Edição especial  
__________________  
A miséria brasileira  
DOI 10.36638/1981-061X.2025.30.1.753  
Via colonial, o tempo das crises e a necessidade  
um programa econômico de esquerda: socialismo  
ou a tragédia da barbárie cotidiana ainda hoje  
Colonial capitalism, the time of the crisis and the need  
for an economical program: Socialism or the tragedy of  
daily-life Barbarism still  
Vitor Bartoletti Sartori*  
Resumo:  
A
partir da investigação dos  
Abstract: Based on the investigation of José  
Chasin’s notes on the specificity of the colonial  
path of capitalism, we will briefly discuss the  
persistence of what the author from São Paulo  
called Brazilian misery. Our thesis is that the  
changes in contemporary capitalism have not  
yet been properly understood by the left due to  
subjective and objective circumstances. On the  
one hand, in Brazil, the legacy of the so-called  
São Paulo analytic remains even if in pastiche  
form as the great theoretical reference for left-  
wing positions; on the other hand, the defeats  
of the working class in recent decades have not  
been digested yet and a social agent interested  
in a substantial change of society has yet to  
emerge. As a result, the regressive nature of  
national capitalism remains untouched or, even  
worse, is now seen as one of the resolutive  
elements by the Brazilian pseudo-left and the  
result is the lack of an alternative economical  
program, the relegation of the left world view  
and the growth of the extreme-right  
perspective.  
apontamentos de J. Chasin sobre  
a
especificidade da via colonial de entificação do  
capitalismo, teceremos breves apontamentos  
sobre a persistência do que o autor paulista  
chamou de miséria brasileira. Nossa tese é a de  
que as mudanças no capitalismo contemporâneo  
ainda não foram apreendidas de modo adequado  
pela esquerda devido a circunstâncias subjetivas  
e objetivas. De um lado, no Brasil, a herança da  
analítica paulista ainda permanece mesmo que  
na forma de pastiche como o grande referencial  
teórico das posições à esquerda; de outro, as  
derrotas da classe trabalhadora nas últimas  
décadas ainda não foram digeridas e um agente  
social interessado na mudança substancial na  
tessitura da sociedade não surgiu. Com isso, a  
natureza regressiva do capitalismo nacional resta  
intocada ou, ainda pior, passa a ser vista como  
um dos elementos resolutivos por parte da  
pseudoesquerda tupiniquim. O resultado é a  
persistência da falta de um programa econômico  
alternativo, o rebaixamento das expectativas  
populares e o ganho de espaço de uma  
perspectiva de extrema-direita. Defendemos,  
assim, a ideia de que a via colonial de entificação  
do capitalismo persiste em suas determinações  
We argue that the colonial path of establishing  
capitalism  
persists  
in  
its  
essential  
determinations and has not been overcome in  
contemporary Brazil.  
essenciais  
contemporâneo.  
e
não  
é
superada no Brasil  
Keywords: Chasin; colonial path; Brazilian  
misery; politicism pastiche.  
Palavras-chave: J. Chasin; via colonial; miséria  
brasileira; pastiche do politicismo.  
* Mestre em história social pela PUC-SP, doutor em filosofia e teoria geral do direito pela USP, professor  
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: vitorbsartori@gmail.com. Orcid: 0000-0001-  
9570-9968.  
Verinotio  
ISSN 1981 - 061X Edição especial: A miséria brasileira, v. 30, n. 1 jan.-jun., 2025  
nova fase  
 
Via colonial, o tempo das crises e a necessidade um programa econômico de esquerda  
Quando a esquerda não rasga horizontes, nem  
infunde esperanças, a direita ocupa o espaço e  
draga as perspectivas: é então que a barbárie se  
transforma em tragédia cotidiana.  
J. Chasin  
Introdução: o cenário atual do Brasil e as circunstâncias de publicação de A  
miséria brasileira  
A republicação de O futuro ausente (2023) de J. Chasin pela Verinotio Livros  
trouxe as marcas das eleições de 2022. De um lado, o decurso do pleito foi marcado  
pela extrema-direita desavergonhada, que conclamou às claras o desejo de realizar um  
golpe de estado e de acabar com os resquícios dos elementos minimamente  
progressistas, decorrentes do processo de transição posterior ao fim do regime  
ditatorial bonapartista. Em meio a artimanhas das mais sujas (basta pensar na operação  
da Polícia Rodoviária Federal no segundo turno e nas cenas sobre as urnas eletrônicas),  
a direita política mostrou mais uma vez sua face bárbara e inescrupulosa enquanto  
reivindicou explicitamente o legado da repressão dos 21 anos que sucederam o 1º de  
abril de 1964. Sob um véu tosco e quase atrapalhado, e para a surpresa dos  
defensores do “estado de direito” e da “democracia” institucionalizados  
autocraticamente depois de 1985, as viúvas da ditadura ocuparam os espaços  
deixados pela esquerda nas ruas e nas instituições. Tal cenário já era visível na época,  
no entanto, ocorreu algo que pareceu contrariar tal cenário: a eleição conclamou Lula  
como presidente, e não Jair Bolsonaro.  
Por conseguinte, o que, por outro lado, vendeu-se como a alternativa civilizada  
às barbáries da extrema-direta conseguiu triunfar nas eleições. Ademais, mesmo que  
timidamente, lemas vinculados à igualdade e à justiça sociais, e não à violência  
institucional explícita, voltaram aos holofotes. A encenação do pleito de 2022 teve  
efetivamente vestes à esquerda e, também por isso, para muitos dos que apoiaram a  
frente encabeçada por Lula, o futuro não estaria mais ausente, mas poderia finalmente  
triunfar, porque a antítese e o remédio ao extremismo de direita voltariam a ter  
destaque. Consequentemente, a publicação do texto chasiniano ocorria no momento  
que parecia contradizê-lo.  
O cenário de publicação de A miséria brasileira, contudo, não é mais o mesmo  
do de 2022. O terceiro mandato de Lula contou e conta, inclusive, com o apoio das  
Organizações Globo e, ao contrário do que acontece com a extrema-direita, não possui  
como marca uma militância aguerrida e ativa. Se nas eleições foi preciso mobilizar as  
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forças de esquerda, a governabilidade do executivo converteu os lemas da esquerda  
política em moderação, tolerância, democracia e responsabilidade (fiscal). Em teoria –  
uma teoria frágil certamente , tratar-se-ia de bandeiras cuja força estaria em apartar  
as instituições democráticas do canto da extrema-direita e de qualquer posição  
ligeiramente antiliberal no campo da economia. Ou seja, a estratégia perfeita para a  
derrota da extrema-direita passou a assentar-se no absurdo da abdicação de quaisquer  
posições econômicas minimamente ligadas à esquerda. À vista disso, o que foi  
defendido na esfera pública e, principalmente, na campanha eleitoral foi imediatamente  
contradito ou, ao menos, temperado com o receituário mais ortodoxo da micro e da  
macroeconomia. Por essa razão, o remédio oposto ao avanço da extrema-direita  
também conta com um jogo de cena, no mínimo, dúbio, mas, para os mais bem-  
avisados, já esperado e verdadeiramente farsesco.  
Diante dessa situação, vale perguntar: qual é esse remédio defendido pelo  
lulismo? Que antítese é advogada pelo petismo? Subjacente a esses questionamentos,  
está a natureza da oposição ao avanço da extrema-direita e, em verdade, a primeira  
constatação é a de que a antítese a essa posição política não foi o questionamento  
substantivo das relações sociais capitalistas. Consequentemente, tal qual quando  
Chasin escreveu O futuro ausente, a esquerda está morta. Trata-se de uma suposta  
antítese ao bonapartismo que não consegue questionar, mesmo que minimamente, a  
ordem e os imperativos do capital.  
Tudo fica pior quando a percepção da “frente” que apoia o terceiro governo  
Lula nem sequer pode se colocar à esquerda. E ela, cada vez mais, deixa de reivindicar  
tal identidade. A suposta antítese direta à extrema-direita, na prática, foi a direita, a  
reconciliação com as forças do atraso, com os apoiadores das Organizações Globo e  
com um judiciário conservador. A chamada “terceira via” entre Lula e Bolsonaro,  
conclamada pela mídia oligopolista, são os próprios Lula e o petismo, temperados pela  
política econômica do ex-professor Haddad e pelo ex-tucano, e agora grande  
camarada, Alckmin.  
A efetividade das vestes de esquerda, com as quais se venceu as eleições de  
2022, é a realização pueril de tarefas burguesas tipicamente ligadas à direita. Como  
mencionamos em nossa análise sobre o Pastiche do politicismo(2023), na forma de  
pastiche, a luta contra a dependência, o autoritarismo, a marginalidade, o populismo,  
contra a desigualdade etc. pareceu poder ser encaminhada depois de seis anos dos  
governos Temer e Bolsonaro. Nesse cenário, para parte substancial da autoproclamada  
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esquerda, o remédio definitivo para a situação delicada de crise social remédio este  
que apareceu no ideário político que mobilizou as eleições seria repetir as mesmas  
palavras de ordem do momento pré-1964. Formados sob a ideologia uspiana da  
analítica paulista e sem qualquer desenvolvimento teórico posterior, o petismo  
procurou insistir em suas origens intelectuais, pois não pode evoluir intelectualmente.  
Para não mencionar os problemas mais óbvios a que essa suposta solução dá ensejo  
e que já abordamos em nosso texto acima referenciado, basta dizer que as doses e a  
roupagem dessas visões de mundo já foram abrandadas em muito pelo governismo e  
pelo lulismo, e o resultado foi a desidratação daquilo conhecido como analítica paulista  
e que, como estipulou, entre outros, Antonio Rago Filho em seu texto A filosofia de  
José Arthur Giannotti(2008), foi essencial e fundamentalmente adstringido.  
Hoje, a proclamação de ideias progressistas já não ocorre no campo econômico  
ou no desenvolvimento minimamente participativo de movimentos sociais e da  
militância governista. Depois de dois anos de governo, os ideais liberal-democráticos,  
por sua vez, já vêm a reboque de uma política econômica fortemente conservadora e  
ortodoxa.  
Em sequência, e ironicamente, a morte da esquerda nem sequer é vista como  
um exagero pelos governistas mais cínicos. Em última análise, ela passa a ser um lema  
das alas mais tecnocráticas do governo, e mesmo do presidente, que proclamam a  
responsabilidade fiscal e uma concepção putrefata de democracia como a base do  
combate à extrema-direita. Tal qual estipulou Chasin em O futuro ausente e em A  
miséria brasileira, o novo continua pagando tributo ao velho e a reconciliação pelo alto  
dá a tônica do processo de desenvolvimento do capitalismo brasileiro. Dessa forma,  
há algo de cínico, que já estava presente nos dois primeiros governos Lula, mas que  
se fortalece agora significativamente: as ilusões do (neo)desenvolvimentismo são  
abandonadas sem qualquer ideário explícito e consciente para substituí-las. Ou seja,  
passa a ser inquestionável que as eleições de 2022 foram um jogo de cena e não resta  
possibilidade de o discurso equivocado da esquerda anterior a 1964 fazer algum  
sentido que não seja farsesco e colocado na forma de pastiche ainda hoje, quando  
se encontra em estado avançado de putrefação.  
