvidas nos  
processos de trabalho e de troca. Desta forma, vale ressaltar que a existência de um  
mercado de seguros não elimina os riscos que envolvem o movimento de valorização  
do valor, que aparecem como custos tanto no processo produtivo quanto nas  
metamorfoses do capital. Mas o mercado de seguros pode contribuir para reduzir os  
“falsos custos” aumentando a capacidade de gerar renda das seguradoras. O mercado  
de seguros se apresenta como um meio pelo qual o capitalista privado faz fluir para si  
um valor em sua forma monetária a despeito de não ter evitado os riscos que  
constituem o processo de reprodução ampliada do capital. Isso é possível devido a  
formação de uma poupança coletiva privada, mas que não atende de maneira  
equânime a todos os capitalistas particulares, nem mesmo insere nessa poupança  
coletiva todos os setores capitalistas de maneira idêntica. A formação desta poupança  
coletiva não é suficiente para evitar a ocorrência de falências e das crises que são  
intrínsecas à reprodução capitalista. Com o desenvolvimento da acumulação capitalista  
os setores mais securitizados são aqueles que apresentam tanto maior concentração  
quanto centralização de capitais (como é o caso do setor bancário e do mercado  
financeiro).  
Em síntese, a consolidação de uma sociedade baseada na troca de mercadorias  
e na valorização do valor permite o desenvolvimento de um setor específico do capital,  
o mercado de seguros. O fato de os seguros passarem a ser comercializados por  
empresas dedicadas específicas, colabora para a redução dos “falsos custos de  
produção”. Se toda empresa capitalista tivesse que realizar um fundo segurador  
próprio para se proteger dos riscos de mercado, os custos seriam maiores. Nesse  
contexto, em função do movimento geral do capital e das possibilidades de  
metamorfoses do valor se ocorrerem abaixo ou acima do esperado, os capitalistas  
demandam o progresso do conhecimento científico produzido por campos como a  
matemática, administração, estatística e atuária, incorporados ao mercado de seguros.  
Esse processo ocorre com o objetivo de auxiliar e garantir o movimento de fluição do  
mais valor social, e da circulação de capitais, ainda que o capital privado não tenha  
percorrido todos os seus ciclos para a acumulação, por meio, por exemplo, do cálculo  
e da utilização de métodos para a precificação de riscos (p. ex. o score de risco  
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A relação entre o setor de seguros, a reprodução ampliada e a redistribuição do capital  
calculado a partir de análise dados), como mediação para a finalidade de redistribuição  
do mais valor.  
O mercado de seguros aparece também como setor lucrativo no mercado na  
medida em que é revelada a potencialidade da ciência estatística em perceber  
tendências aparentes do processo de valorização na sociabilidade capitalista, ou seja,  
é possível, a partir de uma análise particular, se perceber peculiaridades de cada caso  
de risco a ser segurado, assim como do movimento universal, que é a relação social  
capitalista. Atualmente, com a produção de bancos de dados, a gestão de informações  
sobre gostos culinários, lugares que frequentamos etc., revela tendências, que, sob a  
ótica capitalista, podem ser mercantilizadas (ver mais sobre o assunto em FERRAZ et.  
al., 2021) assim como utilizadas de diferentes formas e em distintos setores do capital.  
Por exemplo, no mercado de seguros, enormes bases de dados de pessoas e ou  
empresas, financeiros e ou de mercado, influenciam no cálculo do prêmio e da taxa de  
lucro.  
No contexto apresentado, os seguros operam por meio da análise dos  
acontecimentos passados, identificando tendências vislumbrando antecipar medidas  
para minimizar possíveis perdas, ou mesmo repartir os prejuízos entre setores do  
capital, em todos as áreas em que atuam. Isso acontece por conta do engendramento  
de um setor de mercado, pela classe capitalista, de uma atividade que auxilia os  
capitalistas particulares, nos diferentes setores em que atua, de modo não equânime  
e sujeito à dinâmica da concorrência intracapitalista. Contribuindo para a formação de  
um fundo coletivo privado e para a redução dos falsos custos de produção, na medida  
em que gesta um novo setor que é capaz de transformar em renda o trabalho  
improdutivo que executa.  
3. Seguros e produção de valor  
Neste ponto, é necessário revisitar as formas assumidas pelo capital nos  
estágios necessários à sua valorização para analisarmos as distintas funcionalidades  
do setor de seguros. Essas formas são o capital monetário (D) e o capital mercadoria  
(M’), e a forma típica do estágio da produção é o capital produtivo (P) (MARX, 2014).  
Para o capital que ao longo do seu ciclo de reprodução assume distintas destas formas,  
Marx (2014) chama de capital-industrial, “industrial, aqui, no sentido de que ele  
abrange todo ramo de produção explorado de modo capitalista” (MARX, 2014, p.  
131).  
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Dessa forma, o capital industrial é aquele que está presente em todos os  
momentos da reprodução do capital, ora como o capital-mercadoria ou capital  
monetário (no âmbito da circulação), ora como capital produtivo (no âmbito da  
produção), sendo “o único modo de existência do capital em que este último [o capital]  
tem como função não apenas apropriação de mais-valor ou de mais-produto, mas  
também criação” (MARX, 2014, p. 134). Para o que aqui nos interessa, é fundamental  
observar os distintos momentos em que os seguros atuam e suas operações na  
reprodução ampliada do capital, considerando a necessidade de distinguir as formas  
de capital metamorfoseadas. O capital, em seu processo de valorização do valor,  
depende fundamentalmente da produção (e criação) de valor, assim como de sua  
reprodução, pois, desta forma, o ciclo do capital pode se repetir ao passo que  
possibilita o acúmulo de mais-valor que, posteriormente, poderá ser utilizado como  
capital.  
