O “pavoroso deserto ideológico”
ganha tonalidades peculiares em acordo com as formas particulares de objetivação do
capitalismo. O próprio caráter débil do processo brasileiro e da burguesia nele
esboçada já nos habilitam a identificar a linha de conexão. No caso brasileiro:
A nossa burguesia, para quem o liberalismo econômico (a livre troca
para sustentar e ampliar sua própria natureza exploradora, através da
associação crescente com a exploração hegemônica e universalizante
do capital externo) foi sempre apropriado e conveniente, nunca pôde,
nem sequer poderia ter aspirado a ser democrática, tem no politicismo
sua forma natural de procedimento. Politicista e politicizante, a
burguesia brasileira, de extração pela via colonial, tem na forma da
sua irrealização econômica (ela não efetiva, de fato e por inteiro, nem
mesmo suas tarefas econômicas de classe) a determinante de seu
politicismo. E este integra, pelo nível do político, sua incompletude
geral de classe. Incompletude histórica de classe que afasta, ao mesmo
tempo, de uma solução orgânica e autônoma para a sua acumulação
capitalista, e das equações democrático-institucionais, que lhe são
geneticamente estranhas e estruturalmente insuportáveis, na forma de
um regime minimamente coerente e estável. (CHASIN, 2000, p. 124)
O politicismo da burguesia é determinado por sua incompletude de classe que
decorre da debilidade do processo de inacabamento congênito do capitalismo no
Brasil. Incompletude que não deve ser confundida com fraqueza. Vemos isso
precisamente no exercício prático do politicismo, cuja missão social e eficácia material
se fundiram na própria objetividade histórica nacional:
O politicismo atua neste contexto, enquanto produto dele, como freio
e protetor. Protetor da estreiteza econômica e política da burguesia;
estreiteza, contudo, que é toda a riqueza e todo o poder desta
burguesia estreita. Efetivamente subtrai o questionamento e a
contestação à sua fórmula econômica, e aparentemente expõe o
político a debate e ao “aperfeiçoamento”. Portanto, atua como freio
antecipado, que busca desarmar previamente qualquer tentativa de
rompimento deste espaço estrangulado e amesquinhado. (CHASIN,
2000, p. 124)
Inspirado nessa última colocação, Rago Filho (2004) sublinhou a missão do
“politicismo burguês – freio e protetor de sua estreiteza econômica”, qual seja, o
“desfibramento de uma oposição consequente ancorada numa alternativa econômica
da perspectiva da lógica onímoda do trabalho” (p. 160). Missão social realizada de
fato na figura do “velho ardil do politicismo burguês, no desarme da oposição para o
enfrentamento da questão nacional, marginando a sua ação na esfera do político, no
“aprimoramento das instituições” (p. 161).
A missão social e seus efeitos práticos, bem entendidos nos termos da
apreensão materialista (PAÇO CUNHA, 2023), podem ser adequadamente extraídos da
análise de realidade do período entre 1964 e o final dos anos de 1980. Em síntese,
Verinotio
ISSN 1981 - 061X, v. 30, n. 1, pp. 352-384 – jan.-jun., 2025 | 363
nova fase