Diferenças históricas entre integralismo brasileiro e fascismo europeu (1922-1937)
liberalismo com sinal trocado” (CHASIN, 1978, p. 49). Referindo-se ao vigor da crítica
chasiniana, que denuncia a improcedência da equalização entre fenômenos históricos
distintos, Antonio Candido observa que:
O seu principal ponto de apoio teórico talvez seja a discussão sobre
o conceito de totalitarismo, que funcionaria, para os que os
identificam, como denominador comum de ambos os movimentos.
Mas é claro que a sua veemente discussão mira mais longe; visa ao
próprio conceito, que serve à crítica liberal para operar a assimilação
mais grave entre fascismo e comunismo, na medida em que ambos
seriam afastamentos de um modelo ideal, suprassumo da filosofia e
da organização política – o do liberalismo. (CANDIDO in CHASIN,
1978, pp. 13-4)
Este obnubilamento criado pela conceituação liberal se serve de universais
abstratos para tentar descrever o real e, com isso, tal conceituação fica impossibilitada
– exatamente pela determinação social de sua perspectiva – de apropriar-se dos
universais concretos por meio das mediações e particularizações concretas. Este
procedimento formalista, de natureza politicista, além de tornar equivalentes
fenômenos históricos, por mais distintos que possam ser, acaba por reduzir a história
a uma construção eventista. Assim sendo, ao contrapor a todo monopólio de poder, a
todo estado totalitário, os valores do estado liberal, a análise convencional oculta a
questão da própria hegemonia de classe, operando-se, assim, a própria eternização
do estado e da dominação de classe.
Confundindo manifestações históricas concretas, e reduzindo-as à sua
expressão política, o conceito de totalitarismo opera simplesmente
uma sorte de tautologia ao “determinar” o fascismo, o nacionalismo e
tantos outros eventos que ele se permite englobar e que de algum
modo contrariam o perfil liberal. [...] Com isto não estamos querendo
confundir ou dissolver as distintas formas de hegemonia; pelo
contrário, queremos ressaltá-las, afirmando que ela, a hegemonia,
sempre está presente ao fenômeno do poder, ao contrário do que a
análise liberal pressupõe. (CHASIN, 1978, pp. 53-4)
Submersa ao conceito de autoritarismo, de corte liberal, na interpretação de
Chauí, a ideologia integralista, como todo “pensar autoritário”, reduz-se a uma “região
das consequências sem premissas, [que] precisa localizar em algum ponto externo,
anterior e fixo um conjunto de afirmações protocolares graças às quais entra a pensar”
(CHAUÍ, 1978, p. 38). O passo subsequente desse ato especulativo, que se transforma
em seu novo ponto de partida, está em assinalar que a peculiaridade desse
pensamento “é o de operar com imagens em lugar de trabalhar com conceitos” (CHAUÍ,
1978, p. 40). O que faculta a operação da ideologia autoritária, transformando os
integralistas em peritos na arte de manipular, em produzir imagens, algumas por meio
Verinotio
ISSN 1981 - 061X, v. 30, n. 1, pp. 40-59 – jan.-jun., 2025 | 53
nova fase