A fórmula apresentada por Marx, a partir da decomposição da fórmula geral do  
capital (D-M-D’), para representar o processo cíclico do capital levando em conta suas  
metamorfoses é D-M (Meios de produção + força de trabalho)...P...M’-D’, e o capital  
produtivo P e seu ciclo (P...M’-D’-M...P) medeiam duas fases de circulação, sendo o  
meio para a valorização do valor através do uso dos meios de produção pela força de  
trabalho. O capital produtivo, por estar inserido no meio do processo, demonstra a  
sua imperativa necessidade de não sofrer interrupções e de pressupor o início de um  
novo processo de valorização, pois, se a acumulação capitalista iniciasse e encerrasse  
em P, não haveria acumulação. Em virtude desse caráter ininterrupto, o setor de  
seguros assume um papel ao oferecer cobertura para eventuais prejuízos financeiros  
resultantes de danos materiais dos atributos do capital produtivo, os quais podem  
gerar danos ao processo de acumulação.  
O ciclo do capital monetário (D-M...P...M’-D’) está inserido no processo de  
valorização do capital sendo expresso na forma-dinheiro, que nas palavras de Marx se  
apresenta da seguinte forma, “o valor do capital constitui o ponto de partida, e o valor  
de capital valorizado o ponto de retorno [...] o capital monetário se expressa como  
dinheiro que pare dinheiro” (MARX, 2014, p. 136). Para se analisar o circuito financeiro  
das mercadorias, torna-se necessário atualmente levar em conta o processo de  
autonomização das formas funcionais do capital, do qual o capital monetário está  
incluso, e da consequente desmaterialização do dinheiro (SABADINI, 2013).  
Neste ciclo, o dinheiro pode se transformar em capital à medida que, no âmbito  
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da circulação, é utilizado para comprar a mercadoria força de trabalho, para repor os  
meios de produção ou mesmo para assumir a forma de capital portador de juros. Para  
este fim, a funcionalidade do capital monetário perpassa suas funções enquanto  
dinheiro, qual seja, meio de pagamento, de circulação e de crédito. Podem ocorrer  
perturbações nas funções autônomas do capital monetário, nas quais o setor de  
seguros também pode atuar, como é o caso de seu entesouramento por determinado  
tempo, sua desvalorização cambial ou crises no sistema de crédito. Em suma, se a  
própria fase D-M, ou seja, a conversão do dinheiro na aquisição dos elementos que  
compõem o capital produtivo, não ocorrer por algum motivo, o dinheiro permanecerá  
apenas como capital monetário latente.  
O ciclo do capital-mercadoria (M’-D’–M...P...M’) representa a soma de valor de  
capital e mais-valor, na medida em que sua finalidade é a produção e venda de  
mercadorias sendo “uma condição constante do processo de reprodução” (MARX,  
2014, p. 172). No que diz respeito ao capital-mercadoria (M’), Marx (2014) explica  
que o ciclo M’...M’ deve ser observado também como “forma de movimento da soma  
dos capitais individuais e, portanto, do capital total da classe capital, um movimento  
em que cada capital industrial aparece apenas como um movimento parcial,  
entrelaçado com os demais e por eles condicionados” (MARX, 2014, p. 175). Um  
pressuposto do ciclo do capital-mercadoria é justamente a venda da mercadoria,  
consequentemente, se a fase M’-D’ não se efetivar, podem surgir perturbações no ciclo  
do capital, abrindo espaço para a intervenção do setor de seguros em mais uma etapa  
do processo.  
O empenho de Marx em identificar as distintas formas de capital que emergem  
no processo cíclico do capital reside na intenção de demonstrar como o capital  
percorre distintos estágios e formas durante seu processo de valorização. Assim como  
ressaltar a operacionalidade do ciclo do capital industrial e de suas formas funcionais  
(capital monetário, capital mercadoria e capital produtivo), que estão em constante  
metamorfose de uma forma a outra.  
Por ser permeado de possibilidade de perturbações em diferentes estágios de  
seu ciclo, o capital demandou historicamente formas de reduzir ou solucionar em  
partes essas questões. Da mesma forma, para Marx, o próprio mercado bancário de  
crédito é uma maneira pela qual o capital pode possibilitar que um capitalista, que,  
por algum motivo, não tenha transformado sua mercadoria em dinheiro, possa  
recomeçar o ciclo por meio de um crédito financeiro bancário. Também o mercado de  
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seguros surge como um meio pelo qual o capital pode mitigar os resultados das  
perturbações inerentes à reprodução social, operando enquanto fundo coletivo  
privado.  
Para caminharmos no entendimento de como o mercado de seguros se  
relaciona com o processo de reprodução do capital, é preciso distinguir, para fins  
didáticos de entendimento, dois momentos: a) os riscos materiais que envolvem o  
momento de produção das mercadorias (P) e que estão inseridos do circuito da  
produção; b) riscos relativos à forma capital da produção e suas metamorfoses, que  
estão inseridos no movimento geral de circulação da mercadoria e no circuito da troca.  
Os riscos envolvendo o momento a são aqueles que abarcam o circuito da  
produção ocasionados por incêndios, danos nos meios de produção, eventos adversos  
da natureza (inundações, furacões etc.), greves e demais formas de paralisação da  
produção de mercadorias. Conforme Marx (2014, p. 259), “esse gasto tem de ser  
coberto pelo mais-valor e é dele descontado”, ou seja, é fundamental para o capital  
mitigar as perdas oriundas da paralisação da produção de mercadorias e isso acontece  
através da dedução de falsos custos, aqueles que incidem indiretamente no processo  
de produção de mercadorias, visando dar continuidade no processo de realização do  
mais-valor interferindo no processo de rotação do capital. Esses riscos demandam do  
capital a formação de um estoque social de mercadorias, ao passo que pode realizar  
“uma produção em escala maior do que a necessária para simples reposição e  
reprodução da riqueza existente [...] a fim de que se disponha dos meios de produção  
necessários para compensar a destruição extraordinária provocada pelos acidentes e  
pelas forças naturais” (MARX, 2014, p. 259).  
