Vitor Bartoletti Sartori
Tal contatação é, no entanto, quase uma tautologia. Em verdade, ela depende
de condições práticas e teóricas, as quais sempre conformam o essencial da questão.
Acerca do assunto, primeiramente, é visível que – já nas décadas de 1980 a 2000,
mas ainda mais hoje – o marxismo e a esquerda como tal são meras sombras do que
já foram.
A estatura de Lênin, Rosa, Baran, Sweezy e Mandel é incomparável com a dos
envolvidos com a crítica da economia política de hoje. Correlacionadamente, adite-se
a pobreza de horizontes da esquerda contemporânea, a qual, no que é fundamental,
oscila entre procurar enterrar qualquer perspectiva emancipatória e buscar preservar
as ilusões do passado. Ou seja, o que é crucial a ser entendido parece nos escapar.
Reafirmar os princípios basilares do marxismo pode ser fundamental, mas seria
demasiadamente nominalista acreditar que basta a enunciação de categorias fundantes
da crítica à economia política para que o marxismo e a perspectiva de esquerda
novamente se encontrem sobre os próprios pés. Ironicamente, o marxismo corre o
risco de buscar, com Austin e pensadores dos mais idealistas possíveis, “fazer coisas
com palavras”.
Certamente, podemos enumerar grandes autores em tempos recentes, como R.
Kurz e I. Mészáros, por exemplo. No entanto, é visível em suas teorizações certa pressa
em oferecer respostas à nova situação do sistema capitalista de produção. Ambos, por
vezes, caem em raciocínios catastrofistas, em que, por exemplo, no autor de Para além
do capital, a chamada “crise estrutural do capital” faz crer num capitalismo em estado
terminal. A coragem de ambos os autores é admirável, já que reafirmam reiteradamente
a necessidade de supressão do valor, do capital e do estado. Mas, em suas obras, é
escasso o uso de estatísticas e de análises concretas e há disposições afetivas
extremas: de um lado, certo pessimismo incondicional de Kurz e dos membros do
grupo Krisis e, de outro, certo wishfull thinking de Mészáros, que não deixou de render
elogios acríticos ao chamado “socialismo de século XXI”, da Venezuela chavista. Ou
seja, Kurz reconhece a derrota da esquerda, mas acaba quase enterrando a perspectiva
da esquerda junto com os mortos de ontem; sob outro enfoque, são notáveis as
dificuldades do autor húngaro de identificar que, ao fim, a esquerda de nosso tempo,
para que se diga com Chasin, está morta e vaga como um cadáver insepulto.
Ainda seria possível elencar os herdeiros da tradição teórica de Sweezy e Baran
como importantes para o marxismo contemporâneo. John Bellamy Foster e Fred
Magdoff, ao contrário de Mészáros e Kurz, são pródigos no tratamento de situações
Verinotio
XIV |
ISSN 1981 - 061X, v. 30, n. 1, pp. IX-XXV – jan.-jun., 2025
nova fase