Que a superioridade do que Chasin (2000; 2001) chamou de quadrúpede  
teórico seja evidente diante da ausência completa de teorização por parte dos petistas  
atuais é algo óbvio. Porém, tal constatação não é argumento para a retomada de algo  
que somente condiz com as ilusões já perdidas de uma esquerda em crise. A diferença  
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de sofisticação e de requinte entre os teóricos de ontem e de hoje escancara que as  
peculiaridades do capitalismo nacional ainda não foram apreendidas com o devido  
cuidado pelos ideólogos da pseudoesquerda. E, também por isso, a republicação das  
análises políticas chasinianas sobre o Brasil de seu tempo pode ser fundamental.  
Por isso, pretendemos justamente demonstrar que A miséria brasileira fornece  
um aparato categorial ainda rico para a compreensão e a crítica da situação do Brasil  
atual. Ademais, explicitaremos que o resultado da incompreensão prática e teórica da  
especificidade do capitalismo brasileiro é a infeliz atualidade de O futuro ausente.  
Quando a morte da esquerda e o cadáver insepulto da pseudoesquerda,  
criticados fortemente por Chasin (2023; 2001), apareceram como um pastiche (cf.  
SARTORI, 2023), um requisito para a atividade crítica é uma teoria digna de tal nome.  
No entanto, ávido por fazer frente à extrema-direita, o governismo defende a si mesmo  
como a única alternativa possível e desejável e, dessa maneira, qualidades  
programáticas ou teóricas necessárias ao campo da política tornam-se relíquias de  
puristas e, diriam mesmo alguns, de esquerdistas. Por conseguinte, longe de rasgar  
horizontes, a autoproclamada esquerda não traz perspectivas e posições claras e passa  
a se confundir com seus inimigos de outrora, por vezes literalmente, como no caso do  
respeitável Geraldo (Camarada) Alckmin.  
O quociente dessa equação é que ao lado da tragédia cotidiana da vida no  
capitalismo de extração colonial está a farsa de posições políticas supostamente à  
esquerda, que se pretendem gestoras do capital atrófico, ao mesmo tempo em que se  
curvam diante de seus imperativos. Sem qualquer programa econômico alternativo, o  
ex-professor Fernando Haddad é um amigo do agro e das mineradoras, os quais, por  
seu turno, perfazem duas das alas menos fisiológicas favorecidas pela política  
econômica de um governo com tantas relações temerárias com conglomerados  
econômicos. Se Chasin (2000) foi muito claro quando afirmou que não havia qualquer  
programa econômico alternativo nas eleições de 1989, de 1994 e de 1998, o que se  
constata é a continuidade desse vácuo ainda hoje. A consequência é que a direita  
prolifera nesse espaço e draga as perspectivas minimamente progressistas.  
Acreditamos que, diante desse cenário desolador, deve-se apreender o que  
efetivamente precisa ser superado e, pelo que mencionamos, não se trata de  
marginalidade, autoritarismo, dependência, populismo. A via colonial para o  
capitalismo e a consequente incompletabilidade do desenvolvimento autóctone da  
economia nacional persistem e a compreensão sobre a miséria brasileira e suas bases  
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Via colonial, o tempo das crises e a necessidade um programa econômico de esquerda  
sociais e ideológicas, há, novamente, de ser destacada para que seja possível explicitar  
a miséria e a barbárie das facetas do capitalismo contemporâneo no Brasil.  
Sobre a impossibilidade do esquematismo, a necessidade do reconhecimento  
das derrotas da esquerda e o tempo das crises  
A derrota das forças progressistas necessita receber os devidos reconhecimento  
e atenção. Por um lado, a autocrítica fundamenta tal necessidade. Por outro, não há  
quaisquer oblívios quanto à imprescindibilidade de lutas defensivas diante do avanço  
dos imperativos capitalistas e, em especial, da extrema-direita. Por essa razão, a defesa  
de direitos trabalhistas básicos diante da contrarreforma trabalhista, a crítica ao  
sucateamento do sistema básico de saúde, a defesa de educação de qualidade, a  
devida punição àqueles envolvidos em tentativas de golpe de estado, dentre outras  
lutas, possuem importância para que a barbárie cotidiana não avance violentamente.  
Com isso, afirmamos algo que deveria ser óbvio: é impossível abandonar o terreno das  
lutas políticas cotidianas, embora seja inviável recusar-se a superar a imediaticidade  
dessas lutas e a teorizar com rigor sobre as bases materiais e ideológicas sobre as  
quais elas se assentam.  
Dificuldades e percalços são inerentes às lutas sociais e ao entendimento das  
relações sociais que lhes dão fundamento. Os meandros dos embates classistas (aqui  
também, por óbvio, presentes as vicissitudes de questões vinculadas a raça e gênero)  
apontam para o caráter complexo e multifacetado dos embates diuturnos, os quais  
ocorrem em um pano de fundo específico, um modo de produção em crise. Com isso,  
há dois extremos que necessitam ser evitados. Em primeiro lugar, deixar de lado as  
nuances das lutas cotidianas em favor da oposição central ao modo de produção  
capitalista, aquela entre trabalho e capital, significa abraçar uma solução rústica. No  
entanto, igualmente problemático é enxergar os embates diuturnos entre os diversos  
indivíduos e grupos sociais sem se ater à mencionada oposição fundamental. Tal  
posição redunda em uma apreensão apressada da realidade social. Como resultado,  
as especificidades do capitalismo contemporâneo, da entificação e desenvolvimento  
desse capitalismo no Brasil, bem como dos rumos da formação social brasileira e da  
via colonial de entificação do capitalismo estão perpassadas por classe, raça, gênero,  
na medida em que se articulam em torno de um tempo específico do sistema capitalista  
de produção, um tempo de crises. Por conseguinte, os temas que elencamos acima,  
dentre eles a derrota e a morte da esquerda, remetem a essas dimensões, articuladas  
na figura mais contemporânea do capitalismo mundial, que, obviamente, necessita ser  
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compreendida com rigor.  
Há, contudo, dificuldades nessa empreitada e elas se vinculam tanto à  
articulação da diversidade de determinações ao momento preponderante da  
reprodução do ser social quanto ao entendimento da anatomia das próprias relações  
econômicas. Se foi possível pensar com Lênin (2005) o imperialismo, com Mandel  
(1985) o capitalismo tardio, as teorizações enfocadas nas novas tecnologias como as  
de Schaff (1990) e de Lojkine (2002) fazem sucesso e dão a tônica do debate  
contemporâneo ao mesmo tempo em que estão maculadas por certa ânsia em dar a  
resposta definitiva (por vezes, simplista) sobre o capitalismo contemporâneo e sobre  
a crise do assim chamado socialismo real. Assim, ousamos dizer que parte das razões  
teóricas da crise das posições à esquerda está na mencionada ânsia e na adoção de  
teorizações apressadas e superficiais.  
Não nos equivoquemos: logicamente, é premente apreender as determinações  
do capitalismo contemporâneo. Entretanto, a apropriação reta das determinações do  
real depende tanto de uma bagagem intelectual adequadamente compreendida e  
atualizada quanto de algo que escapa à simples vontade política, a saber, da  
“emergência de um agente social interessado em subverter muito mais do que as  
simples mazelas da falsa esquerda” (CHASIN, 2001, p. 26). Consequentemente, os  
descaminhos e a crise da esquerda decorrem tanto de falhas organizativas e teóricas  
quanto de uma condição social objetiva, em que a crise do capitalismo é acompanhada  
da crise daquilo que alimentou a esquerda revolucionária do século XX, a saber, o  
marxismo mais ou menos vulgar e o obreirismo centrados no proletariado fabril da  
grande indústria.  
Que fique claro, não defendemos qualquer fim da história, adeus ao  
proletariado ou imobilismo político. Como disse Chasin, não é o fim dos tempos, mas  
é o tempo das crises” (CHASIN, 2012, p. 60). O capitalismo está em crise e o  
crescimento da extrema-direita expressa um sintoma dessa situação, em que parcelas  
do proletariado passam a apoiar indivíduos como Trump e Bolsonaro. Mais do que  
nunca a necessária luta política não pode se alimentar das mesmas ilusões de outrora,  
sejam elas de uma espécie de marxismo adstringido, de um desenvolvimentismo ligado  
à Cepal ou do marxismo vulgar marcado pelo culto do proletariado industrial.  
Entretanto, nesse contexto, há outro elemento dificultador, que se encontra no fato de  
que a perda dessas ilusões tanto abre horizontes quanto congrega o cinismo da  
extrema-direita e a permanência do comportamento farsesco do cadáver insepulto da  
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pseudoesquerda.  
Tal situação, de certo modo, abre o caminho para uma apreensão não ilusória  
da real condição do presente, em que a crise é uma constante. Nesse contexto,  
respostas simples e esquemáticas, trazidas pelo baixo clero acadêmico, partidário ou  
militante constituem “o império do baixo nível”, que “é o reino da contrarrevolução.  
E, com isso, complementa Chasin, “não se faz respeitar pelos adversários, não se impõe  
aos inimigos e simplesmente ilude a militância despreparada” (CHASIN, 2001, p. 49).  
Em outras palavras, a dubiedade do presente figura na simultânea abertura para o  
novo e manutenção enérgica, violenta e brutal do velho, em especial, com o reforço  
da extrema-direita.  
Ademais, a fórmula mais acabada para derrotas suplementares está no  
esquematismo e no ímpeto, que mencionamos acima, em que, na grande maioria das  
vezes, as concessões às posições burguesas é a estratégia para conter a extrema-  
direita. A autoproclamada esquerda tanto realiza o trabalho da direita política quanto  
revigora da pior maneira possível o politicamente velho. E, como já advertimos com  
Chasin, “quando a esquerda não rasga horizontes, nem infunde esperanças, a direita  
ocupa o espaço e draga as perspectivas: é então que a barbárie se transforma em  
tragédia cotidiana” (2000, p. 287). Nesse sentido, não basta a consciência sobre o  
tempo das crises, pois é preciso explicá-las e apreender as derrotas da própria  
esquerda como constitutivas desse tempo.  
J. Chasin, na contramão do catastrofismo de autores como Kurz (2001) e  
Mészáros (2002), e de modo muito diverso da nova esquerda, reconhece as  
dificuldades elencadas e estabelece um ponto de partida interessante em A miséria  
brasileira:  
Viver e sobreviver para o capital tornou-se existir na e através da crise.  
De cada crise do capital não tem brotado o novo, mas a reiteração de  
si próprio em figura agigantada, de igual ou maior problematicidade.  
Em palavras diversas: a reprodução ampliada do capital,  
contemporaneamente, reproduz a si mesmo em proporções inauditas,  
ao mesmo tempo que reproduz em tamanho correlato sua crise  
constitutiva. Trata-se da reconversão administrada da crise em meio  
de existência. (CHASIN, 2000, pp.181-2)  
Antes de qualquer outra coisa, a problematicidade do modo de existência do  
capital perfaz seu próprio conceito, que, como estipulou Marx (2013), demanda uma  
existência vampiresca e que tem como negativo a crise, como bem argumentou Jorge  
Grespan (2012). Não há nada absolutamente de novo em ressaltar a problematicidade  
do capital.  