O investimento em capital fixo e o progresso técnico da produção também  
podem operar como fatores para a redução dos riscos produtivos4. Na seção II do  
capítulo 19, do Livro II d’O capital, Marx (2014) faz uma importante observação no  
curso de sua argumentação em torno da reposição do capital constante e da distinção  
entre capital variável e renda nos custos que envolvem a produção capitalista (essa  
4 No contexto da realidade britânica dos séculos XVIII e XIX, Saes e Gambi (2009), a partir de um  
resgate da obra de Robin Pearson, mencionam que é possível observar uma trajetória peculiar das  
Companhias de Seguro no que diz respeito às inovações envolvendo o processo produtivo em que:  
“nas fases de inovações do sistema produtivo existia uma tendência de retração do setor de seguros,  
pois justamente se desconfiava dessas novas tecnologias de produção e de sua incerteza correlata que  
auferia altos riscos para os seguradores. Todavia, nos períodos de estagnação e crise do setor industrial,  
a tendência verificada no caso inglês, nos séculos XVIII e XIX, foi de expansão e diversificação dos  
serviços de seguros (SAES; GAMBI, 2009, p. 3).  
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discussão intenciona como pano de fundo, no itinerário da obra, refutar a posição de  
Adam Smith segundo a qual o capital variável opera como renda para os  
trabalhadores):  
[...] isso significa apenas que uma parte do mais-valor considerada  
como parte do lucro bruto, deve constituir um fundo de seguros para  
a produção. Esse fundo de seguros é criado por uma parte do trabalho  
excedente, que, desse modo, produz diretamente capital, isto é, o  
fundo destinado à reprodução. No que concerne ao desembolso para  
a “manutenção” do capital fixo etc., a reposição com capital novo do  
capital fixo consumido não constitui um novo investimento de capital,  
mas apenas a renovação do valor de capital sob uma nova forma. [...].  
O componente de valor do qual esse lucro provém demonstra apenas  
que o trabalhador fornece trabalho excedente tanto para o fundo de  
seguros como para o de reparações (MARX, 2014, p. 465, grifos  
nossos).  
Já em relação ao momento b, o curso percorrido das mercadorias no circuito  
da troca, quando demasiado prolongado, também pode aumentar o risco a uma  
variação de preço no mercado. Isso pode atrasar a transformação do capital “seja  
porque a mercadoria permanece por mais tempo no processo de produção, seja  
porque tem de ser vendida em mercados distantes, almeja mesmo assim o lucro que  
por isso lhe escapa, e se compensa mediante um acréscimo no preço” (MARX, 2017,  
p. 246). Marx (2017) ressalta que, no que se refere à desvalorização, capital existente  
que cresce ou decresce de valor, ele está relacionado com o valor do capital adiantado  
para a produção, e não diretamente com o preço, como podem crer os capitalistas  
individuais, o que significa que depende também das formas como atuam os capitais  
que o constituem, se estão na esfera da produção, na circulação, de que forma é  
reconvertido etc.  
Pela complexidade da relação entre preço e valor, assim como das múltiplas  
determinações que o cercam, é necessário analisar um sempre em relação ao outro,  
pois preço e valor pressupõem determinadas relações sociais. Perturbações na função  
econômica do dinheiro como meio de pagamento e de padrão de preços podem  
ocorrer em momentos de crise e de desvalorização do capital, exercendo influência no  
processo de reprodução.  
Em suma, ambos os momentos a e b atuam no processo de valorização do  
valor, entretanto somente o a (momento da produção de mercadorias) possui potência  
de transferir, produzir e criar valor, enquanto em b ocorrem apenas as metamorfoses  
do valor na forma capital. Os dois instantes possuem riscos inerentes que precisam  
ser geridos de modo a garantir a lucratividade, função esta que é desenvolvida, na  
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maioria das vezes, por exemplo, por gestores, administradores, atuários, engenheiros,  
economistas etc. A diferença central entre esses momentos é, portanto, que, em a, os  
riscos materiais são voltados à dimensão da produção/criação de valor, como dos  
danos provocados nos meios de produção no ciclo do capital produtivo, seja por  
fatores humanos ou naturais. Já os riscos em b estão voltados para os obstáculos que  
envolvem o caminho de realização do valor e suas respectivas metamorfoses no ciclo  
do capital comercial e monetário. O mercado de seguros pode atuar em ambos os  
momentos, dado o seu leque de mercadorias a serem asseguradas, visando reduzir as  
interrupções que incidem no ciclo do capital produtivo assim como no ciclo do capital  
comercial e monetário.  
No chamado “capítulo inédito” d’O capital, Marx (1978, p. 17, grifos nossos)  
reforça que  
é necessário que não se perturbe, não se interrompa o processo de  
produção, e que se chegue, efetivamente, com o produto no prazo  
(lapso) requerido pela natureza do processo de trabalho e por suas  
próprias condições objetivas. Isso depende, em parte, da continuidade  
do trabalho, que faz sua aparição com a produção capitalista, e em  
parte, por força de contingências exteriores, incontroláveis. Cada  
processo de produção implica em risco para os valores que nele  
ingressam, um risco, ao qual, não obstante: 1) estão sujeitos também  
fora do processo de produção; 2) e que é inerente a todo processo  
de produção, e não apenas ao do capital. (O capital protege-se contra  
ele, associando-se. [...]).  
No item 1, é possível observar que Marx ressalta que, na distribuição, circulação  
e na troca, podem ocorrer intempéries para a realização do mais-valor, por inviabilizar  
o valor de uso das mercadorias. Já no item 2, Marx chama atenção para a maneira  
como os riscos estão colocados para todo o processo de produção de valores de uso  
e, por conseguinte, para toda a prática social, mas que, no processo de submissão do  
valor de uso ao valor de troca, esse risco precisa ser mercantilizado. Vale ressaltar  
novamente que nem todo risco mercantilizado, ou mesmo cota de seguro, foi envolvido  
na produção e criação de valor; há também riscos envolvendo o trabalho improdutivo  
e até mesmo para o capital improdutivo sob forma de capital fictício.  
