O ressurgimento das greves operárias no ABC Paulista e o ardil do politicismo da autocracia burguesa bonapartista (1978-85)

  • Antônio Rago Filho

Resumo

Ante a crise que envolve o sociometabolismo do capital, o desemprego massivo e a miserabilidade generalizada, há que refletir sobre a história dos vencidos, seus embates e resistências, possibilidades e perspectivas. Nosso trabalho se propõe a tematizar a entrada dos trabalhadores na cena histórica, em finais dos anos 1970 e princípios dos anos 1980, na região do ABC paulista, valendo-se da arma da greve, a luta meramente reivindicatória convertida num explosivo, isto porque feria a apropriação dual da mais-valia e os pilares da acumulação monopolista subordinada ao imperialismo. Luta econômica e política, embates práticos a unir enormes massas de trabalhadores que transgrediam os marcos da estrutura jurídico-política repressiva da autocracia burguesa bonapartista. A luta pelos valores formais da democracia, aludida pela oposição burguesa, em especial a parlamentar (PMDB) e a esquerda “eurocomunista”, alinhada no Partido Comunista Brasileiro (PCB), confluía com os desígnios do projeto de autorreforma da ditadura em seu ardil politicista para consumar a “distensão democrática” pelo alto. A irrupção das greves operárias se verifica no bojo da crise do chamado “milagre econômico brasileiro”, e por sua efetivação concreta estas batiam de frente com os limites impostos às reivindicações econômicas da classe trabalhadora. Frustradas as massas trabalhadoras em suas representações políticas, a necessidade de uma ferramenta política era vital para que elas fizessem valer as suas reivindicações e mudassem o mando bonapartista e, numa movimentação social, romper a lógica perversa da plataforma econômica assentada na superexploração da força de trabalho; de outra parte, este historicamente novo se apresentava um novo com traços problemáticos. As formas organizativas que brotaram desse movimento grevista – como comissões de fábrica, comissões intersindicais, a própria Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (I Conclat), gerada em 1981, disputada e cindida entre reformistas da Unidade Sindical e os sindicalistas do “Novo Sindicalismo” – foram de extrema importância para a discussão programática e a necessidade de uma central única de trabalhadores que permitisse unificar as várias frações e segmentos do trabalho. O PT, criado em 1980, conjugando várias tendências, opondo-se ao marxismo, já nascia vertebrado pela ideologia social-democrática de Francisco C. Weffort e José Álvaro Moisés, entre outros, e as posições dos influentes teólogos da libertação, como Frei Betto e Leonardo Boff. A “nova esquerda” acabou por soterrar a necessidade do pensamento crítico-revolucionário e a teleologia da emancipação humana, renunciando, com isso, à “independência ideológica” e, portanto, a qualquer perspectiva alternativa que pudesse emplacar uma transição parametrada pela lógica onímoda do trabalho.

Palavras-chave: Greves Operárias; Ardil do Politicismo; Bonapartismo; Autocracia Burguesa; Ditadura Militar Brasileira.

Biografia do Autor

Antônio Rago Filho

Prof. Dr. do Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e do Centro Universitário Fundação Santo André (Cufsa).

Publicado
2018-03-25
Seção
Artigos fluxo contínuo