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Subjacente a tal caráter problemático, entretanto, sempre esteve certo avanço,  
pois, nos seus elementos mais básicos, a relação-capital encaminha o desenvolvimento  
de forças produtivas tendo em sua retaguarda o incremento de capacidades humanas,  
mesmo que de modo estranhado. Classicamente, esse incremento, por seu turno,  
vincula-se ao desenvolvimento do novo, expresso na figura de uma classe capaz de  
subverter a própria ordem do capital ao passo que, para tanto, não prescinde de  
superar sua própria existência estranhada, o moderno proletariado. Sinteticamente, o  
caráter contraditório da existência da forma econômica do capital constitui-se  
enquanto, mesmo em seus elementos mais abstratos, a relação-capital encaminha  
possibilidades que indicam a sua supressão futura. O capital tanto vilipendia a natureza  
e o trabalho quanto propicia condições para que esse aviltamento cesse com o devir  
de um modo de produção distinto.  
O que Chasin destaca como crise na passagem acima constitui-se além dos  
elementos trazidos por Marx no Livro I de O capital, embora também os pressuponha.  
Em verdade, a propositura chasiniana avizinha-se tanto do que Marx e Engels (2007)  
destacaram em A ideologia alemã quando defenderam a ideia de que as forças  
produtivas se transformariam em forças destrutivas quanto do que é estudado no  
Livro III (2017), em que se estipula que a missão histórica do modo de produção  
capitalista (o avanço das forças produtivas) deixa de ser cumprida pela entificação da  
relação-capital depois de determinado momento. Ainda sobre o estudo de O capital,  
a referência chasiniana à reprodução ampliada não prescinde do estudo do Livro II  
(2015) e, posteriormente, dos debates de autores como Rosa Luxemburgo (1970). Ou  
seja, o entendimento de que “viver e sobreviver para o capital tornou-se existir na e  
através da crise” (CHASIN, 2000, p, 181) demanda a compreensão do “todo artístico”  
que a obra magna de Marx perfaz e leva aos embates sobre a reprodução ampliada.  
Nesse sentido, ainda hoje, a obra marxiana é de uma atualidade retumbante quando  
se busca apreender o sentido do tempo das crises.  
Há, todavia, novidades que caracterizam o tempo presente e ainda demandam  
estudos suplementares. A fim de assimilar as determinações do capitalismo  
contemporâneo, urge explicar por que “de cada crise do capital não tem brotado o  
novo, mas a reiteração de si próprio em figura agigantada, de igual ou maior  
problematicidade” (CHASIN, 2000, p. 180); ao que nos parece, não obstante muitos  
esforços louváveis, isso não tem sido feito de modo suficientemente cuidadoso e  
aprofundado.  
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Para remetermos a autores que fundamentam o debate marxista do presente,  
seguidores de Kurz tendem a enfocar unilateralmente o Livro I de O capital e, não raro,  
caem em catastrofismo e em respostas quase tautológicas sobre a autovalorização do  
valor. Mészáros (2002), por um caminho distinto, enuncia uma crise estrutural do  
capital, não raro, como uma espécie de crise terminal. Assim, por vezes, tais autores  
reafirmam o caráter essencialmente contraditório do capital sem abordar temas  
concretos como queda da taxa de lucro, reprodução ampliada do capital, desequilíbrio  
entre os departamentos I e II, oposição entre preço e valor, duplicação existente entre  
titularidade jurídica e posse efetiva da propriedade, capital fictício, dentre outros. No  
caso de Mészáros, são escassas as remissões a dados e, recorrentemente, seus  
enunciados tornam-se petições de princípio para que desenvolva “leis” cuja  
comprovação precisaria de muito estudo, como a “lei da taxa de uso decrescente”.  
Kurz e Mészáros, portanto, realizam algo muito importante quando não abandonam a  
necessidade de superação do capitalismo e do estado, também quando remetem à lei  
do valor. Contudo, parece haver pressa em demasia ao oferecer uma teoria  
sistematizada sobre a atual configuração do domínio do capital.  
Sob outra ótica, e geralmente amparados nos estudos de Baran e Sweezy,  
mesmo que de modo remoto, autores como Bellamy Foster e Fred Magdoff (2009)  
tratam de temas mais concretos, como os mencionados acima, usualmente, com uma  
posição que secundariza a teoria do valor marxiana em prol do tratamento da crise  
econômica por meio do conceito keynesiano de demanda efetiva. Assim, sobressai  
certa parcialidade e, até onde conhecemos, incapacidade de uma análise conjunta dos  
elementos da crise do capitalismo contemporâneo. O que há de novo, a reiteração do  
capital em crise, deixa de ser apreendido em seus elementos propriamente  
contraditórios, ou seja, que permitam, inclusive, a superação de sua base constitutiva.  
Em verdade, por mais interessantes que possam ser os estudos mencionados, eles  
enfatizam elementos como a financeirização e o endividamento tal qual autores como  
Chesnais (1996) e Toussant (2002) , de maneira menos articulada que o necessário  
com os outros elementos concretos mencionados, com a lei do valor e com a  
especificidade do sistema capitalista contemporâneo1.  
Como já mencionamos, isso certamente transcorre porque existem lapsos  
organizativos e teóricos no próprio marxismo de hoje. Tais insuficiências podem e  
1
Os autores e posições que mencionamos aqui são exemplificativos e não pretendemos, ou julgamos  
ter a capacidade de, realizar uma análise pormenorizada dos economistas marxistas contemporâneos.  
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devem ser trabalhadas. Contudo, o elemento não volitivo e constitutivo do ser-  
propriamente-assim do presente precisa da devida notoriedade: como defendeu  
Chasin (2023) em O futuro ausente, a maturação das relações sociais de produção  
contemporâneas talvez não tenha propiciado o surgimento de um agente social  
interessado na subversão efetiva do capitalismo em sua figura bárbara e cotidiana. Os  
horizontes do presente ainda não estão claros teórica e praticamente, de tal maneira  
que o reconhecimento das derrotas do passado e do tempo atual é uma precondição  
para o desvelamento do porvir futuro.  
Teorizações interessantes certamente estão disponíveis, não há dúvidas. Não  
obstante, se formos forçar um pouco as tintas, podemos dizer que não deixa de haver  
certa oscilação entre uma posição que visa à administração benfazeja das crises  
capitalistas e um utopismo corajoso, mas abstrato. Diante da impossibilidade imediata  
da resolução das contradições do modo de produção capitalista, chegam-se às falsas  
soluções, as quais incapacitam a apreensão crítica e iludem a disposição prática dos  
agentes sociais capazes de questionar a imediatidade da tragédia e da farsa cotidianas.  
Há, pois, retroalimentação trágica entre crise da esquerda e ausência de um agente  
social interessado.  
Dessa maneira, a reprodução da crise constitutiva do capital permanece e as  
crises mais concretas o reiteram de modo agigantado. E, no campo político e mesmo  
sem uma orientação teórica clara, a pseudoesquerda pretende justamente administrar  
a crise.  
Os que se colocam corajosamente ao lado da esquerda (ou seja, na defesa da  
necessidade de suprimir o sistema capitalista de produção) também estão destituídos  
de uma compreensão global do capitalismo contemporâneo e, assim, somente têm  
buscado soluções meramente verbais e, no limite, nominalistas. De ambos os lados,  
parece que quanto mais alto se esbravejam motes mais ou menos progressistas, como  
justiça social, desenvolvimento sustentável ou revolução social e socialismo, mais  
chance parece haver de tais ideais se tornarem efetivos. Verdadeiramente, as posições  
à esquerda ou de esquerda correm o risco de encamparem o idealismo contra o qual  
tanto Marx lutou.  
Sem uma compreensão da natureza e da extensão das crises contemporâneas,  
não há como se posicionar resolutivamente e não existe a mínima possibilidade de  
responder à velha e ainda atual pergunta: que fazer para solapar de vez o domínio do  
capital?  
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A teorização chasiniana não resolve os problemas da esquerda, certamente.  
Aqueles que pretendem seguir sua trilha (como nós) estão sem respostas também, por  
óbvio. É premente que reste claro: somos parte da crise da esquerda, e não uma  
solução pronta para ela. O tempo das crises não é uma época de certezas e de fórmulas  
prontas, mas de autocrítica, de luta e do reconhecimento das insuficiências de nossas  
posições.  
Estamos, contudo, na época em que parte considerável dos intelectuais parece  
precisar de algo a se apegar, não para rasgar horizontes, mas para bater no peito e  
esbravejar velhas certezas desgastadas. Autores célebres como Losurdo (2010) com  
sucesso de público tentaram revitalizar a figura de Stálin, por exemplo. Ademais,  
hoje, não só se tem uma análise sobre a mudança do centro gravitacional da economia  
mundial em direção à China, como em Arrighi (2008). Autores prestigiados como Elias  
Jabbour (2021) defendem, em verdade sem remeter minimamente às condições de  
vida e de labor da classe trabalhadora chinesa, a ideia de que a China fornece o modelo  
para o socialismo do século XXI. Eles são bastante claros quando procuram apegar-se  
à posição segundo a qual “é evidente que o socialismo com características chinesas é  
considerado por políticos e acadêmicos de todos os quadrantes políticos a encarnação  
de uma possível alternativa progressista ao capitalismo do século XXI” (JABBOUR;  
GABRIELE, 2021, p. 243).  
Sobre o assunto, não entraremos em detalhes, ou tentaremos refutar conceitos  
(que julgamos profundamente problemáticos) como “metamodo de produção”,  
“centralidade ontológica do princípio da cooperação na natureza”, “socialismo de  
mercado”, “economia de projetamento”. Dizemos apenas que a conciliação de  
desenvolvimentismo e socialismo proposta por Jabbour, e incorporada por outros, é  
um exemplo daquilo que achamos ser uma reiteração das posições que decididamente  
precisam ser superadas.  
Por essas razões, acreditamos que a denúncia de ilusões, hoje inaceitáveis, é  
um passo importante. Por conseguinte, é vital o reconhecimento da derrota das  
esquerdas e da necessidade de sólida fundamentação teórica com a finalidade de que  
as práticas subversoras das relações sociais contemporâneas voltem à ordem do dia.  
A defesa da China, por exemplo, sob a premissa de combater conscientemente  
“intuições idealistas” (JABBOUR; GABRIELE, 2021, p. 243), traz uma posição que, pelo  
que vemos, é problemática:  
Choca-se, em certa medida, com uma das mais ilustres tradições dos  
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movimentos progressistas: aquela que gira em torno da centralidade  
da categoria da liberdade uma tradição enraizada em boa parte da  
obra do próprio Marx. No entanto, o movimento da classe  
trabalhadora internacional (em relação ao socialismo como sistema)  
não está mais em sua infância. Devemos, portanto, evitar repetir  
noções prometeicas injustificadas, e nos ater a certo grau de  
pragmatismo. (JABBOUR; GABRIELE, 2021, p. 243)  
Jabbour e Gabriele fazem justamente o oposto do que dizemos ser necessário.  