Como indicamos, os seguros podem atuar em vários momentos do ciclo do  
capital (D-M-D’) e sob forma de diferentes capitais, procurando diminuir as  
interrupções no processo de valorização mediante repartição do capital social total.  
No que se refere ao capital produtivo, o seguro atua garantindo e realizando valor em  
patamares correspondentes ao momento de sua produção, assegurando as taxas  
médias de lucro, e o capitalista recebe sua recompensa segundo o preço de suas  
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mercadorias. No entanto, é importante destacar que essa “garantia” é limitada, já que  
os seguros não podem reverter a tendência à superprodução da produção e à queda  
da taxa de lucro na dinâmica da acumulação capitalista. Os seguros, quando tratados  
de forma isolada, não produzem ou adicionam diretamente mais ou menos valor, mas  
redistribuem o mais-valor existente, garantindo parte do valor que seria lançado no  
mercado (o valor social da massa de mercadorias; determinado pelo tempo de trabalho  
social necessário para sua produção) e possibilitando a continuidade do movimento  
de reprodução ampliada. Essa redistribuição ocorre a partir da venda de cotas de  
seguro, que é deduzido do custo do capital produtivo, e através de um fundo coletivo  
privado de capital-monetário que é formado e gerido pelas companhias seguradoras.  
Baseado no exposto por Marx (2014), ressaltamos que o processo de  
reprodução em seu movimento total  
não apenas coloca uma parte do produto nos fundos de produção  
(como elemento material do capital produtivo), reproduz não apenas  
a força de trabalho e a reincorpora ao capital, como redistribui  
também o dinheiro em funcionamento, e o faz, em parte como forma-  
dinheiro de capital, em parte como meio de circulação (forma-dinheiro  
do mais-valor (renda dos capitalistas) (MARX, 2014, p. 695, grifos do  
autor).  
Chamamos atenção para esta função de redistribuição do dinheiro mencionada  
por Marx (2014, p. 696), pois, segundo o autor alemão, “é a classe capitalista  
industrial que lança esse dinheiro na circulação, mas não como meio de compra ou de  
pagamento de mercadoria, e sim para indenização de seus coproprietários do mais-  
valor”. Aqui é possível observar, entre outros, a destacada função do dinheiro como  
meio de circulação do mais-valor e do capital, funcionalidades fundamentais para o  
movimento de valorização do valor, em que “uma parte do dinheiro necessário à  
circulação do mais-valor encontra-se constantemente em circulação, nas mãos  
daqueles sócios dos capitalistas, e retorna para ele quando este últimos compram  
mercadorias” (MARX, 2014, p. 696). As seguradoras podem atuar justamente  
mediando capitalistas industriais e a parte do mais-valor que se encontra  
constantemente na esfera da circulação, organizando esse fundo coletivo privado, que  
se expressa na forma-dinheiro, para redistribuição de mais-valor, agindo de maneira  
concreta como coproprietárias do mais-valor. O mais-valor a ser redistribuído é  
descontado do capital que reflui para a retomada do processo de produção (embora  
nem sempre tenha esta finalidade), constituindo também um montante monetário que  
não será utilizado de forma imediata para a reprodução do capital (redistribuindo os  
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prejuízos financeiros causados pelas interrupções e permitindo a continuidade da  
reprodução).  
Ao redistribuir este fundo processo permeado por diversas circunstâncias —  
, pode inclusive acontecer de que o mesmo auxilie no processo de reposição do tempo  
de circulação do capital ao repor prejuízos financeiros oriundos de sua interrupção;  
nesse caso, um novo ciclo de produção do capital pode ser (re)iniciado a partir da  
reposição do tempo de rotação de um mesmo capital.  
No que diz respeito à especificidade do mercado segurador, e o fato de não  
produzir valor e estar ligado aos falsos custos, ressaltamos que é necessário ponderar  
que ele pode ser resultado, entre uma gama de outros elementos, do desconto do  
mais-valor da mercadoria produzida pela força de trabalho para redistribuição futura  
(caso seja necessário). Isso porque no momento de produção de mercadorias  
(momento a) está contida a cota para o seguro, que, na perspectiva do capitalista, é  
uma redução da porção que se apropria do mais-valor, sendo esta parcela direcionada  
para redistribuir possíveis futuras perdas, ou mesmo auxiliar o movimento de  
valorização mediante alguma intempérie em suas metamorfoses (momento b). Desta  
forma, o seguro não possui a potência de eliminar os riscos que envolvem a produção  
ou as metamorfoses do valor, mas fundamentalmente para garantir a continuidade do  
processo de valorização e permitir ao capitalista individual continuar acumulando. Os  
seguros tanto não eliminam o risco, que, em situações de crise sistêmica da  
acumulação capitalista, o setor de seguros costuma ser socorrido pelos estados  
O tempo de trabalho socialmente necessário para se produzir determinada  
mercadoria é perpassado por uma diversidade de riscos (o que varia de acordo com  
cada especificidade produtiva e com os níveis de retornos financeiros esperados) que  
envolvem o processo de valorização do valor. A partir de Marx (2013), é possível  
perceber que está pressuposta uma demasiada gama de condicionantes (das quais  
existem possibilidades de intempéries) envolvendo as condições sociais de produção  
assim como as condições para reprodução da força de trabalho, especialmente no que  
diz respeito às questões em torno da “eficácia dos meios de produção e as condições  
naturais” (MARX, 2013, p. 163).  
Os seguros revelam-se, assim, como poupança coletiva privada que visam  
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Como é o caso do processo de estatização da AIG (até então o maior grupo segurador do mundo)  
pelo governo estadunidense no bojo da crise financeira de 2008.  
