A crise que se agrava e a miséria brasileira que persiste
Numa palavra, o discurso apologético do capital torna intercambiáveis
determinações completamente diversas: a indicação abstrata e
verdadeira de que – as crises, em geral, são fontes virtuais do novo –
e a situação, completamente diversa em gênero, número e grau – de
crise estrutural do capital – que hoje perfaz a globalidade da
existência deste e de sua forma de sociabilidade.
Crise estrutural, isto é, orgânica e permanente, para a qual não há
possibilidade de superação no interior da lógica do capital, de modo
que ambas, crise e sistema, estão fundidas de modo definitivo,
condenando a sobrevivência do capital ao metabolismo crítico que na
atualidade o caracteriza. Assim, viver e sobreviver para o capital
tornou-se existir na e através da crise. De cada crise do capital não
tem brotado o novo, mas a reiteração de si próprio em figura
agigantada, de igual ou maior problematicidade. Em palavras diversas:
a reprodução ampliada do capital, contemporaneamente, reproduz a
si mesmo em proporções inauditas, ao mesmo tempo em que
reproduz em tamanho correlato sua crise constitutiva. Trata-se da
reconversão administrada da crise em meio de existência. É do que
consiste, em verdade, sua mágica: a faculdade adquirida de sustar,
através de meios econômicos e extraeconômicos (atividade estatal
incidente no cerne dinâmico da sociedade civil), a virtualidade
explosiva da crise. [...] Para efeito prospectivo, nem uma coisa nem
outra autoriza suposições precipitadas: nem que, na curva da próxima
esquina, o capital exibirá as próprias vísceras, sob o impacto de um
encontrão do seu ventre de chumbo consigo mesmo; nem, muito
menos, que com mais algum tempo, com o tempo que fosse
necessário, elaborando ainda mais seus procedimentos econômicos e
tornando mais fina e eficiente a intervenção estatal, na esfera da
produção e reprodução material do mundo, o capital, por fim,
depurado de suas contradições, alcançaria a perfectibilidade, quando
então, redimido de seu próprio mau caráter, proporcionaria a si e
democraticamente a todos a participação no mercado – nirvana, enfim,
conquistado para todo o sempre. (CHASIN, 2000b, pp. 181-2)
Chasin, portanto, advogava que a crise era resultado da própria dinâmica
“virtuosa” do capital e não de vícios que poderiam ser perfectibilizados. Esse
apontamento é fundamental pois, veremos adiante, os esforços lançados na tentativa
de reversão do quadro de estagnação não geraram quaisquer efeitos dignos de nota,
a não ser individualmente e em detrimento de outras economias.
Para precisarmos como o problema vem se agravando desde a publicação dos
últimos textos do nosso autor, podemos indicar, entre outros fatores: (I) a queda geral
do ritmo de crescimento da economia capitalista em termos globais (Gráfico 1); (II) a
queda do ritmo de recuperação pós-crise (Gráfico 1); e (III) a intensificação dos esforços
governamentais para a reversão dessa queda (Gráfico 2). Ou seja, fica claro que
independentemente do título (“crise estrutural”, “longa depressão”, “grande recessão”,
etc.), “viver e sobreviver para o capital tornou-se existir na e através da crise”.
Verinotio
ISSN 1981 - 061X, v. 30, n. 1, pp. 290-317 – jan.-jun., 2025 | 299
nova fase