A partir da valorização do “socialismo de mercado” e da premissa da compatibilidade  
entre socialismo e lei do valor, os autores procuram salvar uma sorte de socialismo de  
acumulação. A reconciliação com o mercado e a relação tranquila com uma espécie de  
acumulação primitiva socialista algo profundamente problematizado pelos teóricos  
soviéticos da década de 1920, como Pachukanis (2017) e Preobrazhensky (1971) –  
passa a ser uma premissa de aceitação quase técnico-econômica. E, dessa maneira,  
não só as derrotas da esquerda não são apreendidas. Em verdade, o que há de mais  
problemático passa a ser um ponto de partida para “uma possível alternativa  
progressista ao capitalismo do século XXI” (JABBOUR; GABRIELE, 2021, p. 243). O  
preço de tal empreitada, inclusive, é assumido cinicamente: o abandono da  
“centralidade da categoria liberdade”.  
Também nesse sentido, para tais autores, a busca pelo renascimento do  
marxismo não teria serventia, primeiramente, porque isso levaria a certo apego a  
“intuições idealistas”; em segundo lugar, Marx seria culpado por estar envolvido na  
tradição que pasmem valoriza como algo essencial a categoria da liberdade. Ao  
fim, com os defensores do “socialismo de mercado”, deparamo-nos com uma aposta  
no mercado, na lei do valor e na crítica à igualdade e, se isso efetivamente configura-  
se como o socialismo do século XXI, é lícito dizer que há semelhanças gritantes com o  
capitalismo e com a reprodução do politicamente velho e putrefato. Em verdade, a  
apologia do mercado, do valor e da não-liberdade é o que vem caracterizando a  
reiteração das bases sociais do capitalismo em crise e Jabbour e Gabrielle são pródigos  
nessa apologia. A tragédia da barbárie cotidiana, no melhor dos casos, é pintada com  
tintas róseas.  
Sem diminuir a importância e o relevo das resistências e da defesa contra o  
avanço bárbaro do capital em sua forma estadunidense, podemos dizer que assumir o  
fracasso retumbante da luta socialista nas últimas décadas, em verdade, deveria ser o  
primeiro passo em um momento como o que vivemos. Quando nos vemos  
administrando crises capitalistas, para que se retome o mote chasiniano, “a esquerda  
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não rasga horizontes e nem infunde esperanças” (CHASIN, 2000, p. 287). Proclamar  
apressadamente novos horizontes, apegando-se seletivamente àquilo que se  
apresenta na imediaticidade ou sem saber quais são ou podem ser as possibilidades  
reais para o futuro, leva ao idealismo e, em última instância, ao nominalismo  
estapafúrdio, como “socialismo de mercado”. Nós, por outro lado, concordamos com  
Chasin quanto à imprescindibilidade da crítica ao “socialismo real” e “de mercado”:  
Por isso o “socialismo real” é a falsificação política do socialismo, o  
velamento politicista da inviabilidade material da revolução social.  
Hoje, reduzido objetivamente a frangalhos, mas politicamente  
reafirmado em sua “reestruturação”, bloqueia as aspirações socialistas  
pela monstruosidade de suas façanhas políticas. (CHASIN, 2000, p.  
199)  
Diante da “reconversão administrada da crise em meio de existência” (CHASIN,  
2000, p. 182), simplesmente assumir a gestão do modo capitalista de produção  
significa não propor qualquer programa econômico que tensione as bases da produção  
capitalista.  
Fingir que não existe a crise da própria esquerda e das perspectivas  
revolucionárias é um equívoco reflexo, que, como tal, redunda em duas vertentes: uma  
espécie de consciência infeliz que toma por base os arranjos produtivos do capital e,  
de outro lado, um “certo grau de pragmatismo” (JABBOUR; GABRIELE, 2021, p. 243)  
supostamente socialista “de mercado” em detrimento do caráter prometeico da  
liberdade.  
As posições da pseudoesquerda e da esquerda, portanto, passam longe de  
rasgar horizontes e o resultado é que “a direita ocupa o espaço e draga as  
perspectivas: é então que a barbárie se transforma em tragédia cotidiana(CHASIN,  
2000, p. 287). Acreditamos que o reconhecimento desses aspectos é fundamental na  
retomada de um projeto emancipatório digno de tal nome e que consiga questionar  
as bases da relação-capital.  
Ainda sobre a persistência da miséria brasileira e da via colonial do  
capitalismo  
O que György Lukács (1999) afirmou no final de sua vida, infelizmente, continua  
atual: são raros aqueles que apreenderam de modo correto o pensamento de Marx e,  
por isso, é imprescindível defender o renascimento do marxismo, inclusive, a partir do  
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estudo dedicado dos textos marxianos2. Porém, não basta compreender a obra do  
autor alemão cuidadosamente, dado que tentar a transpor sem mediações para a  
realidade de nossa época é desconsiderar a própria historicidade do ser social. Fazê-  
lo seria de um esquematismo desprezível que transformaria o pensamento de Marx  
em um monumento acabado e fechado. Portanto, também urge ir além da obra  
marxiana e dos clássicos do marxismo (Lukács e, permitimo-nos dizer, Chasin em solo  
nacional, inclusos) para que se apreendam as especificidades, potencialidades e limites  
do momento presente.  
Pelo que estipulamos, não obstante estudos interessantes e, cada um sob  
aspectos distintos, proveitosos, essas tarefas ainda não foram suficientemente  
realizadas objetivando a adequada apropriação das determinações do presente, do  
tempo das crises. O resultado é que estamos muito aquém da obra marxiana quando  
seria preciso avançar em relação a ela. E um dos aspectos decisivos quanto a esse  
ponto é a explicitação das peculiaridades do modo de produção capitalista em cada  
formação social.  
Marx abordou a miséria alemã e a particularidade de países como França,  
Inglaterra, Estados Unidos, Polônia, Rússia, China, Índia dentre outros. No século XX,  
Lênin e Lukács sistematizaram o estudo da via prussiana para o capitalismo e a análise  
desses autores ainda é essencial. Porém, ao abordar o Brasil, é preciso ir além desses  
estudos.  
Admitir as dificuldades e as irresoluções contemporâneas também é decisivo  
caso se pretenda avançar minimamente na compreensão da situação do Brasil  
contemporâneo. No plano político, o país passou do bonapartismo da ditadura de  
1964 para a autocracia burguesa institucionalizada na Nova República e tal processo  
envolve inúmeros meandros. Por exemplo, ao abordar o trajeto de Lula, Chasin diz  
sobre o atual presidente se tratar de um “líder, hoje consagrado, o primeiro de toda  
história sindical brasileira a presidir assembleias de quase uma centena de milhar de  
operários(CHASIN, 2000, p. 82). O filósofo paulista também diz que, nas greves de  
1978-79, houve passos decisivos que, ao fim, tocavam o próprio solo da produção,  
as bases do assim chamado milagre brasileiro e traziam à tona elementos novos que,  
2 Como também defende Chasin, “a obra marxiana é imortal, a não ser que as possibilidades do homem  
já estejam definitivamente extintas. Do contrário, se resta alguma esperança e resta , há que  
compreender que a guerra marxiana ao capital é a luta irrenunciável pelo homem” (CHASIN, 2000, p.  
204).  
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ao fim, poderiam eventualmente colocar em xeque a própria constituição híper-tardia  
do capitalismo nacional. Ou seja, a organização da classe trabalhadora foi essencial na  
derrubada da ditadura, assim como foi vital o surgimento do novo sindicalismo e da  
liderança de Luiz Inácio Lula da Silva.  
Hoje, porém, em seu terceiro mandato presidencial, Lula que recentemente  
foi alvo de um plano do Exército e dos aliados do ex-presidente Bolsonaro para  
assassiná-lo reconcilia-se justamente com os militares e é um dos principais políticos  
a incentivar a negociação com os elementos mais retrógrados da economia e da  
política nacionais.  
Em suma, um grande líder das massas operárias, juntamente com seu partido  
político, tornou-se um dos artífices da reconciliação pelo alto e, assim, para que  
remetamos às palavras de Chasin, “verifica-se, para usar novamente uma fórmula muito  
feliz, nesta sumaríssima indicação do problema, que o novo paga alto tributo ao velho”  
(CHASIN, 2000, pp. 43-4). A mesma pessoa que figurou como o líder do movimento  
capaz de questionar substantivamente as raízes da miséria brasileira, hoje, reforça-a  
de modo farsesco e sem pudores.  
Para que não restem dúvidas sobre a importância das greves de 1978-79, veja-  
se:  
E se já houve, em outros tempos, greves maiores que as do ABC, e  
mais abrangentes, nunca dantes um processo grevista significou tanto  
e tão profundamente a materialização do advento do historicamente  
novo. Deixam, os que banalizam as greves como fenômenos  
corriqueiros, de captar precisamente o que mais importa: a direção  
para a qual aponta e concretamente se dirige o movimento das massas  
trabalhadoras o derrube do arrocho, a construção da democracia,  
entendida como configuração substantiva, verdadeiro alvo estratégico  
das maiorias brasileiras. Pois o objetivo das massas trabalhadoras não  
está simplesmente em forçar que o regime ultrapasse, nesta ou  
naquela oportunidade, os índices dos reajustes salariais do arrocho.  
O que lhes interessa é que todo o “modelo” caia; vale dizer que a  
presença e a luta dos trabalhadores demandam a recomposição  
completa da equação do sistema produtivo brasileiro. (CHASIN, 2000,  
pp. 100-1)  
O processo grevista de 1978-79 propiciava a potencialidade do advento do  
historicamente novo. E, como vimos, isso não é pouco. Em verdade, caso o ímpeto das  
greves tivesse tido um impulso político persistente relacionado à subversão do  
“modelo brasileiro”, a miséria brasileira poderia estar, em parte substancial,  
ultrapassada.  
Ademais, a “recomposição completa da equação do sistema produtivo  
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brasileiro” (CHASIN, 2000, p. 100) necessitava efetivamente de um programa  
econômico teórica e praticamente bem fundamentado, bem como de uma estratégia  
política concatenada corretamente de acordo com a apreensão reta das especificidades  
nacionais da formação social capitalista brasileira. A reconciliação do novo com o velho  
estaria posta em questão, de um lado, devido à existência de um agente social  
interessado na subversão das bases produtivas nacionais; de outro, a partir da possível  
apreensão do movimento e das contradições do capital, bem como das possibilidades  
objetivas que daí surgem e que, ao fim, sinalizariam para a própria superação da  
miséria brasileira e, consequentemente, do modo de entificação do capitalismo  
tupiniquim3.  
Como vimos, contudo, a reconciliação do velho com o novo venceu e ainda tem  
vencido. Em última instância, mesmo que com inúmeras mediações e meandros, isso  
passou pelas mãos do mesmo homem, que exerceu funções antagônicas, Lula.  
Ademais, em oposição com os países de via clássica do capitalismo, não houve  
conjunção entre democracia, desenvolvimento burguês e unificação nacional. Como  
consequência, a via de entificação do capitalismo no Brasil não é a clássica, mas  
conjuntamente com a via prussiana, pode ser alocada na categoria das vias não-  
clássicas de desenvolvimento do capital.  