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A relação entre o setor de seguros, a reprodução ampliada e a redistribuição do capital  
garantir a realização do mais-valor particular de cada capital industrial individual,  
objetivando não obstaculizar o movimento geral do valor na reprodução ampliada do  
capital. Isso ocorre ainda que nem todos os riscos envolvendo o processo de  
valorização sejam segurados. Faz-se tal afirmação porque isto não impede que o  
capital corra riscos nem que o capitalista espere uma compensação financeira por eles,  
para além da poupança formada e gerida pelas seguradoras, como pode ser o caso  
do mercado de derivativos financeiros, por exemplo, que atuam na esfera especulativa  
como seguros para aplicações financeiras (transformando dívidas em títulos  
negociáveis).  
No bojo do movimento da reprodução ampliada, vale ressaltar a não  
linearidade/harmonia pela qual é formada esta “poupança coletiva privada”. Marx em  
seu tratamento da reprodução simples e ampliada constantemente procura demonstrar  
como opera o movimento de valorização do valor e como ele tende à interrupções e  
crises envolvendo diversos momentos do processo de valorização e realização do  
valor.  
No que diz respeito à reprodução social da força de trabalho, Fine (2020)  
também alerta para atividades que auxiliam o processo de reprodução do capital e  
que demandam, por conseguinte, análise específica (p. ex.: as discussões envolvendo  
o trabalho reprodutivo conforme apontado por Souza [2020]). A atividade de comércio  
de seguros não envolve força de trabalho na produção, mas, por envolver força de  
trabalho na esfera da circulação (portanto, improdutiva), é também um (falso) custo  
para o capital, da mesma forma como são os trabalhadores do setor bancário e  
financeiro.  
Outra importante questão deve ser sublinhada. Para realizar a cobertura  
financeira de uma apólice de seguro contratada, uma seguradora pode mobilizar e  
gerir as quantias monetárias ociosas que possui e atuar inclusive em operações de  
crédito e demais operações e formas de capital no bojo do mercado financeiro como  
forma de rentabilizar os seus fundos. Haja visto que grande parte das seguradoras  
fazem parte das operações do setor bancário, de forma direta ou associada.  
Em suma, é possível enxergar o mercado de seguros como potencializado, de  
forma mercantil, a partir das relações sociais capitalistas. É no processo de valorização  
do valor, em suas metamorfoses e nas formas funcionais do capital que se manifestam  
na realidade efetiva (capital monetário, capital produtivo e capital mercadoria), que as  
possíveis “perdas” financeiras envolvendo a acumulação capitalista, no âmbito da  
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produção, distribuição, circulação e consumo, devem ser antecipadas e prevenidas a  
partir, por exemplo, da formação de uma poupança capitalista coletiva que vise  
redistribuir capital para repor perdas de capitais individuais.  
4. Repartição do mais-valor e disputas intracapitalistas  
Seguindo adiante no que estamos tentamos demostrar até aqui, a partir das  
pistas deixadas por Marx, uma das formas de apropriação de mais-valor pelas  
companhias de seguro é resultado da repartição do mais-valor entre capitalistas de  
diferentes segmentos, o que acontece quando as seguradoras cumprem sua função.  
Tal movimento promove disputas envolvendo a repartição do mais-valor, dados os  
distintos segmentos capitalistas e suas formas de participação na retirada de uma  
parte do mais-valor total gerado. Essas disputas podem se manifestar de diferentes  
formas no processo de formação dos fundos securitários, envolvendo: a) os capitais  
privados de diferentes setores (disputa entre setores); b) os capitalistas de um mesmo  
setor (disputa intrassetor); c) os capitalistas do setor de seguros.  
A base para o desenvolvimento da indústria de seguros reside na garantia da  
posse do fruto do trabalho excedente pelo capitalista, da riqueza acumulada e da  
prevenção de acidentes (o que resulta na interrupção do movimento do capital). Em  
vez de ser garantido pelos próprios capitalistas, através do dispêndio do seu trabalho  
ou dos produtos de seu trabalho na produção capitalista, o capitalista “emprega  
método mais garantido e mais barato, deixando para um ramo do capital o negócio  
de seguro” (MARX, 1985, p. 1401). Tal situação se torna possível, na medida em que  
o mais-valor que o capitalista deverá repassar a outros capitalistas, como resultado da  
repartição, assim como o tempo social necessário para a produção de mercadorias são  
inferiores à porção de mais-valor e de tempo de trabalho socialmente necessário que  
o capitalista, ao atuar por si só, teria de deduzir ao optar por aplicar diretamente  
medidas diversas para a redução de seus riscos. Concomitantemente, outros  
capitalistas individuais podem atuar “repartindo” e acumulando várias cotas de mais-  
valor prontas para serem repartidas caso se torne necessário, via mercado de seguros.  
Isso acontece porque, como demonstra Marx (1985, p. 1401), “o seguro é pago  
com parte da mais-valia, cuja repartição e garantia pelos capitalistas, nada tem a  
ver com a origem e magnitude dela”. No que se refere ao mais-valor produzido, do  
qual o capitalista individual deduz seu lucro e a parcela referente ao seguro, Marx  
(1985) aponta que ele, ao abranger a possibilidade de ocorrência de riscos, ou seja, a  
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A relação entre o setor de seguros, a reprodução ampliada e a redistribuição do capital  
possibilidade de interrupção no processo de reprodução do capital, “apresenta-se de  
fato como um seguro e por isso como participação mesmo, na mais-valia geral, de  
determinados capitais de um ramo particular” (MARX, 1985, p. 1.401).  
Neste ponto, é valioso mencionar que uma das questões que surgem do  
processo de repartição do mais-valor são as disputas envolvendo a absorção de cotas  
de mais-valor por diferentes setores do capital e de diferentes formas dentro de um  
mesmo ramo. De forma geral, a concorrência intra e entre setores do capital está  
lastreada, primeiramente, na mercantilização da força de trabalho, pois ela é um  
componente fundamental pelo qual trabalhadores e trabalhadoras são postos em  
disputa no mercado de trabalho na busca por emprego. O capital e sua necessidade  
de valorização do valor estendem a concorrência para todas as esferas de reprodução  
do capital, inclusive na esfera da troca, colocando sempre em disputa capitais  
individuais. Isso acontece porque, segundo Marx, “a livre concorrência impõe ao  
capitalista individual, como leis eternas inexoráveis, as leis imanentes da produção  
capitalista” (2013, p. 432).  
