No Brasil de hoje em dia, tomar a posição marxiana como referência é, sob um duplo aspecto, interessante: ao mesmo tempo em que resta claro que somente ao compreender a conformação do capitalismo nacional é possível passar às questões políticas, estas últimas se apresentam de imediato quase como um enigma, o qual precisa ser decifrado com cuidado. Isto se dá, essencialmente, porque a “esfera pública” nacional é marcada pelas vicissitudes do caráter atípico daquilo que J. Chasin chamou de “via colonial para o capitalismo”: ao passo que democracia burguesa parlamentar, esfera pública e desenvolvimento burguês caminharam juntos nos casos clássicos de desenvolvimento capitalista, como o francês, o inglês e mesmo o americano, por aqui, as coisas se deram de modo distinto e, em aspectos decisivos, ainda mais gritante. Se o essencial em uma crítica ontológica ampara-se no entendimento dos nexos históricos e objetivos presentes na particularidade do modo específico de entificação do capitalismo, em terras brasileiras esta determinação, em situações que parecem ser decisivas para a política nacional – como as eleições –, aparece eclipsada.