Sinteticamente, a via prussiana do desenvolvimento capitalista aponta  
para uma modalidade particular desse processo, que se põe de forma  
retardada e retardatária, tendo por eixo a conciliação entre o novo  
emergente e o modo de existência social em fase de perecimento.  
Inexistindo, portanto, a ruptura superadora que de forma difundida  
abrange, interessa e modifica todas as demais categorias sociais  
subalternas. Implica um desenvolvimento mais lento das forças  
produtivas, expressamente tolhe e refreia a industrialização, que só  
paulatinamente vai extraindo do seio da conciliação as condições de  
sua existência e progressão. Nesta transformação “pelo alto” o  
universo político e social contrasta com os casos clássicos, negando-  
se de igual modo ao progresso, gestando, assim, formas híbridas de  
dominação, onde se “reúnem os pecados de todas as formas de  
estado. (CHASIN, 2000, p. 42)  
A apreensão da particularidade da via de entificação do capitalismo em cada  
formação social é imprescindível para a transformação consciente da realidade efetiva.  
Quando compreendidos de modo adequado, os nexos presentes na objetividade, as  
3
Como defendeu Chasin, isso é essencial porque “a sociedade pode se apresentar mais ou menos  
desenvolvida do ponto de vista capitalista, mais ou menos expurgada de elementos pré-capitalistas,  
mais ou menos modificada pelo processo histórico particular de cada país. De maneira que há modos e  
estágios de ser, no ser e no ir sendo capitalismo, que não desmentem a anatomia, mas que a realizam  
através de concreções específicas” (CHASIN, 2000, p. 38).  
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Via colonial, o tempo das crises e a necessidade um programa econômico de esquerda  
potencialidades  
e
limites das relações sociais vigentes explicitam-se.  
Consequentemente, a contraditoriedade que antes mencionamos somente é  
possibilitada em congruência com a especificidade do desenvolvimento do modo  
capitalista de produção em cada país.  
Desta forma, há uma dimensão universal das leis imanentes do sistema  
capitalista de produção, as quais foram abordadas em O capital, mesmo que de modo  
não exaustivo. Existem também peculiaridades particulares de formas não clássicas da  
entificação do capitalismo, visíveis, por exemplo, na via prussiana (abordada por Lênin  
e Lukács) e na via colonial, analisada por J. Chasin. Entretanto, sempre nos deparamos  
concretamente com a singularidade de cada país em cada época da história. Por essa  
razão, a explicação do desenvolvimento da relação-capital depende tanto das  
continuidades entre cada uma dessas dimensões mencionadas quando das  
descontinuidades e oposições, as quais, ao fim, possuem também uma dimensão única  
em cada caso concreto. Em palavras diversas, a explicitação dos nexos do real  
demanda o estabelecimento da diferença específica de cada formação social em cada  
época distinta, e somente dotados dessa percepção sobre a realidade é factível  
transformar substancialmente a tessitura da sociedade.  
O caráter não clássico do capitalismo brasileiro, em confluência com outras  
formações sociais que compartilham a particularidade não clássica, como a prussiana,  
engendra uma forma mais tardia de desenvolvimento da grande indústria. Nesses  
casos, o modo retardado e retardatário de incremento das forças produtivas remete à  
conciliação do novo com o velho. Em termos concretos, a classe burguesa, que foi  
revolucionária na França e na Inglaterra, por exemplo, opera tanto como um agente  
do progresso quanto da reação em países como Alemanha, Itália e Brasil. A conciliação  
de classes ligadas a uma espécie de Antigo Regime com classes como a burguesia e  
as classes médias avessas à feudalidade (nos países de via prussiana) ou ao  
escravismo moderno (como no Brasil) redunda na perpetuação de um modo de  
existência social em fase de perecimento. O resultado é a ausência de rupturas  
superadoras e certa oscilação entre polos antagônicos, os quais não se envolvem em  
lutas explicitamente levadas às suas últimas consequências.  
As categorias sociais aparecem, portanto, de modo distinto da via clássica. O  
incremento rudimentar das forças produtivas, bem como o desenvolvimento atrasado  
da grande indústria, acarreta o pior dos mundos, em que convivem as formas de  
dominação capitalistas e pré-capitalistas. Nessas condições, o combate do proletariado  
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moderno ocorre tanto contra a burguesia quanto contra aqueles que a burguesia  
deveria ter liquidado resolutamente. Por conseguinte, a conciliação apresenta-se na  
classe burguesa porque ela não é capaz de aliar-se verdadeiramente aos de baixo e  
prefere uma transição ao moderno capitalismo pelo alto. O resultado é que, econômica  
e politicamente, não há ruptura e a transformação não supera o velho; antes, reconcilia-  
se com ele.  
As figuras de dominação presentes nas formas não clássicas de entificação do  
capitalismo são híbridas. Ademais, elas não significam nunca uma junção do melhor  
de cada constituição política, mas o que há de pior nelas. Com isso, o elemento  
retardado e retardatário da industrialização redunda em formas políticas, por vezes,  
estapafúrdias e essencialmente antidemocráticas e elitistas. Porém, o quão tardio é o  
processo de desenvolvimento capitalista detém relevo para a apreensão de cada caso  
singular.  
Chasin, nesse sentido, infere que há aproximações entre formas distintas de via  
não-clássica, entretanto, como não poderia deixar de ser, há dissonâncias:  
Em ambos os casos o desenvolvimento é lento e retardatário em  
relação aos casos clássicos. Mas enquanto a industrialização alemã é  
das últimas décadas do século XIX, e atinge, no processo, a partir de  
certo momento, grande velocidade e expressão, a ponto de a  
Alemanha alcançar a configuração imperialista, no Brasil a  
industrialização principia a se realizar efetivamente muito mais tarde,  
já num momento avançado da época das guerras imperialistas, e sem  
nunca, com isto, romper sua condição de país subordinado aos polos  
hegemônicos da economia internacional. De sorte que o “verdadeiro  
capitalismoalemão é tardio, enquanto o brasileiro é híper-tardio.  
(CHASIN, 2000, pp. 44-5)  
Na medida em que nas entificações tardias do capitalismo o capital avança de  
modo violento e imperialista, completando-se de modo antidemocrático e belicista,  
nas formações sociais marcadas pelo desenvolvimento híper-tardio há subordinação,  
seja ao capital atrelado aos países de via clássica, seja aos países vinculados à via  
prussiana.  
A Alemanha avança no sentido imperialista e belicista, fazendo da guerra um  
instrumento de incremento da grande indústria nacional; o Brasil, por outro lado, é  
levado a uma posição subalterna na divisão internacional do trabalho e a uma  
subordinação à dinâmica do próprio imperialismo e, por essa razão, sua  
industrialização carece de autonomia e de robustez. Mais que isso: “a industrialização  
tardia se efetiva num quadro histórico em que o proletariado já travou suas primeiras  
batalhas teóricas e práticas” (CHASIN, 2000, p. 34), enquanto a industrialização híper-  
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tardia não encontra nada do gênero. Por conseguinte, a configuração das disputas  
classistas também adquire outra anatomia. A formação do moderno proletariado, ou  
seja, da classe antagônica à burguesia, tem características distintas e se insere em um  
processo em que o avanço da grande indústria nacional é verdadeiramente  
incompletável; nas palavras de Chasin, há no Brasil “o capital incompleto e  
incompletável” (2000, p. 224). A Alemanha e a Itália chegam à década de 1930 com  
partidos social-democratas e comunistas robustos, talvez, os mais robustos do mundo  
na época. No Brasil, o avanço das posições de esquerda é retardado também e o  
resultado é um desenvolvimento subordinado tanto da grande indústria quanto da  
oposição ao sistema capitalista de produção. Consequentemente, as diferenças entre  
o capitalismo tardio e o híper-tardio não podem ser desconsideradas.  
Segundo Chasin, quando a grande indústria começa a dar seus passos na  
década de 1930 no Brasil, as condições sociais e econômicas trazem, ao mesmo  
tempo, o capital monopolista e uma imaturidade das lutas do moderno proletariado  
nacional:  
A estruturação dos impérios coloniais já se configurou, a  
industrialização híper-tardia se realiza já no quadro da acumulação  
monopolista avançada, no tempo em que guerras imperialistas já  
foram travadas, e numa configuração mundial em que a perspectiva  
do trabalho já se materializou na ocupação do poder de estado em  
parcela das unidades nacionais que compõem o conjunto  
internacional. Ainda mais, a industrialização tardia, apesar de  
retardatária, é autônoma, enquanto a híper-tardia, além de seu atraso  
no tempo, dando-se em países de extração colonial, é realizada sem  
que estes tenham deixado de ser subordinados das economias  
centrais. (CHASIN, 2000, p. 34)  
Os países de via clássica e de via prussiana formam impérios coloniais; o Brasil  
foi uma colônia, espoliada por esses impérios. A acumulação monopolista, portanto,  
traz o capitalismo de via colonial como um predicado do avanço imperialista e daquilo  
que Caio Prado Jr. (2007) chamou de “sentido da colonização”. A industrialização  
nacional é incompletável por começar no quadro da acumulação monopolista avançada  
e por ser dependente tanto da atuação maciça do estado quanto do capital  
estrangeiro. Assim, estipula Chasin (2000, p. 35), “a presença do estado na economia,  
bem como a detenção do poder em forçosa companhia é da essência mesmo do  
capitalismo no Brasil desde as ocorrências da década dos 30”. Posteriormente, o autor  
brasileiro complementa: “se a isto se agrega a presença do capital estrangeiro, os  
contornos principais estão traçados”. No caso dos países centrais, a consequência de  
tais fatos é estar a perspectiva do trabalho ou assentada temporariamente no poder  
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do estado ou reprimida violentamente pela política de extração fascista das décadas  
de 1930-40. Por conseguinte, se o avanço do capitalismo tardio ocorre à moda da  
extrema-direita, da guerra e reprimindo um robusto movimento socialista, o avanço do  
capitalismo híper-tardio tem tanto na democracia quanto no socialismo algo de  
exótico. Fora de alguns círculos pequenos, a questão, para que se use as expressões  
de Celso Furtado (1974) e da Cepal, parece ser não o socialismo, mas a relação tensa  
entre o moderno e o arcaico.  