Ressaltamos que, no caso da concorrência na esfera da troca, a concorrência  
pela apropriação das cotas de mais-valor depende fundamentalmente da esfera da  
produção de mais-valor, pois é no processo de produção que o mais-valor que será  
redistribuído tem origem. Assim, para operar redistribuindo mais-valor, as seguradoras  
necessitam sugar sua cota de distintos setores do capital na esfera da produção,  
operando de forma mediadora entre estes distintos setores, assim como atuar de  
forma integrada ao capital comercial bancário para a redistribuição do capital  
monetário centralizado. Devido à alta composição de capitais no setor de seguro, por  
atuar nos mais distintos setores do capital, este papel centralizador de capital  
monetário emerge como uma de suas características centrais para a acumulação  
capitalista.  
No caso das seguradoras, quanto maiores forem os fundos que ela mobiliza  
para o capital produtivo, aptos a serem redistribuídos, maior será o contingente de  
cessão de cotas de mais-valor por capitalistas particulares, na medida em que aparece  
como maior potência em garantir o movimento de valorização do valor. É desse mesmo  
movimento que emergem, também, os processos de concentração do capital que  
caracterizam a produção capitalista e que se manifestam neste setor, o que possibilita  
uma significativa “liberdade” de movimentos redistributivos do capital. Dito isto, há  
historicamente, no setor de seguros, uma crescente formação de monopólios globais,  
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ainda que no nível das aparências ocorram intensas concorrências pela apropriação  
das cotas de mais-valor dos capitalistas particulares (a citar, as companhias Munich Re  
e Swiss Re concentram a maior parte do mercado há praticamente 100 anos). Tal fato,  
entre outros, contribuiu para a própria gestação do setor de resseguros (seguro do  
seguro; uma mesma empresa pode atuar como seguradora e resseguradora de outras  
companhias).  
A concorrência intrasseguradoras se manifesta de diversas formas. Uma das  
principais, por exemplo, ocorre quando há uma queda no total de prêmios recebidos  
por uma seguradora. Isso afeta suas provisões técnicas, termo utilizado para se referir  
à massa monetária que a seguradora precisa manter em seus fundos para cobrir os  
compromissos que assumiu. Essa queda é causada por um maior índice de  
sinistralidade (perdas capitalistas individuais) dos eventos cobertos. Essa seguradora  
incorrerá em baixa capacidade redistributiva entre a classe capitalista, em detrimento  
de outra determinada seguradora que, durante o mesmo período, aumentou o total  
de prêmios arrecadados em decorrência de baixo índice de sinistralidade.  
Ao situar a concorrência entre setores burgueses no bojo da reprodução  
ampliada do capital, é necessário ressaltar que, no cálculo de seu lucro médio, o  
capitalista busca recompensar sempre no aumento de preços as intempéries ocorridas  
no circuito da mercadoria, algo que também ocorre no setor de seguros na definição  
do preço dos prêmios de seguros, mas que se reflete no aumento de preços no circuito  
da mercadoria, uma vez que  
investimentos de capital que se encontram expostos a maiores  
perigos, por exemplo, os realizados na navegação, obtêm uma  
compensação mediante o aumento dos preços. Com efeito, tão logo  
esteja desenvolvida a produção capitalista e, com ela, o sistema de  
seguros, o perigo é de igual grandeza para todas as esferas da  
produção; as de maior risco pagam os prêmios de seguros mais  
elevados, mas os recebem como recompensa no preço de suas  
mercadorias (MARX, 2017, p. 246, grifos nossos).  
Na imediaticidade capitalista, a carência de conceito e a forma irracional pelo  
qual se dá a relação de concorrência, é justamente o que não permite ao capitalista  
ver todos os motivos e fatores que o levaram a fazer um cálculo para um investimento  
de capital que seja compensatório em relação aos riscos, pois a concorrência por si só  
não é capaz de demonstrar a determinação do valor no processo de produção, apenas  
os preços. É por esse motivo que “os investimentos de capital que se encontram a  
maiores perigos [...] obtêm uma compensação mediante o aumento de preços”, e não  
necessariamente do valor, o que pode contribuir para um cenário econômico de caráter  
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especulativo e na recorrência de crises. Ainda no contexto da concorrência, Sartori  
(2019, p. 135) chama a atenção para a relação entre as formas sociais e as figuras  
econômicas ao apontar para o fato de que “a forma social que se apresenta na  
concorrência como algo evidente tem por trás de si a própria conformação classista  
da sociedade, que, no caso, tem por essencial a oposição entre o moderno proletária  
e a burguesia em suas diversas figuras”. Apesar de não considerar todos estes  
sentidos, como a finalidade do movimento de acumulação na cabeça do capitalista é  
a produção do lucro, para alcançar esse objetivo, ele utiliza métodos variados que  
sejam capazes de regular o volume e a escala da produção que refletem diretamente  
na conformação das taxas de lucro e no nível de preços. Tais fatores envolvem a  
concorrência, mas não emanam dela.  
Sendo assim, o capitalista acaba por esquecer que “todos esses motivos  
compensatórios, que os capitalistas exigem uns dos outros no cálculo recíproco dos  
preços das mercadorias de diferentes ramos de produção, referem-se meramente ao  
fato de que todos eles, pro rata a seu capital, detêm iguais direitos ao butim coletivo,  
ao mais-valor total” (MARX, 2017, p. 246). Novamente tal fato é possível porque ao  
capitalista em geral aparece que o lucro produzido é distinto do mais-valor explorado.  
Ainda em relação à concorrência, Marx (2017) pontua que o reparte do “butim  
coletivo” é característico do momento em que o nivelamento da taxa de lucro “vai  
bem”, mas que, em outras determinadas circunstâncias, como as de crise, a situação  
pode se inverter.  