A burguesia nacional dos países de capitalismo tardio adere ao fascismo e ao  
nazismo, também, ao incrementar com ferro, sangue, guerras e os métodos mais  
desumanos imagináveis as forças produtivas do capital. Tal classe, portanto, cumpre  
a sua missão de modo brutal e aviltante. A burguesia brasileira, por sua vez, pode até  
buscar algo “moderno”, mas o faz integrando-se como um elo na cadeia do capitalismo  
monopolista, ou seja, na forma de uma integração subordinada. A alma burguesa  
torna-se não só antidemocrática, mas avessa ao avanço do mercado nacional e ao  
desenvolvimento de uma grande indústria que estivesse acompanhada das lutas do  
moderno proletariado. Por essa razão, o capitalismo brasileiro até mesmo hoje,  
acreditamos é incompletável. Daí, a resolução da “questão agrária” também ser  
substancialmente distinta em tais formações sociais, já que a Alemanha traz em seu  
bojo a oposição entre desenvolvimento capitalista e privilégios feudais ao passo que  
o Brasil, desde sua colonização, é inseparável de uma forma específica de produção  
agrária, aquela do latifúndio, até o final do século XIX, essencialmente escravocrata. É  
verdade que “aos dois casos convém o predicado abstrato de que neles a grande  
propriedade rural é presença decisiva”; entretanto, no caso alemão “se está indicando  
uma grande propriedade rural proveniente da característica propriedade feudal posta  
no quadro europeu”, ou seja, indica Chasin (2000, p. 44), “enquanto no Brasil se  
aponta para um latifúndio procedente de outra gênese histórica, posto, desde suas  
formas originárias, no universo da economia mercantil pela empresa colonial”. A  
burguesia brasileira, portanto, foi escravocrata, dependente do tráfico negreiro e,  
posteriormente, contentou-se com o papel de lacaio do capital internacional. Dessa  
maneira, progressivamente, há o abandono de qualquer pretensão de desenvolvimento  
nacional autônomo e independente e, também por isso, o incremento das forças  
produtivas da grande indústria torna-se incompletável em solo nacional e a via colonial  
de entificação do capitalismo perpetua-se.  
Assim, ao cabo de sua formação, o capital incompleto e incompletável  
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Via colonial, o tempo das crises e a necessidade um programa econômico de esquerda  
abandona definitivamente qualquer ilusão de autonomia, se é que a  
teve concretamente alguma vez, e identifica modernidade com  
integração subordinada. De modo que seu sonho passa a ser o  
estabelecimento da boa parceira, da vivência e gozo da boa  
cumplicidade com o titã que vem de fora, a um tempo mestre e senhor,  
o que ensina e eleva, orienta e dirige. O capital inconcluso, sôfrego  
em sua alma prostituta, se transveste em noiva obsequiosa, disposta  
aos sacrifícios da purificação, para que o impossível himeneu seja  
celebrado, inclusive com uma gota de sangue sintético. (CHASIN,  
2000, p. 224)  
Ao lado do sentido da colonização, consolida-se uma modernização  
subordinada. A formação do capitalismo nacional certamente remete ao mundo  
moderno, ou seja, à relação consciente com o desenvolvimento do modo de produção  
capitalista. A consciência burguesa, porém, pode apresentar um cinismo servil e não  
qualquer forma de ímpeto de controle das próprias condições de vida. Dessa maneira,  
Chasin assevera que o máximo que o empresariado nacional está disposto a fazer é  
buscar ser um bom parceiro e um cúmplice do capital transnacional. A alma da  
burguesia nacional seria prostituta, tendo em vista que se apresentaria nas formas de  
alguém de falsos escrúpulos e, também por isso, a figura da formação capitalista  
brasileira é inconclusa e incompletável. Se o capitalismo de extração prussiana viu a  
tragédia de sua consolidação, a classe burguesa brasileira tem um papel farsesco no  
desenvolvimento das forças produtivas do capital. Em síntese precisa, diz Chasin, a  
industrialização tardia da via prussiana é o drama, enquanto a industrialização híper-  
tardia da via colonial é a penosa comédia(CHASIN, 2000, p. 55)4.  
Modernização, aliás, foi a palavra de ordem da pseudoesquerda até tempos  
recentes. A expressão dá vazão teórica ao sentido, primeiramente ilusório, e depois  
cínico, da entificação do capital no Brasil. Nas décadas de 1950-60, o ímpeto  
desenvolvimentista (e modernizador) esteve acompanhado de figuras de proa, como  
Celso Furtado (1974; 1983). A implementação da ditadura de 1964, por seu turno,  
solapou tal posição e deixou cristalina a natureza subordinada das forças burguesas  
nacionais. O autor da Cepal, assim, expressou o melhor das ilusões do  
4 Para que fique mais claro, vale mencionar a posição chasiniana sobre o assunto: quanto à expansão  
das forças produtivas. Em ambos os casos o desenvolvimento é lento e retardatário em relação aos  
casos clássicos. Mas enquanto a industrialização alemã é das últimas décadas do século XIX, e atinge,  
no processo, a partir de certo momento, grande velocidade e expressão, a ponto de a Alemanha alcançar  
a configuração imperialista, no Brasil a industrialização principia a se realizar efetivamente muito mais  
tarde, já num momento avançado da época das guerras imperialistas, e sem nunca, com isto, romper  
sua condição de país subordinado aos polos hegemônicos da economia internacional. De sorte que o  
verdadeiro capitalismoalemão é tardio, enquanto o brasileiro é híper-tardio” (CHASIN, 2000, pp. 44-  
5).  
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desenvolvimento nacional autônomo, tendo participado teórica e praticamente de  
governos substancialmente distintos, como os de Juscelino e de Jango. Suas posições  
foram revistas, posteriormente, por pensadores de calibre infinitamente menor, que  
deram a tônica dos debates teóricos presentes na institucionalização da autocracia  
burguesa sob a Nova República. Nesse momento, a retomada de tal concepção trouxe  
elementos farsescos indisfarçáveis, visíveis, sobretudo, quando a oposição, e mesmo  
seus mais sofisticados pensadores, como aqueles ligados ao PT e ao PSDB, foram  
incapazes de trazer qualquer programa econômico alternativo àquele dos gestores do  
capital atrófico.  
Pelo que expusemos acima, tal situação é propiciada, dentre outros aspectos,  
pela incapacidade de compreender a verdadeira natureza do capitalismo brasileiro,  
que é híper-tardia. Como resultado, a política (na verdade, o politicismo) da Nova  
República torna-se um sintoma tanto da forma particular do capitalismo no Brasil  
quanto da incapacidade da esquerda e da pseudoesquerda de apreender as  
características constitutivas do processo econômico, que é escamoteado sob a alcunha  
informe da “modernização”.  
O modo pelo qual a farsa do desenvolvimento e da modernização foi concebida  
dependeu de certo marxismo adstringido, elaborado, sobretudo, no mundo acadêmico  
e nos partidos próximos aos teóricos da Universidade de São Paulo. Assim, a nata da  
intelectualidade nacional embarcou na farsa de um projeto que outrora fora ilusório.  
Hoje, por outro lado, a situação é, ao mesmo tempo, similar e distinta. Ela é  
similar porque agora as teorias mencionadas são mobilizadas pela pseudoesquerda,  
mesmo que em forma de pastiche, com o objetivo de insuflar a militância. Há, porém,  
disparidades substantivas, porque tais teorias são utilizadas somente de modo  
cinicamente manipulatório, já que não só não dispõem de qualquer programa  
econômico alternativo àquele da direita, como também adotam o essencial da posição  
de direita sem quaisquer escrúpulos. Desse modo, a via colonial adquire contornos,  
não só farsescos, mas de uma comicidade marcada pelo pastiche. Acrescenta-se a esse  
fato uma consequência vital para os rumos nacionais: sem desenvolvimento teórico  
condizente com a situação atual e repetindo de modo irrefletido mantras de outrora,  
não há qualquer possibilidade de superação da via colonial de entificação do  
capitalismo. A especificidade híper-tardia do capitalismo tupiniquim reitera-se na e a  
partir das crises econômicas e políticas que marcam a Nova República, a autocracia  
burguesa institucionalizada vigente ainda hoje.  
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Via colonial, o tempo das crises e a necessidade um programa econômico de esquerda  
O marxismo adstringido da analítica paulista pretendia, como se sabe,  
compreender a especificidade do capitalismo nacional com o intuito de elaborar um  
projeto coerente de “modernização”; hoje, no entanto, a pseudoesquerda retoma, na  
forma de fraseologia, os velhos lemas e, para além disso, ainda os desidrata, revira e  
escamoteia para que possam se prestar aos fins mais escusos da governabilidade  
petista. O resultado é o aprisionamento a um capitalismo incompleto e incompletável  
e, consequentemente, a uma situação em que o novo paga tributo ao velho e o reitera.  
Continua-se muito aquém da obra marxiana, da necessidade de desenvolver  
suas consequências e da imprescindibilidade de apreender o capitalismo nacional;  
ademais, as palavras de ordem sobre autoritarismo, dependência, populismo,  
marginalidade são repetidas incansavelmente pela pseudoesquerda em um momento  
histórico em que não são mais críveis e, dessa maneira, a via colonial é recolocada  
diuturnamente, reforçando e se retroalimentando da crise do atual sistema capitalista  
de produção.  
A crise da esquerda e do pseudossocialismo e a abertura para que se rasguem  
os horizontes: sobre a necessidade de um programa econômico que rompa  
com a via colonial  
A não apreensão das determinações do capitalismo contemporâneo e da  
especificidade da entificação do capitalismo no Brasil ainda é uma constante. No  
entanto, como destacamos acima, esse fato não decorre somente de uma cegueira  
teórica e intelectual, tendo em vista que possui uma base real. Nesse sentido,  
destacam-se as derrotas da classe trabalhadora, que desempenham um papel  
considerável e não podem ser desprezadas. No Brasil, em especial, a situação adquire  
contornos dramáticos quando, ao lado da ausência de uma teoria solidamente  
fundamentada sobre a especificidade do capitalismo nacional, figura a incapacidade  
de formular um programa econômico alternativo para o presente.  
A análise da via colonial e das derrotas da perspectiva do trabalho ganha um  
relevo que não é meramente terminológico, mas, sobretudo, prático. Chasin, a esse  
respeito, reconhece que há, “em suma, colapso prático e teórico, que se constitui em  
fecho de toda a experiência revolucionária do século(2000, p. 200). Posteriormente,  
ele complementa dizendo que tal fato “torna obrigatória a verificação dolorosa de que  
o século e meio de lutas compreendido entre 1848 e 1989 foi um século e meio de  
insucessos e fracassos, onde o socialismoreal é a derrota culminante dessa dura  
história de derrotas”. Componentes necessários desse cenário são a impossibilidade  
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de qualquer nostalgia quanto às lutas dos séculos XIX e XX e o reconhecimento de  
que o tempo das crises traz consigo a crise da esquerda. Assim, a miséria brasileira e  
a via colonial persistem na medida em que as derrotas do socialismo real e do  
desenvolvimentismo do século XX são ignoradas, respectivamente, pelos stalinistas  
nacionais (ou por quem busca uma valorização do “socialismo de mercado” chinês) e  
pela pseudoesquerda.  
Nessa realidade, é preciso assumir que parte dos combatentes de ontem, seja  
da esquerda, seja da pseudoesquerda, politicamente, são um cadáver insepulto. Nas  
palavras duras de Chasin, é inafastável reconhecer que a esquerda, tanto em sua época  
quanto hoje, está morta. Porém, não é devido confundir a morte da esquerda com a  
extinção da perspectiva histórica da esquerda, já que, “quanto mais concreta for a  
representação do atual momento desfavorável, tanto mais solidamente poderão ser  
fundadas as esperanças, pois a morte da esquerda não é a extinção da perspectiva  
histórica da esquerda(CHASIN, 2000, p. 202). Para retomar o que defendemos linhas  
acima, é vital rasgar os horizontes, mesmo que, para tanto, seja preciso reconhecer  
derrotas doloridas e a ausência de um agente social interessado na mudança  
substantiva da produção capitalista contemporânea.  