Quando já não se trata de dividir o lucro, e sim as perdas, cada um  
procura reduzir o máximo possível sua participação e transferi-las a  
outrem. As perdas são inevitáveis para a classe. Mas a parte que cabe  
a cada indivíduo nessas perdas, a participação de cada um no  
cômputo geral, torna-se uma questão de poder e astúcia, e aqui a  
concorrência converte-se numa luta entre irmãos inimigos. [...] a  
distribuição dessas perdas não se estenda de modo nenhum de  
maneira uniforme aos diversos capitais particulares, mas seja decidida  
numa luta concorrencial, distribuindo-se de forma muito desigual e  
diversa conforme as vantagens particulares ou as posições já  
conquistadas, de modo que um capital se vê inativado, outro  
destruído, um terceiro experimenta apenas uma perda relativa ou  
sofre apenas uma desvalorização transitória etc. (MARX, 2017, pp.  
2923, grifos nossos)  
A “questão de poder e astúcia”, mencionada por Marx, que resulta das  
possibilidades de perdas para o capital abre espaço para manobras corruptivas  
diversas como forma de obtenção de vantagem sobre as concorrentes. O mercado  
segurador incorpora práticas que corroboram a distribuição “de forma muito desigual  
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e diversa conforme as vantagens particulares ou as posições já conquistadas...”, como  
apontado por Marx no trecho acima citado, vantagens estas que podem situar-se na  
margem do processo de reprodução ampliada conforme se acirram as lutas intraclasse  
burguesa pelas perdas particulares. Citam-se alguns episódios que evidenciam as  
fraudes cometidas pelas seguradoras como forma de reduzir seus repasses para o  
fundo público do estado.  
No caso do mercado de seguros, são públicos e notórios casos envolvendo  
grandes seguradoras, a citar o caso do Lloyds Bank, com sede na Suíça, que foi  
multado em 2015 pelo governo inglês, em £ 117 milhões, por fraude na gestão de  
pequenos seguros contra inadimplência e dívida, sendo que o contratante no momento  
do seguro ficava sem ter acesso ao benefício. Estima-se que a prática vinha sendo  
executada desde o início da década de 1990.  
Só no Brasil, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf),  
de 2010 a 2017 foram realizadas 103 operações envolvendo o mercado segurador e  
casos de lavagem de dinheiro, em um universo de 1.336.622 milhões de casos  
registrados no período (SQF, 2020), sem contar que os dados oficiais tendencialmente  
são subestimados. Segundo dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg)  
(SQF, 2020), o valor monetário somado das fraudes comprovadas no ano de 2020  
compreendeu cerca de R$ 721 milhões, de um total de cerca de R$ 4,6 bilhões de  
sinistros suspeitos (que não necessariamente foram investigados e tiveram fraudes  
detectadas). Para ter uma noção ampliada, em 2012 foram registrados 206 casos  
suspeitos que envolviam quantias de mais de R$ 100 milhões.  
Smith (2016) também menciona alguns casos atuais de negócios financeiros  
envolvendo os “paraísos” fiscais, que são países que costumam ser muito atrativos  
para os fundos de cobertura (hedge) e os bancos offshore justamente por oferecerem  
baixa fiscalização regulatória e barreiras tributárias irrisórias. Segundo o autor, os  
períodos envolvendo o crescimento deste tipo de operação geralmente está  
correlacionado a eventos nacionais que promovem aumento no pagamento de prêmios  
(ex: desastres naturais e crises econômicas). Tal situação faz com que aumente o  
negócio de resseguros, que geralmente está localizado justamente nos paraísos fiscais.  
Os paraísos fiscais também são formas de lavagem de dinheiro não tributado  
pelo estado. Recentemente ficaram mundialmente conhecidos alguns episódios a este  
respeito, como é o caso do Panama Papers (ocorrido em 2016), em que várias  
empresas que operavam este tipo de negócio foram expostas mundialmente. Estima-  
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se que cerca de 214 mil empresas offshore envolvendo mais de 200 países  
apareceram no documento6. A metodologia mais utilizada na operação era justamente  
a criação de seguradoras e/ou resseguradoras com operação em paraísos fiscais. Mais  
recentemente, no ano de 2021, novamente foram divulgados milhões de dados  
envolvendo mais uma vez operações financeiras fraudulentas em offshore (em especial  
as Ilhas Virgens Britânicas) através do Pandora Papers7. Este relatório cita o caso de  
Porto Rico para exemplificar a forma como os paraísos fiscais se tornam alvo de  
lavagem de dinheiro. No caso deste país, desde o ano de 2012, o governo oferece  
isenções fiscais que podem chegar até a 45 anos, para quem abrir um banco,  
seguradora ou demais empresas que operam serviços financeiros, sob a condição de  
não ofertarem seus serviços à população porto-riquenha.  
No contexto de expansão de empresas offshore, Smith (2016) aponta que entre  
os principais objetivos de empresas envolvidas nesta operação está o de aumentar a  
riqueza individual do capitalista, assim como a lucratividade das empresas de seguro.  
Isso acontece, por um lado, porque as massas de mais-valor produzido socialmente  
em outros países, assim como as massas de capital monetário, estão à procura de  
menos tributação do estado ao passo que permitem maior integração financeira global  
(ao facilitar a mobilidade do capital globalmente e operar em dólar). Por outro lado,  
passar a operar nos países caracterizados como paraísos fiscais abre a possibilidade  
de incorporar cotas de mais-valor que resultam de um processo de trabalho que  
acontece em condições mais intensas e precárias, resultado do baixo preço da força  
de trabalho, aquele produzido pelos trabalhadores que residem nos paraísos fiscais.  
Essa maior mobilidade do capital, com menor tributação, pode permitir às classes  
burguesas concentrar ainda mais capital ao custo da intensificação da exploração da  
força de trabalho.  
Síntese do movimento do valor no setor de seguros  
No caminho trilhado até aqui, buscamos rastrear as principais funcionalidades  
6
Panamá Papers se refere a cerca de 11 milhões de documentos vazados do escritório de advocacia  
Mossack Fonseca e que expôs políticos, empresas, celebridade em esquemas de lavagem de dinheiro.  