Ligados ao cenário nacional, encontram-se tanto a situação em que a derrota  
do socialismo real e do desenvolvimentismo se impõem quanto a certeza de que os  
rumos das sociedades subsumidas ao capital levam à perpetuação das crises e, aqui,  
aos rumos da miséria brasileira e da via colonial de entificação do capitalismo.  
Em poucas palavras conclusivas: tanto o capitalismo quanto o  
pseudossocialismo são a demonstração historicamente realizada de  
que o capital, sob qualquer de suas formas, é incapaz de solucionar –  
para o conjunto dos homens existentes os problemas de  
subsistência material, e constitui, de outra parte, o inimigo mortal a  
ser eliminado, se não se abandona ou renuncia à empresa humana e  
com ela a todo e qualquer sentido de vida autêntica. Em suma, trata-  
se de não tergiversar: já é sabido onde se chega com o capital no  
habitat do mercado, e também com o capital desprovido de mercado;  
o que permanece desconhecida é a experiência de uma vida societária  
sem capital e sem mercado. E dessa descoberta não se pode abrir  
mão. (CHASIN, 2000, pp. 219-20)  
Quando a crise da esquerda é proeminente, também emerge no horizonte a  
possibilidade do reconhecimento cabal sobre a insustentabilidade dos moldes  
contemporâneos da reprodução ampliada do capital. Consequentemente, encontramo-  
nos em uma situação delicada e de crise, contudo, em suas determinações objetivas,  
ela remete tanto à inviabilidade das soluções pseudossocialistas e capitalistas quanto  
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Via colonial, o tempo das crises e a necessidade um programa econômico de esquerda  
à busca por uma vida autêntica e plena de sentido, a qual coloca-se na ordem do dia.  
A outra face de Jano da morte da esquerda é a possibilidade e a urgência de rasgar  
os horizontes. O reconhecimento da derrota, portanto, não conduz ao fatalismo (que  
é o alimento perfeito da perspectiva da extrema-direita), mas à busca por  
possibilidades concretas no seio do próprio real. Por isso, infundir esperanças é parte  
das tarefas essenciais de nosso tempo, com o intuito de propiciar e auxiliar no  
processo de emergência de um sujeito social interessado na mudança substantiva das  
relações de produção, de um sujeito que possa solapar a tragédia cotidiana e a  
barbárie atuais.  
Um objetivo verdadeiramente vital, para barrar a extrema-direita e o avanço das  
figuras mais grotescas de desenvolvimento capitalista, é a busca por uma vida  
societária sem capital e sem mercado. A direita ocupou de modo avassalador o espaço  
da luta política e conquistou os corações das classes trabalhadoras com cinismo e com  
o realismo pueril daqueles que militam a favor da manutenção das excrescências  
vigentes no sistema capitalista de produção contemporâneo. Tal realismo pueril,  
porém, não pode subsistir sem uma luta ideológica constante e sem a apologia  
absolutamente cínica da vida sem sentido e estranhada do capitalismo contemporâneo.  
Em outras palavras, a crise da esquerda é uma realidade dura, mas abre perspectivas  
reais, mesmo que mediante um trabalho futuro que não é simples ou fácil e que  
demanda doses cavalares de autocrítica. A direita política, por outro lado, reivindica  
justamente a eternização da barbárie cotidiana como uma solução sem nunca poder  
dar ensejo ao horizonte de mudança substantiva.  
Os programas econômicos da extrema-direita mudam de local para local, por  
óbvio. Entretanto, um traço comum de todos eles é a revisitação das velhas fórmulas,  
ainda que sob bases novas. No Brasil, houve o flerte entre a perspectiva de um  
economista formado na escola de Chicago, como Paulo Guedes e, como mencionamos,  
o programa liberalizante e agressivo do Chicago boy nacional acabou sendo derrotado  
nas eleições de 2022. Também tivemos a oportunidade de referir que o ex-professor  
Fernando Haddad, atual ministro da fazenda de Lula, não traz quaisquer perspectivas  
que superem o legado de Guedes ou as leituras ortodoxas da economia. A persistência  
da via colonial, por conseguinte, ainda é um traço decisivo do capitalismo brasileiro e  
as atuais esquerda e pseudoesquerda nada conseguiram ou conseguem para superar  
tal situação.  
O processo social que envolveu o surgimento do novo sindicalismo, na década  
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de 1980, chegou a colocar em xeque a existência subordinada do capitalismo de via  
colonial nacional, certamente. Porém, a combatividade dos trabalhadores na década  
de 1970 e as teorias sobre o populismo, o autoritarismo, a dependência e a  
marginalidade (o quadrúpede teórico criticado por Chasin) acabaram por se unir e, ao  
fim, malograr em conjunto. Assim, aquilo que hoje se tenta recuperar na forma de  
pastiche já estava marcado por sérios problemas na própria década de 1980:  
Basta dizer que o PT é o encontro da combatividade sindical dos  
últimos anos da década de 70, que preencheu de maneira notável o  
vácuo escandaloso a que fora reduzido até mesmo o movimento  
corporativo dos assalariados, pela conduta omissa, quando não  
diretamente desmobilizadora, da esquerda tradicional, com os  
representantes e o clima teórico-ideológico do conjunto de teses  
elencado mais atrás. De maneira que o renascimento firme e pujante  
da movimentação dos trabalhadores veio, assim, a submergir na  
atmosfera politicista, quando buscou os caminhos da organização e  
das definições políticas. Por consequência, ao inverso do que se daria  
num rumo de esquerda, com seu desenvolvimento o PT simplesmente  
politicizou a prática sindical, não extraiu da lógica do trabalho a  
política que supera a política, isto é, ficou nos limites do entendimento  
político, não se alçou à política norteada pela razão-social. (CHASIN,  
2000, p. 258)  
O petismo expressou o encontro das teses defendidas pela analítica paulista  
com a combatividade do novo sindicalismo. A força e as limitações do movimento  
advinham dessa comunhão sui generis, a qual, como mencionamos, não deixou de  
trazer potencialidades consideráveis. Entretanto, conjuntamente com as possibilidades  
que reemergiram no final da década de 1970 e no começo da década de 1980,  
reforçou-se um modus operandi já antigo e vinculado a uma forma de entendimento  
essencialmente voltada aos limites da política. Ou seja, a oposição real à ditadura, ao  
mesmo tempo, começava a tocar o essencial, localizado no arrocho salarial, e  
procurava avançar sem um programa econômico alternativo, voltando-se, sobretudo,  
a um rearranjo mais ou menos engenhoso da esfera política. Por conseguinte, aquilo  
que Chasin chamou de razão social não norteou real e efetivamente a política, mas foi  
subordinado aos limites estreitos dessa última, dando ensejo à comunhão entre via  
colonial e um entendimento limitado da política.  
Dessa maneira, conjuntamente com a ausência de uma política econômica  
alternativa, consolidou-se o politicismo. Ou seja, sem um programa econômico  
rigoroso e alternativo, resultaram o apego à política e à cristalização dos horizontes  
que deram suporte material ao estado, à divisão social do trabalho, à propriedade  
privada e ao mercado e, por essa razão, a via colonial de entificação do capitalismo  
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Via colonial, o tempo das crises e a necessidade um programa econômico de esquerda  
restou intocada.  
A politização da prática sindical não levou esta última além dos seus limites  
imediatos. Pelo contrário, a espontaneidade das lutas políticas da classe trabalhadora  
das décadas de 1970 e 1980 se subordinou ao entendimento político mais imediato,  
retirando do horizonte um rumo verdadeiramente de esquerda. Nesse cenário, mesmo  
que meramente de modo verbal, a palavra socialismo começa a desaparecer e a  
combatividade sindical iniciou um percurso que se tornou uma sombra pueril do que  
já havia sido.  
O resultado foi a desmobilização da esquerda e da classe trabalhadora,  
subordinando todo movimento ao calendário eleitoral e não à lógica do trabalho, que,  
em verdade, é a única capaz de se opor às determinações do capital. Com isso, conclui-  
se que o vácuo deixado pela pseudoesquerda não é novo e está presente desde que  
a institucionalização da autocracia burguesa começou a tomar forma, no final da  
ditadura.  
Por conseguinte, não surpreende que as tarefas da esquerda tenham sido  
secundarizadas e que, quando finalmente chega ao poder, em 2002, o petismo seja  
um pastiche de si mesmo. Os espaços ligados à elaboração de um programa  
econômico foram ocupados pela direita, que, sob alcunha de “tripé macroeconômico”,  
impôs limitações que, na prática, inviabilizaram qualquer programa econômico  
diferente do seu.  
Consequentemente, o politicismo não é simplesmente uma denominação para  
certa lida limitada com a máquina estatal e com a incapacidade de criticar a estrutura  
hierárquica que culmina na organização burocrática da política. Em verdade, o  
politicismo formou os atuais gestores do capital atrófico, justamente por redundar na  
incapacidade de formulação de programas econômicos alternativos àqueles da direita.  
Por seu turno, isso significa que as tarefas da esquerda, mesmo aquelas mais  
modestas, restam obstaculizadas e a via colonial é reposta diuturnamente. O resultado  
acaba sendo a perda de apoio popular dos jargões da pseudoesquerda, ligados à  
justiça social, à crítica ao autoritarismo e à insistência mais que justificada de que  
aqueles ligados à ditadura e aos ideais advogados durante o período de 21 anos que  
sucedeu o primeiro de abril não devem ter acesso à máquina estatal e ao aparato  
repressivo ainda presente no estado brasileiro. Insistimos, com J. Chasin, “quando a  
esquerda não rasga horizontes, nem infunde esperanças, a direita ocupa o espaço e  
draga as perspectivas: é então que a barbárie se transforma em tragédia cotidiana”  
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(2000, p. 287).  
A gestão do capital atrófico transforma-se na operacionalização da barbárie que  
se tornou não mais tragédia, mas uma farsa cotidiana. A pseudoesquerda, na melhor  
das hipóteses, faz o papel de uma direita moderada, e a consequência desse processo  
é que, tanto de 2002 a 2016 quanto de modo ainda mais problemático e cínico –  
hoje, há perda de crédito por parte das ideias de esquerda e, assim, a direita ganha  
terreno e ocupa espaços. A ausência de um programa econômico e o predomínio do  
politicismo propiciam o surgimento de uma esquerda e uma pseudoesquerda que se  
apresentam como um cadáver insepulto, na medida em que procuram realizar tarefas  
que nem sequer seriam pequeno-burguesas, mas, na verdade, burguesas.  
Ademais, não se trata de uma burguesia qualquer, mas daquela classe que, no  
Brasil, é marcada pela regressividade e que se tornou incapaz de levar a cabo até  
mesmo a industrialização e os ímpetos progressistas do domínio inerentes ao capital  
dos países de via clássica. Ainda sobre as tarefas burguesas, o avanço de forças  
produtivas, obtido de modo brutal nos países de via prussiana, também não se  
apresenta no seu horizonte. Em função dessas características da via colonial, os  
governos petistas têm perdido sustentação, por gerirem de maneira hipócrita a  
barbárie e a farsa cotidianas, que se impõem no capitalismo de via colonial. Tudo se  
passa na pseudoesquerda transmutada em governismo como se fosse viável gerir o  
domínio do capital, ainda mais em um cenário em que ela não se opõe à via colonial  
de entificação do capitalismo.  
Tais traços, como mostrou Chasin, já eram visíveis no começo da década de  
2000, em especial, quando se observam os processos sucessórios nas eleições:  
É nesta condição objetivamente fantasmagórica de campo ausente  
que a esquerda comparece ao processo sucessório em curso,  
oferecendo seus sucedâneos no polo da radicalidade burguesa. Ou  
seja, ocupando o espaço que a incompletude de classe do capital está  
impedida de preencher. Pelas suas limitações intrínsecas, a  
perspectivas do capital atrófico não se estende sequer aos limites de  
sua inerência enquanto capital, ficando muito aquém de sua própria  
universalidade genérica, ou melhor, particulariza a particularidade de  
interesses que há século e meio já destituiu o estado proprietário dos  
fins universais da humanidade. Assim, abantesma embrechado no oco  
do capital, a esquerda se limita e esgota na esquerda de uma  
legalidade que lhe é estranha e que a desfigura. Todavia, é enquanto  
tal que ela comparece ao pleito presidencial e enquanto tal tem de ser  
considerada em seus diversos braços ou representações. (CHASIN,  
2000, pp. 231-2)  
O espaço da esquerda apareceu e ainda aparece como um campo ausente.  
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Via colonial, o tempo das crises e a necessidade um programa econômico de esquerda  
Também nesse sentido a esquerda está morta e é incapaz de rasgar horizontes.  
Ademais, nesse cenário, na melhor das hipóteses, alcança-se a radicalidade  
burguesa e, assim, há uma inversão, tendo em vista que as tarefas burguesas começam  
a ser realizadas pela esquerda. E há um duplo aspecto nessa inversão: de um lado, ela  
possui uma razão objetiva, ligada à necessária incompletude (e ao caráter  
incompletável) do capital e da classe capitalista em um país de extração colonial. De  
outro, o ímpeto necessário para realizar essa tarefa pela esquerda poderia levar não  
só à efetivação das tarefas da burguesia, mas também daquelas da classe trabalhadora.  
Nesse sentido, a constatação prática da incompletude e da incompletabilidade do  
capital poderia rasgar horizontes para a superação de um modo específico de  
entificação do capitalismo e, ao fim, sob circunstâncias específicas, em última análise,  
do próprio capitalismo. No entanto, com a esquerda ausente em seu campo, atua-se  
no terreno do inimigo, obstaculizando suas próprias potencialidades. Assim, o  
resultado não é mais trágico, mas farsesco, tratando-se de um pastiche daquilo já visto  
no pré-1964 e, depois, na década de 1980, e que desfigura a anatomia da esquerda  
e da própria oposição ao domínio do capital.  
A existência da esquerda aparece como nada menos que uma fantasmagoria,  
cuja realidade depende da mera insistência verbal em seus ideais, agora, já  
transfigurados em jargões vazios. Ao se apegar às limitações intrínsecas ao capital  
atrófico, a esquerda e a pseudoesquerda acabam dando lugar a um mundo duplicado:  
de um lado, as ilusões expressas nos mencionados jargões, de outro, o pragmatismo  
mais vil daqueles que intentam se colocar como gestores “de esquerda” do capital  
atrófico.  
Em tal cenário, a face citoyenista obviamente é derrotada pela determinação  
prática de uma legalidade estranhada, que desfigura qualquer projeto de esquerda e,  
ousamos dizer, hoje, à esquerda. A ausência de um projeto econômico resulta em um  
politicismo que nem sequer traz consigo uma espécie de boa vontade impotente, mas  
supostamente ingênua. Antes, imiscuído na legalidade do mercado, da reprodução do  
capital e do estado, o politicismo dos atuais gestores do capital é ainda mais  
adstringido e leva à incapacidade de qualquer projeto econômico alternativo e, assim,  
acaba se tornando um ideário putrefato, que redunda no rebaixamento de expectativas  
populares de modo bastante claro. A direita, por sua vez, ocupa o espaço de modo  
brutal, porém assume a barbárie como constitutiva do próprio real, sem hipocrisias e,  
também por isso, cresce no tempo das crises.  
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Por via de consequência, a crise da esquerda está acompanhada de um  
rebaixamento das expectativas populares, que, agora, estão mais expostas à  
fraseologia que afirma a imprescindibilidade do mercado e do estado ou, colocando  
em termos mais concretos, do capital e do aparato repressivo da classe burguesa.  
Como consequência, a concepção de mundo da extrema-direita dispõe de um terreno  
fértil, que se consolida sobre a terra arrasada da esquerda.  
O politicismo da esquerda e da pseudoesquerda já parecem sentimentalismo e  
hipocrisia e, no tempo das crises, todos sabem que isso não é e nem pode ser  
resolutivo. A barbárie cotidiana ganha terreno em um momento, como já defendemos  
acima, propício para a perda das ilusões. A questão é qual a natureza da destruição  
dessas ilusões, vinculada ao cinismo da extrema-direita ou ao projeto de emancipação  
de que não se pode abrir mão, e ligado à “experiência de uma vida societária sem  
capital e sem mercado(CHASIN, 2000, p. 220). Nesse sentido, estão renovadas as  
opções colocadas por Rosa Luxemburgo. Hoje, mais do que nunca, as alternativas  
colocadas à humanidade, e ao Brasil, são socialismo ou barbárie transformada em  
tragédia cotidiana.  
Conclusão: um futuro ainda ausente e a persistência da miséria brasileira como  
pastiche do politicismo  
A ocasião da republicação de A miséria brasileira marca a reiteração de um  
capitalismo incompleto e incompletável, com todos os seus problemas. Nesse sentido,  
a via colonial de entificação do capitalismo ainda marca o Brasil. Por conseguinte, a  
atualidade do texto de J. Chasin é de uma real infelicidade, ocasionada pela  
perpetuação da barbárie transformada em tragédia cotidiana. Ademais, o cenário é  
ainda pior do que aquele analisado pelo filósofo paulistano, porque a esquerda e a  
pseudoesquerda procuram mobilizar as massas com meros pastiches de seus ideais  
pretéritos. O quociente dessa equação é a incompreensão da especificidade do  
capitalismo de via colonial, a ausência de uma política econômica, o idealismo atroz e  
um politicismo desidratado que, como elencamos, possibilita o rebaixamento das  
expectativas populares  
A esquerda torna-se um campo ausente de modo ainda mais radical,  
reproduzindo hipocritamente os jargões do quadrúpede teórico da analítica paulista  
além de, pragmaticamente, utilizar-se do aparato categorial da economia vulgar,  
cristalizada no monetarismo e na ortodoxia que caracterizam o “tripé  
macroeconômico”. Nesse caso, as consequências práticas do petismo têm sido a perda  
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Via colonial, o tempo das crises e a necessidade um programa econômico de esquerda  
de credibilidade do ideário de esquerda (ou à esquerda), a crença de que, ao fim, não  
há alternativa para a via colonial e para o domínio do capital e, não menos importante,  
derrotas estrondosas da classe trabalhadora.  
Como argumentamos acima, esse cenário propicia a perda de ilusões,  
certamente. Contudo, isso ocorre de modo dúplice e, atualmente, extremamente  
problemático. De um lado, resta claro que o pseudossocialismo, o desenvolvimentismo  
e a economia de mercado como um todo levam à barbárie contemporânea. De outro,  
porém, evidencia-se que a perda das ilusões não leva necessariamente ao  
questionamento da ordem do capital, mas pode acarretar o crescimento do realismo  
cínico da extrema-direita. Por conseguinte, a mesma situação que encadeia a  
atualidade do projeto socialista está acompanhada de uma oposição brutal e violenta  
a qualquer forma de progressismo. A esquerda e a pseudoesquerda estão mortas  
porque seus jargões são ou abstrações idealistas corajosas ou lamentos sentimentais  
hipócritas. A extrema-direita, por seu turno, alimenta-se dessa incapacidade de a  
esquerda rasgar os horizontes, ocupando os espaços deixados e ganhando o coração  
das massas envoltas na tragédia da barbárie cotidiana. A situação é dura e precisa ser  
reconhecida, caso se deseje minimamente varrer da história a ameaça, bastante real e  
presente, do domínio e da hegemonia das facetas mais atrozes do capital.  
O receituário que vem sendo propagandeado pelo petismo é a chave para mais  
derrotas, é a reiteração do velho e putrefato. Nesse sentido, se a extrema-direita se  
alimenta do anacronismo de uma esquerda e de uma pseudoesquerda mortas, é  
imprescindível tanto admitir as derrotas do século XX e do passado recente quanto  
reiterar que a única maneira de resolver os problemas do tempo das crises está na  
alternativa socialista. O trabalho para viabilizar tal alternativa é enorme, mas  
necessário. Ele envolve, dentre outras tarefas, o reconhecimento das derrotas  
mencionadas; a busca pela compreensão (ainda não disponível) da tessitura do  
capitalismo contemporâneo; a apreensão reta das peculiaridades do capitalismo de via  
colonial; a elaboração de um programa econômico sólido, fundamentado e alternativo;  
o retorno aos fundamentos de uma análise marxista da história; o avanço diante dos  
clássicos do marxismo; a elaboração contemporânea da crítica da economia política; a  
reiteração do projeto emancipatório a partir da perspectiva do trabalho; o surgimento  
de agentes sociais interessados na transformação substancial do sistema capitalista de  
produção contemporâneo; a organização política adequada à necessidade de  
superação dessa situação.  
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Vitor Bartoletti Sartori  
Aqui, não procuramos trazer qualquer receituário pronto. Pelo contrário,  
deixamos muito claro que somos parte da crise da esquerda e, também por isso, somos  
parcela (é verdade que conscientes de nossas limitações e da miséria do presente) dos  
problemas elencados. A realização dessas tarefas demanda um trabalho coletivo e  
doses agigantadas de autocrítica. De um lado, J. Chasin nos traz justamente a  
insistência na imprescindibilidade desses elementos; de outro, simplesmente reafirmar  
que os pontos de partida do filósofo paulistano ainda são atuais não nos leva muito  
mais longe. Concluímos ao reiterar a necessidade dos primeiros passos para a  
superação da perspectiva putrefata da esquerda e da pseudoesquerda  
contemporâneas. Também de modo infeliz, não podemos realizar mais que isso, mas  
fazemos questão de destacar que o momento da perda das ilusões abre espaço tanto  
para que se rasguem horizontes quanto para que o horizonte do capital seja  
perpetuado de modo explícito, violento e brutal.  
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Como citar:  
SARTORI, Vitor Bartoletti. Via colonial, o tempo das crises e a necessidade um  
programa econômico de esquerda: socialismo ou a tragédia da barbárie cotidiana  
ainda hoje. Verinotio, Rio das Ostras, v. 30, n. 1, pp. 318-351, Edição Especial: A  
miséria brasileira, 2025.  
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