Essa situação foi retratada recente no filme The Laundromat (A Lavanderia). Ver mais em “The Panama  
Papers:  
Exposing  
the  
Rogue  
Offshore  
Finance  
Industry”,  
disponível  
em:  
7
Ver mais a respeito em “Pandora Papers: the largest investigation in journalism history exposes a  
shadow financial system that benefits the world’s most rich and powerful”, disponível em:  
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do fundo coletivo privado gerido pelas seguradoras para a reprodução ampliada do  
capital. Pela própria complexidade do movimento do valor, não se trata de uma tarefa  
fácil e muito menos simples, pois são diversas as formas pelas quais o capital  
metamorfoseado permeia o setor de seguros e a produção capitalista. Contudo, nossa  
investigação nos permitiu estabelecer algumas conexões que consideramos  
fundamentais e que, em síntese, procuraremos indicá-las a seguir.  
O fundo coletivo privado gerido pelo setor de seguros é, de maneira geral,  
essencialmente composto por cotas de mais-valor e de renda do trabalho e dos  
resultados financeiros advindos da aplicação deste fundo no setor financeiro, na forma  
de capital monetário. As cotas de mais-valor provenientes do capital produtivo  
emanam dos riscos materiais que envolvem a produção capitalista de mercadorias via  
apólices de seguro, da qual se inclui a própria mercadoria força de trabalho. A renda  
do trabalho compõe o fundo na medida em que o(a) trabalhador(a) adquire apólices  
de seguro para seus bens a partir da dedução de seu salário. O capital da esfera da  
circulação e suas metamorfoses, de maneira geral, transferem mais-valor para o fundo  
na medida da dedução que opera do capital produtivo, dessa forma, as apólices de  
seguros operam com a função de garantir a realização do valor das mercadorias.  
Apesar de não ter sido parte dos temas desenvolvidos neste trabalho, ressaltamos que  
o mais-valor que pode (ou não) ser proveniente do capital portador de juros está  
ligado a operação conjunta do setor de seguros nas operações do capital bancário. A  
renda proveniente das operações do capital fictício perpassa fundamentalmente a  
rentabilidade dos títulos públicos (principalmente os da dívida pública) e das ações  
adquiridas pelos fundos como forma de rentabilizar a massa monetária gerida, ou  
ainda ser resultado da mercantilização de derivativos (uma forma de seguro) no  
mercado financeiro no bojo do avanço da securitização de ativos financeiros de  
natureza diversa. Este movimento, porém, somente pode ser efetivado porque antes o  
mais-valor fluiu para este setor e está nele concentrado em sua forma monetária.  
Sugerimos para trabalhos futuros explorar a participação destas formas autônomas do  
capital monetário no setor de seguros.  
Composto o fundo coletivo privado, a sua funcionalidade redistributiva para a  
reprodução ampliada opera de diferentes formas. Diante da ocorrência de um sinistro,  
ou seja, da materialização de algum evento que interrompa o processo de acumulação,  
a classe capitalista pode requerer o pagamento, por parte da seguradora, do valor  
monetário estabelecido na apólice e pago na forma de prêmio para que seja reposta  
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a perda que sofreu. Da mesma forma, a classe trabalhadora pode acionar o pagamento  
de um sinistro estabelecido em apólice, com a particularidade de que a reposição que  
almeja recai, em última instância (mas não somente), sobre os elementos individuais e  
sociais necessários para a reprodução da força de trabalho (como no caso de seguros  
de saúde). Os representantes da classe capitalista no setor de seguros, os donos e  
dirigentes das seguradoras, apropriam parte do mais-valor concentrado nos fundos  
das seguradoras na forma de renda a partir de lucros baseados nos valores monetários  
das apólices. Ademais, apropriam renda oriunda da aplicação da massa monetária dos  
fundos em capital portador de juros e capital fictício, como no caso dos derivativos  
financeiros e dos títulos da dívida pública para esta última categoria. O estado burguês  
também apropria parte do mais-valor e da renda dos fundos por meio dos impostos  
que incidem sobre as seguradoras e que compõem o fundo público, ao passo que  
remunera, na forma fictícia, o capital monetário envolvido nas transações de títulos da  
dívida.  
Em suma, a concentração de capital monetário operada pelo setor de seguros  
através de seus fundos tem origem nas distintas formas assumidas pelo capital ao  
longo de seu ciclo de reprodução. Nesse movimento concentrador, o setor de seguros  
não opera de maneira isolada, estando historicamente imbricado (direta ou  
indiretamente) ao setor do capital voltado para o comércio de dinheiro, o capital  
bancário. O capital, em sua busca constante por mais-valor, necessita do  
desenvolvimento de variados mecanismos que ampliem sua mobilidade para que não  
fique estagnado em uma de suas formas e fases. A concentração de capital monetário  
realizada pelo setor de seguros pode ser considerada ao mesmo tempo como  
resultado e condição para a produção capitalista. Isso acontece porque o capital  
redistribuído pelas seguradoras é essencial para a continuidade da reprodução do  
capital, ao passo que o próprio capital monetário que resulta dos investimentos  
realizados pelas companhias seguradoras (por ex. através da securatização dos ativos  
e dos derivativos financeiros) revela-se enquanto condição necessária para garantir a  
rentabilidade futura dos fundos coletivos privados. Esta concentração também resulta  
diretamente, por um lado, no papel redistributivo ao permitir para a classe capitalista  
repor os meios de produção ou transações financeiras sinistralizados e, por outro,  
permite ao setor de seguros remunerar a força de trabalho improdutiva e investir em  
capital fixo para expansão de suas operações.  
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Como citar:  
CHAVES, Rossi Henrique S.; FERRAZ, Deise Luiza da S.; SABADINI; Maurício de Souza.  
A relação entre o setor de seguros, a reprodução ampliada e a redistribuição do  
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